terça-feira, 28 de abril de 2020

E daí?

E daí?", diz Bolsonaro sobre nomear amigo do filho chefe da PF
E daí que o presidente pareça não entender o tamanho do cargo que ocupa?
E daí que o presidente veja seu cargo como possibilidade de proteger seus filhos mimados e criminosos?
E daí que o novo chefe da Polícia Federal seja amigo do investigado que é filho do presidente que escolheu o novo chefe? 
E daí que as instituições sejam insultadas e que o presidente apoie os pedidos de que sejam fechadas?
E daí que estejamos enfrentando a maior crise sanitária do século?
E daí que milhares já morreram e outras milhares morrerão?

E daí que sejamos ridicularizados mundo afora porque nosso chanceler é um lunático conspiracionista?
E daí que o ministro da educação seja um mal educado e ignorante?
E daí que as escolas estejam fechadas e o ministro da educação, só por birra, resolva manter a data do ENEM?
E daí que haja brasileiros com fome esperando pelo auxílio emergencial que o governo insiste em dificultar que chegue até eles?

E daí que o ex-ministro da justiça queira deixar o governo bem no meio da pandemia, fazendo pose de bom moço, já se credenciando para o pleito de 2022?
E daí que ao acusar o presidente de ter cometido crimes o ex ministro também tenha confessado os seus?
E daí que o presidente para se safar das acusações do ex-ministro resolva usar as reportagens do The Intercept que até meses atrás ele dizia ser tudo mentira?
E daí que o presidente afirme que fake news é liberdade de expressão?

E daí que o Ministério da Saúde gaste seu tempo publicando receita de pão em perfis oficiais de rede social?
E daí que o ministro da saúde nunca fale do SUS em suas coletivas?
E daí que haja subnotificação de novos casos e de óbitos por Covid-19?
E daí? E daí?

Daí que tem muita gente que não se importa, que finge não ter culpa no cartório
que faz de conta que todos perderam a memória...

E daí que não haja amanhã para milhares de brasileiros?
Aqueles que fazem parte do 1% e os que lutam insensatamente movidos pela ilusão de que um dia chegarão lá continuarão pensando:
E daí, não é comigo!

E daí? E daí?



quinta-feira, 16 de abril de 2020

Um registro de quarentena

imagem disponível pixabay
Hoje acordei e não tinha forças para me levantar. Corri os olhos pelas notícias no celular e deu uma vontade de desligar tudo, de parar o mundo e descer! Um mês sem ver meus alunos. Um mês sem poder encontrar amigos, sem sair de casa. Nessas quatro semanas, as saídas foram pontuais: farmácia, supermercado, casa de material de construção - urgência de consertar uma vazamento da caixa de descarga depois de ter passado quase quatro dias sem água, mas esse foi um problema do prédio todo (e me fez pensar em tantas pessoas que convivem com essa realidade de falta de água, falta de saneamento, falta de tantas coisas essenciais, básicas...).

Hoje o coração está apertado. São tantas incertezas e de repente o medo toma conta. Quando vou poder visitar meus pais? Passou um feriado, logo virá o outro e nada de viagem. E as aulas? Quando poderemos retomar? Poderemos? 

De repente levamos uma rasteira tão grande que não é possível levantar e continuar como se estivesse tudo "normal". Normal não estava faz tempo... mas agora, os esforços de uns e outros para criar uma ilusão de normalidade me parecem pura insensatez. 

As notícias, os jornais e revistas parecem ficção, distopia. As mortes, os que fingem não ver as mortes, os que patrocinam as mortes, os que chamam para a morte, os que zombam e fazem piada com as mortes. Será esse o nosso fim? 

Nas redes sociais, nas correntes de WhatsApp, nas hashtag do Twitter, nos vídeos no YouTube, reina a loucura, o egoísmo, o ressentimento, o ódio, a irracionalidade, qualquer coisa que insiste em apagar nossos traços de humanidade. Ou será isso o que restou da nossa humanidade? Que desatino insano é esse que toma conta das pessoas? 

Mas é preciso ser produtivo, a economia não pode parar, viva a tecnologia, aulas EaD, ou remotas, temos que manter as coisas funcionando dentro do possível - e fazer todo o possível para mantê-las -, os que não fazem, estão fazendo corpo mole, não tá fácil pra ninguém, mas temos que continuar, temos que fazer o nosso melhor, temos que nos reinventar, ser inovadores, aproveitar a oportunidade para... são tantos os desatinos, e também não encontro humanidade nessa paranoia da produtividade, da normalidade, da volta à normalidade... Mas que normalidade? 

Queremos retornar ao ponto que estávamos antes da pandemia? aos vergonhosos índices de desigualdade? de violência? de corrupção? de mentiras? de negação da Ciência? O terraplanismo era parte da normalidade? o obscurantismo era parte da normalidade? a exploração do trabalho era normalidade para a qual queremos voltar? a invasão de terras indígenas? as altas taxas de feminicídio? os presídios lotados? a fracassada guerra às drogas era parte da normalidade?  Por que não assumimos nosso fracasso? Por que é tão difícil aceitar que não tinha nada de normal na vida alucinada, pautada por lucros, resultados, degradação da natureza, exploração do outro, aparências, superficialidades e contradições: hiperconexão através da internet sem fio e total falta de verdadeira conexão com o outro que era ignorado nas ruas, no elevador, na fila, na sarjeta, na vala comum? Sim, as valas comuns que se abrem agora para os corpos vítimas da COVID-19, sempre existiram para os outros, os pobres, os negros, os párias, os eternos "suspeitos" que morrem diariamente pelas mãos da polícia... isso era normal? Os milhares de migrantes vagando pelo mundo fugindo de ditadores, de guerras, de perseguição religiosa, isso era normal?

