quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Amigo é coisa pra se guardar...

Hoje é aniversário de um amigo muito querido. Meu irmão. Sabe aquela pessoa que você conhece já há tanto tempo, que até já esqueceu quando se conheceram? Eu digo sempre que eu o conheço desde que me dou por gente. Aprendemos as primeiras letras juntos. As primeiras contas, e crescemos!

Minha memória não é lá aquelas coisas, mas me lembro de pequenos detalhes de nossa infância. Ele tinha os olhos bem arregalados, e ainda os tem quando está preocupado ou assustado..., uma vez derrubei um estojo dele no chão. E voou pedacinhos para todos os lados daquela primeira sala do prédio da escola estadual Marquês de Sapucaí... Tínhamos sete anos. Primeira série. Choramos juntos: ele pelo estojo em pedaços, eu por vê-lo chorar, talvez, não posso lembrar ao certo...

Quando chegava época de festa junina, todas as menininhas queriam dançar quadrilha com ele. Só porque ele era o mais bonitinho.... Eu nunca dancei quadrilha com ele. Ah, não na escola, porque depois de grande, uma vez dançamos quadrilha na festa junina do Canto Caipira...Me lembro da tal dança do pulinho, acho que nós dois mais riamos do que pulávamos...

Nossa, nós brigamos tanto e tantas vezes e por tantas coisas... Tínhamos, e ainda temos muitas vezes, opiniões invertidas... Mas o meu amigo sempre foi um homem de ciência. Acho isso muito legal. Desde pequeno, ele adorava todas aquelas coleções, de chocolate, de chiclet, do que fosse, sobre dinossauros, sobre a origem do mundo, os peixes... Ele sempre sabia tudo, aqueles nomes científicos estranhos... Eu sempre fui mais borboleta... Gostava mesmo era de literatura e poesia. Mas ele também gostava disso. Gostava de ler minhas agendas e descobrir meus versos perdidos entre uma música e outra...

Ele já teve ciúmes de mim e eu ainda tenho dele... Durante os últimos anos do ensino médio, nos tornamos inseparáveis. Ele entrou na faculdade antes de mim. Mas sempre que voltava durante o primeiro ano de faculdade, dizia que estava me esperando. E foi ele que me incentivou muito a estudar e prestar vestibular. Apesar que, no dia em que fui prestar vestibular, esse meu amigo que apronta umas que só ele consegue, me levou para a casa dele, mas não levou a chave da casa. Era período de férias, e eu então tive que pular um muro para poder entrar na casa dele...

Quando fui morar longe de casa, o que me acalmava era saber que meu irmão estaria lá. E esteve. Ele é muito querido. É engraçado, atrapalhado, muito inteligente, tem as manias dele, mas quem não tem... Conheci muita gente legal por causa dele. Fiz amizades preciosas na faculdade. Pessoas que abriram um espacinho em suas vidas para mim porque eu era "a amiga do Mineiro".

Tem muitas lembranças e muito presente que nos une, e espero que muito futuro também...
Esse meu amigo querido, o Fael, o Mineiro, o Rafa, o Rafinha, tem um papel fundamental na minha vida. Aprendi muitas coisas com ele. É um desses amores eternos que a gente tem na vida, e que nem foi porque escolheu... foi presente mesmo!!!!

Feliz aniversário meu querido amigo!!! Te amo muito!

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

"Balanço"

Balançava-se na rede. Sorria. Aquele sorriso bobo que desfila no rosto de pessoas apaixonadas. Olhava para o nada e enxergava tudo... Os olhos, às vezes, ficavam marejados. Os sentidos, numa confusão própria do estado em que se encontrava, pareciam gozar de uma intensidade como há muito tempo não possuíam.

Pensava na rapidez em que tudo acontecia. Questão de dois ou três dias. Quem poderia imaginar? E como é bom não imaginar nada e ser tomada de assalto, num repente, traída pelos próprios olhares e desejos.

Agora ele está longe. Talvez sinta essa mesma embriaguez leve. Talvez também sorria para as paredes, ou para os passantes na rua. Talvez dê bom dia até mesmo aos pequenos insetos que venham se aproximar de seu rosto ou de suas mãos...

