segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Meu pé de jabuticaba


Fruta. No meu léxico familiar, essa palavra significa uma coisa: jabuticaba. Herança familiar. Quando a vovó dizia que era tempo de fruta, não havia dúvidas sobre o que ela estava falando. Sim, é a minha fruta preferida. É a fruta por excelência. E é o tipo de fruta que não se compra no supermercado, que não vem embalada. Não na minha casa. O sabor da jabuticaba não seria o mesmo. Um pacotinho ou um potinho plástico com jabuticabas é uma heresia para mim. Jabuticaba se chupa no pé. De preferência sentada num dos galhos da jabuticabeira.

Tenha lembranças saborosas de infância. Muitas vezes estive pendurada em galhos maravilhosos de jabuticabeiras na casa de uma amiga. Era num sítio. Eu amava. Além das jabuticabas tinha o passeio em si, as brincadeiras e aventuras com a Ritieli e a Micheli, a comida boa (Maravilhosa!) da Regina. Chupava tanta jabuticaba e quando era preciso parar eu ficava dizendo para mim mesma, só mais uma, que vai ser a mais docinha. E sei lá quantas eu chupava, porque na minha cabeça de criança, a próxima sempre seria a mais docinha.

Na casa dos meus avós paternos também tinha uma jabuticabeira muito gostosa, e uma amoreira. Amora é outra fruta que só tem graça no pé. Ficando com as pontas dos dedos e a boca toda roxa. A primaiada se esbaldava naqueles pés de frutas. Era sempre lugar de risadas, algumas brigas, mas que geraram lembranças saborosas.

Jabuticaba é uma palavra que me remete à infância, aos afetos. Jabuticaba é uma das palavras que no meu léxico familiar também significa amor. Amor e conforto. O som da palavra – ja-bu-ti-ca-ba – já é saboroso. Enquanto escrevo posso ouvir o barulhinho da casca se rompendo dentro da boca, sinto o gosto doce, a textura inconfundível.

Nem preciso dizer que Jabuticabeira é minha árvore preferida. Quando nos mudamos para uma casa, eu pude realizar um sonho: ter um pé de jabuticaba para chamar de meu.  E ele está lindo! Florido, perfumado! E quando eu olho para ele, é como se visse parte da minha infância, a melhor parte, como se encontrasse a vovó, uma maneira também de me encontrar.

 

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Outros outubros

No início de outubro, escrevi uma crônica e, como costumo fazer, enviei para alguns amigos. O Alê Bragion, um querido, logo me respondeu que aquele meu texto, cujo título é Coincidência, o havia recordado um texto da Marina Colasanti: Para que ninguém a quisesse. Eu não conhecia. Fui procurá-lo. Gostei. Vi que o tal texto estava publicado no livro Contos de amor rasgado. Corri buscar pelo livro nos sebos virtuais. Comprei. O livro chegou, mas não tive tempo de saboreá-lo. Semanas puxadas, muito trabalho, final de bimestre, conselhos pedagógicos. Passou o dia 15 de outubro. Hoje, depois de uma última reunião, preparatória para um evento na próxima semana, resolvi tirar um tempinho para ler. Abri o livro da Marina Colasanti e me dei com uma dedicatória encantadora. Uma professora, de nome Elza, ganhou esse livrinho da amiga Janice, que se autodeclara, na dedicatória, uma "fã de carteirinha" da autora. Descreve o presente como "light, leve, gostoso" e "ideal para quem tem tão pouco tempo como você...". Posso dizer que estou completamente convencida de que Elza tinha pouco tempo. Porque também sou professora. A dedicatória, tão delicada e sincera, foi feita em 15/10/03. 

Em outubro de 2003 eu estava no cursinho, dando meus primeiros passos para me tornar, oficialmente, professora. Foi um ano difícil. Eu trabalhava o dia todo. Era uma viagem, todo dia, para outra cidade, para estudar à noite. Deu certo. E em outubro do ano seguinte eu estava numa crise tremenda, querendo desistir daquele curso. Uma disciplina - ou seria o professor? - ou melhor, um filósofo estava me tirando o sono e a paz: Hegel. Lembro-me bem de uma cena, que até poderia ter acontecido num 15 de outubro, depois de mais uma aula na qual eu não entendi nada, sentei-me na escada da saudosa M4A, na Moradia Estudantil, e chorei. Chorei copiosamente. 