Hoje me sinto mais do que nunca impotente. Dentro de casa, tentando fazer a minha parte, com medo do que vai acontecer com tantas pessoas nas próximas semanas, triste, com saudades de tantas pessoas, desejando ter de volta parte do que dava sentido aos meus dias - minhas aulas, a companhia dos meus alunos e colegas - dominada pelo sentimento de incerteza quanto ao futuro. Estou paralisada. Escrevo, mas sinto que as palavras me escapam. Tenho uma sensação de vazio, oco, na cabeça e no peito. Estou em silêncio, mas tem muito barulho de fundo. Hoje estou precisando me agarrar às boas lembranças, porque, hoje, está difícil ter esperança.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Estamos enfrentando uma pandemia, não estamos numa guerra!

Desde que o terror da pandemia causada pelo novo coronavírus se tornou patente, e o número de mortos passou a assustar a todos nas páginas dos jornais e nas telas das TVs mundo afora, políticos, jornalistas e intelectuais começaram a dizer que estávamos em "guerra". No Brasil, o presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia, junto com outros sete deputados, apresentou uma PEC - Proposta de Emenda Constitucional - logo apelidada de PEC do Orçamento de Guerra. Entre outras coisas, essa PEC, já aprovada pela Câmara e que segue para votação no Senado, permitirá ao Banco Central comprar e vender títulos públicos e privados, ampliando assim o papel do BC no combate à crise gerada pelo coronavírus. Mas será que "guerra" é a melhor palavra para nomear o que estamos vivendo? Quais as consequências dessa comparação entre o estado de caos gerado pelo novo coronavírus e um contexto de guerra? Quem pode se beneficiar da narrativa da guerra? 

Enquanto o novo coronavírus se espalhava pelo mundo, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, fingia que tudo não passava de histeria. Acusou a mídia de criar pânico, disse que era só uma gripezinha. Bolsonaro esteve nos EUA e quando voltou, soubemos dias depois, trazia cerca de 25 membros de sua comitiva estavam contaminados pelo novo coronavírus. O próprio presidente era suspeito de estar contaminado. Mesmo assim, na semana em que os primeiros casos eram registrados no país, Bolsonaro foi às ruas encontrar apoiadores do seu governo que haviam marcado atos contra o STF e contra o Congresso. 

Passado o momento da negação - depois de dizer em pronunciamento oficial em cadeia nacional de rádio e tv que tudo não passava de histeria, que ele era um ex-atleta e que se pegasse a doença seria como uma gripezinha ou um resfriadinho, o presidente ativou seu modo obsessivo compulsivo e passou a defender publicamente o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da COVID-19. Sem evidências científicas que comprovem a eficácia dos medicamentos no tratamento da COVID-19, Bolsonaro passou a advogar em causa de tais fármacos, iniciando mais uma vez uma pretensa "guerra de narrativas". O deputado Osmar Terra foi um dos grandes porta-voz dessa tentativa de transformar uma questão de saúde pública em "guerra de narrativas". Espalhando fake news e distorcendo dados sobre o comportamento do novo coronavírus mundo afora, pedindo fim do isolamento social e defendendo o uso da cloroquina, o deputado, para se defender de quem o denunciava das redes sociais, cinicamente se perguntava se "não teria direito a ter uma opinião diferente". A resposta deveria ser categórica: não! Ciência não pode ser contraposta por opinião.

Para os que já estão vacinados, fica evidente que não se trata de uma "guerra de narrativas", pois os dois lados não são duas narrativas que se equivalem. De um lado temos estudos científicos sérios em busca de remédios para o combate da COVID-19 que, no entanto, ainda não dispõem de resultados suficientes para comprovar a eficácia das drogas em testes e, portanto, recomendam cautela; de outro, temos pessoas movidas pelos mais diversos interesses - políticos, ideológicos, econômicos e/ou vaidades - atropelando o processo rigoroso da ciência e, de maneira irresponsável, vendendo a salvação da lavoura. Portanto, de um lado temos uma posição baseada nos fatos, em dados empíricos, em resultados de testes clínicos e, de outro, temos "estudos" atropelados, manipulações de dados e discursos altamente ideologizados, forçando a percepção pública a acreditar que trata-se de uma "guerra de narrativas" e até mesmo uma guerra entre quem está a favor do vírus e quem está contra o vírus.

