nunca foi contra a corrupção,
era e é muito ódio regado a desinformação.
nunca foi para acabar com privilégios,
pra combater o crime ou bandidos,
era para garantir privilégios, espalhar o crime e botar bandidos no poder!
não era para combater doutrinação (?)
era para doutrinar livremente:
aluno tem que bater continência, usar uniforme, cantar hino e gritar palavras de ordem
(mas o progresso é coisa do passado...)
bom mesmo é jovem disciplinado, que sabe obedecer!
nunca foi para criar empregos, combater a pobreza, reduzir desigualdades
(mas sejamos justos, eles nunca prometeram isso! )
direitos trabalhistas, aposentadoria, descanso remunerado?
são coisas do passado,
a onda agora é ser escravizado...
ou melhor, eles prometeram que todo mundo ia virar patrão...
nunca foi contra o comunismo (esse fantasma que ronda o Brasil desde 64...)
mas era a semente do fascismo
e ainda é...
democracia em extinção
(junto com as florestas, os índios e todo tipo de preservação)
é o governo do "quem manda sou eu"
pobre povo,
pobre Brasil
nunca foi,
mas acreditávamos que seríamos no futuro
e o futuro agora chega velho, mofado, carcomido,
com gosto de sangue, de morte, de ignorância, de ódio e de ressentimento.
segunda-feira, 19 de agosto de 2019
sexta-feira, 2 de agosto de 2019
Atualizar, editar, deletar e a emergência de sujeitos-perfis
De todas as redes sociais, hoje tão difundidas
entre nós, o Facebook, lançado em fevereiro de 2004, talvez seja a mais
utilizada pela maioria das pessoas. E dentre as muitas ferramentas da rede
social, atualizar e editar os conteúdos postados fazem parte das
primeiras lições do novo usuário. Quanto mais se atualiza seu perfil, com
fotos, localização, o que está pensando, o que está comendo e assim por diante,
mais chances de atrair a atenção dos demais usuários da rede e, quem sabe,
ganhar curtidas e likes. E se alguma postagem causar algum
mal-entendido ou não tiver sucesso, é possível editar o que foi publicado, ou
mesmo deletar a postagem. A lógica da rede social é que a última
informação postada, a última atualização feita no perfil, é o que importa. É a
lógica do 'agora', do 'último minuto'. Há duas horas eu estava triste, ou com
fome, ou em casa, ou saindo do trabalho. Mas o que importa é que a 'realidade'
agora já é outra, porque nesse minuto eu estou feliz, estou
comendo, estou na balada ou indo para a balada. O que eu fazia ou como
me sentia ou o que estava pensando há duas horas já não tem nenhuma relevância,
já perdeu sua realidade e, portanto, perdeu sua verdade. A única verdade
que importa é a do momento atual. Cada vez que atualizo meu perfil, digo
ao mundo a verdade que está valendo agora.
Há, no senso comum, uma sobreposição entre os conceitos de verdade e realidade. Ou ainda, na medida em que a realidade é entendida como o conjunto dos fatos, do que acontece, há uma sobreposição entre as noções de fato e de verdade. Nesse sentido, para o senso comum, o que está acontecendo agora é verdadeiro. Se eu estou agora no shopping e posto uma foto no meu perfil, essa imagem, acompanhada ou não de uma legenda, é entendida como a minha realidade e como a verdade sobre onde estou nesse momento. Nessa perspectiva, a sequência de fotos ou publicações, textos e ideias que formam a timeline de alguém numa rede social seria a própria expressão da realidade e da verdade sobre aquela pessoa. Como eu não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo, na minha timeline são registradas uma série de sucessões de lugares pelos quais eu passo ao longo dia, da semana, do mês. E, quando eu atualizo meu perfil e escrevo que 'estou em casa' ou 'no trabalho', isso é a verdade naquele momento em que atualizo o perfil. O que não se percebe, é que o predicado verdade está sendo atribuído a uma declaração, ao que se diz sobre o que acontece e não diretamente ao que acontece. A foto, ou a legenda da foto, são declarações sobre algo que acontece e são essas declarações que podem ser ditas verdadeiras, ou falsas. Como nos ensina Aristóteles, verdade e falsidade são atributos das sentenças, mais especificamente das sentenças declarativas que pretendem dizer alguma coisa de alguma coisa, afirmando ou negando – Eu estou no shopping ou Eu não estou no shopping. Enquanto os fatos são, aquilo que dizemos sobre os fatos pode ser verdadeiro ou falso. Se essa distinção entre fatos e o que dizemos sobre os fatos sempre passou despercebida para a maioria das pessoas, a emergência das redes sociais e seus mecanismos de postagens de fotos e mensagens instantâneas parece ter colapsado ainda mais essas duas noções – fato e verdade. De modo que, cada uma das atualizações feitas reflete, naquele momento imediato, uma verdade que será substituída por outra, quando novamente for atualizado. Enquanto estamos falando de estar com fome ou não, estar no shopping ou não, no trabalho ou em casa, triste ou feliz, não temos tantos problemas. No entanto, se eu escrevo no meu perfil: "mulheres são inferiores a homens" e duas horas depois eu atualizo meu perfil com a mensagem: "homens e mulheres são iguais", isso deveria causar estranheza e seria legítimo que perguntassem qual das duas publicações reflete o que eu realmente penso sobre homens e mulheres.
