terça-feira, 30 de outubro de 2018

Façamos Poesia

quando a esperança se tornar escassa
e quando o medo
quiser de nós se apoderar,
Façamos Poesia!

quando de nós rirem
e fizerem troça,
quando apontarem para nós
suas armas reais ou simbólicas,
Façamos Poesia!

quando as lágrimas
insistirem em molhar nossas faces,
quando a violência e o ódio
se espalharem pelas ruas
Façamos Poesia!

quando muitos fecharem os olhos
e marcharem para o abismo,
quando taparem os ouvidos
e gritarem que errados somos nós, 
Façamos Poesia!


quando o coração estiver despedaçado
por ver amigos e familiares
apoiando  nossos algozes,
Façamos Poesia!


quando os dias estiverem sombrios
e as noites silenciosas forem motivos de aflição,
quando nas ruas os passos atrás de nós
nos fizerem gelar os ossos,
Façamos Poesia!

Façamos Poesia
como forma de resistir
como meio de sobreviver
como alternativa ao mundo que nos oprime,
Façamos Poesia!

Francine Ribeiro

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

[sem título]


O outro,
O diferente,
O adversário - que ele trata como inimigo,
Que ele disse que deve ser varrido,
Que deve ser preso,
Que deve ser silenciado:
Sou eu: mulher, professora
(talvez sua prima, sua ex-colega, sua filha, sua irmã, sua nora,sobrinha,
conhecida, vizinha, professora, ex-aluna, colega de trabalho, 
amiga – não, você não é meu amigo!)
que não pretendo me calar diante do preconceito,
da injustiça,
da violência.
Quando ele e os deles, com sua censura,
Com seu ódio,
Com suas algemas,
Com suas armas,
Vierem pra cima de mim,
Saiba que a responsabilidade também é sua!
Sua que validou essa perseguição,
Esse discurso de ódio e violência.
Que digitou e confirmou,
Ou anulou,
Ou se omitiu.

