Acabei de perder o ônibus! Mas, foda-se o ônibus! O que eu estou perdendo mesmo são as forças! O próximo ônibus virá em dez ou quinze minutos, mas e os meus sonhos? Eu já nem sei para onde eles foram...
Estou cansada de ouvir que não devo me preocupar, que não devo ficar nervosa, que não vale a pena, que eu não vou mudar nada, que está tudo perdido. O mundo está cheio de gente que já desistiu e que se converteu a essa que deve ser a seita do milênio: Desista você também!
Se o Estado (ou melhor, o governo) quer que os alunos sejam analfabetos, que não pensem, que não tenham conhecimento, que permaneçam ignorantes, o que nós, pobres professores, podemos fazer? Nada! Essa é a resposta padrão. Lavemos nossas mãos! Não é culpa do professor, tampouco da coordenação, menos ainda da direção e nada tem a ver com a diretoria de ensino...Somos todos vítimas! A culpa é do governo (e de quem o colocou lá onde está...) A aprovação automática, a progressão continuada, são um horror! Deixam todos burros, mas não é nossa culpa! São todos aprovados, com ou sem nota, mas eu não devo me preocupar, não é minha responsabilidade. Serão aprovados pelo conselho (no qual eu estarei...).
Faça sua parte, é o que me dizem. E eu me pergunto qual é a parte desta farsa que me cabe? Fingir que estou ensinando? Fingir que todos estão aprendendo? O diário todo em azul, que maravilha! (É o sonho de toda supervisora de ensino!) Como é linda a nossa educação! Viva os números! Todos aprovados! Como se a unanimidade não fosse burra...
Burra sou eu, esperneando, urrando, pedindo para ser chamada de incompetente.
Desista! Não vale a pena! Você é jovem, se eu fosse você iria fazer outra coisa, não entraria nisso... Que pena pra mim: fiz as escolhas erradas. O mundo já não precisa de professores. Ou melhor, não precisa de professores que tenham ilusões, sonhos, professores que queiram ensinar, que cobram, professores que reprovam! Não há mais lugar para esse tipo de professor. Por quê?
Porque hoje é tudo diferente. Porque os alunos de hoje não são como eram os de antigamente (como nós fomos!). Portanto, não há mais espaço para aquele tipo de professor (professores como os que eu tive!). Devo estar pelo menos algumas décadas atrasada...
Eu não sei o que aconteceu mas, de repente, as crianças e os jovens se tornaram seres estranhos a esse planeta. Nunca antes tivemos seres como esses (que não ouvem, que são terríveis, desinteressados, que só querem saber do celular, que não leem, que não respeitam...). É preciso reformular tudo, fazer diferente, mudar, inventar (moda e projetos e aulas diferenciadas...). É preciso encantar, seduzir... Não basta mais dar aulas. E no fim, que tal não fazer nada?
Desista! Essa é a lição do dia (do ano!). E já não tenho forças para resistir. Estou perdendo....
Mas o próximo ônibus está chegando, e esse eu não vou perder!
Escrito no ponto de ônibus da Alberto Sarmento, próximo das duas da tarde.
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