Você já viveu em cidade pequena? ah, então sabe como é.. Aquela história de todo mundo saber da vida de todo? entende o que eu quero dizer? é... então, foi assim que aconteceu.
A cidade ia bem. Cada um com sua vidinha e todo mundo sabendo de tudo. Quem morreu, quem casou, o filho de quem que nasceu ontem, a filha de quem que está grávida, a mulher que largou o marido, o marido da fulana que anda saindo com a mulher do sicrano...
Mas teve um tempo que chegou um povo estranho. Um monte de gente diferente que de repente passou a fazer parte da vida da cidade, mas parece que a cidade não fazia parte da vida deles.
Eram cheios da grana. Por isso, o povo da cidade se deslumbrou. Esqueceram das fofocas corriqueiras. Agora o assunto era que fulana estava trabalhando na casa x. O marido da sicrana alugou a casa para a família y. E o carro? ou melhor, os carros? Viram? Descobriram que a família x tinha parentesco não sei com que artista conhecida da TV. E que a família y era também parente da família x. E tinha os filhos. Como eram bonitinhos os filhos da dona Fulana.
Tudo agora na cidade girava em torno daquela gente. As casas que eles alugavam, os carrões que, de repente, invadiram as ruas tranquilas e estreitas, as construções que eles estavam fazendo não sei em que parte da cidade. Mas, o melhor de tudo veio com a observação de alguns hábitos deles, que logo despertaram um interesse a mais no povo da cidade.
Aos fins de semana, parece que eles faziam uma reunião secreta. No início, as pessoas disseram que era festa. Mas quem passou perto disse que se fosse, era uma festa estranha, pois não se ouvia nada. Nem uma música, nem voz alguma. E as tais reuniões se repetiam. Cada fim de semana era na casa de algum deles. Chegaram a conclusão de que se tratava de um tipo de religião diferente. E mais especulações surgiram.
Uma certa fulana, filha da cidade, que trabalhava numa das casas, andou dizendo, não se sabe se verdade ou fantasia gerada pelas especulações, que havia um quarto secreto na casa de sua patroa. Um quarto no qual ela não tinha permissão para entrar e que estava sempre com a porta trancada - pois, claro, certa vez, sem querer ela esbarrou no trinco da porta, mas essa não se abriu..
Uma outra fulaninha, que também andou lavando e passando pra eles, ou porque sonhou ou porque, de fato, havia se enfiado onde não devia, saiu dizendo esconjuramentos pela cidade e perdeu a graninha que ganhava, pois ninguém mais quis saber de seus serviços. Falou de demônios e coisas feias, de anjos e santos que não eram bem anjos nem santos...de livros de magia e de bruxaria...
Falou-se em seitas demoníacas, em culto ao dinheiro, até de sacrifícios de animais e, por que não, de humanos? As histórias iam se avolumando. E ninguém tinha dúvida de que a vinda daquela gente tinha mudado a cidade. Os mais otimistas e metidos a entendidos continuavam dizendo que eles tinham aquecido a economia local e que se tornaram indispensáveis para a vida da cidade. Até mesmo surgiram boatos de que eles pretendiam entrar na política local...
A vida seguia seu rumo normal. Eles não entraram pra política, ao menos não diretamente. Nunca se descobriu do que se tratava aquelas reuniões secretas. Depois de alguns anos, as construções que eles faziam lá no alto da montanha, bem no meio do mato, ficaram prontas. Então, eles se mudaram. Ninguém mais falou dos símbolos e sinais de bruxaria, coisa feia, ou qualquer esquisitice. Esqueceram das crianças bonitinhas, da parenta famosa. Mas de vez em quando ainda viam os carros. Os carrões que atravessam a cidade. Indo e vindo. O comercio local continuou sendo o mesmo, porque durante o tempo que eles estavam lá, pouco ou quase nada consumiam. As pessoas que trabalharam pra eles, arrumaram outros empregos. Novas gentes surgiram e alugaram as casas que eles haviam desocupado. Novas fofocas surgiram. Muita menina engravidou, muito marido traiu mulher, muita mulher traiu marido, muita gente morreu e nasceu por aquelas bandas.
E o que ninguém nunca soube mesmo foi o verdadeiro motivo pelo qual aquela gente havia se instalado ali, naquela pequena e tranquila cidadezinha...
Talvez, tenha sido só por isso mesmo, porque era pequena e tranquila, embora isso fosse óbvio demais pra ser verdade... Talvez tivessem algum segredo. Poderiam estar fugindo da polícia de algum lugar. Poderiam, ainda, como alguns afirmam até hoje, terem pactos com seres estranhos... Falarem com gente do outro mundo, sacrificarem animais ou gente...
