Parecia mais um dia de trabalho comum. Mais uma tarde de animação, fazendo dezenas de crianças sorrirem. Dessa vez era uma escola. Turminha do infantil. Lembra como se fosse ontem, aquela tarde quente do início dos anos 90. Ele entrou na sala e tudo seguia como de costume. Entre uma mágica e outra tentava interagir com as crianças. Fez os velhos truques das cartas, fez sumir moeda e aparecer atrás da orelha de uma meninazinha de olhos muito brilhantes, e da orelha de um menino muito tímido, retirou uma longa fita vermelha. E as crianças entre espantadas e desconfiadas, sorriam, aplaudiam e pediam mais.
De repente, um meninozinho, de cabelos bem loiros, olhos muito vivos, com as mãos erguidas, começou a gritar: - Oh, mágico, mágico!
E ele se aproximou para ver o que ele queria. Pediu silêncio para as crianças para ouvirem o meninozinho. E ouviram:
- Mágico, faz aparecer um elefante!
E ele falava sério. Aquela carinha inocente, tinha uma confiança no olhar, que fez o mágico perceber que ele acreditava mesmo que ele - ah, ele, um pobre mágico animador de festa infantil - poderia fazer aparecer ali, bem no meio da sala, entre as dezenas de criança que tinham ouvido aquele pedido, um elefante! E agora?
O mágico se afastou e tirou um coelho da cartola! Era tudo que podia fazer!
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Mas o menininho insistia: Mágico, faz aparecer um elefante!
O mágico começou a transpirar, sentia o tamanho da decepção que causaria naquele pobre menininho. Não sabia o que fazer. Falava mais alto, desviava o olhar dele. E nada.
Um outro menininho, sentado perto do primeiro, parecia ter sido convencido de que seria muito legal se o mágico fizesse aparecer um elefante, e fez coro ao pedido do menino loirinho. E os dois gritavam o quanto podiam: Mágico, faz aparecer um elefante!
O mágico já não tinha como disfarçar seu mal estar. Começava a sentir raiva daquele moleque. Que situação embaraçosa. Nunca antes lhe havia acontecido algo parecido. O que fazer? Desejava mesmo era poder sumir dali, como num passe de mágica. O relógio na parede dizia que ele teria mais 20 minutos de tortura, ouvindo aquele pequeno coro, que clamava pelo elefante.
Ele nem podia desconfiar que o menininho queria muito mesmo ver um elefante. No zoológico da cidade não tinha aquele bicho curioso que ele só conhecia da tv ou dos livros. Ah, como seria lindo ver um elefante de perto. E quando viu o mágico, não teve dúvidas: pediu para que ele fizesse aparecer um elefante. Afinal, o mágico pode tudo! Ou pelo menos ele pensava que podia até aquele dia. Até pensava em se tornar um mágico quando crescesse.
Mas depois daquele dia, o menino quis ser muitas outras coisas: piloto de avião, padre, presidente, psicólogo. E quem sabe mais o quê. Mas, na verdade, ele virou um engenheiro, que toca piano nas horas vagas.
E o mágico? depois de todo aquele sufoco, resolveu fazer outra coisa. Foi vender coco na praia. Muito menos perigoso!
(texto inspirado nas lembranças de Daniel Queiroz)
Um comentário:
Ser questionador qdo criança pode causar traumas! =/
Mas sempre muito bom!
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