sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Detalhes

Sabe aquele dia que você só precisa fechar os olhos e se jogar com vontade? é, se jogar, e abrir os olhos depois. Ou talvez não abrir os olhos...Pode ser que de olhos fechados o mundo seja bem mais interessante...

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....algumas vezes deixo a vida/destino me levar.
nas outras, eu minto pra mim mesma que estou no controle de tudo...

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Hoje à noite a realidade estará fantasiada...

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O mistério dos mistérios

De todas as coisas que se me apresentam como um mistério nessa vida, o maior e mais terrível deles diz respeito a constatação da solidão.

Os momentos de mais profunda e intensa solidão que já experimentei até hoje, foram justamente os momentos nos quais, antes de se realizarem, eu acreditava se esconder a mais completa comunhão com um outro.


Não recordo de ter sentido tanta solidão enquanto estivesse sozinha, mas sempre quando tinha alguém, muitos alguéns ou "o" alguém comigo...


Esses momentos são inicialmente de alegria, de felicidade muito grande, mas o fim deles é um vazio, uma dorzinha (no fundo da alma) e a certeza de estar só. Indiscutivelmente sozinha. Dolorosamente sozinha.

Solidão é um mistério pra mim. O mistério que parece consumir minha vida.

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Estamos sempre juntos nessa solidão!

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Agora não estou triste por isso. Mas muitas vezes já fiquei. E talvez isso ainda aconteça muitas outras vezes. Agora meus olhos estão secos, mas tem momentos em que eles choram, quando só as lágrimas parecem aliviar o nó na garganta, encher o vazio, acariciar meu rosto no escuro da noite...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O estagiário

Começo de mês. Segunda-feira. A camisa estava impecável. O cabelo bem cortado, recém lavado e bem penteado. No pescoço ostentava o crachá da empresa X. Calça com as costuras bem alinhadas, o sapato brilhando. Talvez a última vez que estivera tão bem arrumado assim fora em sua formatura de ensino médio. Ah, claro. No dia da entrevista também estivera apresentável. Mas nada se comparava ao primeiro dia de trabalho.

Caminhava pela rua sem pressa. Ou talvez temesse amassar a roupa ou, de repente, pisar em alguma lama e estragar o trabalho da manhã de sábado. Sim, porque havia chovido no fim de semana. Há umas semanas atrás teria derrubado uma baita tromba por causa da chuva. Estragaria seu sagrado futebol no sábado de manhã. Mas dessa vez nem se importou. Estava ansioso. Sentia aquela mesma emoção de quando era menino. Aquela véspera do dia de ir no estádio com o padrinho. A promessa feita um mês antes o deixara muito ansioso. Até febre tivera. E a mãe ameaçara não permitir que o menino fosse assistir a final do campeonato com febre. Deu um jeito de ficar bom. Sem febre, nem dor de barriga. Aquela mesma dor de barriga que sentiu no último domingo. Mas passou. Dessa vez nem precisou das ameaças da mãe.

Caminhava num passo moderado e trazia no rosto seu melhor sorriso. Na mão esquerda trazia aquela bolsa preta de couro. Sentia-se gente grande de verdade. Nem mesmo a grande mala que trouxera quando deixou a casa dos pais para fazer a faculdade o fizera sentir-se tão independente. Para não dizer que nunca havia trabalhado, quando tinha uns 12 anos, um tio lhe deu uma graninha durante um tempo para que ele cuidasse de seus cachorros. Mas agora teria seu próprio dinheiro. Na medida em que se aproximava do terminal de ônibus, ia se intensificando aquele friozinho na barriga. Mas estava tudo sobre controle. Já podia imaginar sua mesa. O computador, e os papéis que ficariam sobre sua responsabilidade. Sim, era um estágio. Ainda nada garantido. Mas aquele crachá no pescoço, aquela roupa, e o fim da graduação se aproximando, tudo somado, nesses últimos meses, o faziam sentir que a vida adulta enfim chegava.

De repente se via pensando em tantas coisas novas e assustadoras. Não era só a profissão, mas a estabilidade que desejava, e os planos que talvez devesse começar a fazer: filhos,casar, comprar uma casa. Não nessa ordem, de preferência... Sentia vontade de correr, como aquela vez que havia, contra todas as recomendações da mãe, chutado bola dentro de casa e quebrado o vidro da janela da sala. Vontade de correr, pra não ter que responder nem pagar... Correr pra adiar um pouco o inadiável...

