quinta-feira, 19 de março de 2020

O que será que nos espera logo ali na frente?

O que será que nos espera logo ali na frente?
Agora, nesse instante passageiro, somos incerteza,
medo e um pouco de solidão?

O que será que nos espera logo ali na frente?
Haverá futuro para nós?
Para todos?

Agora, nesse instante breve e frágil, somos incerteza,
medo e um pouco de solidão. Ou seria silêncio apenas?
Alguns de nós, privilegiados, estamos em nossas casas,
reclusos, assustados, é verdade, mas protegidos.
Mas e os outros? Os tantos outros que não podem parar?
Haverá futuro para eles?
Para todos eles?

Havia futuro para eles antes disso tudo começar?
E se o problema não for a pandemia, o coronavírus?
E se o problema for a desigualdade brutal com a qual nos acostumamos diariamente?
E se o problema formos nós?
Nosso egoísmo, nossa indiferença, nossos ressentimentos, nossa arrogância, 


O que será que nos espera logo ali na frente?
As redes que já nos distanciaram
serão capazes de nos fazer comunidade e trazer união?
As redes pelas quais tantas mentiras e ódio foram disseminadas
poderão agora nos informar e trazer conforto, um pouco de afeto?

O que será que nos espera logo ali na frente?
Estou em casa, faz-se silêncio,
mas ao mesmo tempo tem tanto ruído, tanta linha cruzada,
pessoas falando sozinhas numa imensidão virtual.

Meu coração palpita, as mãos transpiram,
os olhos turvam.
Tenho medo! Ou será que é o medo que me tem?
Vontade de desligar tudo,
de sair caminhando, de encontrar pessoas,
de dançar, não sei!
Está tudo confuso...

O que será que nos espera logo ali na frente?
As mortes já se fazem anunciar.
As projeções, os gráficos, os números,
tudo tão desolador!
Enquanto isso nossas otoridades usam máscaras
e brincam de war num tabuleiro nada virtual.
Entre mentiras, inconsequências e bravatas, 
haverá futuro para nós?


Agora, entre o passado e futuro, nesse intervalo
virtual e potente,
nossa única certeza é que somos. E ser agora
tem uma leveza insustentável.

O que será que nos espera logo ali na frente?

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