É claro que nós podemos mudar de ideias e opiniões sobre um mesmo assunto. No entanto, as opiniões não costumam ser como as roupas que usamos. As opiniões não são como os lugares pelos quais passamos ao longo do dia. Não há nenhuma contradição em estar em casa às 7:00h e às 8:30h estar no trabalho; em estar com fome 11:00h e estar almoçando 12:00h. Ninguém irá se espantar ou indagar por que eu mudei de lugar entre 7:00h e 8:30h. Mas se hoje eu digo que "o aborto é crime" e amanhã coloco no meu perfil "descriminalização do aborto já", seria legítimo que alguém me perguntasse o que aconteceu para que eu tenha mudado de opinião ou que alguém me perguntasse em qual das duas publicações eu estaria 'falando a verdade'. E aqui parece estarmos diante de mais uma confusão agora entre fato e opinião. Ou mais precisamente, entre enunciados de fatos e enunciados de opinião. Os enunciados de fatos, aqueles que se propõem a falar sobre o que acontece, serão verdadeiros ou falsos, na medida em que aquilo que enunciam encontram correspondência no mundo, nos fatos. Os enunciados de opinião, por sua vez, não seguem esse mesmo critério. Se pretendo enunciar um fato, aquilo que digo pode ser verdadeiro ou falso, mas se pretendo emitir opinião sobre um fato, pode ser que existam muitas opiniões sobre um único fato. Ao colapsar essas duas noções, tratá-las como se fossem a mesma coisa, já não temos critérios para dizer o que é verdadeiro ou falso. De repente tudo vira questão de opinião, inclusive os enunciados de fato, e podemos dizer qualquer coisa, sem nenhuma preocupação com os fatos. E ao mesmo tempo, as opiniões passam a ser expressas na mesma lógica dos acontecimentos, e vale sempre a última versão, aquilo que foi imediatamente dito.
