"Um menino, desde cedo, sabe que ele é um ser de responsabilidade quando tem de poupar. Os ricos capitalizam seus recursos. Os pobres consomem tudo" (Paulo Guedes - ministro da economia- Congresso em Foco)
Três afirmações, mas tem tanta coisa errada aí que é difícil até começar. Mas comecemos pelo machismo: "um menino, desde cedo, sabe que ele é um ser de responsabilidade quando tem de poupar". Na cabeça do Posto Ipiranga de Bolsonaro, responsabilidade é coisa de menino, assim como, "todo brasileiro é apaixonado por carro". Mas o menino só sabe que é um ser de responsabilidade quando poupa. Os outros meninos, que não poupam, seriam irresponsáveis? Como as meninas? Ou será que aí já não é mais uma questão de gênero, e sim de classe? Afinal, para o chicago boy transvestido de ministro, "Os ricos capitalizam seus recursos. Os pobres consomem tudo".
Segundo alguns dicionários, uma das definições de pobre é desprovido de recursos próprios. Nesse caso, o que exatamente seria o "tudo" que os pobres consomem, segundo Guedes? Esse "tudo" de que fala o Posto Ipiranga seria o salário - quando o pobre tem emprego? Um salário de R$ 998,00? Realmente esses pobres são uns irresponsáveis! Como não são capazes de poupar seus recursos? Ou ainda de capitalizar seus recursos?
Que os ricos capitalizem seus recursos é algo bastante compreensível (e esperado), mas que os desprovidos de recursos o façam, para mim é uma questão de mágica. Será que o Posto Ipiranga agora também é mágico? E estaria disposto a 'compartilhar' seus truques para poupar quando se ganha R$ 998,00? Vejamos, nem precisa ser tão pobre assim, vamos pensar num pobre que receba R$ 1500,00, tem uma família com três pessoas - o ser de responsabilidade, a esposa (um ser sem responsabilidades, que portanto, não trabalha nem poupa) e um filho -, morando numa cidade como Campinas, pagando aluguel (média de 800,00), água, luz, transporte, alimentação... Quais das despesas básicas o ser de responsabilidade deveria deixar de pagar para poupar? E se deixasse de pagar, ainda seria um ser de responsabilidade, na concepção do Guedes?
Se a declaração de Paulo Guedes não é exemplo de pura e completa perversidade (bem ao estilo do ex-ministro chileno que mandou a população acordar mais cedo para pagar mais barato pelo metrô), não sei o que é. Não é possível que ele não tenha nenhum conhecimento da realidade do país. Pensando bem, é possível sim, é bem possível. Afinal, ele caiu de paraquedas no setor público, nunca se interessou por números que não fossem os do setor financeiro. E quando se trata de números, estatísticas e dados sobre a população brasileira, se perguntar demais a gente descobre coisa que não queria saber. Suas declarações, assim como suas intenções de reformas, são provas contundentes da sua incapacidade para estar onde está. Mas também são demonstrações do desprezo que uma certa elite brasileira sempre teve em relação aos pobres. Mas agora, nesse Brasil de Bolsonaros e Postos Ipirangas, esse desprezo se tornou política pública, e o escárnio é escancarado.
Se o Congresso Nacional, capitaneado por Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, referendar as propostas de deforma tributária que os cabeças-de-planilha estão arquitetando - com previsão de aumento de tributação sobre rendimento da poupança, cesta básica, remédios, rescisão trabalhista e muito mais -, nós veremos o Brasil disparar rumo a miséria. Se tudo der certo - tudo que o Posto Ipiranga prometeu fazer: privatizar tudo, reforma tributária, reforma administrativa - os pobres e parte da classe média vão se f.... de verde e amarelo, e graças a irresponsabilidade típica dessa gente, não vão poupar nada. Já Guedes, sua família e todos os outros seres de responsabilidades vão continuar capitalizando seus recursos (ou seria os recursos saqueados dos pobres?...).
Quem dera os pobres não poupassem indignação com esse desgoverno. Quem dera não poupassem revolta contra o escárnio do Posto Ipiranga. Quem dera não poupassem esforços para imitar nossos vizinhos chilenos. Por enquanto estamos apenas fazendo reserva, não vejo a hora de transbordar...
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