quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A vida num reality show

O show de Truman: o show da vida (EUA, 1998), dirigido por Peter Weir e estrelado por Jim Carrey, é um daqueles filmes para se ter em casa. Um filme que emociona, faz rir e, principalmente, faz pensar. Embora criado um pouco antes da onda dos Reality Shows que invadiu as tvs nos últimos anos, o filme é uma crítica bastante atual e inteligente a esse tipo de programa. (Vale lembrar que esse tipo de programa já teve versões anteriores aos grandes sucessos dos anos 2000). O filme nos leva a perguntar o que faz com que milhares de pessoas fiquem diante da tv na esperança de ver algo real da vida alheia? O que esse fato que retrata o comportamento da maioria das pessoas nos diz sobre nossa sociedade? O que falta na realidade diária das pessoas que elas buscam nos reality shows? E o que elas encontram nesse tipo de programa?

É tudo verdade. Tudo real, nada aqui é falso. Nada do que você vê no Show é falso. É meramente controlado. (Fala  de um dos atores d'O Show de Truman)

Jim Carrey é Truman Burbank, a estrela de um reality show que está em vias de completar 30 anos no ar, mas, para ele mesmo, não passa de um vendedor de seguros numa antiquada cidade na ilha de Seahaven. Truman é casado com Meril, uma médica que trabalha no hospital da cidade. Nas horas vagas, toma cerveja e joga conversa fora com Marlon, seu melhor amigo desde a infância, que trabalha no mercadinho da cidade arrumando latas e pacotes. Mas o sonho de Truman, desde menino, é ser um desbravador, é conhecer o mundo e, desde que conheceu Sylvia, durante a Faculdade, sonha em  ir para as ilhas Fiji. 

Que tudo isso não passa de uma mega produção, que todas as pessoas ao seu redor são atores de Hollywood, que o mundo inteiro o conhece desde quando ele estava no barriga de sua mãe, ele só começa a desconfiar quando algumas coisas muito estranhas acontecem a sua volta. Fora da ilha, milhares de telespectadores acompanham cada segundo da vida de Truman, enquanto Christof, o diretor e produtor do Show de Truman, juntamente com toda a sua equipe, trabalha 24 horas, monitorando aproximadamente 5 mil câmeras espalhadas pelo maior estúdio já criado pela tv. 

Por que Truman nunca chegou perto de descobrir a natureza real do seu mundo até agora? A resposta é simples e cortante: Nós aceitamos a realidade do mundo no qual estamos presentes, responde Christof. Veja, nós aceitamos a realidade do mundo no qual estamos presentes. Essa fala do filme é muito provocativa. Será que a nossa realidade é mesmo tão real como julgamos que ela seja? Ou será que, como no Show de Truman, embora nós sejamos reais, nossa realidade tem sido meramente controlada sem que percebamos? Religiões, o estado, a mídia: quais seriam os controladores da nossa realidade? Seja qual for, o que Truman nos mostra é que é possível ir além dessa realidade, mas que isso é um processo doloroso, que exige coragem e determinação. É um desafio ao céus! Envolve a busca de uma resposta profunda para a pergunta "Quem sou eu?" É preciso duvidar do destino, é preciso acreditar na liberdade e, acima de tudo, é preciso assumir a direção de cada cena da nossa vida. 

Criador e criatura costumam se apegar um ao outro, por motivos diferentes: o primeiro é egoísta, o segundo muitas vezes tem medo, é difícil abrir mão do conforto da realidade que lhe foi dada: "Lá fora é tudo igual, as mesmas mentiras, só que aqui dentro nada de ruim vai te acontecer", é o que nos diz o Criador.  Mas Truman não se rende aos apelos de Christof e prefere o indefinido, dá um passo para o desconhecido, opta pelo novo, fará seu próprio roteiro fora da caverna. 

A busca de Truman, desafiando seus próprios limites, encarando seus temores, é uma alegoria para a nossa própria jornada na vida. Se aceitamos a realidade a nossa volta tal qual ela nos aparece, optamos por seguir o que nos parece seguro. Se ousamos desafiar, se desejamos ver o que está logo ali, atrás das verdades que nos contaram, podemos iniciar um caminho sem volta, no qual optamos por escrever nosso próprio roteiro. Pode ser aos 15, aos 25, ou aos 50 anos. Mas, quando a sua realidade parecer fazer menos sentido do que você acha que deveria, não tenha medo de buscar algo mais real






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