tag:blogger.com,1999:blog-40378604434445231922024-03-13T04:36:05.226-03:00MineiricesFrancine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.comBlogger396125tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-90296060998420890072024-02-05T18:53:00.003-03:002024-02-05T18:53:12.450-03:00Labirinto 2.0<p><br /></p>Como é fácil se perder<br />Nas telas.<br />Vendo a vida dos outros,<br />Propagandas, intrigas<br />E tantas outras bagatelas.<br /><br />São tantas cores,<br />Tantos movimentos,<br />Tanta informação (e desinformação)<br />Que a gente se ilude<br />E até pensa que tem o mundo<br />Na palma da mão. <br /><br />Tento ficar longe,<br />Não ser seduzido por elas.<br />Mas como é difícil, <br />Até parece<br />Que já sou dependente das telas.<br /><br />Reduzo os riscos, tento enfrentar<br />os danos e as tentações:<br />Desligo o celular, deleto perfis.<br />Boa mesmo é vida dos meus gatos<br />Que nada sabem de redes sociais,<br />Sites, apps e afins. <br /><br />Nesse mundo digital,<br />De senhas e touch screen,<br />Quem dera estivesse <br />na ponta dos nossos dedos<br />o poder de acabar com a ignorância,<br />a fome, a pobreza e a violência,<br />Que desfilam diante de nossos olhos,<br />Nas telas, <br />numa pornográfica exibição, dia e noite,<br />De tragédias anunciadas e sem fim. <br /><br />Dizem que somos<br />Uma sociedade conectada.<br />Mas será? <br />As redes mais parecem<br />Teias-armadilhas<br />Que nos predem e sugam nossas almas,<br />E, de repente,<br />Parecemos robôs,<br />e os algoritmos decidem<br />nosso almoço,<br />nosso sucesso ou fracasso,<br />e até nosso próximo amor:<br />é só fazer a selfie, fazer login,<br />postar, arrastar pro lado,<br />e o match foi dado!<br />É só curtir. <br /><br />Como é fácil se perder<br />Nas telas.<br />Labirintos luminosos<br />De belas imagens, <br />Corpos perfeitos.<br />Narcisos enfeitiçados<br />Por rostos irreais.<br />Tudo coisa de deepfake,<br />nada mais.<br /><br />O que sobrou daquela velha realidade<br />são lembranças de uma época<br />Cada vez mais distante. <br />Vivemos o fim:<br />Dos encontros offline,<br />Do olho-olho,<br />Do abraço, <br />Da algazarra no jardim,<br />Do piquenique no parque,<br />Da amarelinha na rua,<br />Dos almoços de família,<br />Dos jornais, das notícias e afins. <br /><br />Hoje tudo acontece<br />No deslizar da tela:<br />Compra, trabalho, estudo,<br />Lazer, esporte e paquera. <br />Até meus versos,<br />Ora vejam,<br />Já nascem numa tela.<br />E logo mais estarão nas redes<br />visualizados, lidos, <br />curtidos e compartilhados,<br />Ou simplesmente ignorados, <br />entre dezenas de milhares <br />de outros tantos textos<br />que, talvez, não passem <br />de mais um pixel<br />insignificante,<br />Nessa tela gigante,<br />Na qual figuramos<br />Você e eu,<br />Nossos filhos e nossos pais,<br />Como bobos da corte:<br />Somos distrações distraídas,<br />Inconsequentes e perdidos<br />Numa busca,<br />Fadada ao fracasso,<br />De satisfação, completude, <br />Glamour e tudo mais. <br /><br />Como é fácil se perder <br />Nas telas,<br />Nas janelas que se abrem,<br />Nas vitrines e nos palcos,<br />Nos quais novos indivíduos estreiam na vida<br />Num exibicionismo incessante,<br />Que vai do nascimento até a morte<br />E não para um instante. <br /><br />Como é fácil se perder<br />Nas telas,<br />Que nos consomem <br />Enquanto nos convencem a consumir.<br />Que nos vendem <br />Enquanto pensamos comprar. <br />Que nos vigiam <br />Enquanto nos deliciamos em espiar<br />Subcelebridades e anônimos,<br />Todos personagens de uma<br />comédia duvidosa<br />ou de um drama chinfrim. <br /><br />Como é fácil se perder <br />Nas telas. <br />De repente me pergunto:<br />Será que eu ainda estou <br />Do outro lado<br />Ou já fui completamente<br />Tragada, engolida, enredada?<br />E se estou do lado de lá,<br />Ainda sou humana<br />ou sou só mais um holograma,<br />mais um arremedo de sujeito?<br />Serei também eu<br />Um perfil assujeitado,<br />Mais um boot programado<br />Para parecer gente de verdade? <br /><br />Ei, você, que lê meus versos:<br />Cuidado!<br />É muito fácil se perder<br />nas telas.<br />Mas você ainda pode escapar, <br />É só desligar o celular, <br />o computador, o notebook,<br />e sair por aí. <br /><br />Vá, não perca mais nenhum segundo,<br />Tire seus olhos desta página,<br />Abra a janela,<br />Sinta o cheiro deste dia.<br />Respire fundo, <br />sorva a poesia<br />que brota numa folha.<br />Diga um oi<br />Para alguém. <br />Ou abra um livro,<br />um caderno e<br />faça seus próprios versos<br />sua própria rima. <br /><br />Se você conseguir fechar a tela, <br />Se conseguir escapar do labirinto,<br />Boa sorte! <br />E lembre-se:<br />Você não está num jogo,<br />Aqui não tem roteiro pronto, <br />Também não tem como editar,<br />É uma live de verdade,<br />E você vai ter que improvisar,<br />Aprender com os próprios erros,<br />Assumir os riscos, <br />A vida está acontecendo agora!<br />Mas, acredite, vale a pena! <br />Como já dizia Pessoa:<br />Tudo vale a pena<br />Se alma não é pequena.<div><br /><p>
</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnF6GEBHnbKCnWWwKE2q63Jp1AYOFlekZVoYKp_ZD37jisrO_m_9XwnkInUxr29Mq6hBQUGMxi5Q8jUurMI6t-kkQLXLGvxEByruQQ1z0BtxHAFXysgzJ71o845G8PPtEbatRw1B7kk84LsnFqpMBPUN4Oal9qnD9ecsv2gnPlhsLJNWKyrKHmiE2RzFo/s1080/WhatsApp%20Image%202024-02-05%20at%2018.45.12.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnF6GEBHnbKCnWWwKE2q63Jp1AYOFlekZVoYKp_ZD37jisrO_m_9XwnkInUxr29Mq6hBQUGMxi5Q8jUurMI6t-kkQLXLGvxEByruQQ1z0BtxHAFXysgzJ71o845G8PPtEbatRw1B7kk84LsnFqpMBPUN4Oal9qnD9ecsv2gnPlhsLJNWKyrKHmiE2RzFo/w400-h400/WhatsApp%20Image%202024-02-05%20at%2018.45.12.jpeg" width="400" /></a></div><br /><p></p></div>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-55938722126108305102024-01-15T13:56:00.009-03:002024-01-15T13:56:47.301-03:00Maturidade <p><span style="font-size: 12pt;">Já não tenho o corpo</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Que eu tinha aos vinte e poucos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Mas sei que de algum modo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ainda sou aquele corpo também.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 141.6pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">E as experiências gravadas<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Na alma e na pele<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Cada toque, cada cheiro,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Cada espasmo de prazer<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">E todas as lágrimas vertidas até hoje<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">São partes daquele corpo também.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 141.6pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">As rugas, as celulites e os cabelos brancos de agora<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Cada cicatriz, cada sabor<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Somados anos, dias, horas<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">E cada instante<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Fazem de mim uma mulher<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Muito mais interessante<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Que a menina de vinte e poucos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 141.6pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Não reclamo as marcas do tempo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">- me assusto, é verdade -<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Parece que foi rápido demais,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Nem invejo o frescor dos vinte e poucos<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Pois hoje me sinto inteira<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Com esse corpo que já foi aquele,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Com aquele corpo que também é esse.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 141.6pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Quando o corpo era mais fresco<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ele pesava mais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Hoje, finalmente, parece que esse corpo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Com suas memórias e incertezas<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Suas curvas e sobressalências<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Está mais leve<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">E posso andar por aí<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Muito mais firme e segura de mim.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 141.6pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Não troco esse corpo de hoje<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Com toda sua bagagem<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">E suas histórias<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Por aquele corpo de vinte e poucos.<o:p></o:p></span></p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-73410746166613059682024-01-15T11:08:00.001-03:002024-01-15T11:08:02.869-03:00PassarinhoAi de mim<br /><br />Que não sou passarinho<br /><br />Que não sou colorida<br /><br />Nem posso voar.<br /><br />Mas assim como passarinho<br /><br />Quando estou dolorida,<br /><br />Às vezes, o que me resta é cantar.<br /><br /><br /><br />E quanto mais dolorida estou<br /><br />Mais meu canto parece ecoar.<br /><br />Imagina se eu fosse passarinho<br /><br />E se bem alto eu pudesse voar?<br /><br /><br /><br />Lá do alto minhas dores<br /><br />Seriam tão pequenas<br /><br />Que eu nem iria chorar.<br /><br />Será que se eu fosse passarinho<br /><br />E se eu pudesse voar<br /><br />Quando estivesse dolorida eu iria cantar?<div><br /><br />Passarinho canta sempre<br /><br />De alegria ou de tristeza.<br /><br />Quando preso numa gaiola<br /><br />Canta de saudade<br /><br />De quando estava na natureza.<br /><br />E quando é livre<br /><br />Canta a beleza<br /><br />De voar e ser passarinho<br /><br />Solto em sua leveza.<br /><br /><br />Se eu fosse passarinho<br /><br />Se eu pudesse voar <br /><br />E fosse colorida,<br /><br />Estivesse ou não dolorida,<br /><br />Eu ia cantar<br /><br />As belezas e as dores da vida.</div><div><br />Coisa que faço <br /><br />Mesmo sem passarinho ser.<br /><br />Porque o canto<br /><br />Enche os dias de delicadeza<br /><br />O mundo até parece um ninho <br /><br />A gente fica mais humano<br /><br />E mais fácil se torna viver.</div>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-57903731066952136812024-01-04T13:21:00.004-03:002024-01-04T13:23:06.097-03:00PreceQue na vida eu saiba silenciar <br />Quando minhas palavras puderem ferir. <br />Que eu saiba acolher <br />Mesmo quando não puder entender. <br />Que eu possa aprender em vez de lamentar. <br />Que eu possa ter fé <br />em mim, <br />Nos meus pensamentos e sentimentos, <br />Na minha capacidade de melhorar, <br />E nos outros, <br />Prestando atenção <br />mais às suas qualidades <br />que às suas falhas. <br />Que eu saiba sorrir e chorar, <br />Aceitar e me revoltar <br />Na medida adequada <br />Em cada situação. <br />Que eu saiba fechar e abrir <br />Meu coração, <br />Ao longo da minha jornada, <br />Nem pouco nem muito, <br />Só o necessário para me tornar, <br />A cada movimento meu, <br />A cada escolha e ação, <br />Mais humana, <br />mais digna de mim, <br /><br />Amém. <br /><br /> 01/01/2024Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-53599346333203925662024-01-01T13:29:00.010-03:002024-01-01T13:34:07.347-03:00Resoluções de ano novoAmar mais.<div>Julgar menos, </div><div>os outros e,</div><div>principalmente,</div><div>a mim mesma. </div><div>Perdoar mais. </div><div>Sofrer menos. </div><div>Sorrir e cantar mais. </div><div>Chorar menos. </div><div>Escrever mais, </div><div>Escrever muito </div><div>Sobre nada e sobre tudo. </div><div>Aprender coisas novas: </div><div>Uma língua, um instrumento, </div><div>Novas maneiras de ser eu, </div><div>Que doa menos. </div><div>Ler, </div><div>Ler muita poesia, </div><div>Romance, livro de receitas,</div><div>Experimentar novos temperos </div><div>E novos modos de fazer </div><div>- bolo, amor, amizade - </div><div>Não ter medo do futuro, </div><div>Do desconhecido, </div><div>Dos desafios, </div><div>Da novidade. </div><div>Força, coragem e rebeldia </div><div>Para dizer sim e não </div><div>Na medida certa. </div><div>Pra escolher </div><div>A mim e aos meus, </div><div>Pra viver </div><div>E ser inteira</div><div>Todos os dias desse novo ano. </div><div> 01/01/2024</div>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-38580864459208706492023-05-31T15:45:00.010-03:002023-05-31T16:08:20.034-03:00Sobre o marco temporal ou Sobre as marcas dos tempos (dos bandeirantes e ainda antes)<p>Na rodovia dos bandeirantes</p><p>indígenas são alvos </p><p>de balas de borracha e gás lacrimogênio.</p><p>Agora, como antes,</p><p>atira-se contra as vidas,</p><p>preserva-se a ganância e o dinheiro. </p><p><br /></p><p>Como nos tempos dos bandeirantes</p><p>(E ainda antes)</p><p>É o reluzente metal que move o homem branco.</p><p>Enquanto os povos nativos lutam</p><p>pelo direito de proteger a Mãe-Terra</p><p>Os outros atiram em nome do direito de explorar</p><p> - os metais, as florestas, as vidas - e fazer guerra. </p><p><br /></p><p>Agora, como antes,</p><p>impera o desejo de consumir</p><p>até o último suspiro, até a última gota, </p><p>como se fossem só mais um recurso,</p><p>Que pouco a pouco se esgota...</p><p><br /></p><p>Agora, como antes,</p><p>Seja na Amazônia</p><p>ou na rodovia dos bandeirantes,</p><p>Povos inteiros agonizam.</p><p>E o homem branco não percebe</p><p>Que morre junto com aqueles que mata,</p><p>Que a vida torna-se rara quanto mais se desmata,</p><p>Que as riquezas roubadas no garimpo ilegal</p><p>Também poluem e contaminam seus filhos no seu próprio quintal.</p><p><br /></p><p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhHZc5RZTIkN-IWYh_cZZJ4hZ8Tfn0WR_y9FDqkP99DmXTwquDZtCA29FlgqtJl4vy2rKf7T24n836cozTbUB7b3gZINx2eVydp5P-X-5M7pNvMqTCWmFRELNJsBvp31xsOW6HL6h3zo5Rk9Mxzr864KEXTXEVIVtCA8Wvve5pbV3vxar4cPXk4khFo" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="512" data-original-width="768" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhHZc5RZTIkN-IWYh_cZZJ4hZ8Tfn0WR_y9FDqkP99DmXTwquDZtCA29FlgqtJl4vy2rKf7T24n836cozTbUB7b3gZINx2eVydp5P-X-5M7pNvMqTCWmFRELNJsBvp31xsOW6HL6h3zo5Rk9Mxzr864KEXTXEVIVtCA8Wvve5pbV3vxar4cPXk4khFo=w320-h213" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Reprodução Folha de São Paulo 30/05/2023 - Tropa de Choque foi acionada e usou balas de borracha e gás lacrimogêneo contra os indígenas - <span class="widget-image__credits" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: white; box-sizing: inherit; color: #757575; font-family: FolhaGrafico, Georgia, serif; text-align: left;">Bruno Santos/Folhapress</span></span></td></tr></tbody></table><br /><br /><p></p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-69774737850714821142023-04-05T20:01:00.001-03:002023-04-05T20:01:54.497-03:00Como noticiar o horror sem que isso se torne estímulo para novos episódios?<p style="text-align: justify;">Em tão pouco tempo, nem bem nos recuperamos do atentado em São Paulo, e aconteceu de novo: o horror estampado na primeira página do jornal. Outro atentado, mais mortes. Desta vez o local do massacre é uma creche e pré-escola. Quatro crianças mortas. </p><p style="text-align: justify;">Diante do horror, somos tomados por perplexidade e desalento. Um homem de 25 anos. Em sofrimento psíquico? Vítima de violência no passado? Por que crianças? Até quando cenas como essa irão se repetir? </p><p style="text-align: justify;">Mas, talvez, neste momento, outro tipo de reflexão se faça necessária. Qual o papel da imprensa e das mídias, de modo geral, na proliferação desses atos chocantes? Fatos como esse são, evidentemente, materiais a serem noticiados. Mas como noticiar o horror sem que isso se torne estímulo para novos episódios?</p><p style="text-align: justify;">O efeito epidemia associado a casos de suicídio e atentados está bem documentado em nossa sociedade. Mas parece que a imprensa, principalmente em tempos de redes sociais, não é capaz de escapar da armadilha da espetacularização do horror. Na cobertura do ataque ocorrido na semana passada, vídeos e fotos foram estampados nos perfis de jornais como a Folha de São Paulo. Será que era necessário? É essencial ao dever de reportar o fato ocorrido dar detalhes das ações e descrever armas utilizadas? Mostrar imagens do assassino? Reproduzir o horror em imagens não é alimentá-lo? </p><p style="text-align: justify;">Infelizmente, parece que vamos precisar aprender a lidar com esse tipo de situação. A adoração aos EUA, principalmente no que esse país tem de pior - individualismo, consumismo, acesso fácil a armas e que se traduz numa cultura de violência espetacularizada nas escolas - aos poucos se materializa nessas ocorrências que nos roubam o ar, nos tiram o chão e nos fazem ter muito medo do futuro. </p><p style="text-align: justify;">É urgente a necessidade de transformar as escolas em espaços seguros e amorosos, as relações entre adultos e jovens em relações de confiança e empatia e de estimular entre os jovens relações de amizade, baseadas no respeito, na escuta, na tolerância e no diálogo. Mas ainda mais urgente é coibir a disseminação de vídeos, fotos e relatos desse tipo de atentado na internet, seja na superfície, nas redes sociais, ou nas profundezas, em chans e afins. A imprensa, por sua vez, precisa adotar uma cobertura responsável, que esteja mais preocupada com sua função primordial do que em caçar cliques.</p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-41645204968858911312023-03-27T17:38:00.005-03:002023-03-28T08:35:40.159-03:00Educação, mesmo quando atravessada pela violência, não é caso de polícia nem precisa de professores armados<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">A violência que vemos explodir
nas escolas nos últimos meses pode ser entendida como mais uma consequência da
violência política característica de grupos armamentistas; mas também reflete
mazelas profundas de uma sociedade que está doente</span><o:p></o:p></p><p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Nesta segunda-feira, 27/03/2023, leio com tristeza e pesar
que uma escola estadual da zona oeste de São Paulo, Escola Estadual Thomazia
Montoro, na Vila Sônia, passou por uma experiência traumática: um adolescente
de 13 anos atacou com facadas colegas e quatro professoras, sendo que uma delas
não resistiu aos ferimentos e faleceu. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Se durante muito tempo nos <i>acostumamos </i>a ter notícia
de cenas como essas acontecendo lá longe, nos EUA, infelizmente, parece que o
problema, pelo menos desde 2019, tem rondado nossas escolas. No ano passado,
tivemos dois casos de atentados que terminaram em óbito em escolas do Espírito
Santo e da Bahia. Um outro atentado a tiros numa escola do Ceará, felizmente
não deixou mortos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Os desavisados de plantão, e os mal-intencionados de sempre,
se aproveitam de uma tragédia como a de hoje para defender suas ideias tortas:
militarização de escolas, armar professores, diminuir maioridade penal. E não
falta governador, secretário de educação e afins demonstrando o quão
despreparados estão para lidar com a Educação desse país. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Nos últimos anos, os discursos de ódio e de intolerância
ganharam terreno em nossa sociedade. Mas os discursos de ódio foram
acompanhados de crescente apologia às armas e de uma política de flexibilização
na venda de armas que nos aproximou um pouco do contexto estadunidense que por
anos facilitou o acesso de crianças e adolescentes a armas de fogo. Ao lado de
palavras violentas, cresceram também as ações violentas: todos os tipos de
violência contra mulher tiveram aumento no último ano, o aumento da violência
nas escolas também já havia sido detectado pelas próprias Secretarias de
Educação dos Estados (<b>Casos de violência e ameaças aumentam 48% em escolas
de São Paulo</b>, Folha de São Paulo, 9 de abril de 2022). <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">As redes sociais em muito colaboraram com esse triste estado
de coisas. Isso não é novidade para ninguém.
Nesse sentido, não deve surpreender também o fato de que o adolescente
autor do atentado de hoje tenha anunciado o ataque em um post em rede social na
manhã desta segunda-feira. Segundo a polícia, ele escreveu ter aguardado por
esse momento a “vida inteira” e que esperava matar ao menos uma pessoa. O resto
todo deveria nos assustar muito. Que tipo de vida levaria uma criatura de 13
anos afirmar que esperou a “vida inteira” para uma ação como a que levou a
cabo? O que foi que deu de errado para uma criatura de 13 anos desejar matar
alguém? <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Certamente há muitas coisas a serem investigadas. O
adolescente parece ter um histórico de violência, o que teria motivado sua
transferência esse ano para a Escola Thomazia Montoro. Mas, independente de
quais sejam as respostas, não me parece que colocar polícia dentro das escolas
seja o tipo adequado de solução ou prevenção para que tragédias como essa não
venham a se repetir. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Estamos vivendo numa sociedade adoecida. As telas que conectam são as mesmas que
distanciam, que nos desumanizam e que nos fazem desumanizar o outro. Não há
solução simples para situações complexas. O enfrentamento a esse tipo de
situação passa pela conscientização de todos nós da importância das escolas na
construção de uma sociedade mais humanizada, menos violenta, mais empática,
mais acolhedora, uma escola que possa ser transformadora da realidade e não
reprodutora de suas mazelas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Não é possível, no entanto, esperar que as escolas e seus
profissionais, professores e demais funcionários, do jeito que estão hoje,
tenham condições de lidar com os desafios que se apresentam. Não quando o
próprio abandono a que centenas, milhares de escolas enfrentam hoje é uma forma
de violência: prédios deteriorados, com goteiras, com vazamentos, com falta de
água. Não quando os profissionais da educação são reiteradamente tratados como
“caso de polícia” quando reclamam das péssimas condições de trabalho e da desvalorização
a que estão submetidos. Não quando os estudantes pobres têm seus direitos de
aprendizagem violados, com falta de professor, com (de)formas que aumentam as
diferenças entre eles e os estudantes ricos. Não quando a sociedade enxerga a educação
como “gasto” que precisa ser contido, cortado para que se possa honrar
pagamento de juros a meia dúzia de investidores. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">A violência simbólica que perpassa o dia a dia escolar (e por
que não dizer todo nosso cotidiano) também precisa ser alardeada. Porque a violência
que se materializa em facadas e tiros muitas vezes é só mais uma das muitas
violências que têm sido a regra, e não a exceção, nesses espaços. Se realmente
nos vemos preocupados diante de casos extremos como o de hoje, é preciso que,
como sociedade, sejamos mais incisivos em cobrar das autoridades políticas
públicas sérias, responsáveis e que realmente estejam comprometidas com a
existência de escolas capazes de acolher, que ofereçam oportunidades de futuro,
que, acima de tudo, sejam capazes de fazer com que jovens de 13, 15, 17 anos
possam sonhar, vislumbrar uma vida melhor e não sejam sugados pela falta de
esperança, pelo desespero e pela crueza de uma realidade que transforma jovens
em assassinos. Uma vida inteira – para alguém de 13 anos – é só o começo. E não
podemos aceitar que o começo da vida de nossa juventude seja planejando
atentados e desejando morte. <o:p></o:p></span></p><p>
</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Precisamos reconhecer que a violência que explode hoje nas
escolas é a mesma violência que tem nos adoecido nos últimos anos. Combater
essa violência exige muito mais que frases de efeito e promessas feitas no
calor do momento. Exige compromisso com uma visão de mundo mais humana, que
trate as pessoas não como números ou como coisas. Os professores, os estudantes
e toda a comunidade da Escola Estadual Thomazia Montoro precisam se sentir
abraçados e acolhidos hoje. E todos nós, que entendemos a gravidade da
situação, precisamos nos colocar na luta em favor de uma educação amorosa,
justa e libertadora, capaz de abrir portas e janelas para que crianças,
adolescentes e jovens possam voar e construir o novo – oxalá construam um novo
melhor do que o que temos agora. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p></o:p></p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-966714007020109162022-10-23T11:02:00.005-03:002022-10-25T18:18:17.497-03:00Fake news, caos informacional e eleição no Brasil de 2022<p><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">Com Donald Trump</span><a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="font-size: 12pt; text-align: justify;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span></span></a><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">,
políticos do mundo todo aprenderam a apontar para as notícias publicadas nos
jornais que contrariam suas vontades ou colocam seus interesses em risco e
gritar: </span><i style="font-size: 12pt; text-align: justify;">É fake news</i><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">! E parece que a moda pegou. A atitude, no entanto,
não é nenhuma novidade. Acusar seus adversários de </span><i style="font-size: 12pt; text-align: justify;">mentir, </i><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">não é um privilégio
dos nossos tempos. No entanto, cada vez mais vemos, não só políticos, mas
partidários, eleitores, defensores, fãs de um político apontando e gritando contra
os adversários: é </span><i style="font-size: 12pt; text-align: justify;">fake news</i><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">! Pode ser um twitte, um vídeo, uma
declaração do candidato durante um debate. Mas será que tudo é </span><i style="font-size: 12pt; text-align: justify;">fake news</i><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">?
Afinal, o que é </span><i style="font-size: 12pt; text-align: justify;">fake news</i><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">?</span></p><p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGAKMsNeoUwB8UshV0uH-g7vF4BUh_pQ2gMYSZH-cyjsULc2JqbgYUqu2-2titOXcyPVY0M6FLxy-JpLwTFxkw3fAz3sBGBAxkqheSaGnG5Uz9TSBK94UX8h1RI-UKblOKYDor2AyQEVvjDIgqNM1WHvXjbmKpb9-ikvxdZYNOplQnq4H2o6SdqUhh/s1920/typewriter-7237018_1920.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1440" data-original-width="1920" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGAKMsNeoUwB8UshV0uH-g7vF4BUh_pQ2gMYSZH-cyjsULc2JqbgYUqu2-2titOXcyPVY0M6FLxy-JpLwTFxkw3fAz3sBGBAxkqheSaGnG5Uz9TSBK94UX8h1RI-UKblOKYDor2AyQEVvjDIgqNM1WHvXjbmKpb9-ikvxdZYNOplQnq4H2o6SdqUhh/s320/typewriter-7237018_1920.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Imagem disponível em Pixabay</span></td></tr></tbody></table></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">O jornalista e professor da Escola de
Comunicação da USP, Eugênio Bucci, em artigo publicado na coletânea<i>
Pós-verdade e fake news: reflexões sobre a guerra de narrativas, </i>propõe o
seguinte: notícias de jornal, as <i>News </i>em inglês, que são geradas por
jornalistas que trabalham para um órgão de imprensa com todos os registros
legais, com editores que podem ser acionados caso faltem com a verdade, podem
errar, podem conter informações incorretas podem, infelizmente, difundir
discurso de ódio e preconceitos, podem até ser mentirosas, mas não são <i>fakes</i>.
As <i>fakes</i>, por sua vez, segundo Bucci, constituem outra modalidade de
mentira. E sua primeira fraude é justamente falsificar suas condições:
apresentam-se como se fossem notícias, simulando a linguagem jornalística, como
se tivessem sido produzidas por uma redação profissional. Nas palavras de
Bucci: “Elas se fazem passar por jornalismo sem ser jornalismo. São <i>News </i>falsificadas”
e sua origem é desconhecida, impossível encontrar o autor, impossível ter com
quem reclamar sobre seu conteúdo<a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">O avanço da tecnologia, em especial
da internet e sua popularização, principalmente, através das mídias digitais –
blogs, sites – e das redes sociais, a partir dos anos 2000, foi acompanhado de
pontos positivos, como a democratização do acesso à informação e também criou
espaços para o questionamento e a organização contra regimes autoritários e
fechados em busca de mais democracia, situação que a Primavera Árabe ilustra
muito bem. No entanto, também contribuiu para criar um cenário que estudiosos
vêm chamando de <i>desordem informacional, infodemia</i> e que se materializam
no espalhamento de <i>fake news </i>e de desinformação, de modo mais amplo,
como sendo parte da nova realidade na qual estamos inseridos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Durante a pandemia da Covid-19, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a afirmar que além da pandemia
estávamos enfrentando uma <i>infodemia</i> e com isso entendia uma quantidade
muito grande de informação circulando sobre o tema, sendo que nem todas
provinham de fontes confiáveis, o que estava dificultando o acesso da população
às orientações corretas sobre a doença e o vírus<a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.
E ao que tudo indica, esse excesso de informação e a proliferação de
desinformação não irão desaparecer tão cedo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Quando falamos de desinformação não
estamos falando só de <i>fake news, </i>no sentido delimitado por Bucci. Muitas
vezes as <i>fake news </i>são apenas uma parte do que se tem chamado <i>ecossistema
da desinformação<a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[4]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a></i>.
