Já não tenho o corpo
Que eu tinha aos vinte e poucos.
Mas sei que de algum modo
Ainda sou aquele corpo também.
E as experiências gravadas
Na alma e na pele
Cada toque, cada cheiro,
Cada espasmo de prazer
E todas as lágrimas vertidas até hoje
São partes daquele corpo também.
As rugas, as celulites e os cabelos brancos de agora
Cada cicatriz, cada sabor
Somados anos, dias, horas
E cada instante
Fazem de mim uma mulher
Muito mais interessante
Que a menina de vinte e poucos.
Não reclamo as marcas do tempo
- me assusto, é verdade -
Parece que foi rápido demais,
Nem invejo o frescor dos vinte e poucos
Pois hoje me sinto inteira
Com esse corpo que já foi aquele,
Com aquele corpo que também é esse.
Quando o corpo era mais fresco
Ele pesava mais.
Hoje, finalmente, parece que esse corpo
Com suas memórias e incertezas
Suas curvas e sobressalências
Está mais leve
E posso andar por aí
Muito mais firme e segura de mim.
Não troco esse corpo de hoje
Com toda sua bagagem
E suas histórias
Por aquele corpo de vinte e poucos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário