terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

De longe

Chegava a passar meses sem conseguir botar uma sequência de meia dúzia de palavras no papel - agora com a modernidade, na tela do computador. Mas também quando elas apareciam, eram feito trem descontrolado, feito animal desembestado no pasto, uma atrás da outra, numa ânsia desmedida de dizer sei lá quantas coisas. De contar histórias que sabe-se lá de onde saem. São tantas vidas, tantos nomes e rios,  e cores e cheiros, que não sabia se eram de vidas passadas, de vidas futuras ou simplesmente lembranças. Mas era como se o mundo que estava escondido, de repente, resolvesse dar o ar da graça. São Marias e Claras, e Joanas e Antonios, e Pedros e afins, que brotam, que entram sem pedir licença. Cada um com uma vida inteira, de filhos e avós, de alegrias e fracassos, de lágrimas e de gargalhadas. Sentia-se, não que soubesse como se sinta de verdade, como um médium, recebendo tantas almas de um mundo que não era o seu, mas que parecia estar bem ali, tão próximo que quase podia tocar aquelas tantas vidas.

*****

Uma voz diz que precisa pedir perdão. Que precisa dizer que agora sabe que estava errada. Sussura um nome, mas foi baixo demais. Quase ao mesmo tempo, ouve uma voz de criança, dizendo que os brinquedos devem ser doados, que já não faz sentido guardar aqueles bonecos. É hora de passar adiante. 
Será que era ela? Com seus 10 anos, se libertando daqueles restos de infância que, por insistência da mãe, ainda guardava  em caixas, em cima do armário de roupas?

Sintia um cheiro de terra molhada. Parece um fim de tarde de verão. Quase 19 horas, mas está muito claro. Vê uma mão que acaricia uma cabeça de criança. Deitada, com os cabelos longos, aproveitando aquele colo tão perfeito de mãe. 
Ah, se soubesse que crescer doia, não tinha nunca deixado de ter 6 anos.

O homem de cabelos brancos, que balança na cadeira solitário, tinha algo de familiar. Talvez as entradas, ou seria o olhar? Não sabia se era o pai ou o avô, ou quem sabe o irmão. 

Fechava e abria os olhos na tentativa de espantar aquelas imagens. Mas vinham os sons, como se dentro dela tivesse uma fita sendo rodada. Sabia que aquelas sensações lhe renderiam muitas páginas. Uma de cada vez. Devia prestar atenção, muitas histórias queriam ser contadas. 

E é assim, uns vem e outros vão. Talvez um dia encontre essas almas, talvez já as tenha encontrado e não recorde.
Talvez, ela pensava, eu seja boa em inventar histórias.

Um comentário:

Tainá Assis disse...

São tantas histórias, tantas idéias, que me pergunto se as vi, se as li ou se são simplesmente minha doida imaginação. E são!
Uma válvula de escape do mundo!

Saudades!

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