E é aqui que o uso da palavra "guerra" para se referir a pandemia pode não ser ter sido uma boa decisão. Quando se está em guerra, o inimigo é visível, identificado de outro lado do front. Além disso, dos dois lados temos agentes que irão tomar decisões e colocar em prática ações durante o confronto. E no contexto de guerra, suspende-se boa parte das regras válidas para tempos normais, de paz. E mesmo assim, é bom lembrar, que essas decisões e ações, não estão livres de serem julgadas e responsabilizadas depois de cessada a guerra. Nesse momento, o vírus que nos ameaça, ameaça a toda humanidade e não o faz mediante um ato racional, uma escolha de nos atacar e dizimar. No entanto, do lado de cá, da humanidade, a possibilidade de êxito, de sobrevivência, está diretamente ligada às decisões e ações que políticos e demais autoridades envolvidas irão tomar: comprar ou não EPIs para proteger profissionais da saúde, comprar ou não respiradores, comprar ou não testes, seguir ou não o isolamento social a fim de evitar ou, pelo menos retardar, o colapso dos sistemas de saúde. Todas essas ações são de responsabilidade de agentes racionais, que precisam tomar decisões, fazer escolhas e agir. Comparar a pandemia a um estado de guerra pode impedir que essas decisões e ações sejam devidamente julgadas e responsabilizadas, sob a justificativa de que não estamos em tempos de paz, e que, portanto, as regras de antes não valem mais.

É verdade que não podemos dizer que estamos em tempos de normalidade. Mas este fato, esta realidade que temos experimentado nos isolamentos cotidianos, em home office e demais transformações que enfrentamos nas últimas semanas, não é equivalente a dizer que estamos em guerra. Diferente de uma guerra, não estamos entrincheirados, não temos armas apontadas para nossas cabeças, não temos bombas sendo lançadas pelo outro lado, a colaboração entre países não está interditada, nossos pares não são nossos inimigos. Ao contrário, o fato de toda a humanidade estar sob a mesma ameaça, nos torna todos potenciais aliados, ampliando as possibilidades de colaboração e de um esforço coletivo para vencermos o vírus com conhecimento e com todas as ferramentas que dispomos. No entanto, enquanto predomina a "narrativa da guerra", políticos inescrupulosos como Donald Trump passam a agir como se de fato em guerra estivéssemos, e passam a eleger "inimigos", atacar instituições internacionais, racionar medicamento e materiais de segurança para outros países, escolhendo quem deve viver e quem deve morrer. Por outro lado, a "narrativa da guerra" também pode servir para pesquisadores e cientistas tão inescrupulosos quanto Trump, estimularem uma ruptura com as boas práticas científicas, com o que há de mais seguro em termos de metodologia científica, para defender posições ideológicas, como fez Paolo Zanotto em artigo na Folha de São Paulo na última segunda feira (06/04).

No artigo, intitulado "Numa guerra, não faz sentido aguardar a publicação de avaliações científicas antes de salvar vidas", Zanotto usa explicitamente da "narrativa de guerra" para defender o uso da cloroquina combinada com azitromicina no tratamento da COVID-19, ainda que não tenhamos provas da eficácia de tal combinado. Para isso, o pesquisador pretende estabelecer um paralelo entre a decisão de se usar esses e outros fármacos ainda em fase de testes no tratamento de pacientes do coronavírus e a decisão de médicos em campo de batalha, durante a Segunda Guerra Mundial, de usar água de coco como substituto de soro em soldados feridos. A história contada por Zanotto reforçaria a equivalência entre o momento atual e um contexto de guerra. O argumento do infectologista seria o seguinte: num contexto de guerra a ação moralmente correta seria fazer qualquer coisa para salvar vidas e isso seria incompatível com esperar evidências científicas; estamos numa guerra, logo devemos usar a cloroquina e outras drogas, mesmo sem eficácia comprovada, no tratamento de pacientes com COVID-19. No entanto, ainda que estejamos correndo contra o tempo em busca de tratamentos para os pacientes infectados pelo novo coronavírus, não estamos, de fato, numa guerra, e cientistas do mundo todo estão trabalhando e buscando resultados, a fim de não comprometer ainda mais a saúde das pessoas. Não é uma questão de ser contra ou a favor do uso da cloroquina ou outras drogas, mas de termos um mínimo de responsabilidade com as informações e os protocolos a serem usados. Os estudos a que Zanotto e outros têm recorrido para justificar suas opiniões não atendem a requisitos básicos da metodologia científica, o que coloca em xeque a qualidade de seus resultados.

Independentemente de ser verdade ou não que a água de coco possa ser usada como substitua de soro em situações extremas - há alguns poucos estudos científicos nesse sentido -, o que pesou foi a "história" a respeito dos soldados durante a Segunda Guerra Mundial, contada por Zanotto - que carece de confirmação, pois todas as vezes que é citada, o é de maneira superficial e sem fontes que o comprovem. Tanto é assim que imediatamente o presidente Jair Bolsonaro se pôs a contar essa "história bacana" a fim de seguir sua "guerra" contra o bom senso, contra a ciência, contra os fatos. Agindo dessa maneira, Bolsonaro tenta fugir de suas responsabilidades como chefe do executivo do país. Embora tenha tido tempo, o governo brasileiro não se preparou para enfrentar a crise causada pela COVID-19: não comprou insumos para testes, não comprou testes, não comprou respiradores nem EPIs. Ao alimentar uma suposta "guerra de narrativas" e se apoiar na "narrativa da guerra", Bolsonaro tenta se livrar dos julgamentos e da responsabilização por suas decisões e sua falta de ação enquanto presidente da República.