Ao falar de desinformação estamos falando de uma variedade muito maior de
possibilidades de <i>enganar, confundir </i>e <i>manipular </i>as pessoas, seja
a fim de obter lucros políticos ou mesmo econômicos. Como diz Bucci, as
notícias fraudulentas, e nós acrescentamos, a desinformação de modo mais amplo,
dão lucro, se converteram num negócio obscuro. E tanto as <i>fake news, </i>propriamente
falando, como todos os outros exemplos de desinformação – descontextualização
ou manipulação de contexto; legendas e manchetes que não confirmam o conteúdo
do artigo ou <i>notícia</i>; conteúdos enganosos, que embora não seja mentira,
podem levar o leitor a conclusões erradas e até sátiras ou paródias que podem
ser tomadas como verdade por um leitor menos atento<a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
– estão diretamente conectados à existência das tecnologias digitais da
internet que garantem à mentira um volume, uma escala e uma velocidade que não tem
precedentes na história da humanidade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Mas, se temos a impressão de que
estamos inundados por <i>fake news </i>de todos os lados, parece que antes
fomos inundados por <i>opiniões</i>, muitas <i>opiniões</i> sobre tudo e
qualquer coisa. As redes sociais transformaram cada usuário, cada perfil, num
potencial colunista de opinião. E como é de interesse dessas plataformas –
Facebook, Instagram, Twitter – que passemos a maior parte do nosso tempo
conectados e fornecendo <i>conteúdos </i>para elas, somos todos incentivados a
nos manifestar e expressar nossas opiniões sobre qualquer assunto:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a última treta entre participantes de <i>reality
show, </i>um novo produto de uma marca, uma declaração de líder religioso, um
novo projeto de lei aprovado no Congresso, uma nova vacina, um artigo
científico – ou seja, tudo virou questão de opinião. E como observa o cientista
político Miguel Lago, “<span class="jsgrdq">a riqueza do registro da opinião é
que, por ser de caráter subjetivo, tudo aí se equivale. Todos são igualmente
detentores de opiniões e todos devem ter direito à sua, sem nenhuma prevalência
sobre as demais.” Mas qual seria o problema? Aparentemente essa possiblidade de
todos manifestarem suas opiniões deveria ser comemorada e considerada uma
ampliação das garantias da liberdade de expressão e opinião. Certo? Não é bem
assim. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span class="jsgrdq"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Se, por um lado, é
muito bom que todos possam manifestar livremente, sem censura ou qualquer outro
tipo de coerção, suas opiniões, por outro, não é verdade que tudo e qualquer
coisa é matéria de opinião. Como esclarece Miguel Lago, essa característica
equalizadora do registro das redes sociais acaba por gerar uma dificuldade de
discernimento dos diferentes registros na esfera pública. Por exemplo, um
estudo científico, produzido e publicado seguindo métodos científicos, não pode
ser rebatido por um tuite opinativo. Para contestar os resultados de um estudo
científico, seria necessário outro estudo científico, seguindo uma metodologia
específica, verificado por outros cientistas. Isso também vale para declarações
emitidas por autoridades ou instituições, elas não deveriam ser entendidas como
meras <i>opiniões</i></span></span><a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><i><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[6]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></i></span></a><span class="jsgrdq"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">. Mas as redes
sociais acabaram por instaurar o “império das opiniões”. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span class="jsgrdq"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">A filósofa Hannah
Arendt, em artigo publicado em 1967, afirma que o apagamento da linha divisória
entre <i>opinião </i>e <i>verdade factual </i>é uma das formas que o mentir pode
assumir. Por <i>verdade factual </i>a autora entende “as verdades vistas e
testemunhadas com os olhos do corpo”. Segundo Arendt, a <i>verdade factual </i>é
política por natureza, uma vez que se relaciona sempre com outras pessoas, diz
respeito a eventos e circunstâncias nas quais muitos são envolvidos e é
estabelecida por testemunhas, dependente da comprovação, a verdade factual
existe apenas na medida em que se fala sobre ela. E a autora é muito clara ao
dizer que “fatos e opiniões, embora possam ser mantidos separados, não são
antagônicos”, ao contrário, são os fatos que informam as opiniões. As opiniões
podem divergir entre si, uma vez que podem ser inspiradas em diferentes
paixões, mas não podem pretender alterar os próprios fatos, pois isso seria
atentar contra a própria liberdade de opinião. Ou, nas palavras da própria
Arendt, “a liberdade de opinião é uma farsa, a não ser que a informação fatual
seja garantida e que os próprios fatos não sejam questionados.</span></span><a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftn7" name="_ftnref7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span class="jsgrdq"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">” <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span class="jsgrdq"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">O apagamento da
linha divisória entre a <i>verdade factual</i> e a <i>opinião </i>pode ser
observado quando agentes propagadores de <i>mentiras</i> e <i>falsidades</i>
são confrontados e, incapazes de sustentar a verdade de suas afirmações, alegam
tratar-se de sua “opinião” ou de seu “ponto de vista” e apelam para a defesa da
liberdade de expressão, dizendo-se vítima de censura ou perseguição. Num
momento em que tanto se fala de liberdade de opinião e tantas mentiras são
disseminadas em nome da liberdade de opinião, não é demais lembrar que
liberdade de opinião e de expressão não é liberdade para criar seus <i>próprios
fatos</i>.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6pt; text-align: justify;"><span class="jsgrdq"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">No mesmo artigo de
1967, <i>Verdade e política, </i>Arendt afirmou que todo mentiroso é um alguém
que quer transformar o mundo: “ele diz o que não é por desejar que as coisas
sejam diferentes daquilo que são”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na
reta final da disputa eleitoral mais violenta da história recente do país</span></span><a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftn8" name="_ftnref8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span class="jsgrdq"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"> e com
desinformação rolando desenfreadamente, é preciso ficarmos atentos aos
mecanismos de falsificação dos fatos, às estratégias de desinformação, não só
aquelas usadas por nossos adversários, mas para não cairmos nós na tentação de
borrar a linha divisória – tênue e sempre muito delicada, é preciso dizer – que
separa verdade factual da opinião. Ainda que tenhamos fins nobres – salvar
nossa democracia ou evitar a consolidação de um governo autoritário -, não
podemos nos render ao caos da desinformação e ajudar a mergulhar o país numa confusão
e desordem cujo resultado, como já dizia Hannah Arendt, não seria que as
mentiras seriam aceitas no lugar da verdade e a verdade seria difamada como
mentira, mas a destruição do sentido mediante o qual nos orientamos no mundo
real</span></span><a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftn9" name="_ftnref9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face=""Calibri",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span class="jsgrdq"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">, destruindo
inclusive os meios mentais para discernir verdade de falsidade. <o:p></o:p></span></span></p>
<div style="mso-element: footnote-list;"><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face="Calibri, sans-serif" style="line-height: 107%;">[1]</span></span></span></a>MARIN,
Denise Chrispim; TAVARES, Flavia, Como Trump sequestrou os fatos e os travestiu
de fake news, Revista Época, disponível em: <a href="https://epoca.oglobo.globo.com/mundo/noticia/2018/01/como-trump-sequestrou-os-fatos-e-os-travestiu-de-fake-news.html">https://epoca.oglobo.globo.com/mundo/noticia/2018/01/como-trump-sequestrou-os-fatos-e-os-travestiu-de-fake-news.html</a>.
<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face="Calibri, sans-serif" style="line-height: 107%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
BUCCI, Eugênio, <i>News </i>não são <i>fake – </i>e <i>fake news </i>não são <i>News,
</i>in <i>Pós-verdade e fake News: reflexões sobre a guerra de narrativas, </i>org. Mariana Barbosa, Cobogó, 2019. <o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face="Calibri, sans-serif" style="line-height: 107%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> <a href="https://www.arca.fiocruz.br/browse?type=author&value=Moreira,%20Larissa%20Domingues" target="_blank">Moreira, Larissa Domingues</a><span class="jsgrdq">, Infodemia: uma ameaça à saúde
pública global durante e após a pandemia de Covid-19, Arca: Repositório
Institucional da Fio Cruz, disponível em:
https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/47082.</span><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<h1 style="background: white; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span face="Calibri, sans-serif" style="color: black; font-weight: normal;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face="Calibri, sans-serif" style="color: black; line-height: 107%;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span face="Calibri, sans-serif" style="color: black; font-weight: normal;">VILLEN, Gabriela, O
ecossistema da desinformação, Jornal da Unicamp, disponível em:
https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2020/08/20/o-ecossistema-da-desinformacao.</span><o:p></o:p></span></h1>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><span style="font-size: x-small;"><a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face="Calibri, sans-serif" style="line-height: 107%;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> <span class="jsgrdq">BUCCI, Eugênio, Existe democracia sem verdade factual?,
Barueri,SP: Estação das Letras e Cores, 2019, p.13-14. <span style="color: white;">.</span></span><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face="Calibri, sans-serif" style="line-height: 107%;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> <span class="jsgrdq">STARLING, Heloisa M.; LAGO, Miguel;
BIGNOTTO, Newton. <i>Linguagem da destruição: a democracia brasileira em crise</i>,
São Paulo: Companhia das Letras, 2022.</span><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn7" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftnref7" name="_ftn7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face="Calibri, sans-serif" style="line-height: 107%;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> <span class="jsgrdq">ARENDT, Hannah, Verdade e política,
in Entre o passado e o futuro, trad. Mauro W. Barbosa, São Paulo: Perspectiva,
2016, p.295.</span><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn8" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftnref8" name="_ftn8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face="Calibri, sans-serif" style="line-height: 107%;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
ANJOS, Ana Beatriz e outros; Exclusivo: eleição teve ao menos 3 casos de
violência por dia e 6 assassinatos; A pública, disponível em: <a href="https://apublica.org/2022/10/exclusivo-eleicao-teve-6-assassinatos-e-ao-menos-3-casos-de-violencia-por-dia/">https://apublica.org/2022/10/exclusivo-eleicao-teve-6-assassinatos-e-ao-menos-3-casos-de-violencia-por-dia/</a>
<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn9" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText"><span style="font-size: x-small;"><a href="file:///C:/Users/Microsoft/Desktop/Elei%C3%A7%C3%B5es%20fake%20news%20e%20o%20caos%20informacional%20no%20Brasil%20de%202022.docx#_ftnref9" name="_ftn9" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span face="Calibri, sans-serif" style="line-height: 107%;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> <span class="jsgrdq">ARENDT, Hannah, Verdade e política,
in Entre o passado e o futuro, trad. Mauro W. Barbosa, São Paulo: Perspectiva,
2016, p.318.</span></span><o:p></o:p></p>
</div>
</div>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-39369054745614324082022-10-15T14:46:00.006-03:002023-12-11T17:03:06.333-03:00Nós <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMT-HUFsuJvCI02FfrrPGvrETcvbbqnIrpCZIprfyhYQkOH9Dz76xM5IhHng9volmBDXXcRilnzyA2p0R5WN1z39If93MRuLI83We6waGXsKyiDSQGI4kbhtBke8KmoP_g0MOi7QvHGPoUQBlsrQsAU6b42_uw5cIkJWkXkZtL_msO_8kEP6gBip9c/s1920/N%C3%B3.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="1920" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMT-HUFsuJvCI02FfrrPGvrETcvbbqnIrpCZIprfyhYQkOH9Dz76xM5IhHng9volmBDXXcRilnzyA2p0R5WN1z39If93MRuLI83We6waGXsKyiDSQGI4kbhtBke8KmoP_g0MOi7QvHGPoUQBlsrQsAU6b42_uw5cIkJWkXkZtL_msO_8kEP6gBip9c/w400-h266/N%C3%B3.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Imagem disponível no Pixabay</span></td></tr></tbody></table><br /><p>Nós já não nos reconhecemos</p><p>Estamos desfigurados,</p><p>magoados,</p><p>ressentidos,</p><p>partidos.</p><p>Nós até convivemos</p><p>nas ruas, parques, no supermercado,</p><p>mas fazemos cara feia, cara de reprovação,</p><p>basta uma cor se destacar, </p><p>uma bandeira tremular.</p><p>Nós, no fundo, compartilhamos uma mesma crença: </p><p>somos melhores e não queremos nos misturar,</p><p>nos fechamos em bolhas, em clãs, em nós...</p><p>Estamos nos perdendo. </p><p>Metade de nós é medo, tristeza e um desejo de não perder a esperança, mas também é arrogância e uma certeza de que estamos do único lado certo que existe.</p><p>A outra metade, embora pareça fazer festa em ritmo de copa, teme fantasmas, sente-se inferiorizada, está cheia de raiva, diz que defende a vida, mas se agarra em armas, xinga, ofende, coloca pra fora o que tem dentro de si.</p><p>Estamos perdidos. </p><p>Será que nós vamos conseguir encontrar um caminho antes de destruirmos de vez nossa casa? </p><p>Nós erramos. De muitos jeitos. Erramos de lado a lado. </p><p>Mas será que saberemos acertar juntos?</p><p>Ou nós estamos fadados a perecer juntos? </p><p>Porque todos vão sofrer. </p><p>Porque uma hora ou outra</p><p>podemos ser alvo da própria arma que ostentamos. </p><p>Nós não nos reconhecemos mais.</p><p>Nós estamos nos perdendo.</p><p>Estamos perdidos.</p><p>Fracassamos.</p><p>Somos nós cegos.</p><p>Saberemos nos desatar?</p><p><br /></p><div><br /></div>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-62959043709706213292022-06-19T12:45:00.007-03:002022-06-19T12:58:53.497-03:00Sobre a morte e as coincidências da vida (Será coincidência?)