sábado, 25 de junho de 2011

Da série: "Coisas que só acontecem em Minas" - Parte I

Faz já um tempo que penso em registrar algumas particularidades da minha terra e da minha gente, mas sempre penso que ainda não tenho material suficiente para escrever algo que valesse a pena ser lido. No entanto, hoje, num repente enquanto tomava banho, tive a ideia de fazer por partes. De ir escrevendo de acordo com o que eu lembrasse ou com o que me inspirasse. Duas coisas hoje ficaram rondando minha cabeça.

Lembrei-me da primeira vez que disse 'empinhocado' aqui em Campinas, para as meninas que moravam comigo. A cara delas foi de espanto e a pergunta foi imediata: o que é isso, empinhocado? E eu fiquei pensando: empinhocado é empinhocado, uai. Mas fui explicar.
É que lá em minas os lugares não ficam cheio de gente, por exemplo, o circular interno Moradia-Unicamp era empinhocado de gente. Ou seja, o povo fica lá, um por cima do outro, parecendo pinhão na pinha....


A minha frase, na época, foi assim: "Nossa, o povo vem tudo empinhocado no motorista..."
Traduzindo: O povo vem todo amontoado, um monte de gente em cima do motorista;

A segunda coisa foi que lá em Minas as pessoas não ficam ocupadas, elas ficam cochadas. Bom, lá também a gente cocha o parafuso! Ou seja, aperta o parafuso; Mas toda vez que eu falo de cochar um parafuso tem sempre alguém pra fazer piada ou rir de mim e perguntar: fazer o quê?

Bom, mas voltemos ao estar cochado. Talvez pra ouvir essa expressão você precise desbravar os longínquos recantos das terras do sul de minas, lá nos sítios e fazendas, mas que é assim é. Acho que a ideia é a seguinte: você tem tanta coisa pra fazer, tantas tarefas, tanto trabalho, que você imagina que seu corpo vai ficar todo cochado - imagina um parafuso sendo cochado na parede, dando voltas e voltas; agora imagina uma pessoa, se movimentando loucamente, dando voltas e voltas, braço prum lado, perna pro outro, pra dar conta de fazer várias tarefas ao mesmo tempo. Imaginou? bom, é mais ou menos essa a ideia de estar cochado de serviço. Então você convida alguém pra fazer um passeio e a resposta é: Ixi, vai dá não, tô cochado de serviço por aqui. Quer dizer que o mineiro está cheio de trabalho, sem tempo pra diversão.

(Tentei achar uma imagem para ilustrar, mas fico devendo, vão ter que se contentar com minha descrição mesmo.)

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Formação de Quadrilha legalizada ou Sobre a proposta de manter em sigilo o orçamento da Copa 2014

Para tudo! Não é possível que vamos assistir a tudo isso calados!
Deu na folha hoje, "Governo quer manter em sigilo orçamentos da Copa 2014". Isso é a maior palhaçada que já li nos últimos tempos.

O que eu ainda não entendi é o que vamos fazer com todos esses estádios olímpicos depois dessa copa? Nem precisa dizer que será dinheiro jogado fora! Porque em 5 anos estará tudo em péssimo estado de conservação. Bom, parte do dinheiro jogado fora, outra parte (grande parte!) estará contribuindo para o surgimento de meia dúzia de milionários nesse país de maioria de otários! 

Mas viva o país do futebol! 
Porque com a copa muitas obras de infraestrutura serão feitas e o país só terá a ganhar! Ahan, Claudia, senta lá.
Aeroportos? Estradas? Até agora só estou ouvindo falar de estádios...sim, obras atrasadas! Mas que, agora, com a MP 527 vão sair bem rapidinho...(sabe não o que é MP 527? Medida Provisória que cria o RDC! Não sabe o que é RDC? Regime Diferenciado de Contratação. Lindo, não é? Deveria se chamar RCCMJ - Regime de Contratação Casa da Mãe Joana!). Para quem tiver paciência e estômago e quiser dar uma olhadinha sobre o que mais versa a tal MP, clique aqui.

Nosso rico dinheirinho indo parar sabe-se lá onde! 

