domingo, 9 de dezembro de 2007

Último dia

Ainda estava trêmula! Não podia acreditar no que acabara de ouvir e ver. Não fazia sentido. Olhava para todos os cantos da sala, estava tudo como sempre. Não estava dormindo, não havia chances de tudo ter sido um sonho...

A cabeça começa a latejar. Pensou nos pais, na escola que estudou quando criança, no trabalho, nos sobrinhos, no irmão querido, nas brigas quando pequenos, nos abraços em horas difíceis durante a adolescência.. Pensou ainda nos passeios matinais de domingo, depois da missa com a amiga inseparável! As risadas inocentes! Os planos que faziam para a juventude: a faculdade, todas as novidades que vivera tão intensamente. Será que faltou intensidade em alguma coisa? Além de boa estudante, foi em festas, conversou durante horas pela madrugada, fez brigadeiro e pipoca para assistir filme com os amigos, foi ao teatro, chorou e riu, viveu! A distância rendeu alguns rompimentos. Mas também fez descobrir amores sinceros e eternos. E na faculdade: todas aquelas pessoas queridas! As meninas com quem dividiu casa. As festas, os micos, os almoços. As novas paixões, as grandes dúvidas, os medos, as dores de crescer mais uma vez...
Em um segundo parecia ter ido de um canto a outro de suas lembranças. Como escolher o melhor momento? Em qual deles gostaria de prolongar sua permanência? Impossível...são tantas coisas!

De repente as lágrimas! Aquelas lágrimas que não eram de tristeza nem de alegria! O mistério maior e aquele amor que não passava. Sim, Júlio, como poderia esquecer as conversas na rede, ou no colchão da sala? Foram cinco anos de convivência, ora mais próxima ora não tão próxima assim... Nesse momento como gostaria de poder sentar-se ao lado dele e falar e falar e ouvir durante horas, sobre todas as coisas! e sobre coisas nenhuma...

A voz do velho ainda fazia eco: apenas um dia! Era só isso que lhe restava! O que fazer? tinha uma lista de tarefas sobre a mesa, por ordem de prioridade: a matrícula do curso no exterior que faria no próximo mês, última data para entregar a revisão da tese para publicação, mandar e-mail confirmando presença na festa surpresa da amiga de sempre, visitar os pais antes da viagem..

Mas e agora? Nada daquilo parecia ter sentido! A regra de prioridades não servia para nada nesse momento. Nada parecia importante. Não desejava nada daquilo! Onde estaria Júlio? Dois anos sem se verem. Pelo menos uma vez no semestre se falaram. Aquelas mensagens por celular um mês atrás foi a última vez que se falaram.. Mas e agora? Corro pra onde? A voz ainda persistia: apenas um dia! Quanto tempo teria passado? Quantos minutos teriam ficado para trás, devorados pelo cruel Cronos!

Mal sabia que tudo isso havia passado em sua cabeça em segundos...Sim, não queria nada de choro! Nada de lamentações, nem de esperança.. afinal, a vida é o que é! e o mesmo se aplica a morte! Se não gostava dos ses durante a vida, não seria agora que se apegaria a eles...

Estava decido: se era para ser o último dia, que fosse então esse dia como havia desejado que fossem todos desde os tempos da faculdade! Nada de obrigações, nada de rotinas, nada de certezas. Apenas o curso livre das palavras, deslizando de uma boca para outra! Perdendo-se no infinito entre um e outro. Tão iguais e tão diferentes! Não importa como, mas queria uma rede, como nos velhos tempos, deitaria naquele mesmo colo, presente-ausente, e ouviria aquela mesma voz - talvez estivesse um pouco diferente - mas falariam, por horas e horas, ininterruptamente, passando de uma coisa para outra, rindo e quase chorando. Silenciando, e sentindo.. naqueles momentos plenos de significação como nenhum outro jamais teve em sua vida! Sim, estava decido: nada de choro, nada de tristeza, nada! Apenas e somente aquela companhia que a levava do céu ao abismo em menos de um segundo, as vezes mesmo só com um sorriso!