Ele ajeita os óculos de maneira tão graciosa. Meu deus! Tão pouco tempo e já se prendeu a esses detalhesinhos... A rede parou. Mas ela continuou sorrindo. Ainda ouvia a voz dele. Uma semana parecerá um ano... É preciso controlar a imaginação, pensava. As surpresas são sempre melhores. E quão melhores... Mas já pode quase sentir o coração acelerado, quando se encontrarem novamente.

Afastando-se um pouco da felicidade das últimas horas, percebia o quão distante esteve desse sentimento de bem querer, dessa vontade de ter alguém por perto, de sentir uma respiração e aspirar um hálito quente e, de olhos fechados, guiada apenas pelas pontas dos dedos, gravar cada detalhe de um rosto novo...

-Ana! Ana...
-Você falou comigo?
-E tem outra Ana por aqui? - Cecília forçou uma cara de brava que logo se desfez num sorriso, enquanto a cabeça movia-se lentamente de um lado para o outro.
-Desculpa...O que é??
-Ia perguntar por que tanto sorri, mas acho que já sei: Henrique.
-É...- E Ana novamente mergulhou nas imagens que desfilavam diante dos seus olhos, na parede branca, onde Cecília penduraria o novo mural da casa.

Cecília a observava e foi contagiada pelo sorriso. Colocava as últimas fotos no mural. Algumas festas, outras viagens, outras simplesmente registro de horas descontraídas em casa. Pena que não tinha uma câmera agora. Registraria o sorriso bobo de Ana. Mas os olhos, brilhando e às vezes marejado, talvez porque marejados ainda brilhavam mais, não haveria câmera que pudesse registrar... Sabia bem o que era aquilo: Felicidade. Quase sentiu uma pontinha de inveja. Mas logo tratou de empurrá-la para um daqueles cantinhos escuros nos quais escondemos nossos sentimentos mais feinhos...

Levantou-se e colocou o mural na parede.
-Ficou bom, né? O que acha?
-Ah?...Ah! sim, está bom. Hoje você não colocou muito açúcar.
-O quê?? do que você está falando?? eu perguntei do mural! Ana...
-Ai Cecília, desculpa, estava distraída, pensei que falava do suco...Sim, sim, o mural ficou ótimo.. desculpa!
-Tudo bem! por hoje passa.. Tô indo pra aula, mas vê se aterrisa menina...

As duas riram. Cecília desceu as escadas. Ana deu novo impulso à rede, tão novo quanto o que sua vida ganhara. E deixou-se balançar...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Dica do dia

Nossa, tenho que fazer isso!! Esse meu amigo escreve muito bem! o último texto que ele postou no blog dele está muito bom! Uma leitura muito agradável! Nobre Ordinário:Leiam!Não vão se arrepender!

domingo, 27 de janeiro de 2008

Novidade

Hoje tenho todas as cores do mundo dentro dos meus olhos,
tenho todos os cheiros,
todas as mais lindas melodias,
tenho uma vontade de cantar,
estou voando como borboleta num jardim florido...

Hoje o vento mais do que frio traz um segredo:
de que de repente fiquei feliz!
e ouço um barulho que faz meu coração bater descompassado..
e o resto, a continuação,
serão outras páginas.
muitas páginas...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Achados e perdidos

Ontem decidi procurar um texto que escrevi faz muito tempo, quando estava no colégio, para mostrar a uma das meninas que moram comigo. Peguei uma cadeira, levei para o quarto. Subi na cadeira e fui mexer nos muitos pacotinhos plásticos cheio de folhas e pastas de papel. Achei duas. Nem sabia que tinha tanta folhas, pedacinhos de capa de caderno, rascunho, e por aí vai, escritos... Encontrei coisas das quais havia me esquecido totalmente. Palavras confusas que me foram entregues e que nunca pude compreender. Versos melosos que escrevi em algum dia de chuva, quando estava de tpm...Mas o bendito texto que queria mostrar para Fabi, esse não encontrei.