domingo, 28 de outubro de 2018

Por um país que não tenha muros


Faz alguns meses eu tive um sonho, que agora, por mais que eu me esforce, não consigo lembrar detalhes. Mas de manhã, quando acordei, eu tinha uma lembrança vaga. Eu tinha escrito um livro, e o título do livro era: A rua que não tinha muros. Eu achei tão poético esse título que anotei na minha lousa branca, no escritório. E agora, quando escrevo, posso vê-la ainda, está um pouco desbotada, mas está li. Como eu sou metida a escrevinhadora, naquele dia eu anotei porque pensei: vai que uma hora dessas surge uma inspiração e escrevo mesmo um livro...
Não, eu não estou escrevendo um livro. Mas veio uma inspiração – ou seria uma necessidade de confissão? Nesse fim de semana encerra-se um dos processos eleitorais mais conturbados e complicados do período recente da história da Brasil. Mas todos os nossos problemas têm sua origem há quatro anos, quando um presidenciável, diante da derrota nas urnas, deu início a um processo de ataque à democracia. Ao se negar a aceitar os resultados da eleição, o presidenciável talvez não tivesse ideia de tudo que enfrentaríamos a partir de então. Imagino que o cálculo feito à época foi outro, mas falhou. O preço que se paga por colocar a democracia em xeque é muito alto. Mas não pararam por aí. Recontagem de votos feita e o resultado era aquele mesmo. Foi preciso arranjar outro jeito de mudar o resultado das eleições. Tudo com ares muito ‘republicano’ e ‘legalista’. Eis que caímos num abismo ainda maior. Depois de um golpe-jurídico-parlamentar que recebeu amplo apoio da sociedade, da mídia, do mercado, de partidos políticos, assumiu o vice-conspirador-traidor. E vieram reformas – na educação, trabalhista, previdenciária (quase...) – e os resultados prometidos não chegaram. O que vimos foi um aprofundamento da crise econômica – aumento de desemprego, aumento de violência – amplamente patrocinada por partidos políticos durante o período pré-golpe, com apoio a pautas bombas chefiadas pelo presidente da Câmara, com a clara finalidade de desestabilizar a recém reeleita presidente da república.
Ao mesmo tempo, vimos um partido ganhar protagonismo no cenário nacional, o partido da toga ou talvez fosse melhor dizer o partido judiciário. Ministério Público, juízes de primeira instância, ministros dos mais variados Tribunais, de repente se arvoraram sobre a Constituição. Assumiram, sem nenhuma falsa modéstia, o traje de Heróis – ou seria de Justiceiros? Tendo a mídia como principal aliado, nos lançaram na onda da espetacularização. Prisões preventivas, conduções coercitivas, depoimentos, julgamentos, tudo devidamente televisionado. De uma hora para outra, os brasileiros se tornaram especialistas do direito, o juridiquês nunca foi tão acessível. Nos pontos de ônibus, nas filas do banco, no almoço de domingo, as sentenças e condenações ficavam prontas antes mesmo dos pronunciamentos espetaculares dos juízes. Mas não foi só isso. Também cresceu aquele sentimento de que todos os políticos são corruptos. As manchetes de jornais, as chamadas nos telejornais e, finalmente, os comentaristas políticos de facebook, não cansavam de mostrar que os políticos, bem como os partidos políticos, seriam a causa de todos os males desse país. O descrédito se generalizou. São todos iguais. Essa era a sentença final. E multidões foram para as ruas pedir a saída da presidente. Na verdade, pedir a saída de um partido. Diziam que depois tirariam os outros. Mas não foi bem assim. Não tiveram a mesma disposição para dancinhas e passeatas de domingo em família, quando vieram denúncias contra o vice agora presidente. Quando apareceram vídeos com malas de dinheiro, com apartamentos cheios de mala de dinheiro. O gigante, que diziam ter acordado, voltou a dormir em berço esplêndido.
O tempo passou, a crise continuou, o desemprego aumentou, o número de endividados também, os recursos públicos minguaram, o WhatsApp ocupou o lugar que outrora fora dos canais de TV. A frustração do brasileiro cresceu,  ou melhor, foi devidamente alimentada durante esses últimos três anos. A frustração virou ódio. Ódio a um partido político; não, a todos os partidos políticos. Ódio a um político; não, a todos. Mas é ano de eleição novamente. Para alguém se eleger é preciso ser filiado a um partido político. Mais: alguém que se apresenta para disputar um cargo eletivo, já é político. Mas eis que surge o outsider, o não-político, o antipolítico, aquele que vai acabar com tudo isso que está aí. Surgem candidatos novos que já nascem velhos, mas ressurgem velhos querendo se passar por novos. Como é o caso de um deputado, quase 30 anos na política, que fez carreira na política e também levou os filhos para o mesmo caminho, três filhos também deputados, mas não foi só: empregou cunhados, ex-mulher, atual mulher, teve funcionária fantasma. Esse deputado, já velho conhecido da população brasileira, de declarações polêmicas, de inteligência limitada, de fala confusa e raivosa, preconceituoso, disparador de ofensas e discursos de ódio, defensor da tortura e da ditadura, fã de torturador, esse deputado, político velho, que soube bem capitalizar o ódio das pessoas contra um partido, pode agora ser o novo presidente do Brasil.
De repente é hora de votar. Dirijo-me à urna com o coração apertado, com os olhos cheios de lágrimas, com a cabeça doendo e a boca seca. Uma vontade de gritar, de chorar, de chacoalhar as pessoas que marcham para democraticamente colocar nossa já combalida democracia ainda mais em risco. Segundo turno: governador e presidente. Meus votos são votos contra: contra o machismo e o feminicídio, contra o racismo, contra a homofobia, contra o ódio, contra a tortura, contra a mentira descarada disseminada nos grupos de família de cidadãos de bem e cristãos que, saindo da igreja, fazem sinal de armas e repetem que bandido bom é bandido morto; contra a falácia do outsider, do antipolítico; contra a espetacularização da política: de um prefeito que se fantasiou de cidadão comum, de trabalhador, enquanto flertava com a supressão de direitos trabalhistas; de homens desonestos que usam a palavra honestidade como bandeira, mas se escondem atrás dessa bandeira para praticarem suas imoralidades e corrupções – defendendo abertamente a sonegação de impostos; recebendo auxílios quando deles poderiam abrir mão;  meus votos foram contra a violência como solução para a violência, contra os ataques feitos aos direitos humanos. Mas meus votos foram também a favor: da democracia, da pluralidade, da liberdade de pensamento e de expressão, do estado laico, da liberdade de credo; a favor da educação, mas não de qualquer educação, de uma que seja comprometida com a justiça, com a formação de senso crítico, que respeita o jovem em formação, que não o trata como propriedade de seus pais; a favor da possibilidade de que meus alunos e alunas negros sonhem e possam ter futuro diferente daquele que seus pais tiveram; a favor de todas as famílias, de todas as formas de amor. 

         Votei. Não era o segundo turno que eu desejava. Não eram os candidatos que eu queria, os partidos que eu queria. Mas eu fiz minha parte, fiz o que deveria fazer nesse momento. Estou tranquila, em paz, com a consciência de que estou do lado certo. E essa certeza se confirma quando olho ao meu redor e vejo quem são as pessoas que estão do meu lado, lutando por esses mesmos valores. Estamos juntos e juntos seguiremos, de cabeça erguida. Seguiremos para impedir que nossas ruas se fechem em muros, que nossas vidas sejam cercadas por muros, que nossos pensamentos sejam cercados por muros, que nossos afetos sejam cercados por muros. Nem que seja escrevendo muitas poesias, muitas músicas, muitos livros. Seremos resistência em versos e melodias, construindo novas narrativas. Eu quero viver num país sem muros, reais ou simbólicos. Que hoje, juntos, possamos dar início a escrita de um novo capítulo da nossa história: O país que não tinha muros.

domingo, 21 de outubro de 2018

É preciso resistir

Realidade que tentam nos roubar,
com fakes,
com duplipensar...

Fatos que são agora alterados,
falsificados,
torturados...

Sem os fatos, que realidade irá sobrar?

A realidade inventada,
a realidade reeditada,
a realidade que nada tem de real...

Mas quem se importa?
As contradições são aceitas,
enquanto a História é renegada,
as mentiras são aceitas,
e a Ciência ultrajada.

Triste povo sem memória,
triste gente desmemoriada.
Sem passado,
vagam num presente
sem futuro...

As palavras têm seus sentidos,
propositalmente, alterados:
golpe vira movimento,
denúncias não passam de supostas alegações.
As instituições?
até a corte máxima sofre, passiva e muda,
ameaças diretas e descaradas:
basta um soldado e um cabo
para que os guardiões da Constituição sejam destituídos.

Mas quem se importa?
Talvez haja algo de verdadeiro no discurso desvairado daqueles que agora sentem-se reis (ou seria déspotas?)
O povo, sem memória, mas cheio de ódio,
há muito que não se importa com mais nada.
E por que se importaria com meia dúzia de ministros que nunca se importaram com o povo, nem com a Constituição?
Parece mesmo que nada importa.

A realidade? Não tem mais nada de real...
Há muito que tudo isso parece mesmo é ficção!
De mal gosto.
Que de novo nada tem. Não passa de um remake chinfrim
de uma tragédia já esquecida.
O povo, desmemoriado, sem História,
que prefere acreditar nas próprias verdades, na sua verdade,
autoverdade.

Realidade que tentam nos roubar,
fatos torturados (amanhã os torturados seremos nós?),
é preciso resistir!

Não podemos nos resignar,
não podemos nos omitir,
não podemos ser cúmplices,
não podemos fazer de conta que nada está acontecendo,
não podemos deixar que nos roubem a realidade,
que confundam nossas mentes!

É preciso, mais do que nunca, pensar!



quinta-feira, 4 de outubro de 2018

É hora de dizer SIM! #Ciro12!


