As mãos estavam geladas. Sentiu um leve arrepio nas costas. E um sopro frio o fez estremecer. De repente, olhou para os lados assustado, como se alguém adivinhasse seus planos. Mas na rua não tinha ninguém. As primeiras horas depois do almoço. Sempre ficava aquele vazio. Retomou os passos apressados. Atravessou a rua, virou logo na próxima esquina. Já avistava o velho sobrado. Paredes amareladas, portão enferrujado, alguns vidros quebrados. Sorria um sorriso nervoso. Estava quase.
Faltava só três casas. Mas o que era aquilo? Uma bicicleta encostada no portão velho. Uma bicicleta vermelha. Aquela bicicleta não podia estar ali. Parou. Não sabia o que fazer. Parecia ouvir as batidas do próprio coração como se estivessem saindo de uma imensa caixa de som. O portão estava entreaberto. Subiu dois degraus. Num movimento brusco apertou contra o peito a mochila que até então estivera nas costas. Certificou-se de que estava tudo ali. Entrou.
Na casa, ou aquilo que um dia fora uma casa, apenas silêncio. Algumas teias de aranha. Uma cortina velha que a mãe não fez questão de retirar. Mas onde ela estaria? Teria já ido até o quarto? Tinham combinado quatro horas, ainda era duas e meia. Não entendia. Subiu as escadas. Já no corredor avistou uma luz fraquinha, trêmula, vindo do quarto. O coração bateu descompassado novamente. Lembrava de todo trabalho da noite anterior. Com muito custo tinha conseguido trazer uma TV e emprestado um vídeo cassete.
Na mochila, algumas fitas de vídeo com etiquetas amareladas nas quais se lia: 1988/1989, 1990/1991, 1992/1993,. Ela achava que iam assistir um filme. Mas ele tinha resolvido fazer uma surpresa. Trouxe aquelas fitas do tempo de escola e das festinhas de seu aniversário. Como eram felizes com seus 12, 13, 14, 15, 16 e 17 anos. E como eram inseparáveis! Todos diziam que eles iam namorar um dia.
Ela estava sentada numa das almofadas que ele havia trazido na noite anterior. Aquela casa era toda cheia de recordações. Foi bem naquele corredor que, meio sem jeito, tímidos e afobados, deram seu primeiro beijo. Foi naquele aniversário de 17 anos. Estavam terminando o colegial. Ela iria se mudar para a casa de uma tia, na capital, para continuar estudando. Ele ia servir o exército.
Tinham combinado de assistir um filme porque naquele tempo era a distração preferida deles. As fitas de romance, de suspense, de comédia que emprestavam do professor de literatura. Mas ela não resistiu e trouxe uma caixinha de cartas. Aquelas cartas bonitas que ele escreveu durante os cinco anos que ela passou na faculdade. Encontraram-se poucas vezes. Mas numas férias de fim de ano ele disse que eles iam se casar. Ele já estava trabalhando no banco. Ela ficou feliz, mas por aquele tempo estava um pouco apaixonada por um colega da faculdade.
O dia era mais que especial. Ele tinha planejado tudo com muito carinho. Dez anos juntos. E parecia que tinha sido ontem. Lembrava da cara dela de surpresa quando ele lhe entregou aquele anel. Ela havia acabado de arrumar seu primeiro emprego, na mesma escola em que eles tinham estudado. Estava radiante. E quando abriu aquela caixinha, seus olhos marejaram. Ele ainda sente como se fosse hoje, ela se jogando nos braços dele e dizendo: Sim, sim, sim!!
Finalmente ele venceu o corredor e entrou no quarto. Os dois se olharam como se fosse a primeira vez. Ela sorriu aquele sorriso que ele dizia ser tão bonito. Ele apertou os olhos, naquele sorrir com os olhos tímidos que ela tanto gostava. Ela disse: Tenho uma surpresa pra você!
Ele fez cara de espanto: É mesmo? Eu também tenho uma surpresa pra você.
Os dois se perderam naquelas lembranças e se reencontraram naquelas palavras e músicas e cenas. Ela chorou. Ele secou as lágrimas dela. Eles dançaram pelo quarto, cantaram, e se namoraram como naqueles anos. Já estava escuro quando saíram do sobrado. Ela empurrando a bicicleta vermelha, presente dele, logo que se mudaram para a rua das laranjeiras, para que ela fosse trabalhar. Ele do lado, com a mão no ombro dela. Os dois caminhavam em silêncio, sorrindo, como dois adolescentes apaixonados que têm medo de quebrar o encanto de um grande encontro.
