Uma notícia na Folha
de São Paulo ajuda a entender o cenário: Desde 2018, quase 1/3 do Brasil
tem dificuldade de entender um texto simples ou de fazer contas, diz a
chamada na página principal do diário. Segundo estudo coordenado pela Ação
Educativa, o Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional), que entrevistou 2.544
pessoas em todas as regiões do país, o Brasil estagnou na redução do analfabetismo funcional e a condição atinge 29% da
população de 15 a 64 anos. Ainda segundo o estudo, a maioria dos analfabetos
funcionais seriam pessoas mais velhas, 65% deles têm entre 40 e 64 anos. No
entanto, há ainda uma proporção significativa entre os jovens de 15 e 29 anos e
com os que têm entre 30 e 39 anos, ambos com 17%.
E a questão me parece mais grave: 17% da população que concluiu o ensino
médio ainda está no nível do analfabetismo funcional; e 12% dos
que concluíram o ensino superior, ainda estão nessa condição. Esses números nos
levam mais uma vez a encarar o sério problema que é a qualidade da educação em
nosso país. E com o agravante da ampliação do acesso da população à internet:
quanto menos alfabetizado, maior os riscos de cair em golpes, em ser enganado
por desinformação.
Além do prazer que pode nos proporcionar, da possibilidade de nos humanizar
através das páginas de bons livros de literatura, de ampliar nossa visão de
mundo, a leitura é também uma questão de necessidade. Alguém que não é capaz de
compreender um texto simples, uma notícia, um manual, não poderá exercer sua
cidadania plenamente. Terá sua liberdade cerceada.
Mas sempre que o assunto é o hábito de leitura da população, nos vemos
em debates pouco frutíferos. Fala-se da falta de uma cultura leitora,
dos altos preços dos livros, da falta de tempo da maioria dass pessoas, tão
atribuladas e esgotadas por jornadas de trabalho massacrantes (Pelo fim da escala
6x1 já!), do impacto das redes sociais... Tudo isso são pontos importantes e
que merecem ser discutidos seriamente. Mas a grande questão é como formar
leitores? Como estimular as crianças a iniciarem sua jornada de leitores? Como
não perder esses leitores quando se tornarem adolescentes, jovens?
Imagem retirada do Pixabay.com
E parece que estamos num ciclo vicioso: penso que a formação dos pequenos leitores depende de exemplo. Portanto, de adultos leitores que possam partilhar esse hábito – melhor seria, essa paixão – com os pequenos. Se isso é difícil em casa, a escola deveria cumprir essa função. Mas quantos professores leem por prazer, por amor? Quantos têm tempo para se dedicar a leitura que não sejam aquelas obrigatórias – documentos, relatórios, e-mails, etc?
Entender que isso
também impacta na qualidade da educação e no êxito ou fracasso das nossas
práticas de alfabetização pode ser um caminho para fazermos algo diferente. Políticas
públicas que contemplem a formação e o cultivo de professores leitores e que estimulem
as famílias e a sociedade, de maneira geral, a reconhecerem a leitura – principalmente a leitura literária –
como uma necessidade e um direito de todos os seres humanos, podem nos ajudar a
mudar os números tristes do estudo noticiado hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário