Entrou. Viu o corpo estendido no chão. Talvez tenha gritado. Talvez tenha se passado muito tempo até que a polícia entrasse. “Quem é ele?” “O que faz caído na sua sala?” “A que horas você chegou?” “Tem coisa fora do lugar?” “Deu falta em algo de valor?” Tudo estava confuso. Nem lembrava de ter chamado a polícia... Mas tinha o telefone nas mãos. Aos poucos surgiam olhares curiosos na porta e na janela.
A porta não estava arrombada. A sua chave ainda estava do lado de fora. O policial insistia nas perguntas. Olhava tudo na casa. Nenhum sinal de assalto. Tudo estava em ordem. A não ser aquele corpo estendido no chão. Havia sangue. Mas não tinha visto isso antes. Por que só agora viu a mancha de sangue? Droga! O tapete!! “não, não tem nada fora do lugar” – disse para o policial. “Também não sei quem é.” Aumentavam os olhares curiosos. Aos poucos muitas vozes se misturavam num cochicho frenético.
Como existe gente à toa! Como veio parar na minha sala? Por que justo no meu tapete?? Lavei na semana passada. Deu tanto trabalho... Era bonito. Não era mais tão novinho, deveria ter uns 38 anos. Tinha seu charme. Parecia ter classe. Pelos trajes, não teria entrado para roubar. Tinha os cabelos bem negros, a pele clara, não era nem gordo nem magro, a estatura também parecia padrão...
Outra vez o policial pergunta se reconhecia aquele rosto. “Não”. "Não tinha visto mesmo! Nem pela rua, em nenhuma fila..." O outro policial procurava por algum documento. Encontrou a carteira. Havia uma identificação. Era da companhia de água. "Meu Deus! A torneira da pia! "Foi ver. Não estava mais vazando. "Mas por que justo no meu tapete?... Mas como isso teria acontecido?"
Voltou para sala. "Mas não faz sentido: esse homem bem vestido veio consertar a torneira? Não, deve ter algo de errado..." Na identificação dizia João Henrique Correa. Nenhum documento mais. Não havia foto, nem dinheiro, só uma oração de São Francisco dobradinha no canto da carteira. Os dois policiais faziam cara de quem não estava entendo. Ligaram primeiro para a delegacia, depois para a companhia de água. O tal João Henrique saiu de manhã e não havia voltado. Viriam ver o corpo...
"Mas será que não vão retirar esse homem da minha sala? Preciso lavar meu tapete..." Outros policiais chegaram. O corpo saiu da sala num saco preto em meio ao burburinho e aos olhares de muitos curiosos. "Justo no meu tapete... Esse vermelho sangue.. Preciso lavar antes que não saia mais. Mas pelo menos consertou a torneira..." Aquele barulho de água pingando a havia irritado por uma semana. "Mas agora está tudo bem..."
Setembro de 2007
A porta não estava arrombada. A sua chave ainda estava do lado de fora. O policial insistia nas perguntas. Olhava tudo na casa. Nenhum sinal de assalto. Tudo estava em ordem. A não ser aquele corpo estendido no chão. Havia sangue. Mas não tinha visto isso antes. Por que só agora viu a mancha de sangue? Droga! O tapete!! “não, não tem nada fora do lugar” – disse para o policial. “Também não sei quem é.” Aumentavam os olhares curiosos. Aos poucos muitas vozes se misturavam num cochicho frenético.
Como existe gente à toa! Como veio parar na minha sala? Por que justo no meu tapete?? Lavei na semana passada. Deu tanto trabalho... Era bonito. Não era mais tão novinho, deveria ter uns 38 anos. Tinha seu charme. Parecia ter classe. Pelos trajes, não teria entrado para roubar. Tinha os cabelos bem negros, a pele clara, não era nem gordo nem magro, a estatura também parecia padrão...
Outra vez o policial pergunta se reconhecia aquele rosto. “Não”. "Não tinha visto mesmo! Nem pela rua, em nenhuma fila..." O outro policial procurava por algum documento. Encontrou a carteira. Havia uma identificação. Era da companhia de água. "Meu Deus! A torneira da pia! "Foi ver. Não estava mais vazando. "Mas por que justo no meu tapete?... Mas como isso teria acontecido?"
Voltou para sala. "Mas não faz sentido: esse homem bem vestido veio consertar a torneira? Não, deve ter algo de errado..." Na identificação dizia João Henrique Correa. Nenhum documento mais. Não havia foto, nem dinheiro, só uma oração de São Francisco dobradinha no canto da carteira. Os dois policiais faziam cara de quem não estava entendo. Ligaram primeiro para a delegacia, depois para a companhia de água. O tal João Henrique saiu de manhã e não havia voltado. Viriam ver o corpo...
"Mas será que não vão retirar esse homem da minha sala? Preciso lavar meu tapete..." Outros policiais chegaram. O corpo saiu da sala num saco preto em meio ao burburinho e aos olhares de muitos curiosos. "Justo no meu tapete... Esse vermelho sangue.. Preciso lavar antes que não saia mais. Mas pelo menos consertou a torneira..." Aquele barulho de água pingando a havia irritado por uma semana. "Mas agora está tudo bem..."
Setembro de 2007
3 comentários:
Belo texto... estou convencido de que você leva mesmo jeito pra ser escritora. Quando eu conseguir escrever com um ritmo desses vou ficar feliz... . Ainda chego lá.
Mas como nem tudo são flores, vou apontar algo que achei meio estranho...
Em alguns trechos eu tive dificuldade de identificar se o texto estava sendo narrado em primeira ou terceira pessoa. No final há uma frase que sugere que a narração está em terceira pessoa, mas o texto todo praticamente estava (segundo me pareceu) em primeira... Se não for um estilo novo e revolucionário que você está inventando (ou algo de que estou por fora) deve resultado apenas da falta de revisão do texto...
Abraços.
Impressão minha ou vc realmente está com problemas na torneira?
Denis, pior que minha torneira da pia da cozinha está com problemas mesmo...
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