segunda-feira, 5 de maio de 2025

Pelo direito à leitura!

Uma amiga me envia um vídeo através do qual fico sabendo que no topo dos livros mais vendidos em abril de 2025 no Brasil estão livros para colorir para adultos. Seguidos por livros de autoajuda e religiosos. Trocamos algumas mensagens de indignação. Professoras que somos, lamentamos. O que está acontecendo? Livros de colorir para adultos? Cadê os livros de literatura?

Uma notícia na Folha de São Paulo ajuda a entender o cenário: Desde 2018, quase 1/3 do Brasil tem dificuldade de entender um texto simples ou de fazer contas, diz a chamada na página principal do diário. Segundo estudo coordenado pela Ação Educativa, o Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional), que entrevistou 2.544 pessoas em todas as regiões do país, o Brasil estagnou na redução do analfabetismo funcional e a condição atinge 29% da população de 15 a 64 anos. Ainda segundo o estudo, a maioria dos analfabetos funcionais seriam pessoas mais velhas, 65% deles têm entre 40 e 64 anos. No entanto, há ainda uma proporção significativa entre os jovens de 15 e 29 anos e com os que têm entre 30 e 39 anos, ambos com 17%.

E a questão me parece mais grave: 17% da população que concluiu o ensino médio ainda está no nível do analfabetismo funcional; e  12%  dos que concluíram o ensino superior, ainda estão nessa condição. Esses números nos levam mais uma vez a encarar o sério problema que é a qualidade da educação em nosso país. E com o agravante da ampliação do acesso da população à internet: quanto menos alfabetizado, maior os riscos de cair em golpes, em ser enganado por desinformação.

Além do prazer que pode nos proporcionar, da possibilidade de nos humanizar através das páginas de bons livros de literatura, de ampliar nossa visão de mundo, a leitura é também uma questão de necessidade. Alguém que não é capaz de compreender um texto simples, uma notícia, um manual, não poderá exercer sua cidadania plenamente. Terá sua liberdade cerceada.

Mas sempre que o assunto é o hábito de leitura da população, nos vemos em debates pouco frutíferos. Fala-se da falta de uma cultura leitora, dos altos preços dos livros, da falta de tempo da maioria dass pessoas, tão atribuladas e esgotadas por jornadas de trabalho massacrantes (Pelo fim da escala 6x1 já!), do impacto das redes sociais... Tudo isso são pontos importantes e que merecem ser discutidos seriamente. Mas a grande questão é como formar leitores? Como estimular as crianças a iniciarem sua jornada de leitores? Como não perder esses leitores quando se tornarem adolescentes, jovens?

Imagem retirada do Pixabay.com

E parece que estamos num ciclo vicioso: penso que a formação dos pequenos leitores depende de exemplo. Portanto, de adultos leitores que possam partilhar esse hábito – melhor seria, essa paixão – com os pequenos. Se isso é difícil em casa, a escola deveria cumprir essa função. Mas quantos professores leem por prazer, por amor? Quantos têm tempo para se dedicar a leitura que não sejam aquelas obrigatórias – documentos, relatórios, e-mails, etc? 

Entender que isso também impacta na qualidade da educação e no êxito ou fracasso das nossas práticas de alfabetização pode ser um caminho para fazermos algo diferente. Políticas públicas que contemplem a formação e o cultivo de professores leitores e que estimulem as famílias e a sociedade, de maneira geral, a reconhecerem a leitura – principalmente a leitura literária – como uma necessidade e um direito de todos os seres humanos, podem nos ajudar a mudar os números tristes do estudo noticiado hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário