quarta-feira, 25 de março de 2009

Flores ao meio dia

Não dava bem para saber se era uma mulher com um sorriso ou um sorriso em forma de mulher. Estava radiante. Na mão direita trazia um buquê de rosas brancas e vermelhas. Na mão esquerda segurava a mão daquele que, possivelmente, era o causador de tanta alegria.
Não sei como segurava a mão dele. Mas acredito que forte. Apertando bem, segurando para não perder nem por um minuto.

Ele também sorria. Satisfeito por tê-la feito sorrir. Os dois caminhavam como se dançassem. Era meio dia. O sol estava de estourar mamona - como sempre dizia minha mãe. Talvez fossem almoçar. Talvez já tivessem almoçado. O que aquelas rosas significavam? Aniversário de namoro? Ou seria um começo? Poderia também ser pedido de desculpas, um sinal de reconciliação... É comum ainda hoje flores para datas como essa? Pode também ser um presente de aniversário. Ou uma gentileza despropositada, simplesmente porque ela o faz feliz.
Não importa como era o buquê. Se tinha laço, se tinha papel celofane, se eram muitas ou não . Eram rosas. Tem uma música que diz que "toda mulher gosta de rosas, de rosas". Eu não gosto da cor rosa. Mas gosto de rosas, principalmente das brancas e das vermelhas. Fiquei imaginando o perfume daquelas. Segui meu caminho, em pleno sol do meio dia, também sorrindo, contagiada pelas rosas da moça do sorriso.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Estranho-mundo-lacrimejante

Tem dias que chora. Nesses dias procura esconder os olhos inchados e vermelhos atrás dos óculos escuros, enquanto não pode se refugiar no seu quarto.
Tem dias que está leve, e precisa enfiar algumas pedrinhas no bolso pra não voar. Nesses dias sorri, canta, anda saltitando e algumas vezes também chora. Mas nesses dias não esconde a vermelhidão dos olhos ou do nariz. E nem se importa que os olhos fiquem gordinhos.

Tem dias que simplesmente não sente nada. Nem alegria nem tristeza. Nem medo nem confiança. Talvez só sinta mesmo o calor. E o calor toma conta de tudo. Todos os seus sentidos se voltam para o quente. Observa seu corpo consumido pelo calor. Mas fica sentada, quase em transe, com os olhos turvos e, então, mesmo sem sentir nada além de calor, é possível que chore. Mas nesses dias as lágrimas evaporam rápido demais, quase mesmo antes de brotar no canto dos olhos. Eles nem incham, nem ficam vermelhos. Secam. Tudo fica seco...

Tem dias, que na verdade são noites, nos quais sente medo. Não consegue ficar de olhos fechados. Perde o sono. Vira de um lado para o outro. Sente uma aperto no peito e uma grande solidão escapa do silêncio e penetra sua alma. Nesses dias, que são noites, também chora. Chora baixinho. Sente as lágrimas quentes molhando seu rosto e seu travesseiro. Sente os olhos quentes, sabe que eles estão vermelhos, até mesmo pode sentir o quão gordinhos eles estarão na manhã seguinte. Mas não pode parar. Não pode conter o choro silencioso e solitário que lhe brota de algum canto de sua vida. Algum canto que desconhece. Canto que permanece bem escondido lá dentro mas que vêm à tona quando menos espera. Vêm à tona naquelas lágrimas incontroláveis de alegria, tristeza, medo, e sei lá mais o que...

Tem dias que pensa muito, que tenta chegar até aquele estranho mundo que lhe habita. A cabeça dói, as ideias se confundem. Parece buscar e fugir das mesmas coisas. Sente um monte de sentimento misturado. Não é capaz de distingui-los. Luta e se entrega ao cansaço. Desiste.
Rende-se ao desconhecido. E então, eis que surgem: as lágrimas.

quinta-feira, 19 de março de 2009

E por falar em criança...

"Até hoje me entendo muito com as crianças. Elas são inteligentes, descobrem coisas que a gente não vê. Têm a sintaxe torta." -
Manoel de Barros

quarta-feira, 11 de março de 2009

Sabedoria Infantil II

Garotinho no ônibus. Parece ter uns cinco ou seis aninhos. Vira para o pai e calmante pergunta:
-Pai, a gente nasce, vive, morre e depois nasce de novo?
O pai fica sem palavras. Diz que não sabe. Tenta disfarçar e mudar de assunto...

quarta-feira, 4 de março de 2009

Sabedoria Infantil I

-Pai, oh pai... sabe, às vezes, tem horas..
-Pai, oh pai!
-ah? o que foi?
-Pai, é que às vezes eu enxergo assim, sabe, eu enxergo meio cego...

segunda-feira, 2 de março de 2009

Confissões

um abandono só! Sim, é isso mesmo! Essa sensação de abandono, essa cara de abandono, esse ar e cheiro e a ausência de novidades. A ausência de barulho e novos sabores. Tudo velho. Tudo que já foi novidade um dia agora é puro abandono. Esse silêncio, essas poeiras que vão se assentando. E tudo vai ficando com essa cara de esquecimento. Aos poucos me acostumo com a falta. Aconchego-me nela. Fecho os olhos e aprendo a viver de imaginação. Crio minhas próprias aventuras, fujo da monotonia, corro ao encontro das surpresas que não vêm.

Aperto forte minhas próprias mãos e estrangulo o soluço que quase me escapa pela garganta. As unhas cravadas na pele, na carne. Sentir dor é um alívio. É sentir qualquer coisa... É preencher o vazio...

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As páginas em branco rapidamente são preenchidas. A mão desliza sobre o papel. A caneta preta solta um pouco de tinta e mancha a pequena mão. A mão mancha a folha branca.
Ela está deitada sobre a colcha de retalho colorida. Os longos cabelos, escuros e encaracolados, cobrem suas costas até a cintura. Um vestido azul desbotado envolve o corpo moreno. O som alto, uma mistura de barulho com uma tentativa de melodia, toma conta do pequeno quarto. No chão fotos e papeis se misturam com meias, blusas, batons, alguns badulaques e muito cheiro de perfume. Um cheiro doce. Enjoativo. Poderia ser o quarto de uma adolescente. Se ela ainda o fosse. Poderia ser só um quarto, mas era uma casa inteira...

Pacotes de miojo no lixo, uma pequena geladeira e um fogão de duas bocas no canto direito, os livros empilhados no lado esquerdo, a solidão completa e o medo da multidão. Não era mais adolescente, mas não podia mentir que as vezes era como nos velhos tempos. Tinha vontade de pedir colo. Mas agora já não tinha pra quem. Ou será que tinha? Mas ele não entende... Ninguém entende...
Por isso escreve. Escreve páginas e páginas naquela agenda amarrotada que a acompanha pra todos os cantos. Enfiada no fundo da mochila ou nas bolsas coloridas, nas aulas ou nas festas e naqueles momentos de solidão, principalmente. Escreve também em folhas avulsas que amassa ou rasga ou rasga e amassa quase em seguida. São como confissões. Aquelas que são feitas num momento de piedade repentina. Quando se rasga todas as máscaras. Quando se desnuda por completo e banha-se nas próprias lágrimas quentes. Passado as orações prescritas pelo confessor, é a hora de amassar a folha, de picar em pedaços e, num misto de vergonha e arrependimento, deixar o templo as pressas!

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um dia ainda paro com essa loucura! um dia desisto de gastar tantas páginas... Um dia eu falo tudo que tá preso na minha garganta. Mas será que alguém vai ser capaz de entender? será que alguém vai ter paciência de me ouvir? Ninguém é tão forte como essas frágeis folhas brancas... eu sinto isso. Também não sei se é questão de ser forte. Talvez ninguém tenha obrigação alguma de ouvir, de me entender. Mas as folhas não podem reclamar, não podem se negar a isso. São ótimas confessoras... as penitências não passam da tortura de me ver num espelho, desfigurada e desnuda, quando leio o que escrevi...

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