quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Lembranças e "desejos"

Um dia eu estava triste. Com vontade de chorar, mas nem sabia o porquê. Aqueles dias que a gente levanta, olha pro espelho e tem vontade de chorar...(eu sei que a grande maioria das mulheres vai me entender e os homens vão fazer aquela cara de : "eu sei do que você está falando"). Mas, como eu dizia, estava assim, triste, com vontade de chorar e era uma sexta-feira. As meninas que moravam comigo iam viajar. Eu ficaria sozinha em casa todo fim de semana. Tinha muitas coisas para estudar, ia ser um fim de semana daqueles. Uma das meninas que na época morava comigo, a Amandinha, uma pessoa encantadora, uma das pessoas mais meiga e linda que já conheci, conversou comigo de manhã, viu algumas lágrimas caírem dos meus olhos (não foram as primeiras e estavam longe de serem as últimas desde que a gente se conheceu!). Fui pra faculdade. Pra ser bem sincera, não me lembro do que fiz nesse dia. Mas voltei pra casa umas seis horas. Subi as escadas com vontade de chorar ainda. (Isso eu me lembro!). Abri a porta. Em cima da mesa encontrei uma folha de caderno com a letrinha da Amanda. Lá estava o poema "Desejos", do Carlos Drummond de Andrade. No final um recadinho lindo me desejando um bom fim de semana! A tal folha está até hoje colada na porta do meu guarda-roupas. Sempre que me sinto triste, por qualquer motivo que seja, eu vou lá e releio esse poema. Faz um bem... Então, vou aproveitar pra dividir com todos que passarem por aqui!

Desejos de Carlos Drummond de Andrade,
e meus também...

Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel

E muito carinho meu

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