Se há uma guerra em curso, no caso específico do Brasil, ela se iniciou com a entrada de Jair Bolsonaro no cenário eleitoral de 2018 - para ser mais precisa, iniciou-se com aquela lorota do kit gay, ganhou espaço ao longo dos anos e se intensificou na última eleição - uma guerra que pretende suplantar a realidade com as narrativas fantasiosas de Bolsonaro e seus defensores. O que enfrentamos agora, juntamente com o resto do mundo, é uma pandemia. E para vencê-la, dependemos da boa ciência, de testes, de dados seguros e que sigam rigorosos padrões de cientificidade, de jornalismo sério comprometido com os fatos. E, por último, dependemos de que os enunciados de fato não sejam transformados em opiniões e que a verdade fatual não seja substituída por uma autoverdade.  E no caso da Ciência, precisamos de mais Átila Iamarino e menos Paolo Zanotto e quejandos.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Espaço para terraplanistas e negacionistas na imprensa - sempre é o caso de ouvir o "outro lado"?

Jornais, Leeuwarder Courant, Imprensa, Notícias
imagem retirada do Pixaby
 













 
O conhecimento científico e aquilo que é cientificamente cognoscível diferem da opinião e do opinável.  (Aristóteles: Segundos Analíticos I, 30) 

Faz tempo espalhou-se entre nós - acredito que uma herança do espírito iluminista - e tornou-se senso comum a ideia de que "devemos respeitar as opiniões alheias" e junto com essa máxima outras correlatas que dão notícia de que "todo mundo pode ter uma opinião sobre qualquer coisa". Mas será que é assim mesmo? Será que tudo é passível de uma "opinião"? Será que "qualquer um" pode ter opinião "sobre qualquer coisa"? Será que todas as "opiniões" devem ser respeitadas? E, na esfera pública, devemos dar voz a "toda e qualquer opinião"? 

Para começar a conversa, o que será que entendemos por "opinião" nessas ocorrências cotidianas? No senso comum, as opiniões estão, muitas vezes, associadas a juízos de gosto ou preferências, e costumamos dizer que cada um tem "o direito" de ter a opinião que for: sorvete de chocolate é melhor que de baunilha; o jogador x é melhor que o jogador y; o candidato A é melhor que o candidato B. Mas também associam "opinião" a situações "polêmicas" nas quais é preciso assumir "um lado", pois ou seremos a favor ou contra alguma coisa, por exemplo: A é a favor do aborto, mas eu sou contra, essa é minha opinião! Esses tipos de "opiniões" têm pouco ou nenhum interesse para um debate qualificado, seja na filosofia ou na Ciência, ou no bom jornalismo.

Desde a antiguidade, a opinião (doxa, em grego) foi vista como problemática. E a diferença entre ter opinião a respeito de algo e ter conhecimento sobre esse mesmo algo foi muito bem delimitada desde Sócrates. Mas já na Grécia Antiga, ao falar da doxa, Sócrates, Platão e Aristóteles não estavam interessados em juízos de gosto ou em declarações a favor ou contra alguma coisa. A doxa era um tipo de declaração que pretendia ser verdadeira, que pretendia falar sobre um estado de coisas no mundo, dizer como as coisas são. Para os filósofos, a opinião é a pretensão de dizer algo sobre algo, acompanhada da pretensão de que isso seja verdadeiro. Mas aquele que expressa uma opinião não possuí domínio das causas da relação que ele pretende enunciar. Algumas vezes, aquele enunciado acontece de ser verdadeiro, ainda que quem tem a opinião não saiba por que ela é verdadeira. Como disse Aristóteles, saber a causa, ter conhecimento do por que X é Y,  é o que diferencia quem tem ciência (episteme) de quem tem apenas opinião.

Guardadas as devidas proporções, pois a noção de Ciência da época de Aristóteles passou por muitas modificações ao longo do tempo, ainda segue válida a distinção entre o conhecimento científico e a mera opinião. Mas uma vez que um enunciado é reconhecido pelos pares como sendo um enunciado científico, uma opinião que contraria tal enunciado não pode ser tratada como se tivesse o mesmo peso num debate público. A respeito do mundo, do funcionamento do mundo, dos fenômenos que envolvem os seres vivos, e isso inclui uma doença como a Covid-19, devemos nos guiar pela Ciência e pelos resultados obtidos através de testes e estudos rigorosamente guiados pelo método científico. O cenário atual a respeito da Covid-19 é o seguinte: de um lado, dados empíricos e projeções matemáticas a partir das quais é possível desenhar dois cenários: a) aumento de casos de pessoas infectadas numa quantidade que rapidamente levaria os sistemas de saúde ao colapso (sem isolamento social), b)  a redução do número de casos, seguida do achatamento da curva de contaminação, diminuindo a sobrecarga dos sistemas de saúde (com isolamento social); do outro lado, pessoas que afirmam, sem nenhum tipo de evidência ou estudo sério, que o isolamento social aumentou o número de casos de contaminados, ou que a "epidemia", assim como outras, vai seguir seu ritmo com ou sem isolamento social. Será que podemos tratar essas afirmações como sendo equivalentes, como se tratando de "visões" ou "opiniões" distintas sobre o assunto? 