<p style="text-align: justify;">A morte, essa estranha-familiar... Quantas vezes nela pensei durante esses anos? Desde os meus dezoito anos me acompanha uma ideia-sensação de que eu vou morrer jovem. Foi assim, um sopro em meus ouvidos, não sei de onde, de quem. </p><p style="text-align: justify;">E toda vez que eu me sentava numa cadeira de dentista esse sopro se fazia presente. Uma voz em minha cabeça ficava martelando que a dentista sabia que eu ia morrer jovem. Que cada movimento, cada gesto dela, cada palavra, traziam um pesar como se ela dissesse: "pobrezinha, vai morrer tão cedo..."</p><p style="text-align: justify;">Isso se intesificou durante os anos da faculdade. Eu eu ficava pensando como e quando seria. Nunca consegui ter certeza de nada; certeza mesmo só de que um dia ela chegaria. </p><p style="text-align: justify;">Até escrevi sobre o encontro - <a href="https://mineirices.blogspot.com/2008/01/contos-da-morte.html" target="_blank">Contos sobre a morte</a> -, lá pelo início dos anos 2000. Mas qual não foi minha supresa hoje, nesse domingo de outono, de céu azul, que estou só em casa, e decidi ler um conto de Thomas Mann: A morte. Poderia ter lido outro? Claro, mas o tema me atrai, e não preciso dar mais explicações. </p><p style="text-align: justify;">Notas de um diário. Um conde se preparando para encontrar a morte. Sabia a data exata do encontro. Desde os dezenove ou vinte anos sabia que teria de morrer aos quarenta. </p><p style="text-align: justify;">Quarenta? Ainda se é jovem aos quarenta, eu me pergunto. De uns tempos pra cá havia me convencido de que aquela ideia-sensação de morte precoce não tinha passado de uma bobeira de adolescente. Afinal, depois dos trinta já não somos tão jovens assim. E, além disso, já estou mais próxima dos quarenta do que dos trinta. </p><p style="text-align: justify;">Mas a coincidência mesmo veio quando li que a morte teria se comportado como dentista dizendo: "É melhor resolver isso logo". </p><p style="text-align: justify;">Seria isso? Bem, na verdade, não estou segura do que eu quis dizer com "seria isso?". Mas será que vou morrer aos quarenta? Tenho ido muito ao dentista nesses últimos anos: um dente que mais parece um <i>carma.</i> Mas nunca mais ouvi aquela voz, nem sussuro algum. Nada na dentista parece denunciar que ela saiba que vou morrer logo ali, quando chegar os quarenta. É verdade que troquei de dentista faz um tempo. Seria isso? A atual dentista não estaria aberta a revelações do além? E se ela não souber, quer dizer que nada irá acontecer? Digo, que não vou morrer aos quarenta? </p><p style="text-align: justify;">2025. Primeiro de janeiro de 2025. Será? E até lá o que vou fazer? Viver, ora! Que pergunta mais tola. Mas eu decidi que vou comprar uma máquina de escrever. Três anos, ou quase, ainda dá tempo de virar escritora...</p><p style="text-align: justify;">19/06/2022</p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-10151580758884726902022-05-27T17:28:00.001-03:002022-05-27T17:28:06.503-03:00Outra vida<p>Numa outra vida</p><p>Eu não preencho planilhas</p><p>Nem qualquer sistema chato</p><p>Não faço nada que eu não veja sentido.</p><p>Numa outra vida</p><p>Eu sou poeta</p><p>Faço versos, canto</p><p>Cuido do quintal</p><p>E no resto do tempo</p><p>O que faço é pensar. </p><p>Numa outra vida</p><p>Eu não preciso provar pra ninguém</p><p>Que estou fazendo o que faço</p><p>Ou que o que eu faço é importante.</p><p>Numa outra vida</p><p>Eu só vivo</p><p>E faço tudo que me faz feliz.</p><p>Numa outra vida</p><p>Eu não tenho que dirigir</p><p>Mas viajo bastante</p><p>Eu vejo lugares bonitos</p><p>Conheço cantos do mundo que hoje eu apenas desejo conhecer.</p><p>Numa outra vida</p><p>Eu não tenho que pegar estrada</p><p>Não tenho que encarar o volante</p><p>Mas estou na direção.</p><p>É essa outra vida</p><p>Ainda que imaginada</p><p>Que me faz suportar a vida</p><p>Na qual preencho planilhas, sou obrigada a fazer coisas sem sentido, aguentar reuniões chatas, porque tenho que pagar as contas no final do mês.</p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-72675040189732151672022-01-10T18:03:00.000-03:002022-01-10T18:03:01.456-03:00<p> "O poeta é um fingidor"</p><p>Será que é isso?</p><p>Finjo ou minto</p><p>As dores que sinto?</p><p><br /></p><p>E de onde vieram as dores fingidas,</p><p>Da distância que eu mesma invento?</p><p>Da covardia que me faz convercer-me de que "às vezes, precisamos fugir para não morrer"?</p><p><br /></p><p>Serão as lembranças tristes e doloridas</p><p>Só uma invenção? </p><p>Meu álibi? </p><p>Afinal, de que verdades estou fugindo?</p><p><br /></p><p>Que coisas difíceis são essas que não posso compreender e das quais não consigo falar?</p><p>Será que apenas finjo e minto todas elas? </p><p>Será que já morri? </p><p>Que será de mim, poeta ao menos? </p><p>Apenas uma filha perdida? </p><p><br /></p><p>Entre um livro e outro</p><p>Um verso e tantos outros</p><p>Personagens que poderiam ser eu</p><p>Finjo que me encontro</p><p>Deixo-me perder</p><p>Invento novos enredos</p><p>Passados, futuros</p><p>Sou poeta</p><p>E sinto as dores e os tormentos</p><p>Que me inventam. </p><p><br /></p><p>Sou poeta, fingidora</p><p>Fugidia</p><p>Perdida.</p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-78253591493591984802021-09-16T08:44:00.004-03:002023-12-11T17:04:05.338-03:00 Sabores da infância<p><span>Depois da aula, <br />Enquanto segurávamos as mochilas,<br />Eles subiam no muro, <br />Se penduravam nos galhos <br />e jogavam para nós as pitangas vermelhinhas.<br /><br />Na casa do vô e da vó paternos<br />Ou no sítio da amiga, filha da amiga da mãe,<br />Passavam as manhãs embaixo da sombra da jabuticabeira<br />Ou as tardes sentadas nos seus galhos<br />Enquanto desfrutavam da meninice de suas vidas.<br /><br />Na beira da estrada,<br />No caminho para a casa dos avós<br />Tinha uma pitangueira<br />e depois uma jabuticabeira.<br /><br />A meninice passou, <br />Os avós já partiram,<br />As amizades de outrora ficaram distantes<br />E agora no quintal tem uma pitangueira<br />E uma jabuticabeira<br />E as memórias e os sabores da infância.</span></p><p><span><img alt="" class="_2dXkT _1ctu4 i0jNr" crossorigin="anonymous" draggable="true" src="blob:https://web.whatsapp.com/2d3879a5-9c16-4f9b-b088-a1147dcd64d3" style="visibility: visible;" /> <br /></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggvGxDMHDaTEYc1iKlZjVbrjtlh-oY1wfs4S7ozlE5cWMMZYrYlm6kuoRr79pxFIjz7T0w7QdyLjou5P7o9yAxmpDA_XJW5oARvCK9ITiCqWbIoGlZRTRRiwSZJVERL7ULlXqJGZUstqA/s1600/WhatsApp+Image+2021-09-16+at+08.42.05.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggvGxDMHDaTEYc1iKlZjVbrjtlh-oY1wfs4S7ozlE5cWMMZYrYlm6kuoRr79pxFIjz7T0w7QdyLjou5P7o9yAxmpDA_XJW5oARvCK9ITiCqWbIoGlZRTRRiwSZJVERL7ULlXqJGZUstqA/s320/WhatsApp+Image+2021-09-16+at+08.42.05.jpeg" width="240" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_anH00hIiSVJGLUUohDjfNRwuuLTXh2TPWWcx7nt7WNju3ZRtxIc2Gjw1ZZPze2TSampPyVvesY8CIxZUNfEevho0L5wRv6Rl4LwWLdgqazg1FO12eUI0MCQfy_gUGQBElvu7dB04JAQ/s1600/WhatsApp+Image+2021-09-16+at+08.40.50%25282%2529.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_anH00hIiSVJGLUUohDjfNRwuuLTXh2TPWWcx7nt7WNju3ZRtxIc2Gjw1ZZPze2TSampPyVvesY8CIxZUNfEevho0L5wRv6Rl4LwWLdgqazg1FO12eUI0MCQfy_gUGQBElvu7dB04JAQ/s320/WhatsApp+Image+2021-09-16+at+08.40.50%25282%2529.jpeg" width="240" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwE9bcYQl28-Nga3lQ9FlMyhqBOl0yc5f3axFOuMvyf029mBV4N66UWYSwzUjdhVXV8clKDZnT57H6kINxBDcObNVCU-4Q9vk67Lt3vDyY-uzIbFAqo7-ITxSfgZTSHI81qDMblFDBFKI/s1600/WhatsApp+Image+2021-09-16+at+08.40.50%25281%2529.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwE9bcYQl28-Nga3lQ9FlMyhqBOl0yc5f3axFOuMvyf029mBV4N66UWYSwzUjdhVXV8clKDZnT57H6kINxBDcObNVCU-4Q9vk67Lt3vDyY-uzIbFAqo7-ITxSfgZTSHI81qDMblFDBFKI/s320/WhatsApp+Image+2021-09-16+at+08.40.50%25281%2529.jpeg" width="240" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRCs5inPcJNeyis2UNVxFIqLAMVXMYBx78hEK_aNPdskwUma13BIYrJKMgL9d-mwrCK-CkrmToeebCSz8oso8CoSK4NtO6MmNtyy5-PGudr2gPAp7sZcvt_AukuBEzd6EsWWjso6ZBVmY/s1600/WhatsApp+Image+2021-09-16+at+08.40.50.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRCs5inPcJNeyis2UNVxFIqLAMVXMYBx78hEK_aNPdskwUma13BIYrJKMgL9d-mwrCK-CkrmToeebCSz8oso8CoSK4NtO6MmNtyy5-PGudr2gPAp7sZcvt_AukuBEzd6EsWWjso6ZBVmY/s320/WhatsApp+Image+2021-09-16+at+08.40.50.jpeg" width="240" /></a></div><br /><p></p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-55004075629281853952021-09-13T17:22:00.004-03:002021-09-13T17:22:16.741-03:00AmorasAmo amoras<br />Amo amar<br />Amoras<br />doces, pretinhas,<br />deixando em minhas mãos e na minha boca<br />suas tintas.<br />Amoras,<br />Amor de infância,<br />de adolescência,<br />da vida adulta.<br />Amo amoras<br />Amo amar<br />Amoras.<div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPcJh1UruHugkMX9tBdqwEi_Hesmat43MwLFJc3yVqBhJaqCoxVVs3bGaOS4Ba3zHFTVvwySAK2bseS1LrXLygKoXmUn8JfDPZLVAEBdCwCvjf5b5Ye2yHD_KwiYOYhBd_vZiwalf350Q/s1280/WhatsApp+Image+2021-09-12+at+18.07.19.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="960" height="280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPcJh1UruHugkMX9tBdqwEi_Hesmat43MwLFJc3yVqBhJaqCoxVVs3bGaOS4Ba3zHFTVvwySAK2bseS1LrXLygKoXmUn8JfDPZLVAEBdCwCvjf5b5Ye2yHD_KwiYOYhBd_vZiwalf350Q/w210-h280/WhatsApp+Image+2021-09-12+at+18.07.19.jpeg" width="210" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Foto: Francine Ribeiro</div><br /><br /></div>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-8242361444575598892021-09-11T00:24:00.000-03:002021-09-11T00:24:06.401-03:00Desarmados<p>Na minha terra, acredita-se que as pessoas têm <i>armas</i></p><p>e que os que mentem, roubam e matam não passam de <i>homens desarmados. </i></p><p>Diante de uma briga, na minha terra, se pede <i>carma</i></p><p>e quando a<i> </i>paciência tá em <i>farta</i></p><p>o jeito é mandar o sujeito <i>pesca. </i><br /><i></i></p><p>Hoje em dia os homens <i>desarmados </i>estão no poder</p><p>pregando a armação</p><p>e o armamento.</p><p>Homens <i>desarmados,</i></p><p>buscando um fuzil para dar sentido</p><p>à vida besta que levam. <i> </i></p><p>Que carma é esse:</p><p>proclamavam um "mito"</p><p>e agora precisamos lidar com a própria mula sem cabeça.<i> </i> <br /></p><p><br /></p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-9306997358340795162021-07-23T11:46:00.026-03:002021-07-24T21:50:20.701-03:00Das vidas possíveis de serem vividas <p style="text-align: left;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span></p><div style="text-align: right;">"Nesse corredor</div><div style="text-align: right;">Portas ao redor</div><div><div style="text-align: right;">Querem escolher, olha só</div><div style="text-align: right;">Uma porta só</div><div style="text-align: right;">Uma porta certa</div><div style="text-align: right;">Uma porta só</div><div style="text-align: right;">Tentam decidir a melhor</div><div style="text-align: right;"><br /></div><div style="text-align: right;">Qual é a melhor</div><div style="text-align: right;">Não importa qual</div><div style="text-align: right;">Não é tudo igual</div><div style="text-align: right;">Mas todas dão em algum lugar</div><div style="text-align: right;">E não tem que ser uma única</div><div style="text-align: right;">Todas servem pra sair ou para entrar</div><div style="text-align: right;">É melhor abrir para ventilar</div><div style="text-align: right;">Esse corredor"</div><div style="text-align: right;"><i>Portas</i>, Marisa Monte, Álbum: Portas, 2021.</div><div style="text-align: right;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quantas vezes nos perguntamos como seria nossa vida, caso tivéssemos feito algo diferente: terminado ou começado um relacionamento; mudado de cidade ou continuado onde sempre esteve; desistido ou insistido num curso; aceitado ou recusado uma oferta de emprego; ido ou não a uma festa; entrado ou não no doutorado; perseverado na aprendizagem de alguma coisa: de violão, de inglês ou alemão. Como estaria nesse momento se tivesse feito diferente do que fiz até agora? Mas não para por aí. Quantos de nós não vamos acumulando arrependimentos ao longo da vida. Um gosto amargo na boca, como se tivéssemos certeza de que estaríamos muito melhor caso tivéssemos seguindo outro caminho. Uma sensação de que seríamos melhores, mais bem-sucedidos (seja o lá o que imaginamos que seria ser bem-sucedido), que poderíamos ter aproveitado melhor "nosso potencial" para qualquer coisa que deixamos para trás. E quantas vezes não desejamos a oportunidade de viver essas outras vidas que parecem tão melhor do que essa que vivemos, com suas rotinas, suas decepções, suas cobranças, nossas limitações, mediocridades e ressentimentos conosco e com os outros. É esse o mote do livro <i>A biblioteca da meia-noite, </i>de Matt Haig. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esse livro está longe de poder ser considerado um <i>clássico</i> ou de ter qualidades literárias incomparáveis que o colocariam entre os 10 melhores. Talvez daqui a alguns anos eu não o coloque nem entre os 30 melhores livros que já li. Mas hoje, nesse momento dessa minha vida, era exatamente o livro que eu precisava ler. E ainda bem que nessa vida eu tenho uma amiga que, ao me dar de presente uma assinatura da TAG Livros- Inéditos, me proporcionou essa leitura (Valeu, Aninha!!). Sim, porque dificilmente eu iria chegar a esse livro <i>sozinha</i>. Mas digamos que ele chegou na hora certa. </div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ao mesmo tempo que tenho muitas coisas em comum com a Nora Seed, ela é formada em filosofia, eu também; ela canta, eu também me arrisco; ela gosta de escrever, eu também; ela tem um gato, eu também; ela está na casa dos trinta e pouco, eu também; tem um Dan na vida dela e na minha; há muitas coisas bem diferentes entre nós: ela, embora tenha saído de sua cidade natal, como eu, voltou para ela; não trabalha com filosofia, tem um emprego que em nada parece satisfazê-la; ela sabe nadar, e eu, definitivamente, sou um "martelo sem cabo", como diz meu pai. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No entanto, há algo no "deslocamento" que Nora vive, na sensação de não pertencimento, na dificuldade de se "encaixar" na sua própria vida, que me é bastante familiar. Que talvez seja algo que todos experimentamos em alguma medida, só pelo fato de sermos humanos, de termos consciência de que estamos existindo e podermos imaginar outras possibilidades de existência diferentes dessa. Mesmo quando acreditamos em destino, quando vivemos descuidadamente sem pensar muito no que estamos vivendo, é possível que compartilhemos uma intuição de que somos <i>responsáveis </i>pelo que nos tornamos a cada escolha que fazemos e o peso dessa consciência, ainda que de forma intuitiva, ainda que sutilmente disfarçada, pode ser grande o suficiente para nos causar um incômodo capaz de nos "deslocar", ainda que momentaneamente. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Pensar nas vidas que <i>poderíamos ter vivido/estar vivendo</i> pode ser bastante perturbador. Pode nos lançar diante de um abismo, uma vez que, ao contemplar aquilo que poderia(amos) ser e comparar com o que é/somos teremos que encarar as escolhas que nos trouxeram onde estamos e isso pode nos colocar diante de um "eu" covarde, egoísta, irresponsável, acomodado... Mas também pode nos mostrar que aquelas outras vidas e, portanto, aquelas versões de nós que aparecem reluzentes, quase perfeitas, têm tantos outros problemas quantos a nossa versão "raiz" e, em diferentes contextos, poderão ser tão covardes, egoístas, medíocres, acomodadas e tudo aquilo que nos incomoda. Por outro lado, imaginar as muitas vidas que poderíamos ter (e quanto maior for a imaginação, quanto mais pudermos explorar essas <i>vidas virtuais)</i> pode acabar nos mostrando que, no fim das contas, essas potencialidades estão lá, na única versão de nós que está atualizada, que <i>existe</i>. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assim como Nora, depois de experimentar tantas vidas possíveis na biblioteca da meia-noite: sendo estrela de Rock, campeã olímpica, professora universitária, depressiva e viciada, cuidadora de cães, mãe, esposa, de repente percebemos que todas essas "portas" estão bem diante de nós. E que cada uma delas terá a sua própria dose de satisfação, alegria, realização, mas também de dor, medo, angústia, fracasso. Mas o melhor é se dar conta da possibilidade de abrir uma porta nova no meio da caminhada. Eu sei, parece autoajuda barata. Eu não estou dizendo que a vida é um mar de rosas e que podemos fazer qualquer escolha e ser feliz para sempre. Na verdade, o ponto é que ou aprendemos a lidar com a dose de frustração, medo, angústia, tristeza, que cada escolha encerra e, ainda assim, conseguimos olhar para o outro lado de tudo isso, ou não importa quantas possibilidades nos sejam dadas de ter a <i>melhor vida, </i>seguiremos apenas nos arrastando com nossas culpas, arrependimentos e medos, vivendo apenas a pior versão de nós. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E aí entra uma das coisas que gostaria de escrever depois de ter lido esse livro: a literatura é uma maravilhosa biblioteca da meia-noite. Quantas vidas é possível experimentar através de um bom livro? Quantas oportunidades de fazer acerto de contas com nosso "livro de arrependimentos" não temos ao entrar na vida de Noras, Capitus, Vitórias, Bibianas, Anas, Helenas, Hollys? Além de, mais uma vez, exaltar e convidar a todos para viagens literárias, também queria voltar a um mote sobre o qual havia começado a escrever, antes de ler <i>A biblioteca da meia-noite, </i>e que havia ficado no rascunho do blog: Como parar de gastar a vida para passar a <i>aproveitar a vida</i>? E agora compartilho como um fechamento desse texto, pois me parece que agora o sentido dele está completo. </div><div style="text-align: justify;"><p><span style="color: #444444;">É clichê se referir à vida como um </span><i style="color: #444444;">dom</i><span style="color: #444444;">, um </span><i style="color: #444444;">presente</i><span style="color: #444444;">. Os religiosos completam que é </span><i style="color: #444444;">dom </i><span style="color: #444444;">de deus, e muitas são as formas que encontram para nomear essa divindade. </span><span style="color: #444444;">Os que não acreditam numa divindade, ainda encontram motivos para se admirarem com o <i>mistério da vida</i>, com <i>a sorte </i>de estar vivo. Mesmo diante de dores, desafios, sofrimentos, tragédias, é grande a nossa disposição de nos agarrarmos à vida, de louvarmos os motivos para permanecermos vivos.</span></p><p><span style="color: #444444;">Apesar de tudo isso, no dia a dia, estamos muito mais comprometidos em <i>gastar </i>a nossa vida do que em <i>aproveitá-la. </i><b>Gastamos nossa vida em horas de trabalho, que se traduzem em algum dinheiro, que nos leva a gastar horas fazendo compras de coisas que, muitas vezes, em nada ou muito pouco irão contribuir para que possamos aproveitar melhor a nossa vida.</b> Com a chegada das redes sociais, <i>gastamos </i>nossa preciosa vida ou maquiando e inventando uma vida para ser exposta para os outros ou observando, com curiosidade doentia, a vida alheia. Quantas horas por dia <i>gastam</i>os vendo como os outros são felizes, bonitos, realizados, perfeitos, enfim, <i>gastamos </i>nossa vida consumindo a <i>vida </i>que outros caprichosamente construiram para exibir. </span></p><p><span style="color: #444444;">O fato é que esse cenário me tem feito pensar muito sobre o que nos faz realmente viver, aproveitar a vida, e não simplesmente gastá-la dia após dia. Desde que me formei e comecei a trabalhar na minha área, trabalho muito, sempre com empolgação, tendo algumas vezes até exagerado. Mas sempre pensava que era algo que me preenchia, para além de ser meu trabalho, faço algo que enche de prazer, que dá significado à minha vida. No entanto, com as mudanças no último ano, o trabalho dentro de casa (ou morando no trabalho), a impossibilidade de estar de fato junto com alunos e colegas, o trabalho passou a pesar. Mais trabalho, mais desafios, e muito menos prazer, muito menos sentido. E fui sentindo crescer em mim a necessidade de me dedicar a outras coisas. A necessidade de encontrar tempo para fazer algo que pudesse de alguma forma suprir o que eu já não encontrava no trabalho. </span></p><p><span style="color: #444444;">Trabalhar é bom. Principalmente quando temos o privilégio de trabalhar com algo que realmente nos preenche, com o qual nos sentimos contribuindo com a sociedade, um trabalho no qual podemos ser criativos, com o qual, ainda que de maneira muito lenta, podemos observar transformações acontecendo em outras vidas por causa do nosso trabalho. Mas nem todo trabalho é assim. A maioria das pessoas não veem a hora de acabar o expediente, para o <i>happy hour</i>, para poder fazer o que realmente gosta ou para fazer nada. Em tempos de pandemia, sequer é possível encontrar os amigos, ir ao cinema. Muitos de nós, privilegiados que somos, trabalhamos de casa, mas já não sabemos onde começa a casa nem onde termina o trabalho. </span></p><p><span style="color: #444444;"><span style="color: #444444;">Pode parecer bobeira, mas tenho pensado na importância de podermos nos dedicar a criar, dar <i>vida</i>,
de certo modo, de exercitar nossa imaginação, de poder variar nossas
atividades, para exercitar diferentes partes de nós, para que possamos
descobrir facetas ocultas, e ter a oportunidade de nos criarmos e
recriarmos através das mais diferentes ocupações. Não gosto da ideia de
vocação, ou <i>dom</i>. Acredito que todos nós temos potencialidades
infinitas latentes que precisam encontrar condições e estímulos para que
venham a florescer. Daí a importância de pensarmos a educação, informal
e formal, como esse lugar de explorar e cultivar as diferentes
dimensões do humano. Não é necessário que todos nós sejamos músicos
profissionais, mas a vida se torna melhor, mais bonita, quando a música
se faz presente nela. Cantar, tocar um instrumento, pintar,
escrever, esculpir, fazer um jardim ou uma horta, construir a sua
própria mesa, tudo isso deveria estar disponível em nossas vidas. <b>E num mesmo dia poderíamos ter a possibilidade de fazer um pouco de cada uma dessas coisas. </b></span> <br /></span></p><p><span style="color: #444444;">Tenho pensando que uma vida é pouco demais para tantas possibilidades que deveríamos ter o direito de experimentar. Não é de agora, essa sensação me acompanha há muito tempo: são tantos os livros que ainda não li, os filmes que ainda não vi, as músicas que ainda não ouvi, os lugares que não visitei, receitas que não fiz...Mas hoje me peguei pensando em como muitas vezes vivemos limitados. Quantos de nós passam a vida sem a oportunidade de explorar diferentes habilidades e capacidades. Quantos seres humanos passam pela vida (são consumidos por ela ou a consomem das maneiras mais indignas), sem terem tido a chance de ter explorado a música, a poesia, ou cuidar de um quintal, plantar sementes e delas cuidar até poder saborear seus frutos, ou tocar um instrumento musical, ou dançar, ou cantar, ou construir um objeto de madeira com as próprias mãos, ou preparar um bolo ou qualquer outra receita com as próprias mãos e depois saboreá-la na companhia de alguém especial, ou escrever um poema, ou quem sabe um romance, aprender a cortar o cabelo, ou a costurar, fazer bordados ou blusas de tricô.</span></p></div><div style="text-align: justify;"><p></p><p><span style="color: #444444;">Para pensar em qualidade de vida, em como viver mais e <i>gastar </i>menos a vida com coisa menores, é preciso repensar as prioridades, os signos de vida bem-sucedida, os objetivos que nos colocamos, os modelos que miramos de felicidade e realização. Não é fácil, mas nenhuma escolha é. Escolher viver e aproveitar a vida em vez de simplesmente <i>gastá-la </i>é um desafio, mas é também um convite a darmos o primeiro passo para fazer diferente no microcosmos, na nossa casa, nas relações de amizade e familiares. Abrir espaços para pequenas ações que nos permitam nos sentir mais vivos é um grande desafio. No meu caso, senti necessidade desses espaços. Ainda não estou conseguindo equilibrar esses espaços que me enchem de vida com as obrigações. Mas o primeiro passo foi dado. Cuidar das plantas, mexer com terra, podar, plantar; brincar com instrumentos musicais, cantar, cozinhar mais, escrever, fazer pequenos consertos pela casa, aprender a manusear diferentes ferramentas: martelo, furadeira, enxada, tesouras de jardim, aprender a costurar. </span></p><p><span><span style="color: #444444;">A vida que merece ser vivida, como dizia Sócrates, certamente é aquela que é pensada, refletida, mas que também é sentida, encarnada, materializada em obras que criamos na medida em que nos descobrimos como seres criativos e criadores, capazes de dar sentido a essa grandiosidade que é <i>estar vivo. </i></span></span></p></div>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-83633199323758579772021-06-22T09:54:00.001-03:002021-06-22T09:54:47.628-03:00<p style="font-family: inherit; text-align: left;">sinto falta das conversas, das risadas, dos abraços, de poder compartilhar sabores, de fazer brindes.<br />mas podia ser só um café e longas horas de bate papo, desabafos, discussões.<br />sinto falta das vozes, dos rostos, dos sorrisos.<br />sinto falta das viagens, de pegar estrada, e de chegar em casa.<br />mas de repente, está tudo tão estranho, não sei se sou eu, ou se somos nós.<br />a verdade é que não estou bem.<br /> ninguém está.<br />não é possível estar bem.<br /> e sinto raiva, muito ódio, sinto medo, sinto muito pelos que foram e que podiam ainda estar aqui.<br /> sinto de tantos modos e são tantos sentimentos,<br />mas, de repente, tudo é só silêncio.<br /> as palavras já não podem dizer o que sinto.<br /> e eu já não sei o que sinto.<br />e o silêncio me consome.<br />e fico muda.</p><p style="font-family: inherit; text-align: left;"><br /> Francine Ribeiro</p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-25775454332782864472021-05-17T08:31:00.008-03:002021-05-17T08:41:19.489-03:00o vírus (as pragas e as pestes)<p>há um vírus lá fora,</p><p>mas também há pragas e outras pestes.</p><p>o vírus roubou nossos sorrisos, nossos abraços, nosso prazer de estar junto dos amigos.</p><p>as pragas e pestes já tinham nos separado, nos colocado em campos inimigos. </p><p>o vírus está roubando nossos amores: são mães, filhos, pais, filhas, tios e tias, colegas, amigos, conhecidos e milhares de desconhecidos, mas que eram amores de alguém.</p><p>as pragas e pestes estão roubando nossa humanidade: são quase 500 mil mortos pelo vírus </p><p>e parece que perdemos a capacidade de sentir; não estamos de luto? será que há luto suficiente para tantas vidas perdidas?</p><p>há um vírus lá fora, </p><p>mas as pragas e pestes estavam aqui dentro. </p><p>o vírus está nos tirando o ar, nos sufocando,</p><p>as pragas e pestes estão tirando nossa esperança, nossa alegria, nossa potência de vida. </p><p>o vírus nos trancafiou em casa - ou melhor, escancarou os privilégios que fingíamos ignorar. </p><p>as pragas e pestes aprofundam as desigualdades, alastram a miséria, são íntimas do desejo de matar e deixar morrer. </p><p>há um vírus lá fora</p><p>e nossa única chance de vencê-lo é eliminando as pragas e pestes das nossas vidas. </p><p>contra o vírus devemos usar máscaras,</p><p>contra as pragas e pestes devemos retirar todas as máscaras: de indiferença, de falta de empatia, de ódio, de vingança, de ressentimento, de violência. </p><p>elimar as pragas e pestes é exercício contínuo, </p><p>o vírus vai passar (ainda que outros possam surgir).</p><p>Por ora, temos que ter o direito de chorar nossos mortos,</p><p>de nos recolher e recompor nossas forças,</p><p>de resgatar nossa fé no humano que há em nós. </p><p>Façamos silêncio por todos que perderam suas vidas,</p><p>façamos silêncio com aqueles que choram seus entes queridos. </p><p><br /></p><p style="text-align: right;">(Por todos que se foram, para todos que estão em luto)</p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-46914720388917064242021-03-12T16:12:00.016-03:002021-03-13T00:16:25.311-03:00Dica de leitura: Eu não sei quem você é - Penny Hancock<p style="text-align: justify;">Livro para mim é livro, papel, para mim não tem essa de livro digital. O objeto livro é fundamental na experiência da leitura. Desde criança, quando começou minha aventura com a leitura, eu gosto de carregar o livro, de cheirar, de abraçá-lo. Sim, eu posso parecer um tanto esquisita. Mas depois que termino a leitura, principalmente quando eu gosto muito do livro, tenho dificuldade de simplesmente colocá-lo na estante e pegar outro. Eu passo uns dias acariciando o livro lido, relendo alguns trechos de maneira aleatória. </p><p style="text-align: justify;">Um dos meus contos favoritos da Clarice Lispector é <i>Felicidade Clandestina. </i>Choro sempre que leio de novo. E já li muitas vezes. (Acabo de me dar conta de que o meu <i>Felicidade Clandestina </i>está emprestado. Se estiver com alguém que, por acaso, estiver lendo esse texto, por favor, cuide direitinho dele.)</p><blockquote><p style="text-align: justify;">"Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para
depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas
maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais
indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro,
achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas
dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A
felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já
pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… havia orgulho e pudor em mim.