Faltava só três casas. Mas o que era aquilo? Uma bicicleta encostada no portão velho. Uma bicicleta vermelha. Aquela bicicleta não podia estar ali. Parou. Não sabia o que fazer. Parecia ouvir as batidas do próprio coração como se estivessem saindo de uma imensa caixa de som. O portão estava entreaberto. Subiu dois degraus. Num movimento brusco apertou contra o peito a mochila que até então estivera nas costas. Certificou-se de que estava tudo ali. Entrou.
Na casa, ou aquilo que um dia fora uma casa, apenas silêncio. Algumas teias de aranha. Uma cortina velha que a mãe não fez questão de retirar. Mas onde ela estaria? Teria já ido até o quarto? Tinham combinado quatro horas, ainda era duas e meia. Não entendia. Subiu as escadas. Já no corredor avistou uma luz fraquinha, trêmula, vindo do quarto. O coração bateu descompassado novamente. Lembrava de todo trabalho da noite anterior. Com muito custo tinha conseguido trazer uma TV e emprestado um vídeo cassete.
Na mochila, algumas fitas de vídeo com etiquetas amareladas nas quais se lia: 1988/1989, 1990/1991, 1992/1993,. Ela achava que iam assistir um filme. Mas ele tinha resolvido fazer uma surpresa. Trouxe aquelas fitas do tempo de escola e das festinhas de seu aniversário. Como eram felizes com seus 12, 13, 14, 15, 16 e 17 anos. E como eram inseparáveis! Todos diziam que eles iam namorar um dia.
Ela estava sentada numa das almofadas que ele havia trazido na noite anterior. Aquela casa era toda cheia de recordações. Foi bem naquele corredor que, meio sem jeito, tímidos e afobados, deram seu primeiro beijo. Foi naquele aniversário de 17 anos. Estavam terminando o colegial. Ela iria se mudar para a casa de uma tia, na capital, para continuar estudando. Ele ia servir o exército.
Tinham combinado de assistir um filme porque naquele tempo era a distração preferida deles. As fitas de romance, de suspense, de comédia que emprestavam do professor de literatura. Mas ela não resistiu e trouxe uma caixinha de cartas. Aquelas cartas bonitas que ele escreveu durante os cinco anos que ela passou na faculdade. Encontraram-se poucas vezes. Mas numas férias de fim de ano ele disse que eles iam se casar. Ele já estava trabalhando no banco. Ela ficou feliz, mas por aquele tempo estava um pouco apaixonada por um colega da faculdade.
O dia era mais que especial. Ele tinha planejado tudo com muito carinho. Dez anos juntos. E parecia que tinha sido ontem. Lembrava da cara dela de surpresa quando ele lhe entregou aquele anel. Ela havia acabado de arrumar seu primeiro emprego, na mesma escola em que eles tinham estudado. Estava radiante. E quando abriu aquela caixinha, seus olhos marejaram. Ele ainda sente como se fosse hoje, ela se jogando nos braços dele e dizendo: Sim, sim, sim!!
Finalmente ele venceu o corredor e entrou no quarto. Os dois se olharam como se fosse a primeira vez. Ela sorriu aquele sorriso que ele dizia ser tão bonito. Ele apertou os olhos, naquele sorrir com os olhos tímidos que ela tanto gostava. Ela disse: Tenho uma surpresa pra você!
Ele fez cara de espanto: É mesmo? Eu também tenho uma surpresa pra você.
Os dois se perderam naquelas lembranças e se reencontraram naquelas palavras e músicas e cenas. Ela chorou. Ele secou as lágrimas dela. Eles dançaram pelo quarto, cantaram, e se namoraram como naqueles anos. Já estava escuro quando saíram do sobrado. Ela empurrando a bicicleta vermelha, presente dele, logo que se mudaram para a rua das laranjeiras, para que ela fosse trabalhar. Ele do lado, com a mão no ombro dela. Os dois caminhavam em silêncio, sorrindo, como dois adolescentes apaixonados que têm medo de quebrar o encanto de um grande encontro.
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