segunda-feira, 27 de agosto de 2018

O que tem de Novo?

"Educação e liberdade são a base para a construção de uma sociedade próspera.
A nossa educação apresenta, sob inúmeros ângulos, indicadores muito ruins: 93% dos alunos terminam o ensino médio sem noções básicas de matemática, 27% dos brasileiros entre 15 e 64 são analfabetos funcionais. Gastamos 3 vezes mais com o aluno do nível superior (US$ 12 mil), do que com o aluno do ensino básico (US$ 3,8 mil). Apesar do aumento das verbas para educação, entre 2012 e 2016, o Brasil caiu 7 posições no ranking do PISA. O ensino infantil é a base da formação cognitiva e somente 30% das crianças estão nas creches. A educação é a base de qualquer sociedade.

 Propostas

  • Priorizar a educação básica na alocação de recursos federais.
  • Expansão do acesso ao ensino infantil e creches.
  • Gestão profissional na direção das escolas de todo o País.
  • Programa de bolsas em escolas particulares para alunos do ensino público.
  • Consórcios intermunicipais para a boa gestão da educação nas cidades menores.
  • Reconhecer e valorizar, na distribuição de recursos do FUNDEB, os estados, municípios e as escolas que melhorarem o aprendizado dos alunos.
  • Base curricular da formação dos professores direcionada à metodologia e à prática do ensino, não a fundamentos teóricos.
  • Ampliar o ensino médio-técnico para atrair e melhor formar os jovens para o mercado de trabalho.
  • Aproximar o ensino profissionalizante das demandas reais do mercado de trabalho.
  • Universidades: melhor gestão, menos burocracia, novas fontes de recursos não-estatais e parcerias com o setor privado voltadas à pesquisa.
  • Novas formas de financiamento de cultura, do esporte e da ciência com fundos patrimoniais de doações."


O tópico do Programa do Novo para Educação além de extremamente vago e superficial, não traz nada de novo. Quer coisa mais velha nesse país do que ignorar que um dos caminhos para melhorar a educação é investir na valorização do professor? Sobre isso nem uma linha. Querem padrão Coreia do Sul sem valorizar a carreira do professor.
A única novidade que vejo nas propostas acima é escancarar o desejo de privatizar a educação como um todo (sonho de outros, como Alckmin, por exemplo) através de um Programa de bolsas em escolas particulares para alunos do ensino público, vulgo voucher educacional, no Ensino Básico, e de parcerias com setor privado, no Ensino Superior. Para quem acha que esse negócio de voucher importando dos EUA é a salvação da lavoura, melhor dar uma pesquisada (pode dar uma olhada aqui, aqui e aqui). Uma das polêmicas que essa política enfrenta por lá é o favorecimento de instituições religiosas de ensino via vouchers. Além disso, a ampliação de desigualdades entre classes mais abastadas e aquelas atendidas pelos programas mostram a ineficiência dessa política no quesito acesso democrático à educação de qualidade.
Outro problema que vejo nas propostas acima é a acentuada importância do mercado na formação dos jovens. Ou seja, a educação vai virar mera formação para mercado, guiada e determinada pelas demandas reais do mercado. Na verdade, a educação é também só mais uma mercadoria cuja qualidade de oferta deve melhorar de acordo com a demanda...
A formação de professor está mais para adestramento de professor. Nada de teoria, vamos ao que interessa: técnicas que dão resultado...
E o que dizer da gestão profissional na direção das escolas de todo o país? Alguma dúvida de que educação é só uma mercadoria a mais no mercado? 
Ah, e quase esqueço da contradição: priorizar a educação básica na alocação de recursos federais. Se a ideia é dar bolsas para alunos irem para escolas privadas, a alocação de recursos federais será onde? Ah, para financiar escolas privadas... A Kroton agradece. O que o governo anterior começou no ensino superior, com um eventual governo do velho irá ser consolidado no âmbito do ensino básico. Bora privatizar tudo...
Ah, mas escola privada é melhor que escola pública. Claro, como tudo no mercado, você tem para todos os bolsos. Vocês estão mesmo pensando que o voucher vai ser para a família da periferia colocar o filho num Colégio Santa Cruz ou num Colégio Notre Dame? Num Progresso? Num Anglo?
Eu ainda acredito que é possível ter educação de qualidade e democrática e que seja pública. Mas para isso é preciso valorizar a carreira de professor, ter contratos de dedicação exclusiva, dar condições para que o professor prepare aulas, atividades, e possa corrigi-las, condições para que o professor tenha tempo de ler, estudar, atualizar seus conhecimentos.  
O cenário atual (reforma trabalhista + terceirização irrestrita + reforma do Ensino Médio) é catastrófico. Caminhamos para a precarização total da carreira de professor. A ampliação do setor privado não tem a menor chance de significar qualidade de educação nesse contexto. Teremos professores contratados temporariamente, por bimestres ou trimestres. Será fácil abrir uma escola, nem precisará ter professor contratado, poderá recorrer a empresas de terceirizados. E sim, são para essas escolas, nessas condições precárias de contratação, que os filhos de família da periferia terão vouchers. Esse discurso do velho pode soar bonito para os desavisados, inocentes ou para os cínicos que sabem que seus filhos estarão bem longe dessa realidade. Para aqueles que realmente têm compromisso com uma educação de qualidade para todos, deve soar o alarme de perigo.