Eu era uma rainha delicada.</p>
<p style="text-align: justify;">Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.</p>
<p style="text-align: justify;">Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante." (Lispector, Clarice, <i>Felicidade Clandestina</i>)<br /></p></blockquote><p style="text-align: justify;">É assim que muitas vezes me sinto com os livros que leio. É como se ao abraçar o livro eu pudesse entrar nele, eu pudesse tocar as personagens, pudesse me tornar um pouco cada uma delas. Nesse momento, estou assim com <i>Eu não sei quem você é, </i>da inglesa Penny Hancock. A história é pesada, mas é envolvente de um jeito que me fez reviver meus melhores dias de adolescente, lendo compulsivamente, levando um monte de bronca da minha mãe porque eu deixava as louças na pia e corria para o quarto ler escondida. </p><p style="text-align: justify;">Holly, a protagonista da história, é professora de escrita criativa na Universidade em Londres, mas mora numa vila, próxima à Cambridge. Em seu caminho diário para o trabalho passa por ruas e casas que foram outrora frequentadas por Virginia Woolf, Vanessa Bell e por tantas outras mulheres, escritoras e artistas, o que faz com que Holly sinta como se "a praça abrigasse os espíritos de todas essas escritoras e pioneiras feministas". Numa dessas caminhadas, ela relembra seu marido Archie dizendo: <i>"Você acredita que vai absorver o talento delas por osmose!". </i>Impossível ler essa passagem e não lembrar do que disse Virginia Woolf em <i>Profissões para mulheres, </i>texto publicado em 1942.</p><blockquote><p style="text-align: justify;">"Minha profissão é a literatura; e nessa profissão há bem menos experiências disponíveis para as mulheres que em qualquer outra, com exceção do palco - bem menos, quero dizer que sejam específicas das mulheres. Pois o caminho foi preparado muitos anos atrás - por Fanny Burney, Aphra Behn, por Harriet Martineau, Jane Austen, George Eliot - muitas mulheres famosas e muitas outras, desconhecidas e esquecidas, vieram antes de mim, aplainando a senda e orientando meus passos. Assim, quando chegou a minha vez de escrever, havia pouquíssimos obstáculos materiais no caminho. Escrever era uma ocupação respeitável e inofensiva." (Woolf, Virginia, <i>As mulheres devem chorar... ou se unir contra a guerra, </i>p.29).<br /></p></blockquote><p style="text-align: justify;">O tema abordado por Penny Hancock, assim como sua profissão em si, e a profissão de sua personagem principal, são devedores de mulheres como Virginia Woolf. Também ela abriu caminhos para que hoje tantas mulheres possam estar em tantos lugares e possam falar sobre tantas coisas com mais liberdade. Liberdade que nem sempre existiu<i>:</i></p><p style="text-align: justify;"></p><div style="text-align: justify;"><blockquote><i>"</i>Pois, como descobri<i>, </i>assim que pus a pena no papel, não se pode resenhar nem mesmo um romance sem que se pense por conta própria, sem que se expresse o que se pensa ser a verdade sobre as relações humanas, a moralidade, o sexo. E todas essas questões, segundo o Anjo da Casa, não podem ser tratadas livre e francamente pelas mulheres; elas devem seduzir, elas devem conciliar, elas devem - para dizê-lo sem meias-palavras - mentir se quiserem ser bem-sucedidas. (Woolf, Virginia, <i>As mulheres devem chorar... ou se unir contra a guerra, </i>p.31).<br /></blockquote></div><p style="text-align: justify;">No entanto, como bem exemplifica Holly, ainda hoje as mulheres pagam um preço caro por falar sobre <i>certas questões - relações humanas, moralidade, sexo</i>. Quantas não são as mulheres, professoras, intelectuais, cientistas, artistas, que precisam enfrentar @<i>machistinhas </i>em suas jornadas? Holly sempre esteve envolvida com grupos de discussão sobre direitos das mulheres e sobre a importância de se falar sobre consentimento, orientando e conscientizando mulheres, meninas e adolescentes a denunciarem casos de violência sexual. </p><p style="text-align: justify;">Explorar esses temas - assédio, consentimento, estupro -, depois de movimentos como o #MeToo, poderia ser só mais uma história. Mas Penny nos conduz por uma narrativa envolvente, cheia de reviravoltas e que a cada página nos desafia a duvidar do que parecia absolutamente verdadeiro na página anterior. Depois de ouvir de sua melhor amiga, Jules, que seu filho Saul teria estuprado Saffie, filha de Jules e afilhada de Holly, vemos nossa personagem ser confrontada com tudo que ela acreditava e ensinava durante a sua vida. Saul é um adolescente de 16 anos, problemático - qual não é nessa idade? - com dificuldade de socialização, que não se adaptou à vida pacata da vila para qual ele e a mãe se mudaram depois que o pai de Saul morreu. Saffie é mais nova, 13 anos, bonita, desabrochando para a adolescência, filha de Jules e filha especial de Holly. Mas a reação de Holly não foi a esperada por Jules. Ela, que sempre falou da importância de não duvidar das vítimas, se pergunta por que Saffie teria inventando aquela mentira sobre seu filho. </p><p style="text-align: justify;"></p><div style="text-align: justify;"><blockquote>Eu permaneço sentada por um tempo depois de Jules ter saído do meu
escritório, lutando para criar algum tipo de sentido para o que ela
acabou de me contar. Preciso de vários e vários minutos de silêncio para
processar a situação, mas Luma logo aparece na porta e me lembra que
preciso estar às três no seminário sobre consentimento. E, antes que eu
consiga falar qualquer coisa, antes que eu consiga abrir a minha boca
para dizer que não tenho condições de ir, ela me diz que Hanya também
anda recebendo tuítes de intimidação, que ela também está sendo chamada
de feminázi. Hanya só tem dezenove anos de idade. Não dá. Luma está
certa, ela precisa do nosso apoio. (Hancock, Penny, <i>Eu não sei quem você é, </i>p.74). </blockquote></div><p style="text-align: justify;">Daí em diante, o livro vai nos lançando em diferentes labirintos. Os labirintos de cada um dos personagens, nos lembrando dos nossos próprios labirintos. Amizade de longos anos, casamentos, as relações mãe-filha ou mãe-filho, de repente, como num piscar de olhos, as pequenas trincas e fissuras de todas essas relações vão se tornando rachaduras que parecem impossíveis de serem consertadas. A questão central é: o quanto nos conhecemos? Diante de uma situação limite, o quanto estamos preparados para encarar as nossas próprias reações? É justo cobrar dos outros - companheiros, amigos, filhos -, certas atitudes, escolhas, reações, sendo que não estamos seguros sobre as nossas próprias atitudes, escolhas e reações nesses momentos? </p><p style="text-align: justify;">Durante a leitura, fiquei várias vezes me perguntando como eu reagiria, o que eu faria, no lugar da Jules, ou no lugar da Holly. Eu teria me saído melhor ou teria cometido os mesmos erros que elas? Ser especialista num assunto e falar sobre ele quando você não é diretamente afetado é uma coisa, mas e quando a situação te puxa para o meio da lama? Como manter a racionalidade? Como manter seus princípios? Podemos até acertar, por instinto, como é o caso de Holly, mas percebemos que somos muito mais frágeis do que imaginávamos e que nossas certezas não são assim tão seguras. </p><p style="text-align: justify;">O título do livro ecoa em diferentes momentos da narrativa. É angustiante a sensação de não saber quem é a pessoa com quem dividimos a cama, de não reconhecer uma amiga de longa data, de desconhecer o próprio filho ou filha, mas, certamente, o mais desconcertante é ter que assumir que não temos certeza se sabemos quem somos, que não estamos seguros sobre os nossos desejos mais secretos, ou se temos controle sobre ressentimentos e mágoas que insistimos em dizer que ficaram no passado, mas que na primeira oportunidade escapam de nossas bocas e atingem em cheio as pessoas que amamos.</p><div style="text-align: justify;"><blockquote><p>"Eu olho pra Jules. Minha amizade com ela, que eu considerava o relacionamento mais estável da minha vida, acabou de entrar em um território completamente desconhecido. Porque as amizades não são imutáveis, como um dia eu imaginei, e porque a resposta de Jules para a acusação da sua filha está me revelando uma mulher bem diferente da que eu achava que conhecia. Uma mulher que está perseguindo o seu filho especial como se antes só estivesse esperando pela oportunidade certa. Que, na intimidade, recrimina a forma como eduquei o meu filho. Uma mulher que está mais que preparada para insultar o meu falecido marido." (Hancock, Penny, <i>Eu não sei quem você é, </i>p.202). </p></blockquote></div><p style="text-align: justify;"><i>Eu não sei quem você é</i> fala sobre aquelas questões que, como Virginia Woolf bem lembrou, as mulheres não poderiam falar sobre: relações humanas, moralidade, sexo. Mas, principalmente, nos fala de amizade entre mulheres, do que sustenta as verdadeiras amizades. Jules e Holly sempre foram muito diferentes. E depois de tudo que tiveram que enfrentar, seria possível seguir sendo amigas? Além das diferenças, para que uma amizade sobreviva ao próprio desenrolar da vida, é preciso aceitar os limites dos outros e, talvez, acima de tudo, nossos próprios limites e falhas. Será que uma amizade é capaz de sobreviver às provações que Holly e Jules enfrentaram? <br /></p><p style="text-align: justify;">Agradeço à amiga Ana Zeferino que me proporcionou essa leitura tão envolvente, porque me deu de presente uma assinatura da TAG Inéditos. Que possamos nos encantar e envolver com muitas e muitas histórias ao longo desse ano e que nossa amizade encontre sempre bons motivos e boas desculpas para nos aproximar ainda mais! Como Jules e Holly, somos bastante diferentes, Ana é engenheira, eu aprendiz de filósofa, professora. Mas assim como elas, adoramos tomar café em boa companhia. </p><p style="text-align: justify;">Como disse, no início, quando termino de ler um livro, costumo passar alguns dias com ele, curtindo um pouco mais, mudando de lugar pela casa, às vezes apenas deixo do meu lado enquanto penso e faço a digestão do que li, só depois desse ritual, ele encontra seu lugar na minha estante e eu passo para um novo livro. No lugar daquela tortura vivida pela menina do conto <i>Felicidade Clandestina </i>que tanto desejava e tanto esperou para enfim possuir o livro, eu tenho tentando proporcionar às pessoas o prazer de possuir livros. E tem sido uma experiência muito bacana, porque compartilhar livros, dar livros de presente, faz com que coisas muito bacanas aconteçam. Recomendo: dê livros de presente! <br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQkEk_ILQ6LOM7c4c3eCcbceFUWpt-4AYxJjPL_m7BHWy1kXuf9xtqNTIM4_SbmLIJMoxGjog4WPAy4rjzIZH1YzN5IlxXmzi6GAJG8Re0Y-fWsMo8GIbPSYYkKCcGJ4pIpcTGmSX78VA/s1280/WhatsApp+Image+2021-03-12+at+16.10.59.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="720" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQkEk_ILQ6LOM7c4c3eCcbceFUWpt-4AYxJjPL_m7BHWy1kXuf9xtqNTIM4_SbmLIJMoxGjog4WPAy4rjzIZH1YzN5IlxXmzi6GAJG8Re0Y-fWsMo8GIbPSYYkKCcGJ4pIpcTGmSX78VA/w225-h400/WhatsApp+Image+2021-03-12+at+16.10.59.jpeg" width="225" /></a><br /></div><p></p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-2019996971918506882021-03-08T13:32:00.010-03:002021-03-08T14:20:54.479-03:008 de março - ficção como potência para construção de uma nova realidade<div style="text-align: right;"><blockquote><p><span style="font-family: inherit;"> <span>"Porque nem toda feiticeira é corcunda</span><br /></span></p><div class="ujudUb"><span style="font-family: inherit;"><span>nem toda brasileira é bunda</span><br /><span>Meu peito não é de silicone</span><br /><span>Sou mais macho que muito homem" </span></span></div><p></p></blockquote><p></p><blockquote><p><span></span></p><div class="ujudUb"><span>(Rita Lee, <i>Pagu</i>)<br /></span></div><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;">Estou há dias para escrever esse texto. Mas entrei em bloqueio. Falar das mulheres, de ser mulher, nunca foi tão difícil como nesse 8 de março de 2021.</p><p style="text-align: justify;">Quinta-feira última, 6 de março, e a comissão de ética da Alesp resolveu dar "férias" para o deputado Fernando Cury, assediador canalha como todos puderam ver em vídeos que circularam pelas redes sociais, que <a href="https://twitter.com/i/status/1339683333228400640">encoxou e apalpou os peitos da também deputada estadual Isa Penna durante votação do Orçamento do Estado de São Paulo, na noite de 16 de dezembro de 2020</a>. Mas os deputados <span class="css-901oao css-16my406 r-poiln3 r-bcqeeo r-qvutc0"> Wellington Moura (Republicanos),
Delegado Olim (Progressistas),
Adalberto Freitas (PSL),
Alex de Madureira (PSD) e o corregedor da Casa,
Estevam Galvão (DEM) decidiram que a "punição" adequada ao colega seria o afastamento remunerado de 119 dias. Ou seja, os cinco deputados acharam por bem tornarem-se cúmplice do assediador e resolveram dar férias ao delinquente. </span></p><p style="text-align: justify;"><span class="css-901oao css-16my406 r-poiln3 r-bcqeeo r-qvutc0">O caso envolvendo a deputada Isa Penna e o desfecho absurdo de poupar o assediador é só um dos muitos exemplos de como anda a vida das mulheres nesse Brasil de 2021. Os casos de assédio, ameaças e ataques sofridos pelas mulheres na política são mais uma face da condição das mulheres brasileiras nesse cenário de perdas de direitos, de tentativa de enfraquecimento das lutas sociais, de conservadorismo/reacionarismo que o governo de Jair Bolsonaro representa. </span></p><p style="text-align: justify;"><span class="css-901oao css-16my406 r-poiln3 r-bcqeeo r-qvutc0">Com a pandemia e o pandemônio que o Brasil enfrenta, as mulheres foram as mais afetadas. Seja no aumento da violência doméstica, da sobrecarga de trabalho, da perda de emprego, perda de redes de apoio (serviços como creche e escola). Não faltam <a href="https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/03/24/Quais-os-impactos-da-pandemia-sobre-as-mulheres">dados</a>, <a href="https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/02/pandemia-deixa-mais-da-metade-das-mulheres-fora-do-mercado-de-trabalho.shtml">artigos</a>, <a href="https://www.comciencia.br/pandemia-impacta-mais-a-vida-das-mulheres/">alertas</a>. Mas certamente falta vontade política de agir em prol das mulheres. Damares Alves, a sinistra ministra da </span><span class="css-901oao css-16my406 r-poiln3 r-bcqeeo r-qvutc0"><span>Mulher, da Família e dos Direitos Humanos está mesmo preocupada em patrocinar vagabundos que preferem crucificar uma criança vítima de estupro, que como resultado da violência sofrida engravidou. A pastora das trevas prefere fazer discursos vazios em favor da vida dos inocentes enquanto <a href="https://www.cartacapital.com.br/politica/damares-gastou-apenas-24-da-verba-de-combate-a-violencia-contra-a-mulher/">reduziu o investimento das verbas para combate à violência contra a mulher</a>. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span class="css-901oao css-16my406 r-poiln3 r-bcqeeo r-qvutc0"><span>A realidade nunca foi tão desanimadora como nos últimos anos tem sido para nós, mulheres brasileiras. O retrocesso chega a galope. E ainda queremos saber quem matou e quem mandou matar Marielle Franco. Como escreve <a href="https://twitter.com/brumelianebrum/status/1368840533813170177">Eliane Brum</a>, "</span></span><span class="css-901oao css-16my406 r-poiln3 r-bcqeeo r-qvutc0"><span><span class="css-901oao css-16my406 r-poiln3 r-bcqeeo r-qvutc0">1.090 dias. 8 de março. Dia da Mulher. E ainda não sabemos.
A cada dia sem solução e sem responsabilização do crime que revela o Brasil o abismo se amplia e se aprofunda.
Devemos hoje perguntar ainda com mais força. Precisamos gritar:
Quem mandou matar Marielle?
E por quê?". </span></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span class="css-901oao css-16my406 r-poiln3 r-bcqeeo r-qvutc0"><span><span class="css-901oao css-16my406 r-poiln3 r-bcqeeo r-qvutc0">A realidade nos sufoca. É preciso encontrar saídas, encontrar inspiração, esperança, força. Encontrar espaço para imaginar outros mundos possíveis. Por isso, nesse 8 de março, eu só posso recomendar literatura, boa literatura escrita por mulheres, falando de mulheres, para mulheres e para todos que sonham com equidade, igualdade, justiça, enfim, um mundo melhor para todos. </span></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span class="css-901oao css-16my406 r-poiln3 r-bcqeeo r-qvutc0"><span><span class="css-901oao css-16my406 r-poiln3 r-bcqeeo r-qvutc0">Lá vai a dica do dia: <i>Terra das mulheres, </i>Charlotte Perkins Gilman, publicado em 1915.<br /></span></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span class="css-901oao css-16my406 r-poiln3 r-bcqeeo r-qvutc0"><span></span></span></p><br />"A característica mais evidente de todo aquele país era a perfeição do fornecimento alimentício. Percebemos isso logo na nossa primeira caminhada pela floresta, na primeira visão parcial do avião. Então fomos levados para conhecer essa horta imensa e seus métodos de cultivo. (...)<br />Quanto à inteligência, confesso que era o traço mais impressionante, e também o mais mortificador de toda a Terra das Mulheres. Logo deixamos de comentar sobre isso ou outros assuntos que para elas eram tão banais e que apenas exibiam nossas próprias condições embaraçosas." (p.136/138).<p style="text-align: justify;"><i>Terra das Mulheres </i>me gerou alguns incômodos, muito provável que esses incômodos sejam frutos de uma visão de uma época, de certas ideias sobre ser mulher que já foram superadas. Mas a beleza e a potência que a narrativa de Charlotte nos traz são motivos incontestáveis para ler esse livro.<br /></p>"-A única coisa que podem pensar a respeito de um homem é a paternidade! - zombava ele, com sarcasmo. -Paternidade! Como se um homem só quisesse ser pai!<br />Nisso ele também tinha razão. Elas tinham a experiência ampla, geral, profunda e rica da maternidade, e a única percepção de valor a respeito da criatura masculina como tal era a Paternidade. (p.216).<p style="text-align: justify;">É isso, o recado desse 8 de março é: Leia literatura, leia mulheres! Façamos das histórias, utopias, narrativas ficcionais, potência de transformação dessa realidade distópica e feia na qual fomos lançados. Aprendamos com as mulheres, reais e fictícias, a vencer os obstáculos, a abrir portas, apoiar outras mulheres, a escrever nossas próprias histórias. </p><p style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6s8h-BFtLbP6IBWJp0FRMvZGsmoxA5jDqQHrOMc0KY_mH9Wf-VAqzk6-xJbSx9M5XPWv2Xnw4tfyOWbMvhtjJVpuxEXlyECcXYB05PF59dKoJgDgCDJUr_212DCDoN3gDssbbJY1NDX4/s1280/WhatsApp+Image+2021-03-08+at+13.28.53.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="720" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6s8h-BFtLbP6IBWJp0FRMvZGsmoxA5jDqQHrOMc0KY_mH9Wf-VAqzk6-xJbSx9M5XPWv2Xnw4tfyOWbMvhtjJVpuxEXlyECcXYB05PF59dKoJgDgCDJUr_212DCDoN3gDssbbJY1NDX4/w226-h400/WhatsApp+Image+2021-03-08+at+13.28.53.jpeg" width="226" /></a></div><br /> <p></p><p><br /></p><p></p><p></p></div>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-35065453714677866122021-02-25T10:52:00.009-03:002021-02-25T11:14:31.280-03:00Dica de leitura: A morte e o meteoro (Joca Reiners Terron)<p></p><div style="text-align: justify;"><p></p><blockquote>"O epílogo estava escrito, só que ninguém mais sabia ler. A história nos
trouxe a esse ponto cego e, como em toda situação parecida, a culpa
devia ser endereçada à espécie humana, ou ao menos àquela parte que
ainda merecia ser identificada por qualificação tão flexível: aos
humanos humanitários, por assim dizer, ou aos melancólicos que
sobreviveram ao cinismo" (A morte e o meteoro, p. 13)</blockquote> <p></p><blockquote>"No início do século 20, o povo Juma contava com uma população de cerca de 15 mil pessoas. Atingido por doenças e sucessivos massacres, a nação foi sendo dizimada. Segundo o OPI, o último massacre aconteceu em 1964, quando 60 indígenas foram assassinados a mando de comerciantes do município de Tapauá (AM), interessados na sorva e castanha disponível em seu território." (Nexo Jornal,<i> <a href="https://www.nexojornal.com.br/expresso/2021/02/19/Quais-as-na%C3%A7%C3%B5es-ind%C3%ADgenas-sob-risco-de-exterm%C3%ADnio-no-Brasil">Quais as nações indígenas sob risco de extermínio no Brasil - </a></i><a href="https://www.nexojornal.com.br/expresso/2021/02/19/Quais-as-na%C3%A7%C3%B5es-ind%C3%ADgenas-sob-risco-de-exterm%C3%ADnio-no-Brasil">Último homem guerreiro Juma morreu de covid em Rondônia no dia 19 de fevereiro de 2021.)</a></blockquote></div><p style="text-align: left;"></p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Ler <i>A morte e o meteoro, </i>de Joca Reiners Terron, na semana em que o último guerreiro Juma morreu de Covid em Rondônia, fez com que a leitura fosse ainda mais perturbadora. Esse livro foi um presente da amiga @fabigaton<i>. </i>Aliás mais uma indicação incrível da Fabi que também me presenteou com <i><a href="https://mineirices.blogspot.com/2020/08/dica-de-leitura-torto-arado.html">Torto Arado</a>. </i>E se minha memória não me engana, perturbador foi a palavra que a Fabi na época usou para classificar <i>A morte e o meteoro.</i></p><p style="text-align: justify;">É um livro curtinho (116 páginas), mas muito denso. Ao iniciar a leitura, tive um estranhamento com o estilo, precisei voltar a leitura umas duas vezes até encontrar o ritmo. E aí não conseguia parar mais. A narrativa é angustiante, em alguns momentos me fez sentir sufocada, o ambiente é desalentador, e as experiências de luto que permeiam a história nos lembram da nossa condição de fragilidade, dos riscos que corremos, da nossa morte iminente, não só como indivíduos, mas como espécie. </p><p style="text-align: justify;"></p><div style="text-align: justify;"><blockquote><i>"</i>Não passavam de cinquenta kaajapukugi, últimos sobreviventes de seu povo, suas últimas cinquenta cabeças postas a prêmio. Fui encarregado do caso pelo secretário federal de imigração, um imbecil indicado ao cargo pelo Partido Revolucionário Institucional. O fato de ter me colocado à frente disso deve ter sido o lampejo final da monótona vida sináptica daquele desprivilegiado pelos neurônios, uma última e desesperada justificativa de sua existência inútil" (p.11).<br /></blockquote></div><p style="text-align: justify;">Somos introduzidos à história dos kaajapukugi por um burocrata da Comissão Nacional para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da cidade de Oaxaca, no México. Um antropólogo interessado por línguas mortas cujo trabalho, em suas próprias palavras, "consistiu quase inteiramente em despachar ônibus decrépitos com trabalhadores rurais à zona agrícola, ou com menor ou maior frequência, preencher certidões de nascimento e óbito a granel". Um homem solitário que vivia o luto da morte recente dos pais e que carecia de algo que desse sentido àquela sua vida monótona e medíocre. Mas a narrativa é dividia com Boaventura, uma espécie de "antropólogo prático", que embora nunca tenha frequentado uma faculdade de antropologia, dedicou sua vida, desde muito cedo, a investigação de povos indígenas. No entanto, o que pode parecer, à primeira vista, uma vida dedicada a causa indígena, traz à tona ambiguidades, contradições e facetas obscuras tão típicas do ser humano. </p><blockquote><p style="text-align: justify;">"terei que voltar ao passado, aos meus trinta anos de idade, e lembrar fatos que preferia ter esquecido, coisas que deviam ficar enterrada no solo arenoso das margens dos igarapés do Purus. Resta saber como esquecer algumas verdades. Impossível, a não ser que sejam varridas por um acidente vascular ou pelo Alzheimer. Não é o meu caso, pelo menos ainda não" (A morte e meteoro, p.40).</p></blockquote><p style="text-align: justify;">Em comum, Boaventura e o antropólogo mexicano têm o luto recente dos pais logo antes do acontecimento de fatos que irão mudar suas vidas para sempre. A morte dos seus ancestrais mais próximos, a perda de suas raízes, o sentimento de solidão e falta de pertencimento são, portanto, a tônica da narrativa. E nos leva a nos perguntar qual será o futuro da humanidade, o nosso futuro? Sem nossos "ancestrais", mas também sem possibilidade de herdeiros, de novas gerações (Boaventura e o antropólogo são homens solitários, assim como os 50 sobreviventes dos kaajapukugi, todos homens). Seria o fim da "aventura humana na terra"? </p><p style="text-align: justify;">O tom distópico (ou seria realista?) se cruza com um tom de ficção científica. A narrativa é envolvente e nos lança numa viagem pelo tempo e pelo espaço, uma oportunidade de enfrentarmos as consequências da nossa tolerância centenária com abusos e violências indescritíveis aos povos nativos - sejam esses abusos e violências cometidos por colonizadores, autoridades políticas, figuras como Boaventura ou ainda por madeireiros, grileiros e outros tipos de gananciosos que olham para a floresta, para a natureza, como mercadoria, como tem denunciado há tanto tempo Ailton Krenak e tantos outros líderes indígenas:<br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;">"Quando nós falamos que o nosso rio é sagrado, as pessoas dizem: "Isso é algum folclore deles" (...). Quando despersonalizamos o rio, a montanha, quando tiramos deles os seus sentidos, considerando que isso é atributo exclusivo dos humanos, nós liberamos esses lugares para que se tornem resíduos da atividade industrial e extrativista. Do nosso divórcio das integrações e interações com a nossa mãe, a Terra, resulta que ela está nos deixando órfãos" (Ideias para adiar o fim do mundo, p.49).<br /></p></blockquote><p style="text-align: justify;">Órfãos, como Boaventura, como o antropólogo mexicano, órfãos como os 50 remanescentes dos kaajapukugi. Parece que depois de anos de genocídio, de violência, de exploração, somos nós, os não índios, os que se encontram em perigo de extinção. No Brasil de 2021, de Bolsonaro e Salles, somos desgovernados por "imbecis", "desprovidos de neurônios" e que transpiram ódio e ganância. Ou seja, estamos acelerando o nosso fim. Ainda haveria possibilidade de salvação para nós? Ainda há chances de salvação para a Amazônia? Ainda temos tempo para adiar o fim do mundo? O nosso fim? </p><p style="text-align: justify;">Difícil não nos sentir na iminente condição de refugiados políticos, refugiados climáticos, num Brasil cujo dia a dia consegue ter cores tão distópicas que só mesmo a ficção para nos ajudar a encará-lo. <i>A morte e o meteoro </i>não é exatamente um livro otimista, mas, como todo bom livro, nos provoca a imaginar outros futuros, outros mundos possíveis, apesar do luto que por ora permeia nossas vidas. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3rKhOgidFZo7wBXxDYxheHYLI1mL5iuhQJN1WPDOF_dBVFTfC99f8sOgpgErk6U4K2uprgSR3qg5v_J3BEk-M7h6rYEmWvARdaYM6Z44yB6TQT1g-qcvjGAAvlxAHLI-OZqEYtMb13RE/s1280/WhatsApp+Image+2021-02-25+at+10.34.52.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1279" data-original-width="1280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3rKhOgidFZo7wBXxDYxheHYLI1mL5iuhQJN1WPDOF_dBVFTfC99f8sOgpgErk6U4K2uprgSR3qg5v_J3BEk-M7h6rYEmWvARdaYM6Z44yB6TQT1g-qcvjGAAvlxAHLI-OZqEYtMb13RE/s320/WhatsApp+Image+2021-02-25+at+10.34.52.jpeg" width="320" /></a></div><br /><p><br /></p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-46879957636596957252021-02-23T21:15:00.004-03:002021-02-23T21:25:10.072-03:00Sobre mudanças, privilégios e pequenas alegrias da vida adulta<p style="text-align: left;"></p><blockquote style="text-align: left;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><a href="https://www.youtube.com/watch?v=RVZCB3_011c">"Então eu vou bater de frente com tudo por ela<br /><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span>Topar qualquer luta<br /><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span>Pelas pequenas alegrias da vida adulta<br /><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span>Eu vou" </a></blockquote><p style="text-align: justify;">Um ano trabalhando de casa. Um ano que o trabalho invadiu nosso lar. Um ano sem encontrar amigos e parentes pessoalmente. Um ano passando muito tempo na frente de telas. Um ano de intensa convivência entre dois humanos e uma felina. E na perspectiva de continuar assim até não sei quando, decidimos nos mudar. Deixar o apartamento e buscar uma casa, um quintal, um pouco de terra e sol, mais espaço. O processo foi até bem rápido, entre as primeiras buscas na internet, as visitas (escolhidas a dedo e feita com muito cuidado, usando máscara, evitando ficar perto das pessoas) e a mudança, foram quatro meses. </p><p style="text-align: justify;">A mudança, no meio de um encerramento de ano letivo, com todos os cuidados e medo que uma pandemia podem requerer, aconteceu com relativa tranquilidade. Muitas caixas, algumas ainda por abrir, muitas idas e vindas de carro, consertos a serem feitos, adaptação aos novos sons da vizinhança, uma gatinha de apartamento curiosa para explorar um novo mundo, mas tudo sob controle, até o momento. </p><p style="text-align: justify;">Confesso que em meio a felicidade de mais uma conquista, da perspectiva de uma melhor qualidade de vida com mais espaço, bateu um sentimento de culpa, a necessidade de encarar de frente o quanto somos privilegiados de poder fazer esse movimento quando tantas famílias enfrentam, além do luto, o