Em tão pouco tempo, nem bem nos recuperamos do atentado em São Paulo, e aconteceu de novo: o horror estampado na primeira página do jornal. Outro atentado, mais mortes. Desta vez o local do massacre é uma creche e pré-escola. Quatro crianças mortas.
Diante do horror, somos tomados por perplexidade e desalento. Um homem de 25 anos. Em sofrimento psíquico? Vítima de violência no passado? Por que crianças? Até quando cenas como essa irão se repetir?
Mas, talvez, neste momento, outro tipo de reflexão se faça necessária. Qual o papel da imprensa e das mídias, de modo geral, na proliferação desses atos chocantes? Fatos como esse são, evidentemente, materiais a serem noticiados. Mas como noticiar o horror sem que isso se torne estímulo para novos episódios?
O efeito epidemia associado a casos de suicídio e atentados está bem documentado em nossa sociedade. Mas parece que a imprensa, principalmente em tempos de redes sociais, não é capaz de escapar da armadilha da espetacularização do horror. Na cobertura do ataque ocorrido na semana passada, vídeos e fotos foram estampados nos perfis de jornais como a Folha de São Paulo. Será que era necessário? É essencial ao dever de reportar o fato ocorrido dar detalhes das ações e descrever armas utilizadas? Mostrar imagens do assassino? Reproduzir o horror em imagens não é alimentá-lo?
Infelizmente, parece que vamos precisar aprender a lidar com esse tipo de situação. A adoração aos EUA, principalmente no que esse país tem de pior - individualismo, consumismo, acesso fácil a armas e que se traduz numa cultura de violência espetacularizada nas escolas - aos poucos se materializa nessas ocorrências que nos roubam o ar, nos tiram o chão e nos fazem ter muito medo do futuro.
É urgente a necessidade de transformar as escolas em espaços seguros e amorosos, as relações entre adultos e jovens em relações de confiança e empatia e de estimular entre os jovens relações de amizade, baseadas no respeito, na escuta, na tolerância e no diálogo. Mas ainda mais urgente é coibir a disseminação de vídeos, fotos e relatos desse tipo de atentado na internet, seja na superfície, nas redes sociais, ou nas profundezas, em chans e afins. A imprensa, por sua vez, precisa adotar uma cobertura responsável, que esteja mais preocupada com sua função primordial do que em caçar cliques.