segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Labirinto 2.0


Como é fácil se perder
Nas telas.
Vendo a vida dos outros,
Propagandas, intrigas
E tantas outras bagatelas.

São tantas cores,
Tantos movimentos,
Tanta informação (e desinformação)
Que a gente se ilude
E até pensa que tem o mundo
Na palma da mão.

Tento ficar longe,
Não ser seduzido por elas.
Mas como é difícil,
Até parece
Que já sou dependente das telas.

Reduzo os riscos, tento enfrentar
os danos e as tentações:
Desligo o celular, deleto perfis.
Boa mesmo é vida dos meus gatos
Que nada sabem de redes sociais,
Sites, apps e afins.

Nesse mundo digital,
De senhas e touch screen,
Quem dera estivesse
na ponta dos nossos dedos
o poder de acabar com a ignorância,
a fome, a pobreza e a violência,
Que desfilam diante de nossos olhos,
Nas telas,
numa pornográfica exibição, dia e noite,
De tragédias anunciadas e sem fim.

Dizem que somos
Uma sociedade conectada.
Mas será?
As redes mais parecem
Teias-armadilhas
Que nos predem e sugam nossas almas,
E, de repente,
Parecemos robôs,
e os algoritmos decidem
nosso almoço,
nosso sucesso ou fracasso,
e até nosso próximo amor:
é só fazer a selfie, fazer login,
postar, arrastar pro lado,
e o match foi dado!
É só curtir.

Como é fácil se perder
Nas telas.
Labirintos luminosos
De belas imagens,
Corpos perfeitos.
Narcisos enfeitiçados
Por rostos irreais.
Tudo coisa de deepfake,
nada mais.

O que sobrou daquela velha realidade
são lembranças de uma época
Cada vez mais distante.
Vivemos o fim:
Dos encontros offline,
Do olho-olho,
Do abraço,
Da algazarra no jardim,
Do piquenique no parque,
Da amarelinha na rua,
Dos almoços de família,
Dos jornais, das notícias e afins.

Hoje tudo acontece
No deslizar da tela:
Compra, trabalho, estudo,
Lazer, esporte e paquera.
Até meus versos,
Ora vejam,
Já nascem numa tela.
E logo mais estarão nas redes
visualizados, lidos,
curtidos e compartilhados,
Ou simplesmente ignorados,
entre dezenas de milhares
de outros tantos textos
que, talvez, não passem
de mais um pixel
insignificante,
Nessa tela gigante,
Na qual figuramos
Você e eu,
Nossos filhos e nossos pais,
Como bobos da corte:
Somos distrações distraídas,
Inconsequentes e perdidos
Numa busca,
Fadada ao fracasso,
De satisfação, completude,
Glamour e tudo mais.

Como é fácil se perder
Nas telas,
Nas janelas que se abrem,
Nas vitrines e nos palcos,
Nos quais novos indivíduos estreiam na vida
Num exibicionismo incessante,
Que vai do nascimento até a morte
E não para um instante.

Como é fácil se perder
Nas telas,
Que nos consomem
Enquanto nos convencem a consumir.
Que nos vendem
Enquanto pensamos comprar.
Que nos vigiam
Enquanto nos deliciamos em espiar
Subcelebridades e anônimos,
Todos personagens de uma
comédia duvidosa
ou de um drama chinfrim.

Como é fácil se perder
Nas telas.
De repente me pergunto:
Será que eu ainda estou
Do outro lado
Ou já fui completamente
Tragada, engolida, enredada?
E se estou do lado de lá,
Ainda sou humana
ou sou só mais um holograma,
mais um arremedo de sujeito?
Serei também eu
Um perfil assujeitado,
Mais um boot programado
Para parecer gente de verdade?

Ei, você, que lê meus versos:
Cuidado!
É muito fácil se perder
nas telas.
Mas você ainda pode escapar,
É só desligar o celular,
o computador, o notebook,
e sair por aí.

Vá, não perca mais nenhum segundo,
Tire seus olhos desta página,
Abra a janela,
Sinta o cheiro deste dia.
Respire fundo,
sorva a poesia
que brota numa folha.
Diga um oi
Para alguém.
Ou abra um livro,
um caderno e
faça seus próprios versos
sua própria rima.

Se você conseguir fechar a tela,
Se conseguir escapar do labirinto,
Boa sorte!
E lembre-se:
Você não está num jogo,
Aqui não tem roteiro pronto,
Também não tem como editar,
É uma live de verdade,
E você vai ter que improvisar,
Aprender com os próprios erros,
Assumir os riscos,
A vida está acontecendo agora!
Mas, acredite, vale a pena!
Como já dizia Pessoa:
Tudo vale a pena
Se alma não é pequena.


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