Não importa! teria 24 horas para dizer claramente o que toda a sinceridade de anos não foi capaz de dizer: desejei estar ao seu lado por toda a vida, mesma que a vida fosse só um dia!
Deixou todas aquelas prioridades de lado... Partiu tão logo deu-se conta que aquela poderia ser a única chance de fazer valer a pena a morte anunciada pelo velho de barbas compridas, de calça cinza e camisa branca. Aquele velhinho de voz rouca que entrou sabe-se lá por onde naquela sala e saiu pelo mesmo lugar... Não foi um sonho, estava em suas mãos a flor branca que ele lhe entregou...precisava se apressar, não havia nada mais importante que encontrar Júlio...

sábado, 8 de dezembro de 2007

palavreação

o pensamento ia pra tantos lugares! e vinha de tantos outros cantos! os dedos ligeiros preenchiam a tela. Frases curtas. Talvez não tivesse muito o que escrever. Na verdade precisava escrever, tinha um trabalho pra entregar na quarta-feira. Mas como estava cansada. Sentia que era hora de descansar. Às vezes se perdia perguntando em que momento tudo tinha fugido de seu controle daquela maneira. Mas impossível ter resposta. Cada vez que fazia uma pergunta, era como se tudo a sua volta se embaralha-se como cartas de baralho sobre uma mesa de bar, cercada por garrafas, copos, mãos trêmulas e vozes altas...

Não entendia mais nada! em um piscar de olhos o mundo parecia ter suas configurações alteradas para sempre, e de maneira irreparável...
de repente a tela estava cheia! e quantas coisas é possível escrever sem dizer quase nada... sentia saudade de casa. Dos amigos. Do cheiro de sua cidadezinha querida. Mas seria tão curto o tempo que passaria lá. Nem tinha viajado e já pensava em quando voltaria. Esses anos todos, tantas coisas haviam mudado, mas estranhamente tinha momentos que tudo parecia exatamente igual . Sentia-se a mesma menininha caipira, perdida e deslumbrada que chegara cheia de sonhos... Mas em pouco tempo descobria que daquela menininha quase nada restava...talvez só a caipirisse mesmo... e quanto mais o tempo passa, mais assim mesmo se sentia! como se estivesse numa terra estranha! como se não pertencesse àquele lugar! Mas não era só a cidade de agora. Não! Também se sentia estrangeira na casa dos pais. Nem mais podia dizer que era sua casa. As calmas ruas, o céu estrelado, o ar gelado, todos aqueles rostos familiares lhe doíam tão profundamente! Não conseguia bem saber porque, mas quando estava lá, desejava não estar. E quando estava longe sentia saudade! era sincero seu desejo de voltar pra lá! Mas não entendia! Lá parecia sufocada! E por isso, só é capaz de sentir medo. E é quando se dá conta da solidão irremediável a que todos estão condenados! Sim, nesses momentos em que se sente parte de lugar nenhum! em que não se é capaz de encontrar algo que se possa chamar de seu! Escrevia desesperadamente, como se aquelas palavras pudessem responder uma pergunta que nem mesmo era capaz de formular...não porque faltava coragem! Era capaz de capacidade mesmo, não estava em suas mãos poder formular porque desconhecia a pergunta. No fundo, escrevia pra fugir de qualquer incômodo que desconhecia, mas ainda sim, do qual fugia...

Aquelas palavras todas, preenchendo a página em branco, traziam uma certa esperança, pequena e tímida, mas esperança, de que sua vida também encontraria um preenchimento. Uma esperançazinha de que o vazio que nos últimos tempos a consumia seria finalmente preenchido..
corria o mouse pela página, corria também o olho naquelas frases... quase se rendia ao desejo repentino de apagar tudo! mas não, por algum motivo permitiu que aquelas palavras, cheia de um desespero que quase gritava, que tinha a garganta seca, pudesse testemunhar tudo isso..
pensava se alguém leria aquilo! se faria algum sentido. Se encontraria companhia em meio a pensamentos tão confusos ... e tudo começou porque não conseguia escrever algumas páginas para o trabalho de quarta....

Francine


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segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Passando

Apressados,
sempre cansados,
atarefados,
atrasados,
as vezes passados..
outras simplesmente sentados,
no sofá dos vizinhos ou
no colo de amigos ou
na escada de casa
ou na beira da calçada,
ouvindo vozes queridas,
repondo energias,
deixando o tempo passar sem pressa de passar com ele...


Francine 01/12/2007

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