segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Passeio de sábado


O centro de uma cidade como Campinas pode se tornar muito interessante quando se tem uma boa companhia, nenhuma pressa, e a manhã de um sábado de fevereiro sem sol e sem chuva. Acordamos cedo. Talvez não tão cedo como havíamos planejado. Levantamos, preparamos o café. Comemos e deixamos a louça suja na pia. Descemos a rua e ficamos no segundo ponto de ônibus. Demorou mais do que gostaríamos. Mas, no fim das contas, deu tudo certo. As dez horas estávamos em frente ao sebo da Rua 11 D'Agosto. Entramos e nos perdemos lá dentro, entre um monte de tantas coisas e risadas e um ou outro beijinho, que somente os livros foram testemunhas.

Foi na sala de literatura e poesia brasileira que nos perdemos mesmo. Uma lembrança, uma promessa de leitura, uma troca de impressões - Capitu traiu ou não Bentinho? Um soneto de Camões, uma poesia de Pessoa, um conto da Clarice. Livros com cheiro de saudade. "Esse eu li no colégio!" "Eu também." "E esse aqui, você já leu?" "Não, esse não." "Mas esse eu li!" "Ah, esse eu não li não.."

Sebo é um lugar fantástico. É um dos meus lugares favoritos! Bom, às vezes, me divirto bastante também numa livraria. Mas os livros velhos, que trazem histórias em suas páginas amareladas, dedicatórias e alguns marca-páginas são muito mais interessantes. Muitas vezes fico viajando, pensando nas pessoas que possuíram aqueles exemplares. Nas histórias de suas vidas. Eu gosto de escrever nos livros. Nos meus, e nos que faço presente para amigos. Colocar nome, data e local onde comprei. Sei lá, um dia alguém poderá ter os meus livros em mãos e ter o mesmo prazer que tenho em ficar imaginando quem seria Francine, e o que teria sentido naquele dia em que comprou ou ganhou aquele livro, onde estaria. Nos livros que comprei, só no "Tempus Fugit" do Rubem Alves tem uma assinatura e uma data, no entanto, não fui capaz de decifrar o nome, nem mesmo de compreender a data, é uns vinte e pouco de junho de noventa e alguma coisa... Eu comprei três livros do Kundera: "A insustentável leveza do ser", " A brincadeira" e "Risíveis Amores". Esse último eu comecei a ler ontem. Também trouxe pra casa um dos Pensadores, do Wittigeinstein. Livro que esteve na minha cara e não pude ver... tem horas que tudo que precisamos em nossas vidas é um olhar estranho, que chega assim, pára do seu lado, e te mostra o que estava, literalmente, na sua cara...

Ele também comprou um livro do Rubem Alves; Também trouxe pra casa o "Viva o povo brasileiro", quero ver quando vai ler esse tijolinho, como ele mesmo classificou o grosso livro de capa dura vermelha. Nossa, não me recordo quais foram os outros dois livros que ele comprou. Tinha alguns em suas mãos, e quando fomos convidados a nos retirar, porque já era meio dia e estavam fechando o Sebo, ele separou rapidamente os que compraria. Fiz o mesmo. Também tinha separado mais livros do que de fato eu trouxe. Mas, além do fato de não querer gastar muito de uma vez só, temos a desculpa de fazer esse passeio mais vezes...

Saindo do Sebo D'Agosto, ficamos caminhando, um pouco sem rumo, pelo centro de Campinas. Eu tinha listinhas de outros Sebos, que aquela hora provalmente já estariam fechados, caso eles existissem de fatos! É, chegamos em dois endereços e.. Cadê o número que deveria ser um Sebo? Não existia! Mas foi divertido. Numa dessas procuras em vão, descobrimos o MIS - Museu de Imagem e Som. Entramos. Foi bem divertido. Tinha uma exposição sobre Biotecnologia e a exposição fixa do museu. Nossa, descobrimos que estamos ficando velhos. Os aparelhos de TV que fizeram parte de nossas infâncias já viraram peça de museu...Também as câmeras filmadoras, dos casamentos e festa de aniversários de tios e primos, já estão lá...

Depois do MIS, fomos até o Mercado Municipal. Meu deus, eu "so" boba mesmo, adorei o mercado! Comemos uma pamonha muito gostosa lá. A princípio tive medo de experimentar. Sei lá, às vezes sou muito fresca com alimentação. Mas estava uma delícia, quentinha e muito saborosa. O preço das coisas é uma ótima justificativa para voltarmos lá outros sábados...

Bom, demoramos mais do que havíamos planejado. No fim das contas estávamos os dois com os pés cansados. Mas acho que a mesma carinha de feliz que ele tinha era a minha. Rimos bastante caminhando pelas ruas.

Em meio a um monte de gente estranha, eram só mais duas pessoas passando pelas ruas de Campinas. Duas pessoas que não tinham pressa, que tinham todas as horas daquele sábado de fevereiro, sem sol nem chuva, para passarem um do lado do outro. Rindo das mais insignificantes coisinhas: por terem tomado a rua na direção errada, e foi duas vezes que fizeram isso; por chegarem no lugar onde deveria ter um Sebo e sequer achar o número que estava anotado na listinha... Que sorriam um para o outro com graça e felicidade. Se misturavam entre as muitas pessoas que iam e vinham pelas ruas sob aquele céu cinzento no centro da cidade. No fim, a promessa de que fariam aquele passeio mais vezes, porque tinham muitas coisas para conhecer ainda...




4 comentários:

Pensamentos Soltos disse...

Ai que delícia! Fui capaz de passear por cada palavra, e me perder com vocês, e não encontrar o sebo com vocês... tudinho.
Pra quem não conhece Campinas, foi um passeio muito agradável (mesmo eu não sendo uma pessoa que entra em mtos sebos por aí).

Mas ainda preciso fazer esse passeio pessoalmente. O centro de Campinas ficou demais parecido com o centro de Curitiba. (Talvez pela primeira foto, que lembra mto um prédio histórico famoso do centro de Curitiba).

kika disse...

eu AMO AMO AMO sebos... mesmo... sou capaz de fica rhoras devorando livros, cheiros e texturas....

e A Insustentável leveza do Ser é um dos meus livros preferidos no mundo todo.... o segundo lugar... ;)

um bjo!!

kika disse...

linkei o mineirices lá no acontecível, tá?!

um bjo!

Denis Barbosa Cacique disse...

...e não é que reapareci!?
Olá, Fra. Como vai!?
Ao que me parece, muito bem, né. Vc, hein... hahahaha
11 de Agosto? sei! haahahaha
No meu tempo, íamos namorar é no cinema. No cinema, entendeu? No cinema, no escurinho do cinema, nem há livros para testemunhar as bjocas!
Bjoca (com todo respeito)

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