Foi uma brincadeira que fiz quando estava na sétima série, com títulos de livros e nomes de alguns personagens. Ficou interessante. Até foi publicado nuns dois jornaizinhos locais: o da minha cidade, "A voz da montanha" - nome simpático né?, e o outro, não me recordo o nome, mas era de um cara que mais tarde veio a ser meu professor de literatura no cursinho.

No entanto, encontrei uma raridade. Um soneto que escrevi em 1999. Mas o que é mais interessante desse soneto é a origem dele. Quem já leu Dom Casmurro? Lá pelas tantas, há um capítulo chamado "Um Soneto". Bentinho, no seminário, vê-se as voltas com uns versos: "Oh! flor do céu! oh! flor cândida e pura!" e "Perde-se a vida, ganha-se a batalha!", os únicos que apareceram quando ele pensava em escrever um soneto. Depois de tentar, de pensar quem era essa "flor", de orgulhar-se da magnitude dos versos, sem, no entanto, poder concluir o tal soneto eis o que se segue: "Pois, senhores, nada me consola daquele soneto que não fiz. Mas, como eu creio que os sonetos existem feitos, como as odes e os dramas, e as demais obras de arte, por uma razão de ordem metafísica, dou esses dous versos ao primeiro desocupado que os quiser."

Imaginem qual não foi a minha alegria. Eu e meus 14 aninhos. Recebendo ali, por meio de Bentinho, das mãos de Machado, dois versos de presente para escrever um soneto. E foi exatamente o que fiz. Fechei o livro e escrevi. O título foi tomado de empréstimo do capítulo. Confesso que tive de fazer uma pequena alteração no segundo verso, mas talvez esteja perdoada...

Um soneto

Oh! flor do céu! oh! flor cândida e pura!
Vens estampada num sorriso de candura!
É com leveza que te aproximas,
Oh! flor do céu! que perfuma e me anima!

Oh! flor do céu! És vida ou morte?
E o que vens me trazer? Perdição ou sorte?
Oh! flor do céu! oh! flor cândida e pura!
Será que hás de cumprir o que teus lábios jura?

Oh! flor do céu! oh! flor cândida e pura!
Tu és a ferida que traz a cura,
és a morte que traz a vida!

Não penses tu, que tuas obras são falhas,
antes por ti perder a vida e ganhar a batalha,
Oh! flor do céu! oh! flor cândida e pura!

vai a dica também para que leiam Dom Casmurro. E tem muitas outras obras boas na Biblioteca Virtual.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Mutum


Bom, não sou muito boa para fazer esse tipo de coisa, mas vamos lá!
É a dica da semana: o filme Mutum, adaptação da história de Miguilim, uma das história da novela Campo Geral do Guimarães Rosa, que está em cartaz no Cinejaraguá.
Gente o livro é maravilhoso! mas o cinema não deixou a desejar! Na verdade não tenho muito o que dizer. Sai do cinema querendo silêncio...
Quem quiser saber um pouco mais sobre o filme dá uma espiadinha aqui .

É muito emocionante. Aquelas crianças deram um show! O Thiago (esse aí da foto) é uma criança encantadora! E a sensibilidade de cada cena, o olhar dele! Assistam! Principalmente quem leu e se emocionou com Miguilim..

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O envelope

Estava no último degrau, ia botar o pé na calçada, mas se lembrou que havia deixado o envelope em cima da mesa. Deu meia volta e pôs-se a subir os quinze degraus. Tentou acelerar o passo, mas estava com o corpo pesado, ainda sentia sono.

Que paredes sujas. Já tinha reclamado com a dona do prédio, mas não teve resposta. E ainda escuro. Aquela luz fraquinha do corredor, lembrando a luz de gerador do sítio dos avós, lá da sua infância, era motivo para que subisse a escada correndo toda noite. Além do mais, nem porteiro tinha. Tudo bem que pelo preço que pagava não dava para exigir tanto. Mas dona Joana poderia cobrar um pouquinho mais e melhorar a cara do prédio...

