quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Sobre a dificuldade de caminhar ao lado de quem já desistiu de chegar a algum lugar

O ano ainda não acabou. Nem mesmo fechamos o 3º bimestre e eu já estou desanimada.
Não estou desanimada com os meus alunos! Felizmente o 3º bimestre está sendo um ótimo bimestre. Depois de alguns atritos e diferenças, algumas conversas francas, ouvindo críticas e podendo apontar o que eu esperava deles, minhas turmas estão caminhando bem! Estou feliz por isso. 

Do que estou desanimada? Do desânimo alheio! De colegas que, infelizmente, não acreditam na educação e, a priori, desacreditam seus alunos (meus alunos!!). 
Não entendo! Por que continuam? Qualquer coisa seria melhor do que continuar desse jeito. Vender cachorro quente na esquina (pode ser da escola mesmo! Vai ter bastante cliente!) ou coco na praia! Para que se amargurarem, se torturarem diariamente entrando nas salas de aula sem nenhum objetivo? Sem sonhos? Sem esperança? E ainda por cima contribuindo para matar sonhos alheios.
Estou cansada de ouvir que eu sou nova e que eles têm motivos para terem desistido. Dizem isso em tom profético como se no fundo estivessem (e acho que estão mesmo!) dizendo que em breve eu também desistirei (não são todos, ainda bem! E esse é um dos motivos que me fazem acreditar que é possível fazer mais, muito mais pela educação!). 

O sistema educacional brasileiro tem problemas? E quantos!! Parece mesmo que está tudo de ponta cabeças. E faz pouca ou nenhuma diferença se falamos da rede pública federal, estadual, municipal ou mesmo da rede privada. Mas isso justifica o professor entrar em sala de aula e cruzar os braços? Justifica as ausências semanais? Justifica o juízo simplista de que 'os alunos (todos!) não querem nada com nada'? Justifica um professor entrar 3 ou 4 vezes por semana na mesma classe e não saber o nome de seus alunos? Não na minha opinião! 

As muitas reivindicações feitas por sindicatos e pela classe de professores em geral são, em sua maioria, mais do que justas. No entanto, o maior desrespeito com os professores que tenho visto vem dos próprios professores. São os próprios professores que se escondem por detrás desse discurso de vitimização para simplesmente tornarem-se omissos no cumprimento de seu trabalho. Um médico que nega socorro a um paciente, por qualquer que seja a razão alegada, estaria certamente falhando em sua profissão. O mesmo podemos dizer de um professor que se nega a ensinar. 

Os alunos que tenho em sala de aula, muitas vezes, estão a milhas e milhas de distância do aluno que eu gostaria de ter, mas nem por isso eu tenho o direito de me recusar a fazer o meu trabalho. As cobranças são grandes? A tarefa é muita árdua? Não tenho dúvidas. A crescente burocratização da educação (são papeis e papeis e papeis que devem ser preenchidos, assinados, carimbados, protocolados, tabulados....) tem contribuído para com esse quadro de horrores em que se transformaram as escolas. E o que dizer das inúmeras avaliações e índices que brotam ano a ano? Resultado de estupidez e de interesses escusos em NÚMEROS! Número de matriculados, de transferidos, remanejados. Número de retidos, de desistentes, de sobreviventes e feridos...

Estamos cansados de ser vítimas de governos sem escrúpulos? Queremos melhores condições de trabalho? Queremos melhorias para a educação? Queremos melhores condições para os nossos alunos? Mais qualidade na educação?  Queremos mais tempo para nos dedicarmos ao preparo de aulas? À nossa formação?  Ou queremos NÚMERO na nossa conta bancária? 

O que ainda me faz acreditar na educação não são os discursos inflamados de sindicatos ou de partidários de Pqualquer, mas sim os cabelos brancos e a voz cansada de colegas que trazem sempre um sorriso no rosto, não sem se indignar com os erros e as falhas, mas que estão sempre com as mãos e a cabeça cheios de novidade, de coragem para encarar os desafios e de disposição para reinventar o seu "ser de professor". 

Os outros? É difícil encará-los. É vexatório e humilhante. Não dá para olhá-los nos olhos. Sinto pena. São como doentes terminais, para os quais não restou mais nada além de esperar a morte. Para esses a eutanásia seria o fim mais digno que poderiam ansiar. Mas muitos já perderam a dignidade...

Um comentário:

Jon disse...

Pra falar a verdade, os mortos-vivos estão espalhados por todas as áreas. Eles disseminam sua falência e descrédito por onde passam. Acredito que se direcionassem corretamente o poder de persuasão que tem, que no caso seria um ato de inteligência, certamente alcançariam a grana preta que sempre sonharam. Aos que trabalham motivados pelo amor, a minha solidariedade. Acreditem: nós é que de fato somos ricos.

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