sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Fim

Mais um fim de ano. Dois mil e treze se vai. Confesso que estou tão cansada que não vejo a hora dele se mandar de vez. Preciso de férias. 
Fazendo uma balanço, foi um ano bom. Muitas experiências importante em sala de aula, na vida na escola e na vida em geral, ainda que, trabalhando em três escolas, quase não haja vida fora da escola...Mas ainda sobrou tempo para filmes, no cinema ou em casa, para reuniões com amigos, para visita a família, para brincadeiras com a gata! 
Junto com o fim do ano vem também o encerramento de alguns ciclos. Fim de contrato numa escola, pedido de demissão em outra. Sentimento de alívio, de saudade antecipada (principalmente depois de receber uma dúzia de cartões tão especiais de alunos queridos!), de missão cumprida, de fracasso, de reconhecimento, de desrespeito... Tudo junto e misturado. Mas agora é hora de separar o que vou guardar e o que vou tratar de jogar fora o quanto antes. 
Entre uma conversa e outra, também vem a clara percepção que estamos sempre a um passo de nos decepcionar com as pessoas. Claro, a decepção é de única e exclusiva responsabilidade de quem se sente decepcionado, afinal, quem foi que lhe deu o direito de criar expectativas sobre as pessoas? Sobre suas atitudes e posturas? Problema seu! No caso, meu! Eu não entendo o que leva as pessoas a complicarem tanto a vida. Basta ser honesto e sincero. Pelo menos eu acredito nisso. Mas, talvez isso também faça parte dos ciclos que se fecham...
Que venha 2014 com seus desafios. Eu sei que nem vencemos a primeira quinzena de dezembro, mas estou precisando sentir o cheiro do novo, estou precisando de esperança no futuro, em dias melhores...

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Fragmentos de pensamentos

O mar é grande
Maior é a vida
Eu prefiro mesmo
as águas de cachoeiras.

*****

A vida é breve
uma cruz marca o fim,
um beijo marca o melhor: amor, paixão!
as águas que correm
levam muitas vidas,
muitos beijos...
Poço das Fadas/Matutu
Aiuruóca, MG
19/07/13

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Quatro de julho - um fim de tarde

E sei lá de onde vem,
mas de repente,
num fim de tarde ordinário como esse,
apossa-se de mim um não sei bem o que,
uma danada de uma emoção boba,
que me faz chorar.

Chorar ao ler algumas linhas soltas aqui e acolá
sobre qualquer coisa.
De repente as lágrimas traduzem esse não sei o que
que é misto de saudade e medo,
de esperança e desilusão.

Difícil pensar que já houve um tempo em que tudo era tão fácil.
Agora,
- não, não é só agora, mas essa agora tem se prolongado, -
é tão difícil não ser tomada pelas águas da seca.
E com que estranheza não me deixo molhar pelas gotas fora de época.
Não era pra ter passado?

São notícias de longe,
escrita sem grandes pretensões,
mas que comove,
que leva às lágrimas,
que fala de vidas que de alguma forma também é a minha.

São palavras de longe,
de uma terra que nunca me pertenceu,
e que falam de uma dor que eu não quero sentir.

Ah, esse fim de tarde de inverno,
tão ordinário,
lembrando-me que a vida é quase tudo isso e mais nada.

sábado, 22 de junho de 2013

Acordamos!? Será??