Ao abrir espaço para que o deputado Osmar Terra pudesse defender "sua visão", a Folha de São Paulo cometeu um erro. Ou melhor, a Folha repetiu um erro que já vem cometendo faz tempo: tratar opinião como equivalente ao conhecimento científico na seção "Tendências/Debates". Há alguns meses, nessa mesma seção, a Folha abriu espaço para um defensor do design inteligente, de um lado, e um cientista, do outro. Para alguém desavisado, soa como se as duas posições fossem equivalentes, e que o design inteligente, uma versão pseudocientífica do criacionismo, devesse ser tomada como um contraponto da teoria da evolução. A própria pergunta/tema para o debate em questão - O design inteligente, tido como vertente do criacionismo, é uma teoria científica válida? - poderia ser chamada de misleading ou enganadora. Pois pode levar algumas pessoas a pensarem que esse é um problema legítimo no contexto da ciência hoje. Ao repensar sobre esse exemplo, me parece que o problema estaria no fato de algum cientista se submeter a estar do outro lado, aceitar o debate. Explico: ao promover esse "debate", entre uma posição de fé e uma posição científica, a Folha rebaixa o conhecimento científico ao status de opinião.

O caso de Osmar Terra é mais complexo. Terra é um político, atualmente um deputado federal pelo MDB. A política, mas não a ciência, depende das opiniões. Assim já dizia Hannah Arendt: "o pensamento político é representativo. Formo uma opinião considerando um dado tema de diferentes pontos de vista, fazendo presentes em minha mente as posições que estão ausentes; isto é, eu os represento". Mas se a política se constrói a partir de opiniões, tais opiniões não podem estar descoladas da realidade, dos fatos. Como político, é esperado que Osmar Terra opere no campo das opiniões. Mas também seria esperado que suas opiniões estivessem ancoradas em fatos. Mas em seu artigo na Folha, embora não possa esconder suas aspirações políticas, Terra pretende dar "ares" científicos para sua "opinião". Mas Terra falha em sua empreitada, pois a Ciência, ainda mais do que a política, está ancorada nos fatos. Osmar Terra não tem ao seu lado nem a verdade fatual, nem a verdade racional, própria da Ciência e da Filosofia, para seguir acompanhando Arendt.

Osmar Terra faz afirmações que não correspondem à realidade - houve aumento de contaminação com o isolamento social. Portanto, falta-lhe a verdade fatual e, por pretender dizer o que é, declarando o que não é, podemos afirmar que o deputado mente. Para sustentar sua opinião de que deveríamos acabar com o isolamento social, Terra distorce os resultados de um estudo científico. Ainda que o estudo citado em seu texto tenha conclusões distintas do estudo científico ao qual Terra pretende se opor, os próprios estudiosos não apresentam tais resultados como conclusivos, afirmam que ainda precisam fazer testes e, portanto, não se juntariam ao deputado pedindo o fim do isolamento, como de fato não fizeram no país de origem do estudo, a Inglaterra. Falta verdade racional, pois não há de fato um estudo científico capaz de embasar suas afirmações, e novamente o deputado mente. A mentira e a política, como também já observou Hannah Arendt, têm uma longa história juntas. E por último, mas não menos importante, Arendt nos lembra que "a autêntica qualidade de uma opinião, como de um julgamento, depende de sua imparcialidade". Imparcialidade que não existe no texto de Osmar Terra, que faz questão de manifestar seu total apoio ao presidente Bolsonaro e sua defesa do fim do isolamento social neste contexto de pandemia.

Infelizmente a mentira tem sido tolerada e nos últimos tempos até se transformado em arma e estratégia na política. Hannah Arendt também nos alertou para o importante papel da imprensa como uma das guardiãs da verdade fatual, chamando nossa atenção para os perigos aos quais a impressa estaria sujeita, tanto de sofrer pressão social quanto governamental. Se a imprensa precisa se manter vigilante para não sucumbir às pressões governamentais, também precisa se manter alerta para não ceder às pressões sociais que pretendem reduzir o conhecimento científico a mera questão de opinião. A pressão social nestes tempos estranhos em que vivemos muitas vezes se manifesta numa confusa exigência de se ouvir, sempre, os dois lados. Mas tem horas que "o outro lado" não existe, é só negacionismo ou pseudociência mesmo.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Má-fé e covardia

Bolsonaro e seus defensores fogem de suas responsabilidades e exploram a miséria e o medo da população mais vulnerável (#PagaLogoBolsonaro) 

O deputado Osmar Terra tem se esmerado nos últimos dias nas redes sociais em atacar a estratégia do distanciamento físico no combate à pandemia do Covid-19 - como deve saber Terra, pois tem usado de sua autoridade de médico para se pronunciar contra o isolamento – trata-se de uma pandemia e não epidemia, como ele escreveu no seu texto. Infelizmente, depois de passar o final de semana propagando fake news e distorcendo dados da doença pelas redes sociais, Osmar Terra ganhou espaço na Folha de São Paulo para ampliar o seu desserviço (Medo e Coragem, 06 de março de 2020).

