quarta-feira, 26 de setembro de 2007

naquele tempo...

Tem horas que eu gostaria muito de ser criança de novo! Não é ter espírito de criança, não! é ser criança mesmo, ignorando um monte de coisas, mas conhecendo outro tanto de coisas que nem toda leitura e estudo são capazes de me oferecer agora... Queria ser criança para não ter noção de tempo, não ter noção de dinheiro, não ter noção do perigo... ser criança para acordar e brincar! machucar, chorar e depois esquecer tudo. Ser criança para não ter nenhuma responsabilidade. Para que sempre achassem bonitinho tudo o que eu fizesse e não ficassem esperando mais do que um sorriso meu quando olhassem pra mim... queria ser criança para não ter obrigação de saber o que é certo ou errado, para não ter que pensar antes de agir, para poder ser sincera sem saber o que é o medo de alguém se sentir ofendido com o que falei ou fiz..
É... felizes são as crianças... mas me contento em lembrar que já fui criança um dia. Viver naquele tempo não era tão complicado como agora... gente grande é chata! Gente grande mente por maldade.. gente grande controla tudo, faz tudo ficar artificial. Naquele tempo de criança a vida parecia uma grande nuvem de algodão doce. Os dias e as noites iam e vinham lentos, com cheiro de terra, de água, com gosto de bala, com beijos de mãe... As tardes longas eram bonitas e tinha grito de criança brincando na rua. Os cachorros corriam atrás da gente, os passarinhos cantavam nas árvores em que subíamos. Às vezes um ou outro brigava, chutava, todo mundo parava pra ver, mas cinco minutos depois era só alegria... quando o sol ia ficando bem vermelho, e a tardinha ia virando noite, sempre se ouvia uma voz de mãe chamando: “menino, vem tomar banho! Já brincou demais hoje!!” mas brincar nunca era demais... a gente sempre achava que podia correr mais um pouquinho. Escorregar na terra vermelha da estrada, descer a estrada no carrinho de rolimã, jogar bola com os adultos que ainda eram um pouco criança... descer a rua correndo muito, porque a bola tinha ido parar no quintal do vizinho...
Eu tinha mania de ficar riscando o chão com pedacinhos de pau bem fininho, ficava desenhando ou escrevendo.. também riscava amarelinha pra gente pular... naquele tempo contávamos o tempo diferente, tinha a hora de ir pra escola e a hora de brincar... nos fins de semana minha mãe nos levava pra brincar no campo de futebol. Algumas vezes fomos fazer piquenique.. teve um tempo que colecionei pedrinhas..
Às vezes sinto que pedacinhos desse tempo estão aqui em algum lugar, e fico tentando juntar aos pouquinhos pra ver se descubro qual era o segredo da vida passar tão de vagar e tão docemente naquele tempo...

Minas Gerais 03/10/2005

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