Se você já tem seu voto para presidente decidido, esta postagem não é para você. Não continue lendo se não quiser, e se continuar, não venha reclamar comigo dizendo que estou tentando mudar seu voto. Esta postagem é para as pessoas que ainda não se decidiram, que estão pensando em votar em branco ou anular seu voto. Meu amigo, seu voto é muito importante para o Brasil. Por isso peço um pouco da sua atenção.
Eu também fui às ruas dizer ‘NÃO’ ao Bolsonaro e a tudo que ele representa: violência, ódio, intolerância, machismo, racismo, mentira, enfim. Se você também foi às ruas ou apoiou o movimento, estamos junt@s! Infelizmente muitas pessoas, movidas pelo ódio, pela desesperança, pelo ressentimento, estão apoiando esse candidato, sem perceber que ele não tem propostas para o nosso país. Ele não oferece alternativas para os problemas de segurança, saúde, educação, economia. Ou melhor, ele oferece respostas que são inviáveis. Mas você já sabe disso! Por outro lado, se apesar de ter aderido ao movimento #elenão, você não se sente confortável em votar no PT, eu também te entendo. Eu também não me sinto confortável. Apesar de não aceitar esse ‘ódio ao PT’ que tomou conta do país e que também está deixando as coisas mais complicadas, reconheço os erros do PT, inclusive de estratégia política nessa eleição, que, na minha opinião, inviabilizam um voto no candidato do partido. Mas não dá para fugir da responsabilidade, é preciso apontar saídas.
Por isso eu decidi essa semana que era preciso assumir uma posição, afirmar meu voto em Ciro Gomes. Ciro não é o candidato perfeito, mas é preciso entender que esse ‘candidato perfeito’ não existe, e nunca existirá. Para um país que clama contra a corrupção, Ciro é um candidato que, tendo sido deputado, ministro, prefeito e governador, tem ficha limpa. Como ele mesmo diz, não fez mais que a obrigação dele. Vão te dizer que ele responde a processos. Sim, é verdade, responde por ‘falar demais’. Ele é esquentado, exagerado, mas não me parece que isso inviabilize sua candidatura. Perder a paciência pelos motivos certos, ficar indignado diante de situações injustas, pode ser uma virtude e não um vício. Para um país que pede o fim de privilégios e regalias à classe política, Ciro é o cara que, achando imoral algumas dessas regalias, não requereu aposentadoria de prefeito e de governador a qual tinha direito. Num país em que a educação básica sofre ano após ano com resultados tristes de desempenho dos alunos, mas que também castiga os profissionais da educação, Ciro, como governador e prefeito, deu exemplo de que, valorizando a educação, colocando-a como prioridade, é possível fazer diferente. Ele apresenta uma proposta de ampliar as escolas de tempo integral, políticas públicas para garantir a permanência dos adolescentes mais vulneráveis na escola, evitando assim que eles sejam seduzidos pelo tráfico e pelo crime. Num país que sofre com o desemprego, Ciro apresenta propostas concretas para geração de empregos. Ciro tem tido coragem de bater de frente com aqueles que se dão bem quando o país vai mal, com os rentistas, aqueles que vivem de renda, de juros altos. Quando Ciro apresenta suas ideias para a economia, não agrada uma parcela da sociedade porque propõe romper com um sistema que até hoje sustentou privilégios. Quando Ciro apresenta a proposta de refinanciar as dívidas dos cidadãos que estão hoje com o nome sujo, ele tem coragem de dizer que esses programas já existem para renegociar dívidas de ricos.
Você deve estar se perguntando se eu não tenho medo de quebrar a cara. De que uma vez eleito ele não faça nada disso. A minha resposta honesta é que só poderemos saber se ele irá ou não trabalhar para realizar essas propostas se dermos a ele uma chance. Você que leu até aqui, considere dar essa chance para Ciro. E vamos depois, juntos, cobrar que essas propostas se tornem realidade. Gaste um pouquinho do seu tempo dando uma olhada no site dele. Escute, leia! Vamos nos unir para dizer SIM para um projeto de Brasil! #Ciro12!

Sobre o que se fala

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