Envelope na mão, trancou a porta e novamente descia as escadas. Mas o que foi aquilo que ouviu? Pareceu um tiro meio abafado. Parou onde estava. O silêncio tomava conta de tudo. Aquela hora do dia ninguém mais estava em casa. Saiam todos muito cedo. Trabalhavam no centro. Mal conhecia os vizinhos. Vira alguns uma vez ou outra, fechando a porta, quase na rua, e nem sabia o nome deles. Ah, sabia sim! O seu Eduardo. Outro dia quando voltava a noite, trazia algumas sacolas do supermercado, e ele prontamente se ofereceu para ajudá-la. Trocaram meia dúzia de palavras. Ele morava sozinho. Ali mesmo, naquela porta de onde parecia ter vindo o barulho estranho.

O silêncio daquela manhã foi interrompido pelo toque do celular. Merda! Olhou as horas. Dez para as oito. Eu disse que chegava as oito? Por que está ligando? Estou sim.. está na minha mão. Estou saindo do prédio. Oito horas estarei ai...

O que teria de tão importante naquele envelope? Ele estava nervoso. Mas nos últimos dias estava nervoso e irritado sempre... Atravessou a rua e acelerou o passo. O escritório (ah, como tinha coragem de chamar aquilo de escritório? uma sala bagunçada e apertada!) ficava na rua paralela a sua. Sentido centro. Normalmente levava quinze minutos para chegar. Mas hoje só tinha dez, na verdade oito minutos...

O sol já estava ardendo aquela hora. A mão começava transpirar. O papel pardo do envelope logo ganhou algumas manchas de seus dedos. Hoje nem teve tempo de observar os que passavam pela rua, sua diversão de todo dia. Caminhava quase correndo... Ufa! Ofegante bateu na porta. Ele apareceu jádireção do envelope. Havia alguém mais na sala. Dessa vez nem disse para entrar. A porta permaneceu entreaberta, não pode ver o rosto de quem estava lá dentro.

Obrigado, e agora são oito e quatro. Fechou a porta antes que pudesse ouvir a resposta. Oito e quatro, é oito em ponto... Hoje não iria trabalhar. Resolveu ir até o centro, talvez fosse ao cinema, mas estava mesmo é sem rumo. Por um momento passou-lhe pela cabeça a idéia de voltar e bater na porta do seu Eduardo. Aquele barulho estranho havia mexido com sua imaginação...Mas acabou entrando no circular. Depois, se tivesse acontecido algo, saberia quando voltasse...

02/10/2007

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

O baile

-Do you speak english?
_ Não!

A resposta saiu rápida, mas carregada de culpa e raiva e até vergonha, por que não? Como havia chegado aos 23 anos sem falar inglês? Agora ali na sua frente, naquela rodoviária horrível, depois de um dia cheio dos mais absurdos contra-tempos.. aquele moço bonito, ali no seu lado... falando inglês..

O dia começou atrapalhado! Primeiro a idéia de dormir as quatro e meia da manhã quando tinha que sair umas cinco e quarenta e cinco de casa. Não deu outra: perdeu a hora! O celular despertando não foi suficiente para tirá-la da cama. Ouviu o barulho do circular quando ainda faltava muito para chegar a rua. Esperou impaciente o próximo. Contou os segundos até chegar no terminal. E quase pulou para o banco do motorista e guiou aquele ônibus até o terminal rodoviário..

Mas chegou na rodoviária as 7:03. O ônibus? já tinha ido! o próximo? só as dez e ainda não era para o seu destino final. Mas não fosse todo esse atraso e não teria trocado aquelas dúzias de palavras soltas com o australiano. Mas não satisfeita em perder o ônibus e ficar três horas na rodoviária, ainda conseguiu estragar um cartão de créditos para o celular...