Já não importa! Já se foram. E cidade pequena gosta mais de presente. As histórias antigas só servem pra serem contadas quando não tem nenhuma novidade..
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A cidade ia bem. Cada um com sua vidinha e todo mundo sabendo de tudo. Quem morreu, quem casou, o filho de quem que nasceu ontem, a filha de quem que está grávida, a mulher que largou o marido, o marido da fulana que anda saindo com a mulher do sicrano...
Mas teve um tempo que chegou um povo estranho. Um monte de gente diferente que de repente passou a fazer parte da vida da cidade, mas parece que a cidade não fazia parte da vida deles.
Eram cheios da grana. Por isso, o povo da cidade se deslumbrou. Esqueceram das fofocas corriqueiras. Agora o assunto era que fulana estava trabalhando na casa x. O marido da sicrana alugou a casa para a família y. E o carro? ou melhor, os carros? Viram? Descobriram que a família x tinha parentesco não sei com que artista conhecida da TV. E que a família y era também parente da família x. E tinha os filhos. Como eram bonitinhos os filhos da dona Fulana.
Tudo agora na cidade girava em torno daquela gente. As casas que eles alugavam, os carrões que, de repente, invadiram as ruas tranquilas e estreitas, as construções que eles estavam fazendo não sei em que parte da cidade. Mas, o melhor de tudo veio com a observação de alguns hábitos deles, que logo despertaram um interesse a mais no povo da cidade.
Aos fins de semana, parece que eles faziam uma reunião secreta. No início, as pessoas disseram que era festa. Mas quem passou perto disse que se fosse, era uma festa estranha, pois não se ouvia nada. Nem uma música, nem voz alguma. E as tais reuniões se repetiam. Cada fim de semana era na casa de algum deles. Chegaram a conclusão de que se tratava de um tipo de religião diferente. E mais especulações surgiram.
Uma certa fulana, filha da cidade, que trabalhava numa das casas, andou dizendo, não se sabe se verdade ou fantasia gerada pelas especulações, que havia um quarto secreto na casa de sua patroa. Um quarto no qual ela não tinha permissão para entrar e que estava sempre com a porta trancada - pois, claro, certa vez, sem querer ela esbarrou no trinco da porta, mas essa não se abriu..
Uma outra fulaninha, que também andou lavando e passando pra eles, ou porque sonhou ou porque, de fato, havia se enfiado onde não devia, saiu dizendo esconjuramentos pela cidade e perdeu a graninha que ganhava, pois ninguém mais quis saber de seus serviços. Falou de demônios e coisas feias, de anjos e santos que não eram bem anjos nem santos...de livros de magia e de bruxaria...
Falou-se em seitas demoníacas, em culto ao dinheiro, até de sacrifícios de animais e, por que não, de humanos? As histórias iam se avolumando. E ninguém tinha dúvida de que a vinda daquela gente tinha mudado a cidade. Os mais otimistas e metidos a entendidos continuavam dizendo que eles tinham aquecido a economia local e que se tornaram indispensáveis para a vida da cidade. Até mesmo surgiram boatos de que eles pretendiam entrar na política local...
A vida seguia seu rumo normal. Eles não entraram pra política, ao menos não diretamente. Nunca se descobriu do que se tratava aquelas reuniões secretas. Depois de alguns anos, as construções que eles faziam lá no alto da montanha, bem no meio do mato, ficaram prontas. Então, eles se mudaram. Ninguém mais falou dos símbolos e sinais de bruxaria, coisa feia, ou qualquer esquisitice. Esqueceram das crianças bonitinhas, da parenta famosa. Mas de vez em quando ainda viam os carros. Os carrões que atravessam a cidade. Indo e vindo. O comercio local continuou sendo o mesmo, porque durante o tempo que eles estavam lá, pouco ou quase nada consumiam. As pessoas que trabalharam pra eles, arrumaram outros empregos. Novas gentes surgiram e alugaram as casas que eles haviam desocupado. Novas fofocas surgiram. Muita menina engravidou, muito marido traiu mulher, muita mulher traiu marido, muita gente morreu e nasceu por aquelas bandas.
E o que ninguém nunca soube mesmo foi o verdadeiro motivo pelo qual aquela gente havia se instalado ali, naquela pequena e tranquila cidadezinha...
Talvez, tenha sido só por isso mesmo, porque era pequena e tranquila, embora isso fosse óbvio demais pra ser verdade... Talvez tivessem algum segredo. Poderiam estar fugindo da polícia de algum lugar. Poderiam, ainda, como alguns afirmam até hoje, terem pactos com seres estranhos... Falarem com gente do outro mundo, sacrificarem animais ou gente...
Já não importa! Já se foram. E cidade pequena gosta mais de presente. As histórias antigas só servem pra serem contadas quando não tem nenhuma novidade..
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