sábado, 4 de agosto de 2018

Senhor candidato, o problema não é a cota, mas a sua má-fé

“Sou contra as cotas. Somos iguais”, disse. “Meu sogro é conhecido como Paulo Negão. Não é justo minha filha ser cotista”,candidato à presidência JB (Fonte El País).

Essa é a Laura, a filha do presidenciável. Então posso dizer que há algo em que concordo com esse sujeito: não é justo que sua filha seja cotista. Sabe por que, candidato? Porque ela não é negra. É simples assim! Não importa que seu sogro seja o Paulo Negão, que seu cunhado seja negro. O que importa é sua filha. Ela não é negra, logo, ela jamais será vítima de racismo nesse país. Agora, o que me deixa assustada, muito mais do que a desfaçatez do candidato, é a incapacidade de tantos jornalistas de responderem ao candidato quando ele repete à exaustão essa justificativa para ser contra as cotas. 

A lei de cota não é para filhos ou netos de negros. A lei de cotas é para negros. Para jovens que, sendo negros, lidos como negros numa sociedade estruturalmente racista, são tratados de maneira diferente de outros jovens. Para jovens que sendo negros, quando entram numa loja, são seguidos pelo segurança. Ou numa blitz policial são os primeiros a serem enquadrados como suspeitos. Para jovens que, lidos como negros, são potencialmente considerados bandidos. Para jovens negros cujos pais ocupam postos de trabalhos desprestigiados socialmente (porteiros, faxineiros, garis, empregadas domésticas). Jovens negros que são lidos por muitos professores como futuros caixas de supermercado (e isso é o máximo que lhes permitem) e que por isso não é preciso perder tempo com eles. Jovens que lidos como negros, serão confundidos com manobristas, com faxineiras. Jovens negros que têm seus corpos precocemente sexualizados e objetificados em propagandas e no imaginário social brasileiro: o negão da pica grossa, a negra/mulata da bunda grande. Acima de tudo, a lei de cota, e estou pensando principalmente no ingresso ao ensino superior, é para os jovens negros que hoje não se veem entre aqueles que ocupam cargos de liderança, ministros, governadores, presidente da república ou de grandes empresas, que não se veem entre aqueles que desempenham profissões de prestígio, como médicos, advogados, engenheiros, professores universitários, cientistas.

Se alguém como a filha do candidato se apresenta para uma vaga de cota estará cometendo um grave erro. Seria má-fé, para dizer o mínimo, mas na verdade se trata de fraude, de um crime. O tema é polêmico, muito polêmico e por isso  mesmo merece ser tratado com seriedade e não de maneira leviana como a declaração do candidato. Estou ciente da complexidade do assunto e não tenho a pretensão de ser dona da verdade. No entanto, entendo que não podemos nos furtar à necessidade de responder a toda e qualquer tentativa rasteira de negar a pertinência da lei de cotas num país em que a escravidão acabou ontem e no qual tantas crianças, jovens e adultos negros ainda são lidos como não merecedores de direitos. Privilégio não é ser cotista, privilégio é não precisar de cotas para ter seus direitos garantidos.

Sobre o que se fala

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