Quase desistiu! Teve medo de seguir viagem e ser vitima de algum desastre fatal. Não, a amiga lhe esperava para o baile de formatura. Não podia desistir. Ainda bem que sempre carrega um livro na bolsa. "Cem anos de Solidão", começou a ler. Só assim não se sentiu só naquela rodoviária horrível... Até que passou rápido. Entrou no ônibus e dormiu. Também, estava com muito sono. Mas estava desconfortável. Acordou várias vezes. Um celular que toca, uma freada brusca, alguém que passa no corredor e esbarra nela. Abriu o livro novamente. Mas acabou tendo que desistir da leitura. Sentiu-se enjoada. Chegou. Precisa ir ao banheiro. Também precisava ligar para a amiga que iria buscá-la na próxima rodoviária. E eis que encontra aquele par de olhos azuis num corpo consumido pela ressaca...

No primeiro contato, talvez pelo turbilhão que estava sendo aquele dia, ou talvez por qualquer razão que desconheça mesmo, nem percebeu o sotaque do cara. Percebeu sim que ele estava numa ressaca grande. O cheiro de álcool e a garrafinha de água que ele tomava em goles longos o denunciavam. Mas foi quando ele principiou uma conversa perguntando por seu nome que deu conta de que não era brasileiro. Um australiano, como veio logo a saber. Estava passeando pelo Brasil já a dois meses. E já se arriscava a falar em português. Ainda bem, porque senão teria sido inútil a tentativa de aproximação. Talvez tenham tentado se comunicar por uns quinze minutos. Ele gosta de surf. Ia para a praia. Também gostava de ouvir as canções brasileiras, tocadas na praia nos violões. Confessou ter bebido muito na noite passada a ponto de não saber como viera parar ali. Tinha uma voz bonita. Um sorriso muito simpático. Alto, forte, um tipo que chama atenção, ainda mais com aqueles olhos azuis..

Mas logo os ônibus encostaram, cada um na sua plataforma. Não embarcariam no mesmo ônibus. Que pena. Lá se foi o australiano. Ela sentou na sua poltrona doida de raiva de não falar inglês. Poderia ter descoberto mais sobre ele. De repente ter pedido um email, ou qualquer forma de contato. Uma chance que caiu ali nas suas mãos depois de vários incidentes, mas não pode aproveitar. Foi pensando nele. Seria possível encontrá-lo de alguma forma? Orkut? poderia até ser... Mas pouco provável!

Chegou. A amiga demorou um pouco. Continuava pensando no australiano da rodoviária. Estava decidido: aprenderia inglês! Até o fim do ano tinha que ser capaz de falar algo... Estava com fome e com muito calor. Guardaram a mochila e foram para o Shopping. Almoçaram. Depois um chopp enquanto botavam a fofoca em dia. As amigas estavam animadas para o baile de formatura a noite. Contou todas as peripécias desde que acordara.

O baile foi bom! Mas é sempre estranho como a espera é muito melhor. Sempre comentava isso com a amiga. Desde a adolescência quando esperavam ansiosamente, quase um ano pela exposição agropecuária da cidade. Parecia que aquele tempo de espera, enquanto elas faziam planos e sonhavam jamais chegaria. Quando chegava a tão esperada semana, cinco dias passavam como se fossem um apenas. Tão rápido que nem sentiam o gosto direito. Era mesmo a espera que encantava suas vidas. Foi um pouco assim também agora: a espera, a viagem, os preparativos, e de repente já tinha passado tudo, e era hora de voltar para casa...



quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Lembranças e "desejos"

Um dia eu estava triste. Com vontade de chorar, mas nem sabia o porquê. Aqueles dias que a gente levanta, olha pro espelho e tem vontade de chorar...(eu sei que a grande maioria das mulheres vai me entender e os homens vão fazer aquela cara de : "eu sei do que você está falando"). Mas, como eu dizia, estava assim, triste, com vontade de chorar e era uma sexta-feira. As meninas que moravam comigo iam viajar. Eu ficaria sozinha em casa todo fim de semana. Tinha muitas coisas para estudar, ia ser um fim de semana daqueles. Uma das meninas que na época morava comigo, a Amandinha, uma pessoa encantadora, uma das pessoas mais meiga e linda que já conheci, conversou comigo de manhã, viu algumas lágrimas caírem dos meus olhos (não foram as primeiras e estavam longe de serem as últimas desde que a gente se conheceu!). Fui pra faculdade. Pra ser bem sincera, não me lembro do que fiz nesse dia. Mas voltei pra casa umas seis horas. Subi as escadas com vontade de chorar ainda. (Isso eu me lembro!). Abri a porta. Em cima da mesa encontrei uma folha de caderno com a letrinha da Amanda. Lá estava o poema "Desejos", do Carlos Drummond de Andrade. No final um recadinho lindo me desejando um bom fim de semana! A tal folha está até hoje colada na porta do meu guarda-roupas. Sempre que me sinto triste, por qualquer motivo que seja, eu vou lá e releio esse poema. Faz um bem... Então, vou aproveitar pra dividir com todos que passarem por aqui!