Os hábitos que desenvolvemos com o uso rotineiro das redes sociais nos últimos dez, quinze anos parecem ter criado em nós uma predisposição para encarar as mudanças de opiniões ou pelo menos a expressão dessas opiniões sob a mesma perspectivas das fotos e demais atualizações e edições feitas em nossas timelines. A verdade, desse modo, estaria sempre na atualização mais recente. E não nos importamos se a opinião expressa no último minuto contradiz o que havia sido publicado na manhã do dia anterior. E caso alguém se incomode muito com isso, sempre há a opção de deletar a publicação anterior. E vale a máxima: se não está na timeline, não é verdade. Mas seria possível dizer que a internet, e em particular, as redes sociais e seus mecanismos de atualizar, editar e deletar teriam influenciado os usuários também fora das redes, no mundo offline? A historiadora Lynn Hunt, no livro A invenção dos direitos humanos: uma história, defende a tese de que a leitura dos romances epistolares do século XVIII teria tido efeitos psicológicos nos leitores de tal modo a ter contribuído com o surgimento dos direitos humanos. A identificação que o leitor muitas vezes criava com as personagens daqueles romances, faria com que ele se tornasse simultaneamente a personagem, de modo que a leitura introduziria um conjunto novo de experiências no leitor, provocando efeitos sobre seus corpos e suas mentes. Segundo Hunt, “os leitores que sentiam empatia pelas heroínas aprendiam que todas as pessoas – até as mulheres – aspiravam a uma maior autonomia, e experimentavam imaginativamente o esforço psicológico que a luta acarretava” e a autora conclui “aprender a sentir empatia abriu o caminho para os direitos humanos” (HUNT, p.60). Em outra passagem, Hunt afirma que “os direitos humanos só puderam florescer quando as pessoas aprenderam a pensar nos outros como seus iguais, como seus semelhantes em algum modo fundamental. Aprenderam essa igualdade, ao menos em partes, experimentando a identificação com personagens comuns que pareciam dramaticamente presentes e familiares, mesmo que em última análise fictícios” (HUNT, p.58) Se por um momento tomarmos as redes sociais como um gênero textual novo e considerarmos a influência que esse gênero tem tido no cotidiano de milhares de pessoas, poderíamos aceitar que os mecanismos próprios das redes sociais, o atualizar, editar e deletar, aos quais os usuários estão familiarizados, teriam causado efeitos psicológicos tais que estaríamos mais propensos a aceitar as contradições nos enunciados de opinião e a apagar totalmente os limites que distinguem enunciados de fato de enunciados de opinião.
Donald Trump e Jair Bolsonaro seriam dois exemplos de políticos que incorporaram o modus operandi das redes sociais e que agem como se fossem perfis ambulantes ou, mais apropriadamente, sujeitos-perfis. O que eles dizem, afirmam ou anunciam, tem uma validade efêmera, instantânea, dura enquanto a atualização se faz atual. A depender das reações (curtidas, likes, aprovações ou reprovações), imediatamente eles editam ou atualizam novamente seus status. Desse modo, o que vale, o real, o verdadeiro, é aquilo que foi dito por último. Nessa lógica, não há espaço para contradição, erro ou qualquer ideia semelhante. O sujeito-perfil está sempre falando a verdade porque a verdade torna-se aquilo que foi dito por último e não guarda nenhuma relação com o que foi dito antes. As opiniões, ao invés de terem uma existência que se prolonga no tempo, passam a ter o mesmo caráter transitório e passageiro dos acontecimentos que se sucedem ao longo do dia. O que importa é sempre o agora: agora estou em casa, agora estou no trabalho, agora estou no trânsito, agora estou almoçando, agora estou voltando para casa. A verdade de cada uma dessas atualizações depende da duração efêmera do agora que as acompanha. O mesmo passa a valer para as opiniões expressas pelos sujeitos-perfis: agora sou contra a reforma da previdência, agora sou a favor da reforma da previdência. Como os agoras são distintos, o que importa é o que digo no agora imediatamente atual. Ao mesmo tempo, os enunciados de fato perdem qualquer critério de verificação, surgindo até mesmo espaço para fatos alternativos. Ou para a contestação de estudos sérios feitos por órgãos oficiais como IBGE e INPE. Ou para a negação de fatos históricos, devidamente registrados e comprovados. Além disso, ao se comportar como sujeito-perfil, Bolsonaro pode ser e não ser o presidente, ou como diz Eliane Brum, agir como um antipresidente. Para Brum, antipresidente é um conceito, que permite “Bolsonaro agir como se estivesse fora e dentro ao mesmo tempo, fosse governo e opositor do governo simultaneamente”.
A aparição e o sucesso de sujeitos-perfis como Trump e Bolsonaro é um fenômeno muito complexo e que não se esgota nessa única perspectiva. Mas me parece que compreender os efeitos que as ações de atualizar e editar das redes sociais estão tendo sobre as nossas faculdades cognitivas, sobre a forma como estamos interagindo com o mundo, é uma das chaves para compreender o sucesso do fenômeno sujeito-perfil na política do século XXI.
___________________
Agradeço ao colega e amigo, o historiador Felipe Vieira,
pela leitura atenta e pelas sugestões preciosas que foram incorporadas ao
texto.
Texto publicado originalmente no Diário do Engenho
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