Faz tempo que estou ensaiando escrever esse post. Faz um tempinho, também, que estou de olho no deputado Jair Bolsonaro, do PP, que, segundo a wikipédia, é militar do exército brasileiro, nascido em Campinas, que cumpre sua sexta legislatura na Câmara dos Deputados do Brasil.
Bolsonaro esteve recentemente em evidência, depois de mais uma sessão de declarações polêmicas feitas no CQC. Virou um grande samba do crioulo doido. (Quem quiser ver a resposta do Bolsonaro no CQC sobre a polêmica com Preta Gil, clique aqui). Exageros à parte, me assusta a quantidade de pessoas que apoia as declarações preconceituosos, intolerantes e contraditórias do Bolsonaro. Sim, porque ele diz que não é homofóbico, que respeita os gays, mas ele diz que 'se um menino dá sinal de desvio de conduta (leia-se ser gay), é preciso dar umas porradas pra endireitar o garoto'. Se isso não é homofobia ou preconceito, eu sinceramente não sei o que é.
Algumas vezes o Bolsonaro, e também os seus defensores, reclamam de uma 'ditadura gay' ou de serem perseguidos pela turma do politicamente correto. Como eu já disse em outro post, o politicamente correto é perigoso e tenho receio dos estragos que pode causar na formação do pensamento crítico de uma sociedade. Mas, as declarações de Bolsonaro são extremamente equivocadas, transparecendo um imenso preconceito e desconhecimento daquilo que ele fala. Num vídeo também polêmico, de uma entrevista na REDE TV, Bolsonaro põe no mesmo saco 'ser drogado/viciado, ser vagabundo, ser marginal e ser gay'.
(Deve-se notar que as apresentadoras são fraquíssimas. Totalmente despreparadas para o debate e que o representante da comunidade gay também se comporta de modo equivocado, na minha opinião. O debate em geral é de uma qualidade sofrível, mas isso não diminui o peso das declarações do deputado, que em certos momentos expressa posições, bastante ultrapassadas, de que ser 'gay' é uma doença ou um caso de mau hábito ou desvio moral).
Quando o assunto é a questão homossexual, acho que o deputado deveria ficar de boca fechada ou ir estudar um pouco mais antes de sair proferindo tanta besteira.
O que parece não entrar na cabeça de muitas pessoas, inclusive do deputado Bolsonaro, é que, diferentemente do que ele acha (do temor que ele tem!), as pessoas não 'viram' gay ou lésbicas porque andam com pessoas que são gays ou lésbicas. Não é um vírus que a gente pode pegar, assim, quando está andando na rua. Nem é simplesmente uma questão de influência (má influência, diria o deputado) do meio em que se vive. Também não é porque gays e lésbicas terão seus direitos (direitos esses de um cidadão qualquer que paga seus impostos) respeitados que todos 'devem ser gay'. Aprovar a união civil homossexual não significa obrigar nenhum homem ou mulher heterossexual se casar com outro homem ou mulher. É garantia de dignidade para o diferente, na medida em que esse diferente tem algo no qual se iguala a mim: é um ser humano.
Pessoas como Bolsonaro têm a capacidade de despertar reações extremas do outro lado também, e que não me agradam igualmente. O mundo não é gay, da mesma forma que ele não é hétero. É simples assim! Conviver com o diferente é uma tarefa muito difícil, todos sabemos. Porque se tem algo que nos torna igual mesmo, isso é a multiplicidade de diferenças que carregamos diariamente. Nada mais fácil do que juntar meia dúzia e criar um grupo de minoria (às vezes brincávamos, uma amiga e eu, que criaríamos o grupo das pesquisadoras de humanas morenas baixinhas). Não estou desmoralizando ou desmerecendo as lutas de minorias, só acho que é preciso não perder o foco das coisas. Se há práticas e ideias erradas contra as quais é preciso lutar, não é impondo outras tantas, tão arbitrárias quanto às primeiras, que vamos resolver os problemas. Se hoje há um consenso, equivocado, de que 'o normal' é ser 'heterossexual', não é dizendo que 'o normal' é 'ser gay ou lésbica' que vamos resolver nossos problemas. O ponto é reconstruir o conceito de 'normal' ou 'natural'. É mostrar que essa ideia de normalidade ou naturalidade está equivocada.
Bom, quanto ao deputado Bolsonaro, não acho que o caminho de desqualificá-lo como um todo seja o melhor. Acredito que o deputado, em outros quesitos, tenha algumas contribuições interessantes para fazer à política brasileira. E não é porque ele se mostra extremamente limitado quando o assunto é a questão homossexual que ele precisa ser transformado em 'demônio'. Isso, na verdade, só serviria de água para o moinho dele, que poderia se dizer perseguido pela 'ditadura gay' ou do 'politicamente correto'. Além do mais, o deputado presta um favor à sociedade brasileira quando vem a público externar essas opiniões que, com certeza são compartilhadas por muitos brasileiros, principalmente aqueles que são responsáveis pelos seis mandatos de deputado dele. Opiniões ofensivas e preconceituosas, mas que existem. Se Bolsonaro não viesse a público dizer todos esses absurdos a respeito da questão homossexual, teríamos a falsa ideia de que o Brasil é um país liberal e que evoluiu nesse debate...
8 comentários:
Olá, Fran.
Bem, Bolsonaro é um cara preocupante. Mas expulsá lo como muitos querem acho que é demais sem ter clareza do que é ou não crime falar.
Achei estas reportagens e achei interessante.
Este tal de "kit gay" que ele fala tanto. Quando vi a fala dele na plenária achei uma loucura esta idéia. Mas nas fontes a coisa é bem menos do que ele lança. Ai vão os vídeos tb.
Abraços
Vini
http://www1.folha.uol.com.br/poder/900508-policia-evita-confronto-entre-manifestantes-pro-e-contra-bolsonaro.shtml
http://www.jornalpequeno.com.br/blog/johncutrim/?p=12626
http://www.queverdadeeessa.com/2010/12/kit-gay-sera-distribuido-nas-escolas.html
É, fiquei estupefato com o teor das declarações do cara. Acho que ele pegou pesado demais, e o mais triste é saber que o sujeito é daqui...
Lúcido e bem argumentado o seu texto! Um beijo e boa semana.
Vini, obrigada pelo comentário e pela visita!
Eu tinha visto esse confronto entre manifestantes pro e contra Bolsonaro. Uma maluquice..
Com certeza ele distorce um monte de coisa. Sobre o "kit gay" ele exagera e muda as palavras das pessoas. Lastimável.
Mas eu também acho que expulsá-lo, como algumas pessoas querem é outro exagero. Como eu disse no texto, no limite é bom ter um cara como ele dizendo esses absurdos por aí, porque é uma maneira de sabermos o que pensam uma parcela dos brasileiros. Afinal, ele representa aqueles que o elegeram. Minimamente tudo isso serve para nos deixar alertas.
abraço
Marcelo, obrigada!
e boa semana pra vc também!
Querida, achei q já havia lido este post. Concordo plenamente como o terminou.
Outro dia uma amiga prof. q tem um filho q faz parte dessa geração q não acha q pelo faz parte da masculinidade e se depila e ela disse q não tem duas filhas e q ele teria q parar com aquilo. Disse a ela só falta vc dizer q prefere um filho marginal a gay. O prceconceito começa em casa.
Abraços
Oi Vanna!
obrigada pela visita e pelo comentário.
Com certeza uma coisa muito triste nessas discussões é o fato de que na maioria das vezes o preconceito vem de casa, dos próprios pais. Imagino que seja muito difícil para as pessoas essa sensação de não contar nem com o apoio de seus pais. E o que esperar dos outros, dos estranhos?
grande abraço
Fran querida, muito bem argumentado como sempre. Compartilhei em meu facebook. Bjs.
Fael (só assino assim procê...hehe)
ah, Fael! que legal um comentário seu aqui!! obrigada pela visita!
bjins
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