desemprego e uma série de privações. Encarar essa realidade da monstruosa desigualdade que constitui nossa sociedade, para além do sentimento de culpa, deveria nos levar ao comprometimento com a luta por mais justiça, mais igualdade, uma sociedade melhor para todos e não apenas para uma parte. <br /></p><p style="text-align: justify;">Ao contar para um amigo sobre a mudança ele me disse: Viramos adultos. E depois dessa fala fiquei pensando no que significa comprar uma casa com 35 anos. No meu caso, passa um filme pela cabeça. É uma conquista do casal. Meu companheiro e eu temos empregos bons. Trabalhamos bastante, principalmente nesse último ano, de intenso trabalho remoto. Mas a verdade é que temos uma vida bem confortável. Sozinha essa conquista demoraria alguns pares de anos para se tornar realidade. Mas fato é que comprar uma casa dá mesmo essa sensação de <i>enfim adultos</i>. Nos faz, de repente, entender que saímos da condição de jovens recém formados, que já estamos exercendo nossas profissões há mais de dez anos, que já aprendemos tantas coisas pelo caminho, que precisamos ter humildade para reconhecer que lá no início fomos arrogantes, batemos cabeça, e que agora temos um pouco mais de paciência conosco e com os outros. É isso, a vida de adultos chegou junto com o quintal. <br /></p><p style="text-align: justify;">E é nesse quintal que quero aproveitar essa vida de adulto. Curtindo os passarinhos que vierem nos visitar, apreciando as vidas que brotarem, as folhas que caírem, as borboletas coloridas que virão enfeitar nossas manhãs e tardes, enfrentando o medo de lagartixas e afins. Consciente dos privilégios que hoje temos. Buscando nunca esquecer de onde eu vim. Mantendo sempre viva a disposição para contribuir com a construção de uma sociedade mais justa, na qual possuir uma casa com quintal não seja motivo de mal estar. E o mais importante, curtir essa vida de adulto ao lado do melhor companheiro de vida, de planos e sonhos, de música, de leitura, de estar junto no mundo, que eu poderia ter. Porque ter um amor para dividir um quintal é fundamental! </p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmhC0GMZrPrhL9Zy3tL4PW5KzvBdY3BBQWYSdSv-ZzWaxa7QN1mDdoGLIf9eoMMqLQpp4JuE_S3WPdU7Aj04u7HfKx9nZb5tnpuRJDXV-JNnC8XmjgXo7mbjNBaYHLq97rWq9A-Tyr1Ks/s1280/WhatsApp+Image+2021-02-23+at+19.19.06.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="960" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmhC0GMZrPrhL9Zy3tL4PW5KzvBdY3BBQWYSdSv-ZzWaxa7QN1mDdoGLIf9eoMMqLQpp4JuE_S3WPdU7Aj04u7HfKx9nZb5tnpuRJDXV-JNnC8XmjgXo7mbjNBaYHLq97rWq9A-Tyr1Ks/w150-h200/WhatsApp+Image+2021-02-23+at+19.19.06.jpeg" width="150" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkxgY9r3CXbJTqU4EFE9AWLlWvEIUzcRGFd0ja3hnFu9m3FfVPzhfFZvAAo3-YFVZKPGijtALZVcnE8Qmvf6nEdUX48p3o36NBNpaHfwdMoNf7S_Dl3W9r1nwBtGtNzlph6QX6kduM3eg/s1280/WhatsApp+Image+2021-02-23+at+19.19.26.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="960" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkxgY9r3CXbJTqU4EFE9AWLlWvEIUzcRGFd0ja3hnFu9m3FfVPzhfFZvAAo3-YFVZKPGijtALZVcnE8Qmvf6nEdUX48p3o36NBNpaHfwdMoNf7S_Dl3W9r1nwBtGtNzlph6QX6kduM3eg/w150-h200/WhatsApp+Image+2021-02-23+at+19.19.26.jpeg" width="150" /></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNHo3TJV484HlaBIz5OJTj2wrWoFYlptDRujGC5A-dFQGPrjj9iXApBmeSPNxgKsQwlvMcDZns1bSigHPPf-gn4_6S7_W8dLflZ9ttxQ1As5BhMtBDrq6DHziqkUKIQfLi-zoddrcsMtw/s1280/WhatsApp+Image+2021-02-23+at+19.20.01.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="960" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNHo3TJV484HlaBIz5OJTj2wrWoFYlptDRujGC5A-dFQGPrjj9iXApBmeSPNxgKsQwlvMcDZns1bSigHPPf-gn4_6S7_W8dLflZ9ttxQ1As5BhMtBDrq6DHziqkUKIQfLi-zoddrcsMtw/s320/WhatsApp+Image+2021-02-23+at+19.20.01.jpeg" /></a></div><br /><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div></div></div></div><br /><br /><br /><br /><p></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p> </p><p> </p><p> </p><blockquote style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><br /></blockquote><span><span></span></span><p></p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-36992169547446063182021-01-15T11:42:00.008-03:002021-01-19T22:08:02.009-03:00Não faltam crimes, mas faltam coragem e pressão<p style="text-align: justify;">Bolsonaro acumula mais de 50 pedidos de impeachment. Esses pedidos, motivados por crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente, estão parados nas mãos do Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Muitas figuras públicas, inclusive o próprio Rodrigo Maia e algumas pessoas de oposição, alegam que não haveria número suficiente de votos para um impeachment e, por isso, não faria sentido abrir o processo. Dizem também que abrir o processo sem esses votos poderia beneficiar Bolsonaro. </p><p style="text-align: justify;">Impeachment no Brasil, como ficou evidente no processo de Dilma Rousseff, depende muito mais de "clima" do que de crime. Os crimes Bolsonaro já garantiu. E segue a cada dia cometendo os mesmos ou novos. Mente sobre remédios que não têm eficácia contra a Covid-19. Faz campanha deliberada contra vacina. Usa instituições e órgãos públicos para benefício próprio ou de seus filhos. O clima cabe a nós, cidadãos, criar. E sabe como a gente cria clima de impeachment? Pressionando os parlamentares. </p><p style="text-align: justify;">O Brasil está vivendo um caos sanitário, mas o Congresso está em recesso até 1º de fevereiro. Isso faz sentido para você? Para mim não faz. Temos que exigir o fim do recesso parlamentar imediatamente. Mas temos também que exigir abertura imediata de CPIs para apurar responsabilidades pelos crimes que estamos vendo, pelo caos em Manaus, pelo atraso do país na corrida pelas vacinas, pela insistência em manter o ENEM nos próximos finais de semana e por todos os outros crimes cometidos por esse governo, por Bolsonaro e seus cúmplices. CPIs para investigar deputados como Bia Kicis, Osmar Terra, Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro, Daniel Silveira, que além de ódio disseminam mentiras pelas redes sociais e atuam como verdadeiros agentes do caos, colocando a população contra autoridades que tentam medidas para conter o caos sanitário. </p><p style="text-align: justify;">A situação da pandemia no Brasil nesse momento, de segunda onda, como foi alertado por cientistas, epidemiologistas e demais autoridades com juízo e bom senso, está muito grave e poderia ter sido evitada. Ou seja, esse caos que Manaus e, infelizmente, outras cidades em breve podem viver, não é questão de incompetência, é fruto de decisões deliberadas de autoridades negacionistas que <b>escolheram deixar pessoas morrer. </b> Bolsonaro e seus ministros têm agido para ampliar o caos. Bolsonaro no final do ano causou aglomerações, quando muitos avisavam que essas datas mereciam atenção, cuidado, que não era hora de aglomerar. <b>Bolsonaro é responsável diretamente pelo comportamento de risco assumido por milhares de pessoas que resolveram levar a sério o presidente da república.</b> Como chefe de Estado, tudo, absolutamente tudo, que Bolsonaro fala e faz importa, tem consequências, por isso ele é responsável! Não é hora de aglomerar, mas precisamos sair de nossas casas ou fazer barulho de nossas casas. Não é possível mais ficar assistindo a todo esse horror sem agir. </p><p style="text-align: justify;"><b>Sábado, 23/01/2021, precisamos pressionar o Congresso Nacional.</b> Deputados e senadores precisam ouvir nossas vozes dizendo #ChegaDeBolsonaro! #ChegaDeMortes! #ChegaDeTolerarCrimes. Quem puder ir para as ruas de carro em suas cidades, fazer carreatas e buzinaços, colocar faixas de suas janelas, bater panela quando a carreata passar, encher as redes sociais de #ImpeachmentDeBolsonaroUrgente, entrar nos perfis de deputados e senadores e pedir o #FIMDORECESSOJA e abertura imediata de CPIs. Precisamos nos unir e pressionar, <b>criar o clima para nos livrar desses assassinos. Precisamos fazer pressão para que os deputados e senadores criem coragem para botar um fim nessa tragédia. Como eu disse, os crimes Bolsonaro já cometeu, e segue cometendo diariamente. </b></p><p style="text-align: justify;"><b>ATENÇÃO: Se você for para a rua, MESMO QUE de moto ou de carro, não se esqueça de USAR MÁSCARA! Temos que continuar dando exemplo, mantendo distanciamento e tomando todos os cuidados para conter a transmissão do vírus. </b></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjCw6kDGYjNEkFS3lnP6gN-jEiVHF74lTDj_jURLhYydXhYjzxIGg0BvX2zyW7bPQjJYId1rWmIGx-WFn1ivpwVpV3KzUjqdkU6Dbsv7Vcr1J8BnTSehcVmYGRaSBJuPp3lDjH4gZhJgA/s1280/impeachment+Bolsonaro.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="222" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjCw6kDGYjNEkFS3lnP6gN-jEiVHF74lTDj_jURLhYydXhYjzxIGg0BvX2zyW7bPQjJYId1rWmIGx-WFn1ivpwVpV3KzUjqdkU6Dbsv7Vcr1J8BnTSehcVmYGRaSBJuPp3lDjH4gZhJgA/w394-h222/impeachment+Bolsonaro.jpg" width="394" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4037860443444523192.post-10528096701298123192021-01-12T15:42:00.005-03:002021-01-12T19:57:21.088-03:00O caso da Vacina do Butantan e a importância de uma boa comunicação científica <p></p><blockquote> <i>Comunicação não é marketing. A ciência e os cientistas precisam tomar cuidado com armadilhas politiqueiras</i></blockquote><p style="text-align: justify;">Que João Doria, governador de São Paulo, aposta no marketing para rebaixar a política, isso é sabido desde sua eleição para a prefeitura de São Paulo em 2016. O João trabalhador, usando uniforme dos funcionários da limpeza pública na primeira semana de seu mandato, foi personagem criado para sustentar suas narrativas antipolíticas. Num cenário em que Bolsonaro é presidente, Dória parece civilizado, parece melhor, mas é importante lembrar que a distância entre essas duas figuras é bem pequena, eu diria, irrelevante. A maneira como Dória se apropriou dos estudos do Instituto Butantan me pareceu irresponsável e perigosa, podendo mesmo virar desserviço para a ciência como um todo. </p><p style="text-align: justify;">Diante dos dados apresentados pelo Buntatan hoje (12/01/2021), é bem provável que tenha havido um atropelo na divulgação dos dados. Na semana passada, as eficácias anunciadas, de 100% para casos graves e moderados (que necessitam UTI ou hospitalização) e 78% para casos leves (que necessitam alguma intervenção ambulatorial) gerou expectativas altas em relação à vacina. No entanto, logo pesquisadores e jornalistas especializados em divulgação científica apontaram a ausência de dados sobre a eficácia geral da vacina. </p><p style="text-align: justify;">É bom que se diga que os números inicialmente apresentados pelo Butantan não são falsos ou errados, mas que representam recortes específicos do estudo. No entanto, aparentemente, acompanhamos uma estratégia atabalhoada da divulgação dos dados, que pode ter sido influenciada por interesses políticos do governador de São Paulo, na sua guerra particular contra o cavaleiro da ignorância que desgoverna o nosso país. Mas reforço: não é porque Bolsonaro é o pior presidente que Doria se torna o melhor governador. E mesmo reconhecendo quão delicada é a situação que vivemos, os ataques de má-fé feitos por figuras como o deputado Osmar Terra e outras criaturas trevosas, os cientistas não estão imunes a críticas nem podem estar acima do bem e do mal. Os questionamentos feitos ao Butantan, os burburinhos que surgiram após a primeira divulgação de dados, devem servir de alerta aos cientistas. Não podemos incorrer no erro de achar que a ciência é neutra, com isso querendo dizer que ela está livre de influências políticas e econômicas, mas não é de bom tom ter cientista falando mais em linguajar político do que científico. Quando isso acontece, é importante também ter humildade para reconhecer as escolhas equivocadas e que podem afetar toda a ciência. </p><p style="text-align: justify;">Em tempos de negacionismo científico, de disseminação do movimento antivacina no mundo todo, com um presidente que está em plena campanha contra a vacina, faz-se fundamental estratégias de comunicação cuidadosas e responsáveis. Diferente de meras estratégias marketeiras ou com intenções politiqueiras, uma boa comunicação, nesse caso, deveria levar em consideração impactos psicológicos em apresentar um "número" maior de <i>eficácia </i>num primeiro momento, para depois apresentar um "número" menor de eficácia. Como frisou a pesquisadora Natália Pasternak durante a coletiva de hoje, "temos uma boa vacina", não é a melhor do mundo, mas é uma boa vacina. Desse modo, teria sido muito melhor apresentar os dados sobre a eficácia geral da vacina que, embora baixos, 50,38%, se comparado com outras vacinas que já apresentaram seus dados, atendem os requisitos necessários para que uma vacina seja liberada para uso, e então depois se apresentassem os dados mais animadores, nos recortes do estudo. </p><p style="text-align: justify;"><b>Mas vamos ao que interessa!</b> <b>Temos vacina.</b> <b>Essa vacina é boa e é segura</b>. Agora o que precisamos é combater o negacionismo, as desconfianças, e ampliar as vozes pedindo #vacinaçãojá! </p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvSJN9QEelp6RqAr-oWyjP1j92qnD2tVjn9oFX5mlmYtN3c7Cf8mU6KJYBglKVmBlruQnJyZ2tcu8iZNgu97inEIJQEuIGdXl3kIpZyrSiiyhMZBFCicIaNkdDOK9fkHXJ32G71rRfHtA/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="188" data-original-width="268" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvSJN9QEelp6RqAr-oWyjP1j92qnD2tVjn9oFX5mlmYtN3c7Cf8mU6KJYBglKVmBlruQnJyZ2tcu8iZNgu97inEIJQEuIGdXl3kIpZyrSiiyhMZBFCicIaNkdDOK9fkHXJ32G71rRfHtA/" width="320" /></a></div><br />Em tempo: Viva a Ciência! Viva as instituições públicas de pesquisa! Viva o SUS! e Fora Bolsonaro! <p></p><p></p>Francine Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/17694517010062930798noreply@blogger.com0