Desejos de Carlos Drummond de Andrade,
e meus também...

Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel

E muito carinho meu

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Reféns dos Améns

Desde pequena, e isso já faz um bom tempo, e me refiro somente a pequenez na idade mesmo, eu ouço minha mãe falar que os anjos, seres fofinhos de bochechas rosadas e que vivem no céu, estão sempre dizendo amém! E caso esses angelicais seres digam amém bem quando nós proferimos em alta voz algum desejo, tal desejo será realizado.

Por muito tempo eu temi expressar alguns desejos em voz alta. As vezes em que brigava com meu irmão e então sentia lá no fundinho uma vontade de que ele não existisse... Mas só pensava isso, porque caso eu falasse poderia ser que ele sumisse de repente! e que conta eu daria dele à minha mãe?? Mas bem que eu gostaria de ter visto como os anjos realizariam esse desejo...

Outras vezes eu repeti em vários ritmos, com velocidade e tom de voz diferentes, desejos que me eram caros, na vã esperança de que um anjo, um anjinho que fosse, dissesse amém...

Outras muitas vezes, deitada e olhando o céu, tentei sem sucesso encontrar essas criaturinhas entre as tantas imagens caprichosas e fofinhas de nuvens brancas. Em raras ocasiões tive quase certeza de ter visto umas asinhas entre um ursinho e outro. Pois se é verdade que existem seres que moram no céu esses são os ursinhos: gordinhos, magrinhos, orelhudos, de rabinho de coelho, e uma porção de outras formas. Mas anjos... bom, dizia a minha mãe que eles estavam lá em sua eterna repetição de améns.

Em alguns momentos de silêncio grande, ouvi vozes, coros suaves que entravam fazendo cosségas pelos meus ouvidos e pareciam em outra língua. Desconfio que os anjos dizem "amém" em outra língua, em língua de anjo...

Bom, eu só lembrei de tudo isso porque estava olhando para o relógio, que agora já marca 18:02. Pois não sendo suficiente falar amém o tempo todo, eternamente repetindo amém, as 18:00 horas minha mãe dizia que era a hora dos anjos! Mas não sei o que isso queria dizer. No entanto, essa não é a única coisa que eu não sei o que quer dizer. Tem muitas coisas, palavras, gestos, silêncios, teorias, propagandas que também entram nesse grupo...

Mas fato é que se os tais anjos existem, moram no céu, e ficam eternamente dizendo amém e que caso esses améns sincronizem-se com algum desejo que declaramos em alta voz esse desejo se realiza, ou eu nunca fui agraciada pelo amém dos anjos, ou minha memória esteve sempre com problemas...ou esses anjos andaram invertendo umas coisinhas por ai...
Estranho né, nem sei se anjos existem e minha vida pode estar, e talvez sempre esteve, à merce de seus améns....
13/01/2008

esse título eu devo à Fabi! Tudo por causa das oxítonas terminadas em ns que são acentuadas...

Pequeno recado aos navegantes...

Não sei por onde começar! Na verdade só queria mesmo era dividir, com aqueles que por ventura vierem passear por essas páginas, alguns trechos de "Cartas a um jovem poeta", de Rainer Maria Rilke. Foi uma das minhas leituras de férias, e gostei muito. Selecionei alguns trechos, e espero com eles conduzi-los a algumas horas de boa leitura.

"..O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, - ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranquila de sua noite: "Sou mesmo forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda. " (Paris, 17 de fevereiro de 1903, Rainer Maria Rilke).

