Eis que mais uma vez a já desfalecida democracia brasileira sofre novo golpe. Os áudios divulgados de conversas entre Joesley Batista (JBS) e Temer e as delações dos irmãos Batista ao MPF vieram para nos lembrar que não sobrará pedra sobre pedra. Mais do que Temer, quem foi fritado impiedosamente nessa nova e inesperada fase da Lava-Jato foi Aécio Neves.
As últimas notícias deixam esse xadrez ainda mais confuso. Tem gente tentando entender até agora a jogada da Rede Globo na semana passada com aquele Plantão de anuncio do fim do mundo: jornalista com voz trêmula, quase chorando, parecia o apocalipse chegando. A notícia foi tão bombástica que o William Bonner não se conteve e já se apressou em sair com Temer, chamando-o de ex-presidente. Teve gente que pediu a cabeça do Temer para logo em seguida voltar atrás. Esses moleques acham que são gente grande, mas aprontam cada uma...
Mas verdade seja dita, ninguém entende mais nada do que acontece por aqui. De um lado tem gente gritando por 'Diretas, já!' (eu sei que vai ser malvado meu comentário: mas é a realização de um grande sonho de muitos militantes de esquerda que estavam em fraldas no final dos anos 80! pronto falei! e tem uns ex-batedores-de-panela que ficaram sem rumo e aderiram ao coro); de um outro lado tem gente esbravejando que temos que respeitar a Constituição (engraçado que é o mesmo povo que não pensou duas vezes em amassar a mesma Constituição quando se tratava de tirar a Dilma da cadeira da presidência, lugar esse em que ela chegou pelo voto popular...); e num outro lado (sim, finalmente parece que há mais que dois lados!) tem algumas almas perdidas com seus cartazes tímidos pedindo Eleições Gerais (isso significa antecipar o pleito de 2018 e fazer uma limpa geral, jogando na rua da amargura - ou seria na porta da cadeia? - a maioria dos excelentíssimos senhores que hoje dominam o Congresso Nacional).
É uma conversa difícil, mas vamos tentar analisar essas possibilidades. Comecemos pelos que agora podem ser chamados de conservadores ( = desejam conservar os mesmos interesses que Michel Temer representava quando ocupou o lugar de Dilma). Esses, em sua maioria, devem apoiar a eleição indireta e muito provavelmente defenderão o nome de Henrique Meirelles. O blog do Sakamoto traz ótima análise dos interesses em questão para quem defenderá essa alternativa nesse texto. Nessa opção, pelo menos estamos livres de certa figura mitológica que não seria escolhida por esse Congresso bizarro (embora ele seja em grande parte composto pela bancada BBB, que tanto combina com o senhor B).
Vejamos o povo da 'Diretas, já!' Em boa parte esse grupo é formado por pessoas assumidamente de esquerda e simpatizantes. Dentro desse bolo, há um grande número de defensores-cegos do PT que clamam por Lula como candidato. Acredito que esse é o bloco do delírio. É apostar numa convulsão civil. Se Lula é eleito, acredito que no momento seguinte teremos uma guerra civil nesse país. Apostar em Lula candidato agora ou em 2018 é apostar na cegueira das paixões (amor x ódio). Ao mesmo tempo, por mais que o senhor B nesse momento faça coro aos conservadores e defenda eleições indiretas, ele é uma ameaça crescente. A outra parte desse grupo formada por ex-batedores-de-panelas tem sonhos eróticos com os uniformes dos anos 60-70. E para esse grupo, quanto mais os petistas apostam em Lula, mais real se torna a possibilidade do discurso de ódio do senhor B ganhar as ruas, basta ver os comentários nas notícias recentes. Brincar com isso é brincar com fogo (literalmente, afinal o senhor B adora bala, e não é bala doce...).
O último grupo, o dos que defendem antecipação de eleições gerais, ainda não sei traçar um perfil. Alguns poucos congressistas têm levantado essa bandeira e também parte da esquerda. Pelos mesmos motivos citados anteriormente relativos à Lula e ao senhor B, não consigo me sentir segura de que essa alternativa realmente vá funcionar nesse momento. Mas é importante notar que ela não conta com o apoio da maioria dos congressistas. Muitos dos deputados e senadores que encamparam o Diretas já! devem ter pesadelo só de pensar em Eleições Gerais, afinal, o medo de encarar uma cadeia logo em seguida deve congelar as espinhas, embora eles estejam disfarçando bem esse medo, saltitando aqui e acolá como se nada estivesse acontecendo ou fosse acontecer.
É difícil concluir alguma coisa nesse momento. Este texto está tão inconcluso quanto a situação do país. Uma coisa eu tenho pensado: eleições diretas só para presidente nesse momento, pode ser outro golpe no povo brasileiro. No meio dessa confusão e falta de bom senso, tudo pode acontecer. Eleger de forma direta um representante dos interesses das elites econômicas não seria mais catastrófico do que eleger indiretamente uma figura com o mesmo perfil? Nesse último caso, restaria ainda a desculpa de que tratar-se-ia (para que ninguém sinta saudade do presidente das mesóclises) de uma governo ilegítimo, eleito por um Congresso também ilegítimo. No outro caso, não teríamos desculpas. De um lado, podemos ter Henrique Meireles eleito pelo Congresso, mas de outro podemos ter um aventureiro-gestor-não-político fazendo política-marqueteira e defendendo os mesmos senhores do dinheiro. Não sei em qual desses casos o estrago tem potencial para ser maior...
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