há um vírus lá fora,
mas também há pragas e outras pestes.
o vírus roubou nossos sorrisos, nossos abraços, nosso prazer de estar junto dos amigos.
as pragas e pestes já tinham nos separado, nos colocado em campos inimigos.
o vírus está roubando nossos amores: são mães, filhos, pais, filhas, tios e tias, colegas, amigos, conhecidos e milhares de desconhecidos, mas que eram amores de alguém.
as pragas e pestes estão roubando nossa humanidade: são quase 500 mil mortos pelo vírus
e parece que perdemos a capacidade de sentir; não estamos de luto? será que há luto suficiente para tantas vidas perdidas?
há um vírus lá fora,
mas as pragas e pestes estavam aqui dentro.
o vírus está nos tirando o ar, nos sufocando,
as pragas e pestes estão tirando nossa esperança, nossa alegria, nossa potência de vida.
o vírus nos trancafiou em casa - ou melhor, escancarou os privilégios que fingíamos ignorar.
as pragas e pestes aprofundam as desigualdades, alastram a miséria, são íntimas do desejo de matar e deixar morrer.
há um vírus lá fora
e nossa única chance de vencê-lo é eliminando as pragas e pestes das nossas vidas.
contra o vírus devemos usar máscaras,
contra as pragas e pestes devemos retirar todas as máscaras: de indiferença, de falta de empatia, de ódio, de vingança, de ressentimento, de violência.
elimar as pragas e pestes é exercício contínuo,
o vírus vai passar (ainda que outros possam surgir).
Por ora, temos que ter o direito de chorar nossos mortos,
de nos recolher e recompor nossas forças,
de resgatar nossa fé no humano que há em nós.
Façamos silêncio por todos que perderam suas vidas,
façamos silêncio com aqueles que choram seus entes queridos.
(Por todos que se foram, para todos que estão em luto)
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