Mas agora, as 7:45 da manhã, da primeira segunda-feira de agosto, caminhava sem pressa e sorria. Uma coisa de cada vez. E agora era a hora do trabalho, da emoção do primeiro emprego, mesmo com todas as incertezas, sabendo que era só um estágio. Mas sentia-se feliz, como quando seu time ganhara o campeonato municipal de futebol de salão e ele foi o artilheiro. Só feliz. Sem preocupar-se com o que virá.

A camisa impecável, salmão, atravessou a catraca do terminal.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Fim de tarde de inverno seco em Minas Gerais

-Será que chóvi?
(uns segundos depois)
-Pricisa, né?
(um tempinho depois)
-É...- um "é" espichado e depois acrescentou: a muié da televisão disse que vem chuva no saldo.
memo?? -com cara de desconfiado- sei não...
Enquanto isso o outro dá de ombros e faz cara de "uai".
O desconfiado continua desconfiando: - será que chóvi memo?
-Pricisa, né? a muié disse...

A cena

Sentada na beira da janela, balançava as pernas e olhava pra longe. Talvez não tão longe assim. Mas parecia não enxergar nada. O gato passava de um lado pro outro. Se alisou na perna da cadeira, abriu a boca em sinal de fome, miou, desistiu. Ela continuava lá, balançando as pernas e olhando sem ver nada.
Não era bonita. Mas também não a chamariam de feia. Ainda que os cabelos estivessem naquela desarrumação rotineira, e estivesse enfiada no velho moleton azul marinho, o olhar, embora um pouco perdido naquele momento, lhe confiava uma beleza serena. O sorriso também era algo que lhe rendia alguns elogios. Não aparentava os anos que tinha, pelo menos, já havia confundido uma dúzia de pessoas. No entanto, talvez fosse meio a meio. As vezes o jeito serelepe, falante e sorridente lhe conferia aquele ar quase infantil. Tinha dias que acordava assim, saltitante, jogando o jogo do contente até com sua sua sombra... Está certo que esses dias de Pollyana há muito que haviam se tornado pouco comum. Alguém que a olhasse agora, talvez lhe desse mais do que seus vinte e poucos anos. Trazia um peso que se traduzia nas rugas na testa e naquele olhar vazio carregado de interrogações.
O gato pulou até seu colo. Ficou dançando de um lado pro outro. Parou e miou. Não teve outra alternativa, botou as unhas de fora..
- Ai! O que foi? que houve?.. está sangrando.. você é doido?
Deu um pulo e botou os pés no chão. O gato saltou também e pôs-se a roçar suas pernas.
- Ah, entendi, você está com fome?? e precisava me atacar?..
Caminhou até a vasilha do gato, pegou o pote de ração, encheu até boca.
O bichano, esfomeado, atacou a comida instantaneamente. Ela lavou o braço. Não foi um machucado grande. Um arranhãozinho leve.
Um chiado que vinha da cozinha lhe chamou atenção. Enquanto caminhava para a cozinha deu um grito e correu.
- Nossa, a água pro café...merda
A vasilha de alumínio dançava no fogão. A água estava quase totalmente evaporada. Tirou a vasilha do fogo, encheu novamente, voltou ao fogo. Sentou-se numa banqueta ao lado do fogão. Fixou os olhos nas chamas azuis que tocavam de leve o fundo da vasilha. Aos poucos as chamas pareciam consumir seus olhos. Ela estava imóvel. A face contorcia, a testa enrugava e desenrugava. Mordeu os lábios levemente e uma lágrima tímida rolou do olho esquerdo. Uma lágrima quente, desceu solitária e lentamente pelo rosto moreno. Outra lágrima brotou, e outra, e agora era do direito e do esquerdo, e todo rosto foi ficando quente e úmido. A água começou a ferver novamente. Ela levantou-se, tomou da vasilha, despejou a água no coador. O cheiro de café aos poucos foi tomando conta da cozinha. O rosto continuava molhado. Ela não secou as lágrimas. Ela fechou os olhos, respirou fundo, foi soltando o ar devagarinho, e abrindo um sorriso do tamanho de todo seu rosto. Se alguém pudesse vê-la agora. Tinha o rosto iluminado. Até seus movimentos de repente ficaram leves. Tudo parecia uma dança. Uma cena de musical. Por certo que ela ouvia uma música enquanto se movia pela cozinha. Pegou uma xícara, botou uma pontinha de açúcar, despejou o café recém passado. Mexeu, retirou a colher, levantou a xícara e a levou à boca. Tudo isso sem perder o ritmo. Tudo isso, como se fosse parte de ópera. Tudo tão bonito. Ah, se alguém pudesse ver tudo isso. Mas ela estava sozinha. A casa estava vazia. Só o gato. Mas ele continua comendo. Ninguém a viu. Ninguém!

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