Mas eu não desisti. Vieram outros outubros. Outras dificuldades. E eu persisti. Sigo persistindo. Sou professora desde 2010. Quer dizer, com carteira assinada, contrato, salário. Bem antes disso eu já era professora. Às vezes me pergunto se teve algum momento em que não fui professora. Exagero? Não sei. Eu ganhei uma lousa verde, com tripé de madeira, uma gracinha de lousa, e uma caixa de giz, quando eu tinha por volta de cinco, seis anos. Alfabetizei todas as minhas bonecas! Irmãos, primos, qualquer criança menor que aparecesse logo virava minha vítima e eu já botava na sala de aula. 



Nesse último dia 15, eu trabalhei, recebi alguns abraços e cumprimentos de alunos queridos. Ganhei alguns mimos, daqueles que aquecem o coração. Recebi mensagens carinhosas de amigos e colegas. Foi um dia gostoso. E agora, lendo a dedicatória da Janice à Elza, muitas coisas se passaram pela minha cabeça. Onde estará Elza? Ainda em sala de aula? Aposentada? Será que ela foi feliz como professora? Janice e ela seguem amigas? Será que esse ano Janice deu algum presente à Elza?

A letra da Janice na folha amarelada do livro me fez também desejar escrever sobre os avanços tecnológicos e as perdas que eles acarretam. Afinal, um livro digital, as telas de modo geral, jamais poderiam proporcionar a experiência que tive esta tarde. Como é especial abrir um livro antigo, um livro que já passou por outras mãos, e descobrir pedaços de outras vidas espalhados entre suas páginas. Uma dedicatória, uma foto, um marcador, um bilhetinho. Já encontrei algumas dessas preciosidades. Amo sebos. Gosto muito de comprar livros de segunda - terceira e sabe-se lá quantas - mãos. Gosto de buscar essas marcas de histórias cruzadas. 


Eu espero que muitos outros outubros ainda possam me trazer momentos de alegria, satisfação e esperança como essa tarde de outubro de 2025. Que outros outubros possam ecoar em mim através de outros livros. E que as minhas palavras possam viajar por muitos outros outubros. Que muitos caderninhos possam ser preenchidos pela minha letra, por muitos outros outubros. 


P.S. Como eu não tive tempo durante a semana, aproveito para dedicar este texto aos meus eternos professores, aos colegas e amigos de caminhada, que diariamente experimentam as alegrias e as agruras desta profissão que eu tanto respeito e amo. 

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Mãe-da-Lua

Nem buia deles. Já passa de nove da noite. Se dão falta em mim lá em casa, vai ser um mês sem bicicleta. E a vara de marmelo vai cantar. Mas onde eles estão? Eu estou no lugar combinado. Desde às oito em ponto. Não fosse a luz da lua estaria um breu. A luz lá de dentro também parece morta. Como tudo. Que silêncio! Só o meu coração, desassossegado, parece pronto para um desfile de carnaval. Tento abafar o som me envolvendo num abraço apertado. Sinto um arrepio percorrer minha espinha. No mesmo instante ouço um som assustador. Parece uma risada. Uma risada de um bêbado? Seria possível? Aqui, no cemitério? Sinto meus cabelos se espetarem. Ou seria dos espíritos do além mundo? Todos os pelos do meu corpo estão eriçados. Cadê aqueles tratantes? Todo o trabalho que tive, de dobrar os lençóis embaixo da coberta. De pular a janela, sem fazer barulho. Quase gritei, quando me enrosquei no prego do parapeito. Amanhã vou ter que arrumar uma boa explicação para o arranhão na perna. A inspeção da mãe é infalível. Agora, aquele pirralho do Juca que não invente de acordar chorando. Porque se ele abre o berreiro igual na semana passada, a mãe vai descobrir tudo. E eu estarei no sal. Cadê os moleques? Será que desistiram? O Oreia é medroso. Eu sei. Aposto que desistiu. O Rato não. Ele é o mais velho. Ele disse que já fez isso outras vezes. O Bolão com certeza estava com medo. Ficou falando que era perigoso. Só não teve coragem de dizer na frente de todos que não viria. O Quati não ia deixar o Rato posar de valentão do grupo. De repente, de novo. hooo, hoo, ho, ho. Seria um bêbado ou algum dos moleques tentando me assustar? Mas de onde veio esse som?  Parece perto e longe. O tempo galopa. Em quinze minutos, se ninguém aparecer, vou embora. – Está decidido! A ideia tinha sido do Rato. Ele disse que, se eu quisesse fazer parte da patota, teria que encontrá-los no cemitério, às oito da noite. Ele disse que eu teria de subir em cima do mausoléu do padre Lourenço e ficar gritando palavrão até o seu Zé Coveiro aparecer com sua lanterna, maldizendo deus e o mundo, no seu passo claudicante, por entre os túmulos e covas rasas. Eles estariam do lado de fora, me vigiando. Se eu conseguisse escapar do seu Zé Coveiro, seria aceito. Se ele me agarrasse, nada feito. Será que eles mentiram? Será que nunca tiveram a intenção de me aceitar no grupo? Mas o que eles ganhariam com isso? Será que eles estavam por ali, entocados, na espreita, se divertindo com a minha cara, enquanto as horas passavam? – Devo estar fazendo papel de trouxa! Melhor voltar pra casa. Tudo pode ficar pior se mamãe der falta em mim. Amanhã eles me pagam. Não sei como, mas me pagam. Medroso eu não sou. Eles que me aguardem… hooo, hoo, ho, ho. E essa risada de novo… Cruzcredoavemaria! Não acredito no que meus olhos estão vendo. Nunca vi coisa mais horrenda. Esses olhos. Essa bocarra… ou é um bico? Melhor nem saber. Melhor correr… Tropecei nas raízes da figueira que faz sombra sobre o portão do cemitério. Ah, aqueles tratantes, eles me pagam. Deixa comigo. Agora, o melhor é chegar em casa o quanto antes. O boboca do Juca chora depois da meia noite. Tenho tempo. Com sorte ninguém sentiu minha falta. Amanhã será outro dia. Vou ter que inventar uma boa história para explicar o arranhado na perna e agora o joelho escalavrado… Mamãe, se eu for ligeiro, nem vai perceber. Vou acordar cedo, antes de todo mundo, e vou ser o primeiro a tomar banho. Vou botar a calça do uniforme. Vai ficar tudo bem… Essa lua está fazendo um clarão. Parece até que tem um holofote bem em cima de mim, me acompanhando pela rua. Querendo mostrar onde eu estou para quem quiser ver. O bicho desalmado mais uma vez enche a noite com seu hooo, hoo, ho, ho. Diabo de bicho esquisito. Se eu contar para o Tiago, ele vai dizer que foi castigo. Porque eu estava disposto a zombar da alma do padre Lourenço. E vai dizer que foi bem feito eu ter caído. Quem mandou eu querer me juntar àqueles pestes. – Diacho! Não vou contar para ninguém. Vai ser coisa só minha. Vou levar para o meu túmulo! Mas eles ainda me pagam…

