quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Abandono

Desde que ela se foi essa casa virou um lugar triste. Em todos os cantinhos, todos os móveis e objetos espalhados pela casa, tudo lembra ela. A cada vez que volto para casa, ao abrir o portão, meu coração novamente se despedaça sem encontrá-la. Sem sua alegria, sem sua recepção carinhosa. Atravesso o corredor e não me sinto entrando em casa... Entro e meus olhos a buscam pelos cantos. Vou quase automaticamente para o quarto, na esperança de encontrá-la preguiçosamente dormindo em nossa cama. Acendo a luz e nada! Sou tomada pela profunda tristeza que a ausência dela tem deixado nessa casa. 
Por quê? O que aconteceu? Será que ela não estava feliz? Será que encontrou alguém que lhe desse mais carinho? Ou será que foi seduzida por alguém que apenas a queria longe daqui? Como saber? Ela se foi e ninguém viu, ninguém sabe. Como se por um milagre, um buraco tivesse aberto na terra e a engolido... Foram tantas buscas em vão. Anúncios na internet, perguntando pela rua, para os vizinhos, mas nenhum sinal. 
Se ela soubesse a falta que faz. Como a casa ficou vazia. As coisas dela ainda estão por aí, espalhadas pela casa, como se ela fosse voltar a qualquer momento. 
Às vezes, durante à noite, acordo num sobressalto, penso ter ouvido algum barulho. Será que ela voltou? Acendo a luz, mas nada. Não a encontro em parte alguma. Chamo pelo seu nome. Sem respostas. Tudo o que encontro são as minhas lágrimas que, quentes e grossas, atravessam meu rosto contorcido pela saudade. Será que do mesmo jeito que ela veio ela resolveu partir? Porque foi assim, ela foi chegando, como quem não quer nada, foi ficando um dia, o outro também e de repente já era dona da casa. Será que ela planejava fazer isso há algum tempo? Será que ela foi se afastando aos poucos e eu não percebi? Quando ela regressava tarde da noite, eu não queria saber por onde ela havia andado, apenas ficava feliz porque finalmente estava em casa. Será que eu errei dando a ela tanta liberdade? Deveria tê-la prendido? Seria para protegê-la (e também para me proteger!). Mas agora é tarde, ela se foi. Mas a casa ainda é dela, a cama, o sofá, as cadeiras do escritório, o tapete do corredor e o tapete do quarto. 
Só que que é assim que me sinto: abandonada... Talvez deva me conformar que ela encontrou alguém melhor que eu. Assim desejo, para que meu sofrimento não aumente. Que tenha outras companhias que goste tanto dela quanto eu, que a acaricie, alimente, brinque, dê colo (quando ela quiser!). Mas as portas, ou melhor, as janelas, estarão sempre abertas para ela...




Pretinha

Texto inspirado na saudade que sinto da minha gata, Preta, desaparecida desde o dia 11 de outubro.
Se alguém sabe onde ela está, por favor, avise, entre em contato, ela está fazendo muita falta e estamos muito tristes sem ela.

sábado, 1 de novembro de 2014

Mitos sobre a Educação

"Estamos mal porque o nosso ensino médio, voltado para o vestibular, reprova a metade dos alunos que nele conseguem entrar e os condena ao contingente do 'nem estuda nem trabalha'"(retirado de Por que a educação precisa mudar?, grifo meu). 

O artigo do qual retirei a afirmação acima é claramente anti-petista (e não estou aqui para defender o pt ou qualquer outro partido, porque realmente não acredito que nenhum deles mereça qualquer defesa quando o assunto é educação) mas acredito que por isso, apesar de ser publicado num meio de comunicação do Estado de São Paulo, parece ignorar a situação calamitosa da educação nesse estado há tantos anos conduzido pelo psdb. Mas isso é apenas uma constatação, não pretendo tratar dessa questão, até porque o desgaste gerado por essa polarização pt/psdb já deu o que tinha que dar. 

A minha questão é bem pontual e diz respeito ao que deixei grifado na citação, a saber, a afirmação de que o 'ensino médio brasileiro é voltado para o vestibular'. Se o João Batista estivesse falando do ensino médio das escolas privadas, das redes Anglo, Objetivo, COC, e por aí vai, eu estaria de acordo. No entanto, todo o texto dele é focado em políticas públicas e em escolas públicas (ou eu estou equivocada?), centrado em ações ou na falta delas por parte do governo federal. Até onde eu sei, o maior contingente de alunos hoje está na rede pública e, por outro lado, as escolas que ideologicamente têm o ensino médio voltado para o vestibular são justamente aquelas que mais 'aprovam' seus jovens no vestibular das melhores universidades públicas desse país. Perceberam o problema?

Desde o fim da década de 90, eu ainda estava no ensino médio, tornou-se moda nas escolas públicas o discurso de que esse segmento escolar deveria 'preparar o aluno para a vida' (e não para o vestibular, subentende-se). Desde aquela época o meu questionamento era: e o vestibular não irá fazer parte da vida do jovem egresso do ensino médio? Que a ‘vida’ do aluno do ensino médio não se resume ao vestibular estou de pleno acordo. Mas daí a negar a existência do vestibular em nome de uma formação para a cidadania ou seja lá que nome se dá para isso me parece um grande erro. Mas talvez esse erro seja estratégico.

Como eu disse, esse discurso é comum nas escolas públicas.  Hoje eu sou professora da rede estadual de São Paulo, e posso garantir que o ensino médio dessa rede não é voltado para o vestibular.  Na verdade passa a anos luz disso, ainda mais se estivermos falando do vestibular das universidades públicas. Não sei se estou sendo clara, mas essa negação do conteudismo e da preparação para o vestibular só se dá para os alunos de classe baixa, que são os freqüentadores das escolas públicas. Os filhos da elite brasileira não precisam ser preparados para a vida, só para o vestibular mesmo.

Antes que me acusem de ser mais uma professora mercenária e conteudista, permitam-me defender-me: sempre estudei em escola pública e tive a sorte de ter tido professores que resistiram a esse discurso de negação ao vestibular e, na medida do possível, me deram condições de entrar numa universidade pública. E sim, sinto que houve intenções e ações efetivas que também visavam preparar-me para a vida, preocupados com minha formação enquanto cidadã.

Não vou negar que os discursos dos documentos que orientam a educação são bonitos e bastante sedutores, pois falam de formação de valores, de cidadania, de habilidades e competências que preparam o jovem para a vida em sociedade, para o exercício pleno da cidadania. No entanto, na prática isso tem virado desculpa para um total desprezo pelos conteúdos escolares. A tal ponto de descaracterizar o papel da escola. Nesse sentido, estou de acordo com o autor do artigo citado inicialmente, pois ele afirma que “a escola que serve para tudo não serve para nada”.

A educação precisa mudar! Não acredito que haja alguém que discorde disso. Mas essas mudanças não podem ser feitas para apenas uma parte, a pública, no caso. Pode parecer extremismo – que seja!, mas eu acredito que a primeira e mais profunda mudança que a educação necessita é acabar com essa separação entre público e privado. Ou melhor, acabar com a exploração da educação pela iniciativa privada. Depois desse primeiro passo, precisaríamos discutir as políticas públicas educacionais com seriedade, enquanto ações públicas em vista da educação e não como politicagem, cujos interesses são bem outros que a qualidade da educação do povo brasileiro.

Só para finalizar, não acho que o grande vilão é o vestibular, mas sim a desigualdade de oportunidades que têm sido oferecidas nesse sistema misto que comporta educação pública e privada com diretrizes tão diferentes, para os jovens do ensino médio brasileiro. E não podemos tapar o sol com a peneira, jogando toda a responsabilidade para o governo federal, sem observar os insistentes equívocos de políticas públicas de secretarias de educação estaduais, que gozam de autonomia suficiente para montar seus currículos e criarem (ou não) planos de carreira para o professorado. Enfim, os problemas são tantos quando falamos desse assunto, que me parece complicado colocar no mesmo pacote toda sorte de responsabilidades para o fracasso da educação hoje. 

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