terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Sobre mudanças, privilégios e pequenas alegrias da vida adulta

                                                        "Então eu vou bater de frente com tudo por ela
                                                         Topar qualquer luta
                                                         Pelas pequenas alegrias da vida adulta
                                                         Eu vou"

Um ano trabalhando de casa. Um ano que o trabalho invadiu nosso lar. Um ano sem encontrar amigos e parentes pessoalmente. Um ano passando muito tempo na frente de telas. Um ano de intensa convivência entre dois humanos e uma felina. E na perspectiva de continuar assim até não sei quando, decidimos nos mudar. Deixar o apartamento e buscar uma casa, um quintal, um pouco de terra e sol, mais espaço. O processo foi até bem rápido, entre as primeiras buscas na internet, as visitas (escolhidas a dedo e feita com muito cuidado, usando máscara, evitando ficar perto das pessoas) e a mudança, foram quatro meses. 

A mudança, no meio de um encerramento de ano letivo, com todos os cuidados e medo que uma pandemia podem requerer, aconteceu com relativa tranquilidade. Muitas caixas, algumas ainda por abrir, muitas idas e vindas de carro, consertos a serem feitos, adaptação aos novos sons da vizinhança, uma gatinha de apartamento curiosa para explorar um novo mundo, mas tudo sob controle, até o momento. 

Confesso que em meio a felicidade de mais uma conquista, da perspectiva de uma melhor qualidade de vida com mais espaço, bateu um sentimento de culpa, a necessidade de encarar de frente o quanto somos privilegiados de poder fazer esse movimento quando tantas famílias enfrentam, além do luto, o desemprego e uma série de privações. Encarar essa realidade da monstruosa desigualdade que constitui nossa sociedade, para além do sentimento de culpa, deveria nos levar ao comprometimento com a luta por mais justiça, mais igualdade, uma sociedade melhor para todos e não apenas para uma parte.

Ao contar para um amigo sobre a mudança ele me disse: Viramos adultos. E depois dessa fala fiquei pensando no que significa comprar uma casa com 35 anos. No meu caso, passa um filme pela cabeça. É uma conquista do casal. Meu companheiro e eu temos empregos bons. Trabalhamos bastante, principalmente nesse último ano, de intenso trabalho remoto. Mas a verdade é que temos uma vida bem confortável. Sozinha essa conquista demoraria alguns pares de anos para se tornar realidade. Mas fato é que comprar uma casa dá mesmo essa sensação de enfim adultos. Nos faz, de repente, entender que saímos da condição de jovens recém formados, que já estamos exercendo nossas profissões há mais de dez anos, que já aprendemos tantas coisas pelo caminho, que precisamos ter humildade para reconhecer que lá no início fomos arrogantes, batemos cabeça, e que agora temos um pouco mais de paciência conosco e com os outros. É isso, a vida de adultos chegou junto com o quintal.

E é nesse quintal que quero aproveitar essa vida de adulto. Curtindo os passarinhos que vierem nos visitar, apreciando as vidas que brotarem, as folhas que caírem, as borboletas coloridas que virão enfeitar nossas manhãs e tardes, enfrentando o medo de lagartixas e afins. Consciente dos privilégios que hoje temos. Buscando nunca esquecer de onde eu vim. Mantendo sempre viva a disposição para contribuir com a construção de uma sociedade mais justa, na qual possuir uma casa com quintal não seja motivo de mal estar. E o mais importante, curtir essa vida de adulto ao lado do melhor companheiro de vida, de planos e sonhos, de música, de leitura, de estar junto no mundo, que eu poderia ter. Porque ter um amor para dividir um quintal é fundamental! 









 

 

 




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