Mãe-da-lua / urutau. Foto por Alessandro Abdala, Sacramento, Minas Gerais - Brasil, Pinterest:https://br.pinterest.com/pin/17732992276890747/.



sábado, 11 de outubro de 2025

Dona Rosinha

Só de me lembrar, sinto um cheiro morno, de vela queimando. O dia todo. Cheiro de hortelã e outras ervas. E sinto o mesmo sufocamento que sentia quando era criança. Teto baixo, as paredes tomadas de quadros de santos, fotos, imagens pelas prateleiras. Era escuro, o quartinho. E aquele cheiro enjoativo. Cheiro que lembrava cemitério. A capelinha do cemitério na qual todo ano a vovó acendia velas no dia de finados. E tinha exatamente aquele cheiro morno e enjoativo, o quartinho da dona Rosinha. 

Imagem do Pixabay

Lembro-me e sinto náusea. Dona Rosinha. Não consigo me lembrar do rosto dela. Não me lembro de mais nada. Só dos quadros de santo, do teto baixo, do cheiro de vela. Ela disse que meu irmão estava com uma perna menor do que a outra. Por isso caia tanto. Coisa de mau olhado. Inveja. Rezou. Benzeu. Mandou botar uma fitinha vermelha na roupa dele. Não sei o que ela, dona Rosinha benzedeira, disse de mim. Não me lembro. 

Não gosto do cheiro de vela. Não gosto de lugar com teto baixo. Não gosto de quadros nas paredes. Mas gosto de chá de hortelã. Lembro-me de que havia uma escada para chegar na casinha dela. Mas não me lembro de mais nada. E já me esqueci de como rezar também. Não faço ideia do que a dona Rosinha rezava. Acho que fui levada lá mais de uma vez. Só não sei pra quê. Ela benzia criança. Só criança. Ainda bem que cresci. Ser criança é tão solitário.

A maioria das pessoas parece se esquecer que foi criança. E romantiza a infância. E faz tudo parecer tão bonito. E diz que é a melhor fase da vida. Esquece que criança não tem autonomia. Vai onde os adultos decidem. Inclusive em casas escuras, de teto baixo, com santos espalhados e cheiro de vela, para serem benzidas. E as crianças não entendem nada. Desconfio que os adultos também não. Crianças, como eu, nesses lugares, sentem medo. Eu sentia. E tem que se comportar.

Li outro dia um poema que dizia que a infância não era um tempo, mas um lugar. Às vezes penso que a minha infância foi um quartinho escuro, como o da dona Rosinha. Abafado, com cheiro enjoativo de vela, cheiro morno, preenchido por palavras confusas, rezas, ladainhas, medos.

Mas não era só isso. Tinha lá fora. Subindo as escadas, tinha a rua, o sol, o vento, o horizonte. Tinha um convite para deixar a infância. Eu fui. E nunca mais soube da dona Rosinha. 

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Sodade

Só há de ser, meu Deus, sodade. Sabe assim, quando dá aquela sensação de ter uma mão agarrando o peito da gente e que aperta, aperta, até a gente ir perdendo os sentidos? Costuma acontecer no cair da tardinha. Ainda mais no mês de maio. Quando nessas horas o céu vai pegando um colorido amarelo-avermelhado. Os olhos da gente ficam embaçados, e é de tanta beleza. Porque a gente estica o olho pro horizonte e parece até que é pintura. Aquele fundo azul que faz a alma doer. E quando tem nuvem, espalhadas, uma aqui, outra ali, parecendo capricho. Aí é assim. Dá sodade.

Delfim Moreira, MG (2025)

A gente nem sabe bem dizer do quê. Ou se de quem. Mas que sente, sente. E é uma coisa toda misturada. Uma alegria com tristeza. Vontade de rir e de chorar. Uma coisa danada de esquisita. Se eu falo pode até ser que haja quem faça cara de desentendido. Mas há de ser o que sente também, ara. Quando a tarde vai caindo e ficando as paredes do mundo com essa cor alaranjada. Duvido de não. Mas é que parece que a gente fica meio mole, derretido. Com o olho parecendo rio manso, correndo doce. Tem gente que assusta. Fraqueza não costuma de ser apreciada.

É isso, tenho sodade no peito. Doendo. E eu que nem sou de me ensimesmar... Acho que foi caso de um cheiro: palha de pinheiro queimando. Alguém já estava sujando o fundo das panelas. E aí eu vi a mãe minha. Logo ali, bem pertinho. Foi assim, uma visão, não de fantasma, não, nada de dar medo. Dar medo? A mãe minha? Capaz! E foi como se ainda agorinha ela estivesse ali, juntando uns gravetos mais palha de pinheiro no terreiro, como fazia sempre. Vi o vestido dela. De golinha, botão e bolso, num tecido claro, com umas florezinhas azuladas, que ela mesma cortou e costurou. E quase vi o rosto dela. Quando ela ia se virar, eu fechei os olhos. Não sei por quê. Mas fechei. Aí ficou tudo escuro. Abri os olhos seguidinho e ela já não estava mais.  

Sonhando de olho aberto, vê se pode? E na minha idade... Será que eu tô morrendo? Os antigos, de primeiro, falavam que na hora derradeira a gente vê mãe, pai, quem já partiu tudinho, vindo buscar a gente.  Se for vontade de Deus… Vai que a dor no peito nem era sodade é nada. Vai que eu misturei tudo. Já não sei o que se assucedeu depois nem antes. Foi a visão ou foi o aperto no peito? A vontade minha, não é o que vale mais. Se for vontade Dele...

Pensando bem, por que que havia de ser minha hora? Eu sei, não quero ser desobediente nem mal agradecido, longe de mim. Mas é que ainda faço gosto de viver. Sempre fiz. Apesar de, o Senhor sabe, o tanto de provação que botou no meu caminho, eu nunca que reclamei. Nunca fiz caso nem de questionar. Nunca. Nunquinha. Dobrava os meus joelhos. Sempre tive fé. E nunca deixei de apreciar esse mundo tão danado de bonito. Segui fazendo gosto de presenciar os mistérios divinos. Aprendi com o pai meu, um santo na terra - porque sim, ele foi homem de Deus, num há de ter bebido um copo d’água sem fechar os olhos e elevar seus agradecimentos ao céu. Que a gente nem precisa entender, precisa aceitar, era o que dizia ele. E aceitando, abraçar a parte do quinhão que cabe a cada um com amor e fé. Ele apreciava com tanto zelo as menores das criaturinhas de Deus. E eu assim também segui minha sina. Nem me atrevo a me comparar ao pai meu. Longe de mim. Não teria nem base. Sei das minhas fraquezas. Não sou santo. Mas não hei de ter desagradado o Senhor gravemente. Ou será que desagradei?

Será que sodade é pecado? Porque é como se a gente não aceitasse de todo a vontade de Deus. Como se a gente desejasse um tempo que já não é. Como se, lá no fundo da alma, lamentasse os acontecidos da vida. É isso a sodade? Querer algo que Deus já decidiu que está fora do tempo? Sentir tanta falta de alguém, de doer o coração, como se Deus tivesse errado de ter levado? Não me alembro do pai falar que sentia sodade. E ele viveu bem uns cem anos. Eu, de menino, já admirava o povo antigo que chegava longe nos anos. Queria também essa graça. Dizia, o pai meu, que precisava ser bom. Ter coração puro. Só as pessoas boas de verdade é que viviam de bastante. Deus recompensava nos anos. É verdade que teve um tempo eu duvidei. Recompensava de quê? A vida acontece de ser, no mais das vezes, doída demais. A gente acostuma. Aceita. Se apruma com Deus e vence. Viver mais, não vai doer mais também? Ou será que chega um tempo que a gente já não sente? Era essa a recompensa?

Credo! Deve de ser isso! Só pode! Eu nem tinha me apercebido. Esses pensamentos ficam zanzando assim, sem modo, na cachola da gente e acabei afrontando Deus. E agora? Eu, por mim, ainda aguentava mais uns bons anos. Essa carcaça ainda está aprumada. Mas não deixo de notar que estou ficando igual aquelas espigas de milho fora de época. Que os malungos meus já foram quase tudo. Resta compadre Zé, comadre Fia, a Lourdes, o Zequinha, mais eu. Se for de sua vontade, meu Deus… Que eu também não quero ficar pra semente. Isso não! Ficar suzinho de tudo é triste demais. Parece que o mundo da gente vai sumindo. Cada um que vai leva um pedacinho. Mas também, quanto mais a gente vive, mais pequeno vai ficando. A gente vai virando passarinho. Come pouco, anda devagarinho, com as canelas finas. Eu gosto dos passarinhos. Sempre que gostei. Eu até tive um, passarinho. Não,  gaiola não, que isso é maldade das grandes.

Tive, é modo de dizer. Ele nasceu no terreiro da casa nossa. Cria do ninho na jabuticabeira. Eu ficava espiando, quietinho. Vendo os pais passarinhos cercando mais ele de cuidado. Davam comida no biquinho. Ele ficava lá, de bico aberto. Só esperando. Só. Foi ficando espertinho. Coisa de um dia pro outro. Aí vieram as lições de voo. Eu fiquei assustado. Meu coração senti inchado. Pesado. Um dia os pais meus também vão me empurrar pra fora do ninho, pensei. E se eu não aprender avoar? Ia me estabocar todo. Meu coração ficava dolorido, apertava, cada vez que o pai e a mãe passarinho iam lá, com o bico, e empurravam o bichinho, tão pequeno, ainda só tinha penugem. Umas penugens feinhas. Careceu de uns quantos dias para as penas ficarem viçosas. E eu lá, enlevado, nem via as horas passar. Só olhando. Só. Parecia uma coisa especial. E foi. Quando finalmente o passarinho filhote voou. Eu fiquei tão leve. Quase avoei com ele. Eu era menino pequeno. Chorei.

Sodade daquele tempo.

Eita, de novo, meu Deus. Essa sodade. Se for pecado, estou é bem enrolado. Há de ser só esse fim de tarde. Só há. Já já que a noite se achega e passa. Ah, se não passa. Há de ser.

 

domingo, 5 de outubro de 2025

Coincidência

Eu parei de roer as unhas. Mas você não reparou. Pensando bem, quando foi a última vez que você reparou em mim? Semana passada, quando disse que aquele vestido verde, que eu amava, estava me fazendo parecer velha e gorda? Ou foi no final do mês passado, quando você me mandou tirar o batom porque estava horrível? Talvez você realmente tenha reparado em mim no final do ano passado. Naquele dia você me fez trocar de blusa antes de irmos para a ceia de natal, na casa dos seus pais, porque o roxo no meu braço estava chamando muita atenção. Mas eu parei de roer as unhas. Lembrei que, quando nos conhecemos, você elogiou as minhas mãos. Você as segurou com delicadeza, deu um beijo em cada uma delas e disse que era uma pena as unhas estarem muito compridas e com esmalte tão escuro. Por meses eu apenas usei renda e mantive as unhas rentes aos dedos. E você nunca mais elogiou as minhas mãos. Mas agora eu parei de roer as unhas. E não foi por você. Ou foi. Não sei bem. Estou confusa. Mas me lembrei de que você parecia sentir prazer em me ver roer as unhas até sangrar. No carro, naquelas voltas para casa, depois de sair com os seus amigos ou com o pessoal do seu trabalho, quando o silêncio entre nós pesava toneladas. Eu sabia o que iria acontecer quando chegássemos em casa. Ou porque eu havia mostrado os dentes demais ou porque havia ficado emburrada. Porque eu tinha dado corda para algum garçom que estava me paquerando. Ou porque eu simplesmente disse algo que desagradou algum dos seus amigos. Motivos não faltavam. Mas eu parei de roer as unhas. E espero que você não tenha tempo para notar. Quando você chegar, a casa estará limpa e impecável, como você gosta. A mesa já estará posta. E até a sua cachaça já estará no copo. Eu mesma fui comprar. Fiz tudo direitinho. Desta vez você não terá motivos para reclamar. Você leu o jornal hoje? Não, acho que não. Espero que não. Eu li. Mais de 100 casos suspeitos de intoxicação. Onze mortes sendo investigadas. Metanol em destilados. Talvez seja só coincidência, mas tenho me sentido tão animada e confiante. Faz quase dois meses que eu parei de roer as unhas e você nem reparou. Passei a sentir saudade de mim, de como eu era antes de conhecer você. Era primavera quando nos encontramos, num bar, depois do trabalho. Eu trabalhava naquela época. Eu não roía as unhas. Ontem eu percebi que as primaveras e as caliandras estão floridas, as sibipirunas e os jacarandás estão colorindo as ruas da cidade de amarelo e roxo. Eu vi da janela do nosso quarto. Também percebi que os pássaros estão cantando, formando casais, fazendo ninhos. Mas eu parei de roer as unhas. E amanhã vou pintá-las de vermelho carmim. Não, talvez amanhã não. Mas em breve. E você não irá notar. 

quinta-feira, 8 de maio de 2025

O povo brasileiro precisa de mais 18 deputados em Brasília?

Na última terça-feira, 06/05, a câmara dos deputados votou e aprovou o projeto de lei complementar - PLP 177/2023, de autoria da deputada Dani Cunha (União Brasil - RJ), filha do Eduardo Cunha - que altera de 513 para 531 o número de deputados federais. A votação foi uma resposta da casa após determinação do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o tema. A pedido do Pará, em agosto de 2023, o STF determinou a readequação do número de deputados federais por unidade federativa à população medida pelo Censo de 2022. A corte determinou ainda que o Congresso deveria editar lei sobre o tema até 30 de junho de 2025. Caso o prazo não fosse cumprido, a decisão do Supremo previa que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) estabeleceria o número de deputados por unidade da federação até 1º de outubro de 2025 para a legislatura que se iniciará em 2027.

De acordo com a Constituição Federal, o número de deputados por estado deve ser proporcional à população, respeitando o limite mínimo de oito e o máximo de 70 por unidade da federação. O cálculo deve ser feito com base nos dados do Censo Demográfico do IBGE, atualizado a cada dez anos. No entanto, essa atualização foi feita pela última vez em 1993. 

Conforme os dados analisados pelo STF, para que a readequação do número de deputados fosse feita, sete estados perderiam cadeiras, são eles: Alagoas (1), Bahia (2), Paraíba (2), Pernambuco (1), Piauí (2), Rio de Janeiro (4) e Rio Grande do Sul (2); enquanto outros sete ganhariam: Amazonas (2), Ceará (1), Goiás (1), Minas Gerais (1), Mato Grosso (1), Pará (4) e Santa Catarina (4). Mas, como em Brasília, ninguém quer perder, todo mundo quer ganhar e a conta sempre vai parar no bolso do cidadão, com o prazo do STF vencendo, a câmara aprovou proposta para aumentar o número de deputados dos estados que hoje estariam sub-representados. De acordo com o projeto, 9 estados ganharão cadeiras na câmara federal: Pará (4), Santa Catarina (4), Amazonas (2), Mato Grosso (2), Rio Grande do Norte (2), além de Goiás, Ceará, Paraná e Minas Gerais, cada um deles com um representante a mais na Câmara.

O projeto contou com o apoio de deputados da maioria dos partidos, sendo que apenas PSOL, Cidadania, Novo e Rede orientaram voto contra a proposta. O placar final foi de de 270 votos favoráveis a 207 contra.

Conforme cálculos da própria câmara, o aumento de 18 deputados no Congresso custaria R$ 64,6 milhões por ano aos cofres públicos. Além disso, a decisão, caso confirmada pelo Senado, terá efeito cascata nas Assembleias Legislativas dos estados. Pois, de acordo com a Constituição Federal:

“O número de deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de 36, será acrescido de tantos quantos forem os deputados federais acima de 12”.

Sendo assim, o estado do Amazonas que ganharia 2,  deputados federais, caso o PLP 177/2023 seja aprovado pelo senado, passaria de 24 para 30 deputados estaduais. O aumento em 18 cadeiras na Câmara não parece, a rigor, comprometido com uma melhor representação da população na Casa do Povo. O próprio critério da Constituição ao estabelecer mínimos e máximos de deputados por estado já cria possibilidades de sub e super-representação. Parece que os únicos interesses que estão bem representados nesse projeto são os dos partidos e dos próprios deputados. 

O que esperar do Senado?

Sinceramente, com Davi Alcolumbre na presidência do Senado, não espero muita coisa. Mas a reação do senador Fabiano Contarato (PT-ES) à aprovação do PLP 177/2023 é sinal de lucidez e racionalidade num ambiente que, no mais das vezes, carece dos dois. O senador disse estar “estarrecido” com o projeto e afirmou que os parlamentares deveriam ter foco no bem-estar da população e na redução das desigualdades [sociais]. 

— Isso é um escárnio com a população brasileira. Acho que o Senado precisa fazer uma reflexão e dar uma resposta. Eu defendo que o número deveria ser reduzido e que os parlamentares deveriam trabalhar mais — afirmou o senador. (fonte: Agência Senado)

Essa proposta descabida e vergonhosa merecia uma mobilização da população nas ruas. No mínimo, seria muito importante que nós, cidadãos, nos mobilizássemos nas redes, lotássemos as caixas de correio dos senadores nos posicionando Contra o PLP 177/2023. Serão mais 18 deputados para disputar o butim das emendas parlamentares. Mais 18 deputados para avançar sobre o já combalido orçamento púbico. O mesmo legislativo que cobra responsabilidade fiscal do executivo, faz a farra das emendas sem prestar nenhuma satisfação a ninguém. O poder legislativo brasileiro já está sofrendo de um inchaço que compromete o equilíbrio dos três poderes. Precisamos diminuir o número de deputados e não aumentar! 

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Pelo direito à leitura!

Uma amiga me envia um vídeo através do qual fico sabendo que no topo dos livros mais vendidos em abril de 2025 no Brasil estão livros para colorir para adultos. Seguidos por livros de autoajuda e religiosos. Trocamos algumas mensagens de indignação. Professoras que somos, lamentamos. O que está acontecendo? Livros de colorir para adultos? Cadê os livros de literatura?

Uma notícia na Folha de São Paulo ajuda a entender o cenário: Desde 2018, quase 1/3 do Brasil tem dificuldade de entender um texto simples ou de fazer contas, diz a chamada na página principal do diário. Segundo estudo coordenado pela Ação Educativa, o Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional), que entrevistou 2.544 pessoas em todas as regiões do país, o Brasil estagnou na redução do analfabetismo funcional e a condição atinge 29% da população de 15 a 64 anos. Ainda segundo o estudo, a maioria dos analfabetos funcionais seriam pessoas mais velhas, 65% deles têm entre 40 e 64 anos. No entanto, há ainda uma proporção significativa entre os jovens de 15 e 29 anos e com os que têm entre 30 e 39 anos, ambos com 17%.

E a questão me parece mais grave: 17% da população que concluiu o ensino médio ainda está no nível do analfabetismo funcional; e  12%  dos que concluíram o ensino superior, ainda estão nessa condição. Esses números nos levam mais uma vez a encarar o sério problema que é a qualidade da educação em nosso país. E com o agravante da ampliação do acesso da população à internet: quanto menos alfabetizado, maior os riscos de cair em golpes, em ser enganado por desinformação.

Além do prazer que pode nos proporcionar, da possibilidade de nos humanizar através das páginas de bons livros de literatura, de ampliar nossa visão de mundo, a leitura é também uma questão de necessidade. Alguém que não é capaz de compreender um texto simples, uma notícia, um manual, não poderá exercer sua cidadania plenamente. Terá sua liberdade cerceada.

Mas sempre que o assunto é o hábito de leitura da população, nos vemos em debates pouco frutíferos. Fala-se da falta de uma cultura leitora, dos altos preços dos livros, da falta de tempo da maioria dass pessoas, tão atribuladas e esgotadas por jornadas de trabalho massacrantes (Pelo fim da escala 6x1 já!), do impacto das redes sociais... Tudo isso são pontos importantes e que merecem ser discutidos seriamente. Mas a grande questão é como formar leitores? Como estimular as crianças a iniciarem sua jornada de leitores? Como não perder esses leitores quando se tornarem adolescentes, jovens?

Imagem retirada do Pixabay.com

E parece que estamos num ciclo vicioso: penso que a formação dos pequenos leitores depende de exemplo. Portanto, de adultos leitores que possam partilhar esse hábito – melhor seria, essa paixão – com os pequenos. Se isso é difícil em casa, a escola deveria cumprir essa função. Mas quantos professores leem por prazer, por amor? Quantos têm tempo para se dedicar a leitura que não sejam aquelas obrigatórias – documentos, relatórios, e-mails, etc? 

