sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

De longe

Quando a história a seguir se passa? Tanto pode ser um bocado de tempos para trás como um tanto para frente do momento em que ela será lida. O quando não faz diferença, não para essa história. Não para casos como o que se vai narrar.


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O céu está dum azul cor de céu! Algumas nuvens gordinhas, outras mais magrelas, verdadeiras miss, desfilam por ele. Um vento suave põe em dança as folhas e os galhos das árvores espalhadas aqui e acolá.

(O lugar onde a história se passa? Bom, caro leitor, imagine o lugar que lhe for de mais agrado: uma fazenda e paisagens bucólicas, uma cidade grande, uma praça de cidade do interior. Sinta-se à vontade!)

Ela caminha em passo que não é apressado mas tampouco parece querer contá-los. Um vestido branco, pintado de muitas minúsculas florzinhas de todas as cores, cobria as curvas acentuadas e as pequenas elevações que se distribuíam pelo corpo. Cabelos longos, levemente avermelhados. Ela carregava nos braços pastas empilhadas.

(O que tinha nas pastas? documentos importantes ou sem importância, papéis em branco, desenhos, o rascunho de um romance?? Não sei caro leitor!)

Ele não entrou no campo de visão dela. Está sobre uma bicicleta. Usa bermuda preta e uma camiseta amarela de listras brancas. Pedala distraido.

(Não queira saber o que faziam nesse lugar, para onde vão, e por quê. Aceite que para quem observa a cena, para quem narra, essas perguntas também são apenas perguntas.)

Ela se prepara para atravessar uma estreita ruazinha. O vento brincalhão, de repente, põe cabelo e vestido numa dança maluca. Ela, um pouco atrapalhada, começa atravessar a rua. Ele, num repente, entra no campo de visão dela (bom, pelo menos agora ela poderia vê-lo, não fosse o vento, o cabelo e o vestido..).

Ele também poderia vê-la e deveria vê-la. Mas está distraido. Quando os dois se olham, as pastas estão caidas pela rua. A bicicleta está deitada no asfalto. Ele tem o joelho riscado. Ela está em pé, com os olhos arregalados, o coração batendo como uma bateria mal tocada.

(O que eles falaram? Nem posso dizer se falaram. O tempo deve ter passado lentamente para eles.)

Ela se põe a juntar pastas e papéis que o vento, malvadamente, tenta roubar-lhe. Ele se levanta. Olha para o joelho e faz careta. Mas rapidamente ajuda a menina de vestido branco.
Tão logo tudo é recuperado, cada um segue seu caminho.

(Não é sabido se eles trocaram telefone, email ao ao menos uma palavra. Talvez algumas horas depois tenham se esquecido completamente um do outro. Mas também pode ser que naquele momento, quando um percebeu o outro, e o menino atirou-se ao chão para não acertá-la, e ela, com os olhos arregalados o olhou por um instante, pode ser que eles tenham se apaixonado perdidamente. Talvez tenham marcado um encontro. Ou talvez o destino os tenha encontrado mais adiante.)

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Caro leitor, a vida é assim! Feita de pequenos detalhes, acidentes, acasos. Cada um escolhe o nome e as cores que dará para cada pedacinho de vida!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Segredos

O mesmo assunto mais uma vez rondava seus pensamentos: a morte. Como são estranhas - pensava - essas idéias esquisitas que vez em sempre me vem à cabeça...
Muitas vezes havia experimentado aquela sensação indescritível. Sentia, com uma nitidez enlouquecedora, que todos a sua volta lhe escondiam um segredo. Mas um segredo que ela já sabia: que ela iria morrer. Podia sentir nas palavras e nos olhares que lhe dirigiam. Tentavam fingir que não sabiam. Tentavam disfarçar. Mas era evidente o desconforto e a apreensão deles...
Certa vez foi sua dentista. Chegou para a consulta 10 minutos adiantada. Sentou e esperou ser chamada. Quando entrou, via no olhar dela uma tristeza. Era como se ela dissesse: "Pobre garota, ainda tão jovem.. que desperdício!" Ela foi terna e segurou as lágrimas. Perguntou como ia a faculdade. Quando eu me formaria. Mas quando fazia silêncio, eu podia sentir o constrangimento dela. Ela sabia que eu ia morrer. Mas não queria me dizer. Não desconfiava que eu já tinha percebido...
Outras vezes foram atendentes de supermercados e lojas. Podia ver na cara deles o terror de saberem que eu ia morrer. E todos tentando ignorar que eu já sabia. Todos tentando fingir para eles mesmo que a morte não chegaria... nem para mim, nem para eles...
Agora, sozinha na sala de casa, sentia mais uma vez que todos sabiam de algo, que ela mesma, só desconfiava. Na verdade, desde pequena, tinha uma quase certeza de que sua vida seria curta. E cada ano que passa, essa sensação de vida curta aumenta mais e mais. Nunca conseguiu se imaginar bem velhinha. Em seus sonhos, o fim de tudo é sua juventude. Quando adolescente, fazia planos e tinha alguns objetivos bem traçados, mas não conseguia ver nada para além dos vinte e poucos anos. Agora, com vinte e poucos anos, sente que a cada dia que passa, fica mais perto da morte. Não sabe ainda se tem medo... Medo da morte? de morrer? bom, como diz Quintana, o problema não é morrer, mas sim deixar de viver...
Pensa tanto nisso que as lágrimas escorrem por toda sua face. Sozinha, apenas pode sentir a solidão que o deixar de viver causará. Um vazio. Sim, todos nós deixaremos um vazio. Não no mundo material. Tão logo damos o último suspiro e a matéria que agora nos compõe corre em direção a outras matérias, prontas para formar novos corpos... O vazio que deixamos é no mundo das palavras, dos sentimentos. Seremos um nome vazio. Lembranças vazias. Amores vazios. Saudades vazias...
Hoje esses pensamentos estranhos vieram novamente. Como se o vento soprasse secretamente por entre as folhas que balançam ali fora, que todos sabem que ela vai morrer. Mas o pior é que ela sente que há uma doença grave e feia. Esse é o motivo de seu pavor por médicos e hospital. Teme receber a qualquer momento a desagradável notícia... Prefere assim, sentir que é só a morte. A morte para qual caminhamos desde nosso primeiro choro. Sempre brinca consigo mesma que nascemos morrendo e assim é por toda a vida. Cada minuto vivido é um minuto morrido...

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