Dois grandes eventos esportivos. Fluxo alto de turistas por todo esse Brasil. E até agora medidas de prevenção ou de alerta para casos de prostituição infantil não passam de ruídos...O orçamento do governo federal para projetos de prevenção e conscientização de que exploração sexual de menores é crime também correrá em sigilo?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Aquilo ou isto?

Ou isto ou aquilo: ou fico em casa e leio meus livros,
ou viajo pra São Paulo e encontro meus amigos!
Não li os livros,
logo,
fui pra São Paulo e encontrei os amigos,
numa noite fria, numa casa quase assombrada.

Ou levanto cedo e congelo de frio,
ou durmo mais um pouco e atraso o trabalho.
Atrasei o trabalho...
porque levantei cedo mas resolvi não trabalhar.

Ou aquilo ou isto: ou escolho e sou livre,
ou me engano acreditando ser livre e fingindo que faço escolhas.
Ou não é nada disso desde o começo.

Ou escrevo quando estou inspirada
ou forço a barra, ajuntando palavras, apagando mais que escrevendo e não fico satisfeita.
Ou faço uma experiência pra entender o que é estar inspirada:
e abro uma página em branco e faço de conta que preciso escrever...

Ou isto ou aquilo: ou aquilo ou isto
e tem gente que ainda não descobriu que toda ação gera uma reação,
e nem sabe que fazer escolhas é encarar responsabilidades:
e tem filho sem querer ser pai, ou quer ser mãe sem querer ter filho.

E eu não sei, não sei se fico ou se passo,
sei que gosto de Cecília, de Pessoa, e um pouco de Picasso...
e que ou escrevo versos ou invento estórias,
e que invento estórias e escrevo versos!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Os amigos

De vez em quando (porque nem sempre a correria nos permite tanta proximidade), os amigos mandam notícias! Ou eu resolvo mandar notícias, seja por uma ocasião especial de aniversário, formatura ou casamento ou simplesmente porque bateu a saudade!

E como é bom saber que tem uma amiga apaixonada, feliz que só, com um novo amor! A gente fica feliz junto! Até sente um pouco da paixão! Quer saber de todos os detalhes, nome, RG, CPF e currículo completo do ser que está fazendo bem a quem tanto amamos! 

Ah, os amigos! Tem um que está mais atarefado, um pouco mais melancólico que de costume, mas ler suas palavras num e-mail um pouco mais longo nos faz sentir perto, parte de mais um momento, nos faz sentir amigo!

E marcamos encontros, combinamos um café, um papo mais demorado, uma visita! E ficamos na expectativa de dar aquele abraço gostoso, de ouvir os causos, de rir juntos (e chorar se for o caso).

Eu não sei viver sem meus amigos! Aqueles queridos, de longa data, e os que já vão se enquadrando entre os 'velhos' amigos! Eu tenho uma boa dúzia de amigos muito próximos e queridos que fazem falta! Que vez ou outra manda notícia e me faz feliz! 

Eu estou num momento que não tenho muita disposição para conhecer novas pessoas. Talvez isso passe. No momento me empenho em cultivar aquelas pessoas que, nos últimos anos, se tornaram fundamentais na minha vida! E não são poucas! E estão espalhadas por esse Brasil! Então não é uma tarefa muito fácil manter contato.  Mas tenho feito o possível! Entre um telefonema e outro, um e-mail e outro, e um encontro daqueles de juntar a turma! ah, como faz bem! 

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O reino das palavras

É incrível como as palavras me comovem. Como uma poesia, um simples verso, pode me levar às lágrimas. É um ritual. Sim, ouvir poesias faz parte de um ritual de purificação. Não sou eu, mas elas que, surdamente, penetram em mim, e constroem um reino que é pura explosão, que se desfaz em ondas grossas e quentes de lágrimas que banham minha face. E são quadrilhas e canções, Drummond e Clarice, amor e muitas rimas, e Guimarães e Pessoa, e saudades e rebeldias, e Vinícius e Gregório de Matos. 

E são tantas almas na mesma palavra e tantas palavra numa mesma alma. E eu me sinto uma com todas aquelas almas em apenas uma palavra: inquietação! E as palavras fazem de mim tantas: as que fui, as que gostaria de ser, as que desejo esquecer... 

Mas, fato é que as palavras me comovem. E choro sem saber bem o motivo: se de saudade ou de tristeza, se de paixão, de alegria ou de medo. E parece que é de tudo um pouco. E parece que tudo junto é outra coisa que não sei dizer.

*****

Dica da semana


Direto da Praça da língua:

      TABACARIA
    Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

 (Álvaro de Campos)

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


De Primeiros cantos (1847)
Gonçalves Dias



Epílogos

Que falta nesta cidade?................Verdade
Que mais por sua desonra?...........Honra
Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta, numa cidade,
onde falta Verdade, Honra, Vergonha.

Quem a pôs neste socrócio?..........Negócio
Quem causa tal perdição?.............Ambição
E o maior desta loucura?...............Usura.

Notável desventura de um povo néscio,
e sandeu, que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.

(...)
E que justiça a resguarda?.............Bastarda
É grátis distribuída?......................Vendida
Que tem, que a todos assusta?.......Injusta.
Valha-nos Deus,
o que custa, o que El-Rei nos dá de graça,
que anda a justiça na praça
Bastarda, Vendida, Injusta.
(...)
Gregório de Matos

sábado, 4 de junho de 2011

E vai que vira moda..

"Prédios estão multando moradores que falam palavrão durante jogo na quadra ou que gritam palavras de baixo calão nas janelas" (folhaonline). 

Vamos lá, é chato conviver com a falta de educação alheia? Claro que é! Eu mesma outro dia sugeri aqui que se multasse pessoas que ligam som alto no celular dentro de ônibus ou metros e outros lugares públicos e que incomodam. Até entendo os que se incomodam com a gritaria dos vizinhos em dia de jogo (já convivi com isso e sei que não é legal). Mas o problema não é o que eles gritam, e sim o barulho, a falta de noção com respeito aos limites dos seus direitos. 

Mas multa para palavrão na quadra? Isso é coisa de quem jamais jogou bola! De quem jamais se reuniu com os amigos para um futebol ou vôlei no fim da tarde, depois do trabalho, ou no fim de semana. Coisa de quem fica em casa mal humorado, que não tem amigos que o chamem para jogar futebol ou qualquer outra coisa, peteca, que seja! 

Apresente a primeira multa quem nunca soltou um palavrão de boca cheia depois de levar um chute na canela, ou de tocar na bola de vôlei de mal jeito e torcer os dedos ou abrir os pulsos. 

Mas e se a moda pega? E se daqui há pouco impedem de falar palavrão no corredor dos prédios? Nas garagens? Dentro das casas? Você está andando, dá aquela topada no degrau e diz logo: pqp! Ou então saiu de casa com pressa, está atrasado, desceu as escadas correndo, mas quando parou diante do carro: cadê as chaves? O que você diz?

E imagina em cada uma dessas cenas um chato de plantão, ali do seu lado, prontinho pra te multar! E com certeza pensando, lá no fundo do seu eu politicamente correto e hipócrita: é, se f....!

Brincadeiras à parte, é o risco do politicamente correto nos rondando! E não me venham com essa de que é para proteger as crianças! Então vamos trancar as crianças numa redoma de vidro? Sem tv, sem amigos, sem video-game, sem vizinho falando palavrão... Até quando? Educar não é botar um filho num mundo que não existe! Criar um mundo de faz de conta! Ou será que vamos criar uma lei federal que proíba os palavrões? vixi, pra que eu fui falar isso...

Sinceramente, sou uma defensora dos palavrões! O ponto é que tem hora e lugar! E acho que a quadra de esportes é um lugar apropriadíssimo para os palavrões! É onde vamos extravasar tudo aquilo que tivemos que engolir durante a semana: mal humor do chefe, trabalho demais, trânsito, fila no banco, os chatos do telemarketing, o chuveiro que queimou bem no dia mais frio da semana, o ônibus que você viu partindo quando estava há alguns passos do ponto, a nota ruim do trabalho da faculdade e por aí vai. E depois de correr, cansar, e gritar uma meia dúzia de palavrões, parecemos mais leves! Prontos pra começar tudo de novo!

Se essa maluquice pega, logo todos os lugares terão placas de que estamos sendo filmados e vigiados, e haja criatividade para tantas multas que ainda poderão ser criadas...

Sobre o que se fala

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