"Amar também é bom: porque o amor é difícil. O amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta, a maior e última prova, a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparação. Por isso, pessoas jovens que ainda são estreantes em tudo, não sabem amar: que aprendê-lo. Com todo o seu ser, com todas as suas forças concentradas em seu coração solitário, medroso e palpitante, devem aprender a amar." (Roma, 14 de maio de 1904, Rainer Maria Rilke).


"A arte também é apenas uma maneira de viver. A gente pode preparar-se para ela sem o saber, vivendo de qualquer forma. Em tudo o que é verdadeiro, está-se mais perto dela do que nas falsas profissões meio-artísticas. Estas, dando a ilusão de uma proximidade da arte, praticamente negam e atacam a existência de qualquer arte. Assim o faz, mais ou menos, todo o jornalismo, quase toda a crítica e três quartos daquilo que se chama e se quer chamar literatura. Estou contente, numa palavra, de ver que o senhor resistiu à tentação de cair nelas e está vivendo no meio de uma áspera realidade, solitário e corajoso." ( Paris, dia seguinte ao Natal de 1908, Rainer Maria Rilke).

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Prazeres

beber água de mina
canto de passarinho livre
Imagem & Ação com os amigos até o dia nascer
bolo de fubá com queijo e café
música
abraço de mãe
escrever um poema novo
banho de cachoeira
cantar no chuveiro
o velho cobertor num dia frio
o grande tapete verde mal estendido de minas...
fechar os olhos e sentir um beijo
ouvir vozes conhecidas - pai, mãe, irmãos, amigos
sentir saudade

Escrito em 12/01/2008

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Contos da Morte

Estava gelada, como sempre. Caminhava a passos largos. Se alguém a pudesse ver, pensaria que estava muito atrasada. Mas nem era atraso. Estava mesmo era ansiosa. Embora não pudesse mais lembrar a primeira vez que viera buscar alguém, agora sentia uma emoção que talvez se assemelhasse a que sentira em tal ocasião.

O endereço estava no bolso do paletó. Mas nem seria necessário. O lugar era um velho conhecido seu. Estivera na casa de janelas e portas azuis duas vezes no ano passado. Uma no ano retrasado e cinco anos atrás estivera ali, ainda que só de passagem, umas quatro vezes, só no primeiro semestre.

Caminhava rápido. Quase onze e meia da noite. Sabia que Ana estaria acordada ainda. Conhecia já seus hábitos. Desde a primeira vez que lá estivera, Ana na rede da sala, no ir e vir silencioso, ficara gravada em sua memória. Tinha os olhos brilhantes, mas o olhar distante. Não adormecia antes daquele ir e vir. Sabia também de seu desejo de ser encontrada quando já adormecida. Várias vezes ouvira sua voz firme, porém doce e delicada, afirmando que quando chegasse sua hora de partir, preferia estar dormindo. Não tinha medo. E saberia quando tivesse chegado sua hora...

Estava ansiosa por confirmar se Ana a estaria esperando! Na verdade, para ver se ela conseguiria dormir... Pois se ela soubesse mesmo quando tivesse chegado a hora, não imagina que conseguiria adormecer, nem com o ir e vir da rede..

Mas seria um grande encontro! Talvez se olhassem bem nos olhos. Poucas vezes alguém pode olhar dentro de seus olhos. Poucas vezes encontrou alguém que a esperasse sem medo. Nas outras visitas Ana estava sempre acordada.. no seu ir e vir silencioso da rede. Quando foi a vez da mãe de Ana partir, ao entrar na casa, Ana parou o balanço. Olhou para todos os lados da sala. De repente fixou o olhar bem no lado esquerdo da porta do quarto da mãe, onde estive parada por um minuto observando Ana. Seus olhos se encheram de lágrimas. Mas não tinha medo.

Quase não cumpri minha tarefa.. Ela parecia olhar para mim. Parecia me olhar nos olhos. Com aqueles olhos marejados. E de súbito levantou-se e caminhou em minha direção. Abriu a porta do quarto. Parou no lado direito da cama. Olhava para a mãe e olhava para a porta. Parecia me convidar a entrar. Desejei levá-la naquele dia. Mas eu não podia..Coloquei-me diante dela e quando aspirei o último suspiro de sua mãe, quase vi um sorriso entre suas lágrimas.

