A adolescência, na medida em que está entre a infância e a vida adulta, pode ser caracterizada como um vazio, uma fase de não-ser. O adolescente, que não-é-criança e não-é-adulto,encontra-se num processo de construção, é um ser-em-construção.
Enquanto processo, a adolescência é marcada por mudanças, físicas e
psicológicas, confrontos, negações, busca de autoafirmação e de construção de
identidade. É um processo doloroso. Crescer, amadurecer dói. Afinal, trata-se
de uma ruptura com o mundo da infância. Como toda ruptura, a adolescência traz,
muitas vezes, o sentimento de perda que, por si só, gera sofrimento. O
adolescente durante esse processo sente-se sozinho, incompreendido, diferente
(dos outros do grupo; da família; daquele eu
que lhe era familiar até ontem...).
Reconhecer essa fase como potencial geradora de sofrimento já é meio
caminho andado para que nós, adultos, possamos estabelecer um diálogo com o
adolescente. É bem verdade que também passamos por isso, mas talvez já não
tenhamos condições de lembrar exatamente como nos sentimos. É possível que muitos
de nós, ao olhar para trás, por causa do distanciamento, já não possamos mais
trazer à memória os sentimentos tão comuns a esta fase: solidão, incompreensão,
medo, insegurança, revolta. Mas como seres humanos que somos, em qualquer fase
que estejamos, sabemos que todos, em menor ou maior grau, estamos buscando aceitação, carinho, compreensão, respeito. E com o adolescente não é
diferente.
Os adolescentes precisam se sentir importantes, amados, cuidados,
protegidos, acolhidos. Mesmo quando eles parecem nos dizer o oposto, querendo
distância, clamando por liberdade, respondendo de forma grosseira, fingindo não
se importar com nada. Não é uma relação fácil, é preciso reconhecer isso
também. A relação entre adultos e adolescentes é marcada por desentendimentos,
desencontros, por palavras que, muitas vezes, causam feridas em ambas as
partes. Mas precisamos lembrar que nós somos os adultos. E se nós, pais e
educadores, não nos aproximarmos dos nossos adolescentes, não dermos a atenção,
o carinho, a segurança e o acolhimento que eles tanto desejam e precisam,
sempre haverá alguém para fazer isso em nosso lugar. Em tempos de facebook e
whatsapp, pode ser uma comunidade Baleia Azul ou sei lá quantos outros
aparecerão para preencher o espaço que deixamos vazio.
Vivemos numa época de excessos: de muita correria, de muito estresse,
de muito egoísmo e de muito consumo. Trabalhamos muito porque temos muitas
contas a pagar. Mas essas contas são resultado dos muitos desejos que nos
ensinaram que devemos ter: o carro do ano, o último celular lançado no mercado,
as roupas de marca mais caras, o corpo mais perfeito...Não percebemos que,
lentamente, nós é que estamos sendo consumidos: pelo cansaço, pela
insensibilidade, pela superficialidade das relações que estabelecemos, pela
solidão... Somos consumidos por nossos medos e frustrações, num mundo onde a ‘felicidade’
é imperativa: no Instagram, no Twiter, no Youtube, é mandatório ser bem sucedido,
ser magro, ser bonito, estar na moda, sorrir, ser feliz... Se para muitos
adultos já é um grande desafio não espanar
diante de tanta cobrança, o que dizer dos adolescentes?
Tudo isso se torna mais um motivo para lembrarmos que eles – os adolescentes
– precisam de nós – os adultos. Precisam se sentir amparados. Eles não
querem/esperam que nós tenhamos todas as respostas, que saibamos de tudo, que
indiquemos o caminho. Eles querem/esperam que tenhamos tempo e paciência para
ouvi-los, que suas dúvidas e medos não sejam infantilizados ou menosprezados,
que seus passos, ainda que em direção diferente dos nossos, sejam acompanhados
com interesse. Os adolescentes esperam que nós tenhamos coragem de assumir
nossas fragilidades, que sejamos autênticos! Os adolescentes rejeitam a mentira
e a falsidade. Nossos exemplos, muito mais do que nossos sermões, são
observados e julgados pelos adolescentes a todo momento. E qualquer sinal de
contradição pode significar perda de credibilidade/confiança. O adolescente é
muito crítico, mas também é muito radical em seus julgamentos.
Nós, adultos, precisamos estar cientes da nossa responsabilidade, mas
é muito mais importante estarmos convencidos da importância de ser e se fazer
presente na vida dos adolescentes. Ser e estar presente sem, no entanto,
sufocar, reprimir, impedir que eles aprendam a caminhar com as próprias pernas.
É preciso estar perto o suficiente para ajudá-los, caso tropecem ou caiam.
Perto o suficiente para reconhecer pedidos de ajuda e oferecer um abraço, sem
julgar. Perto o suficiente, para que nem baleias nem qualquer outro bicho ocupe o nosso lugar na vida dos
adolescentes.
A adolescência, para além das suas dificuldades, deve ser vista por
nós, adultos, e pelos próprios adolescentes, como uma fase de alegria, de
amizade, de descobertas e conquistas, de paixão e encantamento, de beleza, de
amor, de vida, de muita vida!!
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