Ao contrário do que afirma Terra, o estudo do Imperial College, divulgado no dia 16 de março, não inspirou a estratégia de isolamento, mas fez projeções a partir de dados de países que já estavam adotando essa prática, comparando-os com dados de países que não haviam adotado tal prática. Vale lembrar que o isolamento ou distanciamento social foi adotado pela China, onde o surto do Covid-19 teve origem, já em janeiro de 2020. Nesse sentido, os estudos do Imperial College estão sendo usados como evidências da eficácia do isolamento no controle do espalhamento do vírus por autoridades sanitárias de diversos países, inclusive os EUA, que foram inicialmente resistentes à estratégia. 

É verdade que há posições divergentes do Imperial College. Os estudos da epidemiologista da Universidade de Oxford, Sunetra Gupta, partem de pressupostos distintos do estudo do Imperial College e apontam para a possibilidade de que o Reino Unido tenha muito mais pessoas contaminadas do que o estudo prévio considerou. No entanto, conforme foi noticiado na própria Folha de São Paulo (Coronavírus pode ter infectado metade da população britânica, diz estudo de Oxford, de 24 de março de 2020), “ela reluta em criticar o governo por decretar uma quarentena nacional a fim de conter a difusão do vírus, porque a precisão do modelo de Oxford ainda não foi confirmada e, mesmo que ele esteja correto, o distanciamento social reduzirá o número de pessoas que adoecerão seriamente e aliviará a pressão severa sobre o Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês), durante o pico da epidemia.” Ainda segundo a matéria da Folha, “se as constatações forem confirmadas pelos testes, as restrições em vigor poderão ser canceladas muito mais cedo do que os ministros indicaram.” Ou seja, diferentemente do que Osmar Terra pretende, os estudos de Sunetra não são conclusivos e não podem ser utilizados para defender o fim imediato do isolamento como quer o deputado. 

O argumento de Terra em favor do contágio de assintomáticos para imunizar a população é no mínimo irresponsável quando pensamos na realidade brasileira e nas limitações dos sistemas de saúde para atender os casos graves que necessitam de internação e de ventiladores mecânicos. Além disso, as peculiaridades demográficas e também sociais do Brasil – existência de favelas e extensas áreas de aglomeração de pessoas em condições sanitárias precárias - devem ser levadas em consideração. Coisa que o deputado é incapaz de fazer. Apelar para o fato de que “isso ocorre com todas as epidemias” é novamente má-fé e irresponsabilidade, uma vez que o Covid-19 possui características específicas que impedem sua comparação com outras epidemias, conforme tem alertado especialistas como o biólogo Atila Iamarino

As afirmações de Terra de que “a quarentena aumentou o número de casos” e que “não houve achatamento da curva epidêmica” carecem de provas. Infelizmente ele não traz respaldo para suas afirmações. Nas redes sociais, o deputado fez uso de gráficos que estavam em diferentes escalas, distorcendo, portanto, as informações, para "corroborar" suas afirmações, no que foi amplamente questionado por usuários das redes. Ao falar de países que não adotaram o distanciamento social e citar Coreia do Sul, Japão, Israel e Suécia, o senhor Osmar Terra ou está mal informado ou mais uma vez age de má-fé. A testagem massiva da população não é ação complementar, como sugere o deputado, antes é o que permitiu, em especial a Coreia do Sul, adotar isolamento parcial. No caso da Suécia, ontem à noite, tivemos notícia de que o país havia mudado de estratégia e passará a adotar o isolamento. Quanto a Israel, portais de notícias anunciavam há duas semanas que o país estava restringindo a circulação de pessoas para combater o novo coronavírus. A situação do Japão pode ser explicada por hábitos culturais que, por si só, promovem um certo tipo de distanciamento social. Embora não tenha declarado isolamento, o país proibiu eventos com aglomerações e fechou escolas e aconselhou que as pessoas se abstivessem de sair de casa voluntariamente. No entanto, hoje temos notícia de que o país pode declarar estado de emergência em 7 cidades, e que passará a orientar seus cidadãos para que permaneçam em casa.

A partir de um certo momento do texto fica clara a intenção de Osmar Terra, política e não científica, de atacar gestores públicos com os quais ele não concorda. E mais abaixo, quando claramente se posiciona em defesa do presidente Jair Bolsonaro, que não apresenta nenhum respaldo científico para defender o fim do isolamento, alegando apenas que isso irá quebrar o país. Caso o deputado estivesse de fato preocupado com a miséria de milhares de pessoas como ele insinua estar, deveria estar cobrando o presidente Bolsonaro para que agilizasse o pagamento da renda básica emergencial aprovada pelo Congresso a milhares de brasileiros que dependem desse auxílio para poderem se proteger nesse momento. O mesmo vale para os pequenos e microempresários com os quais Terra diz estar preocupado: que cobre do governo medidas que os proteja, e não somente ações em prol de grandes empresários. 