Entender que isso também impacta na qualidade da educação e no êxito ou fracasso das nossas práticas de alfabetização pode ser um caminho para fazermos algo diferente. Políticas públicas que contemplem a formação e o cultivo de professores leitores e que estimulem as famílias e a sociedade, de maneira geral, a reconhecerem a leitura – principalmente a leitura literária – como uma necessidade e um direito de todos os seres humanos, podem nos ajudar a mudar os números tristes do estudo noticiado hoje.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Como tornar um menino um homem? Não qualquer homem, mas um bom homem

 “E eu te conheço menos, a cada dia.” Dorothea, em Mulheres do século XX, sobre seu filho adolescente, Jamie

Essa me parece uma ótima pergunta. Uma pergunta que talvez tenha sido negligenciada em décadas de feminismo. Mas, claro, falo a partir do meu umbigo, das minhas experiências e percepções, principalmente como professora em sala de aula, em contato com adolescentes. Além daquela pergunta, seria muito importante que ensinássemos os meninos a se questionarem desde cedo a respeito do que é ser um homem. Nós, mulheres, estamos lidando com esses questionamentos há alguns séculos. Talvez por isso, em Mulheres do século XX, quando sente necessidade de buscar ajuda para a tarefa de tornar seu filho adolescente, Jamie, um homem, Dorothea recorra a duas outras mulheres, mais jovens que ela, e bastante escoladas no feminismo dos anos 70.

Desde que eu era adolescente, e olha que tive uma adolescência com muitas limitações numa pequena cidade de Minas Gerais, havia uma preocupação, entre professores, principalmente professoras, em dizer para as meninas que elas poderiam fazer muitas coisas, além de casar. E desde que me mudei para Campinas, durante os anos de faculdade e depois de formada já em sala de aula como professora do ensino médio, essa fala de empoderamento das meninas se tornou muito mais forte e presente no dia a dia escolar e na sociedade de maneira geral. Disseram, e eu disse também, que as meninas poderiam ser o que elas quisessem. Mas faz alguns anos que tenho me perguntado se não falhamos em dar a mesma mensagem para os meninos.

Claro, alguém pode me dizer que os homens sempre puderam tudo. Que num mundo machista, eram as mulheres que precisavam ser estimuladas a assumirem lugares até então proibidos.  Que numa sociedade patriarcal, quem precisava ser capaz de enxergar possibilidades de ser de outras maneiras eram as meninas. Mas não seria a ideia de homem, de masculinidade, tão limitante e opressora para muitos garotos como aquele ideal de mulher o era para as garotas? Na medida em que as meninas empoderadas se tornaram mulheres empoderadas, não estaria havendo um descompasso no mundo entre homens e mulheres? Não seria esse descompasso um dos motivos de vivermos nos últimos dez anos numa sociedade invadida pelo ressentimento masculino, por ataques misóginos e crescentes taxas de feminicídios? Pelo aparecimento de grupos red pills nas profundezas e, por que não, na superfície da internet?

Revendo o excelente filme Mulheres do século XX, de Mike Mills (EUA, 2016, Netflix), me peguei pensando em como é urgente problematizarmos o lugar e a ideia de masculinidade, o que é ser homem, com nossos adolescentes. A linha mestra do filme é o diálogo. As cenas permeadas por diálogos delicados, honestos e por vezes constrangedores, explorando as fragilidades que nos fazem humanos, mostram que esse é o caminho para nos humanizar. Antes de nos tornarmos homens ou mulheres, é fundamental nos tornarmos humanos, familiarizados com tudo que é humano: dúvidas, medos, inseguranças, amor, desejos, frustrações, paixões, prazer, dor.

Onde falta o diálogo, a palavra, sobra violência, sobra o uso da força bruta. Quanto menos somos capazes de nomear o que sentimos, os bons e os maus sentimentos, menos equipados estamos para lidar com nós mesmos e com os outros. Com nossas perdas, com as emoções fortes que tendem a nos tirar do prumo, com os imprevistos, com tudo que escapa ao nosso controle. É preciso que pelo menos tenhamos a palavra, palavras, para nomear e narrar o que nos acontece e, assim, nos sentirmos um pouco que seja, confortável no mundo, confortável em nossa própria pele. Para tornar meninos bons homens – e meninas boas mulheres – é urgente que sejamos capazes de tornar crianças bons humanos adultos: sensíveis, emocionalmente confiantes, conscientes de seus limites, capazes de reconhecer nos outros a mesma humanidade que reconhece, respeita e valoriza em si mesmo, curiosos – pelo mundo e pelos humanos que habitam esse mundo -, empáticos e honestos consigo e com aqueles que estão a sua volta.

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