No ônibus, as senhoras conversam sobre os cobradores que não rodam a roleta quando elas ficam na parte da frente no transporte coletivo. E uma dizia fazer questão de passar pela roleta! Depois falaram sobre viagens. Aposentados têm direito de viajar de graça, e uma delas dizia gostar muito de viajar e que uma outra colega não aproveitava a chance, mas estava estudando, fazendo faculdade, e se formaria aos 71 anos.
No ponto de ônibus, o pai sentado com a mochila da filha entre as pernas. A menina, sentada ao lado, mas sem sinal de interação entre eles, usava um tênis que parecia ser uns 10 números a mais do que o dela, com uma língua verde limão, a menina usa uma blusa rosa, com um lenço, também rosa amarrado no pescoço. Estavam lá, um do lado do outro, em silêncio, como se um ignorasse a presença do outro...
Muitas bitucas de cigarro lançadas ao chão. Um trabalhador varre, junta as bitucas, ajeita para dentro da pá. No mesmo momento, dois, três arremessam novas bitucas no chão.
Uma pessoa entra no ônibus, com um vestido azul longo e um lenço, também azul, amarrado na cabeça. A pessoa é grande e chama atenção. Alguns fazem cara de nojo, outros de reprovação, outros de zombaria. Ela, que nasceu ele, mas que deveria ser respeitada por aquilo que é, por escolha ou não (porque também não escolhemos nascer meninos ou meninas), andou de cabeça erguida, mas com certeza sentia o peso e a indelicadeza daqueles olhares curiosos, preconceituosos, impiedosos por onde passava.
Estudantes imersos em seus fones de ouvido. Papeis de bala descuidadamente caem no chão. Um jovem recém chegado pede informações. O cobrador de ônibus não sabe. O mesmo cobrador dá informação errada minutos depois a uma senhora. É corrigido pelo colega. Parece não conhecer os trajetos dos ônibus...
Não são só os jovens que estão conectados aos fios que saem do ipod ou do celular. Ela, cabelos grisalhos, caminhando para os 60 anos, com os fones no ouvido, está distraída apertando botões de um celular vermelho.
Eu observo e vou juntando cada imagem num único quadro. Um quadro complexo que muda de minuto em minuto. E mudo eu de uma impressão a outra, de uma ideia a outra, de um sentimento a outro. E sou eu o pano de fundo desse Mosaico Urbano.
4 comentários:
Querida, saudades d vir aqui. Como disse, perco muito se não venho.
Vivo esta sensação descrita no texto por isso amei.
Bjs, bom fim d semana.
Vanna, obrigada pela visita! e apareça sempre que puder!!
bom fim de semana pra vc também!
Fran
Muito bacana o seu blog, Francine. Gostei muito do que li! Agradeço muito sua visita e seu comment no Consoantes Reticentes. Um beijo e bom fim de semana pra você.
Marcelo, obrigada pela visita!
Espero que volte mais vezes.
bom fim de semana.
Francine
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