sexta-feira, 20 de março de 2020

Terapia na madrugada chuvosa e silenciosa

como lidar com essa dor na alma? - seja lá o que for a alma...
como suportar essa leveza opressora de existir?
como se livrar da culpa original que botaram nas minhas costas antes mesmo de eu nascer?
como não sucumbir?
Tem dias que tudo que desejo era não ser!
Não, não estou falando de deixar de ser, de interromper a existência,
mas de nunca ter vindo a ser,
de não ter experimentado essa angústia constituinte do ser.
Terei que me haver com ela até o fim?
ai de mim, que não pude me escolher
mas desde que tenho consciência de mim, sou obrigada a tantas escolhas.
nessas horas solitárias pela madrugada infinita,
enquanto a chuva cai e meu sono se perde,
sinto uma vez mais essa dor que aperta o peito e da qual pareço não ter forças para fugir.
Chove lá fora, aqui dentro o silêncio me ensurdece.
E sinto o peso da alma em sua imaterialidade fantasmagórica.
De repente, me dou conta de que estou tentando fugir, de mim, da dor, da angústia,
me escondendo por entre as letras, as palavras,
driblando a culpa, tentando me justificar, será má-fé? tenho esse direito?
qual minha responsabilidade?
já é tarde, já se passaram mais de 15 anos. (é tarde?)
eu não podia ter ficado. Foi esse o crime que cometi? escolher meu caminho, seguir em frente?
esse peso na alma, essa vontade de não ser, são meus ou são dela?
de repente somos uma só, ela e eu,
de quem é a dor?
é dela que sei, e é minha porque eu sinto.
E temos uma pendência a ser resolvida,
essa dor na alma que é dela, e é minha e é de todos,
precisamos nos haver com ela.

20/03. 01:24. Campinas, SP

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