Osmar Terra dá provas de má-fé e covardia ao elogiar a suposta coragem do presidente em contrariar o seu atual ministro da saúde e demais autoridades sanitárias e promover, isso sim, terrorismo com parcela da população que hoje é refém do presidente e do seu governo, pois quanto mais atrasam a liberação da renda básica emergencial, mais forçam essa população a voltar ao trabalho e às ruas em busca de sobrevivência. Pânico é o que estão fazendo Bolsonaro e Osmar Terra divulgando vídeos que exploram a miséria das pessoas, matérias jornalísticas que evidenciam os impactos sofridos por essa população vulnerável e desassistida, enquanto fingem que não têm responsabilidade sobre esse cenário.

domingo, 5 de abril de 2020

Carta ao Presidente

13/03/2020 - O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), é visto caminhando pelos corredores no Palácio da Alvorada, em Brasília (DF) - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), é visto caminhando pelos corredores no Palácio da Alvorada, em Brasília (DF) Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Bolsonaro, como o senhor não faz questão dos ritos do cargo que ocupa, também não farei. Eu não votei no senhor, e gostaria de dizer que jamais votaria no senhor nem para síndico do meu condomínio. Mas graças à decisão de uma parte dos meus concidadãos, o senhor é hoje o presidente do nosso país. Para mim é muito difícil aceitar isso. Todo dia, pela manhã, quando vejo alguma notícia na qual sou lembrada disso, sinto que estou num pesadelo e torço para acordar. Mas infelizmente vivemos num pesadelo, essa é a nossa realidade: temos um boçal, fã de torturador, misógino, racista, machista, defensor de miliciano, negacionista da ciência e delinquente genocida sentado na cadeira da presidência da república. 

Quando o senhor começou a ser conhecido pelo país aparecendo semanalmente no extinto programa CQC, eu cheguei a escrever um texto sobre o senhor: Intolerância, preconceitos e extremismos, foi lá em 2011. Quanto tempo! E quem diria que aquele deputado tosco do baixo clero viraria presidente da república. Lá em 2011, era impossível fazer essa previsão. Apesar de continuar concordando com boa parte dos meus argumentos naquele texto, reconheço hoje que fui ingênua ao achar que sua fala poderia servir de alerta, para que não nos esquecêssemos de que havia muitas pessoas que pensavam como o senhor. Eu achava, na época, que os seus eleitores fiéis nunca somariam número suficiente para elegê-lo em outro cargo. Na época, nem mesmo cogitava que pudesse ser eleito senador. Errei feio. Errei também ao pensar, naquele momento, que o que o senhor dizia eram opiniões e não causariam maiores problemas. Não eram opiniões, eram apenas ofensas e atentados, eram demonstrações de intolerância e ignorância e deveriam ter sido combatidas com seriedade. Infelizmente, quanto mais o senhor aparecia vomitando toda sorte de preconceito e ignorância, mais pessoas se empolgavam e se sentiam autorizadas a serem tão escrotas quanto o senhor, ofendendo e cometendo crimes. Sim, o senhor desde então tem promovido crimes. Com aquela conversa de combater o "politicamente correto" o senhor virou o porta-voz das maiores atrocidades já proferidas nesse país.

Mas infelizmente, tantas coisas aconteceram desde 2011, o Brasil enfrentou tantos descaminhos e as circunstâncias contextuais acabaram tornando possível a sua eleição. A sua principal arma política desde aquele tempo é a mentira. Não, a mentira não é novidade na política. Hannah Arendt, uma filósofa alemã de origem judia, que eu duvido que o senhor conheça, escreveu em 1955 que "jamais alguém pôs em dúvida que verdade e política não se dão muito bem uma com a outra". Foi também Arendt quem nos alertou para o perigo de se transformar a mentira em uma arma política. E isso passa por uma confusão intencional entre "opinião" e "fato". Sim, exatamente o que o senhor, seus filhos e seguidores vêm fazendo desde sempre. A política, como dizia Arendt, se faz a partir das opiniões - e quanto mais opiniões melhor! - mas essas opiniões precisam ter respaldo nos fatos. Os fatos estão além de acordo e consentimento - essa característica faz com que os que estão insatisfeitos com os fatos se sintam muito contrariados, porque não podem mudá-los! E é aí que entra a mentira, uma tentativa de "mudar" os fatos, de dizer algo diferente do que é. Mas essa briga com os fatos pode até ter algumas vitórias, no entanto, quando os fatos batem na porta, é muito difícil escapar deles. Não há mentira que dure para sempre!

Mas deixemos de Hannah Arendt - além de filósofa, uma mulher. Que perda de tempo a minha, está claro que o senhor é incapaz de compreendê-la. Falemos dos fatos. Nesse exato momento, quatro de abril de 2020, o Brasil tem, segundo os dados oficiais do Ministério da Saúde, 10.278 casos confirmados de pessoas contaminadas pelo Covid-19 e 432 brasileiros mortos por essa doença. O cenário não é nada animador. Mas não vamos falar do futuro, falemos do presente e do passado - de fatos. Até outro dia, o senhor estava dizendo que a pandemia anunciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) não passava de uma "gripezinha" ou de um "resfriadinho". O senhor ainda hoje está insistindo em dizer que o isolamento físico, comprovadamente a melhor estratégia para diminuir a expansão do vírus e evitar o colapso dos sistemas de saúde, público e privado, é desnecessário. O senhor insiste ainda hoje em incentivar as pessoas a saírem de casa e irem para as ruas. O senhor, como chefe do executivo, se exime da sua responsabilidade de garantir cuidados e auxílios que permitam aos cidadãos mais vulneráveis permanecerem em casa e faz terrorismo com essa parcela da população, dizendo que eles irão morrer de fome.

Agora que escrevo esse texto, estou na minha casa, tomando uma cerveja, ouvindo boa música e tentando sobreviver à pandemia e ao pandemônio que o senhor tem criado neste país. Quer outro fato? Na última semana, o senhor usou de um programa de rádio para atacar publicamente o seu ministro da saúde. Alguém que o senhor colocou lá, para ser ministro. Um médico político - ou seria um político que também acontece de ser médico? - mas que o senhor acha que lhe falta humildade porque ele quer impor a 'vontade' dele nas orientações para o ministério e não escuta o senhor. Bom, acredito que o correto seria dizer que o Henrique Mandetta não está dando espaço para o seu voluntarismo, presidente, e prefere honrar o que resta da credibilidade médica que ele tem - sim, porque ao permanecer no governo e tentar agradar o senhor depois de tudo que o senhor disse e fez, ele já colocou em xeque uma parte considerável da credibilidade profissional dele. Manter o isolamento horizontal não é voluntarismo de Mandetta, é prática em linha com recomendações de cientistas do mundo todo. Voluntarismo é o seu, contra evidências de qualquer tipo, querendo acabar com o isolamento. E tudo isso são fatos.

Que o senhor é tosco e limitado intelectualmente, todos nós já havíamos sido devidamente informados, inclusive pelo senhor, que incansavelmente disse que não sabia nada sobre economia, nada sobre saúde, nada sobre nada e que por isso teria ministros técnicos. O que pode surpreender algumas pessoas - não a mim, que fique claro - é o senhor se negar a seguir o que seu ministro da saúde, de maneira muito técnica, propõe no combate ao covid-19. Por que eu não me surpreendo? Porque nunca alimentei nenhuma ilusão acerca da possibilidade de se colocar limite a sua burrice. Sabe por quê? O senhor é daquele tipo de ignorante que se orgulha da sua ignorância. E esse orgulho lhe tira qualquer chance de ter uma atitude sensata. O senhor quando diz não saber, não o faz dentro de um espírito socrático, não o faz com a intenção de buscar conhecer aquilo que desconhece. O senhor diz que não sabe com orgulho. Ostenta sua ignorância e sua burrice e é incapaz de perceber a tragédia dessa condição. Tragédia que hoje assola o país, conduzido ao caos pela sua burrice.

Não posso falar do futuro. Não sou adivinha, não cultivo esse tipo de "crença" como o seu guru astrólogo. Talvez ele tenha algo a dizer sobre o seu futuro. Eu só posso dizer sobre o presente. O senhor é o pior presidente que esse pobre país já teve - e olha que a disputa é acirrada - porque infelizmente já tivemos péssimos presidentes. Mas o senhor ganha. O senhor é nesse momento ridicularizado pelo mundo todo e ganhou o título de "líder dos negacionistas do Covid-19", segue com distância na liderança, aproximando-se de figuras lamentáveis como o ditador do Turcomenistão e o da Bielorrússia. O senhor é chamado de BolsoNero e suas declarações deixam correspondentes internacionais em choque. O senhor junto com o chanceler, o pior que este país já teve, conseguem deixar o mundo escandalizado com o buraco em que o Brasil caiu. Sim, buraco - hole - até seu filho sabe que é assim...

Como sairemos dessa, eu não sei. Mas eu espero que meus concidadãos, pelo menos parte deles, que votaram no senhor, entendam que o senhor é isso mesmo, um homem medíocre, covarde - que fugiu dos debates - conspiracionista, que vive com medo de golpes e fantasmas. O senhor é uma figura triste. Tão triste, que às vezes sinto pena do senhor. Não tem amigos, não confia em ninguém, é paranoico, e nesse momento deve estar se sentindo tão sozinho... Deve ser por isso que o senhor insiste em sair, em ir até os poucos "apoiadores" que ainda lhe dão ouvidos. O senhor tem medo de ficar sozinho. Mas não se preocupe, o senhor já está só.

Presidente, eu ficaria muito feliz com o seu impeachment -  e não faltam crimes para isso. Mas acho que seria muito traumático para o país neste momento e para o senhor também. Então, eu me contentaria com um "calabolso": isso mesmo, que o senhor se calasse e voltasse para os porões de onde não deveria ter saído, ou fugisse - como fez nos debates eleitorais -, inventasse qualquer motivo e fosse embora. Seria tão bom para todos. Vá para os EUA, vá se refugiar ao lado do seu guru, lá na Virgínia. Vá caçar ursos com ele. Seria um sinal de grandeza jamais dado por alguém da sua tão pequena estatura moral e intelectual. Quem sabe assim a História ainda lhe reservasse um lugar menos insignificante. Ficaria conhecido como o presidente que se retirou e livrou o país de um mal maior.

Vá em paz, presidente. É tudo que lhe desejo.

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