******

A luz da sala estava baixa. O resto da casa escuro. No pequeno jardim em frente a casa só uma roseira branca parecia sobreviver ao início do inverno. Pegou uma rosa branca...
_Que cheiro de flor! Alguém cortou uma de minhas rosas. Mas a essa hora? Quase meia-noite. A rua estava tão silenciosa.

Estava calma, mas as mãos tremiam levemente e um suor frio brotava delas. Já sentira isso duas vezes no ano passado. E também quando a mãe a deixara. Lembrava de seu desejo, tantas vezes expresso em alta voz: dormindo! É assim que gostaria de embarcar em sua viagem. Embora afirmasse não ter medo, não se atrevia a dizer aquela palavra. E agora sentia que estava chegando a hora. Não sentia sono. Os pensamentos estavam um tanto confusos. O antes e o agora pareciam um só. Recordava-se das outras ocasiões em que estiveram tão próximas. Mas agora seria diferente. De fato estaria frente a frente com ela. Veria sua face? Olharia em seus olhos? Como seriam seus olhos?..

Um arrepio na espinha e o cheiro mais intenso de flor. Ela já estava ali. Não havia dúvidas. Parou o ir e vir da rede. Um rosto pálido em meio a um casaco negro? Não seria tão caricata assim. Talvez fosse uma criança. Talvez um velho. Talvez não tivesse face. Ou todas essas faces juntas.. Ou talvez não tivesse forma alguma. Durante todos esses anos escondera o medo. Disfarçara o pavor em seu desejo de estar dormindo. O sono a privaria desse encontro. No sono e no sonho talvez pudesse recriá-la e inventá-la sob uma forma que não assustasse... Desejava ouvir apenas um sussurro dizendo que havia chegado a hora... Mas agora, começa a sentir consumida pelo medo. A proximidade e a certeza de sua chegada não lhe permitia sequer fechar os olhos, ainda mais dormir. Temia ser transpassada por uma faca muito bem afiada.. Olhava para todos os lados mas recusava-se a enxergar...

*********

Ana não estava pronta. Era isso! Pela primeira vez ela não foi capaz de disfarçar seu medo! Não sorria. As lágrimas tão pouco lhe faziam companhia. Tinha na face o horror estampado. Que decepção! Não seria o grande encontro que havia esperado! Não poderia olha-la nos olhos. Ela jamais a veria! Ana não estava pronta! Era como a maioria dos outros.
Até mesmo ela havia se enganado. Ana fingiu bem. Aquele tempo todo. Foi um jeito de mantê-la longe. De adiar o encontro. Mas não poderia terminar agora...

Ana mal podia respirar. Sentia uma dor estranha. Ouviu vozes murmurando coisas incompreensíveis. Sentiu cheiro da mãe. O cheiro da infância. Das tardes de sol na rua, da casa velha. Sentiu cheiro da merenda da escola. Sentiu o cheiro das paixões que deixou morrer, do amor que nunca permitiu nascer. Teve medo. E chorou. Escondeu o rosto entre as mãos. Sentiu-se pequena. Sentiu-se medíocre. Sentiu-se humana...
Quando levantou a cabeça viu uma flor branca. Uma de suas rosas brancas a seus pés. Entendeu que teria muito tempo ainda até que o grande encontro acontecesse. Não estava preparada. Aquele foi só o começo...

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caminhava contrariada. Não tinha mais pressa. Estava chateada. Seria só mais uma noite de trabalho. Logo a sua frente um homem caminhava a passos apressados. Olhava para trás e mais rápido andava. Tropeçou. Caiu. Um sangue escuro escorreu de sua cabeça. Ela se aproximou. Sem nenhum ritual, sem nenhuma emoção. Tomou o último suspiro dele. Não sabia quem era, o que fazia, nada! Continuou caminhando, a noite era longa! a sua então, era eterna...

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