A melhor maneira de começar esse texto seria dizendo: Muita calma nessa hora! Difícil analisar tudo o que aconteceu no Brasil nas últimas semanas e ainda está acontecendo. 
Inicialmente, as manifestações que ganharam as ruas tiveram um objetivo bem pontual: redução das tarifas do transporte coletivo em muitas cidades do país. Em São Paulo, as primeiras manifestações foram organizadas pelo MPL (Movimento Passe Livre), pedindo a revogação do aumento de R$0,20 nas tarifas de ônibus, trem e metrô. Mas depois de cenas de exagero e descontrole da polícia terem ganhado as principais páginas de jornais de todo país e, principalmente, terem corrido aos quatro ventos via facebook e youtube, as pessoas saíram às ruas não só de São Paulo, mas do Brasil inteiro, não mais por R$0,20. Os cartazes levantados pelos manifestantes colocavam na ordem do dia uma série de problemas: Corrupção; Impunidade; Serviços básicos de má qualidade - saúde, educação, transporte e segurança; Falta de transparência nos gastos públicos; superfaturamento nas obras da Copa; PEC 37 e por aí vai. 
Manifestações que, assim como o próprio MPL, são apartidárias. O que está longe de significar apolíticas. Tenho lido alguns artigos nos quais, por ignorância ou desonestidade intelectual, tem-se afirmado a co-extensão entre os termos. É preciso fazer algumas diferenciações: primeiramente, apartidário não é necessariamente igual a anti-partidário. Ao dizer que as manifestações são apartidárias, os manifestantes não estão necessariamente pedindo o fim dos partidos políticos, mas poderíamos dizer que estão afirmando que não se sentem representados por nenhum dos partidos que aí estão. Em décadas os partidos políticos brasileiros conseguiram a proeza de despertar em grande parte da população o sentimento de que eles não nos representam. Muitos políticos que agora tentam desqualificar as manifestações nas ruas dizendo que elas são despolitizadas, deveriam repensar o que fizeram durante essas três décadas de democracia no Brasil para politizar essa juventude que agora toma as ruas. Vale a ressalva de que politizar é bem diferente de doutrinar!
Ainda tenho dúvidas se despolitizada é uma boa palavra para qualificar a multidão que ganha as ruas. Sinceramente, apolítica é algo que nem sequer consigo compreender...Quando milhares de pessoas saem às ruas gritando por melhoria na qualidade de serviços públicos, pelo fim da corrupção e da impunidade, não vejo outra coisa nisso tudo que não uma ação política. 
Mas, se por despolitizada entendemos a falta de uma pauta clara, de conhecimento sobre o fazer político no país, e até mesmo desconhecimento das figuras carimbadas da nossa política que outrora lutaram pela democracia, ok, eu concordo, temos uma grande massa despolitizada no Brasil ganhando suas ruas. Mas isso é culpa de quem? Durante essas três décadas de democracia o que temos visto é uma terceirização da política no Brasil. O que eu quero dizer com isso? A grande maioria dos 'cidadãos' só exercem sua cidadania na hora de votar e eleger os seus 'representantes'. Mas não tinham (e não têm) a menor ideia de para que serve um senador ou deputado, ou da diferença entre poder judiciário, legislativo ou executivo. E poucos tinham reclamado da despolitização do brasileiro até então. 
Depois que foram anunciadas as reduções de tarifas nas principais capitais e em várias cidades do país, ficou o sentimento de "E agora José?".
O que estou percebendo é que estão todos perdidos. É novidade, e não há parâmetros para se enquadrar o que estamos vivendo. Também não estou afirmando que estamos vivendo uma grande revolução. Qualquer afirmação desse tipo (vide capa da VEJA da semana) deve ser considerada com muita ressalva. Os velhos grupos acostumados a 'representar' o povo brasileiro,  e que podemos classificar - e eles mesmo fazem questão de assim se afirmarem -   como direita e esquerda, estão agora desbaratinados. A direita (leia-se setores conservadores representados por partidos como PSDB e grande mídia) vê numa movimentação apartidária uma crítica direta ao PT e incita a bandeira do 'fora Dilma'.  A esquerda (sei lá quem botar nesse saco, mas vamos fazer de conta que o PT ainda é esquerda,  e põe aí junto PSOL, PCO, PCdoB e cia), por sua vez, vê a manifestação apartidária como um perigo fascista conservador de ultra direita, quando as bandeiras vermelhas são proibidas de serem erguidas em meio a multidão. Que fique bem claro: NÃO SOU A FAVOR DA VIOLÊNCIA que, infelizmente, ocorreu em alguns lugares contra os militantes de partidos ou movimentos sociais. Mas é preciso tentar entender o que está acontecendo. E enquanto continuarem, esses e aqueles, apenas tentando pegar carona nas manifestações, não vamos ganhar absolutamente nada. E pior, corre-se o risco de perder toda essa força que, talvez, o povo tenha descoberto que lhe pertence. 

De tudo que aconteceu até agora, parece que podemos tirar algumas lições:
i) Se parece que o povo acordou, os políticos e seus partidos ainda não acordaram, no máximo estão experimentando um terrível pesadelo.
ii) Ir para as ruas é fazer política, e o apartidarismo dessas manifestações, se bem direcionado, tem um potencial muito grande de cobrar mudanças em todos os níveis de governo (municipal, estadual e federal), independente de qual partido estiver no poder.
iii) Vândalos e bandidos se aproveitando de momentos de grandes manifestações há em todos os lugares. Isso não deve justificar os prejuízos que estamos tendo, mas NÃO PODE DESQUALIFICAR as manifestações. Além disso, para os criminosos, que venha a polícia!
iv) Se queremos que essas manifestações tenham um fim digno, faz-se urgente criar espaços de discussões e politização dos que estão indo para as ruas. É preciso ir para a rua com objetivos claros. Antes de sair de casa as pessoas devem se perguntar: Por que estou indo às ruas? O que eu quero? Usemos as mídias sociais, usemos as salas de aula, façamos política!! Só assim poderemos dizer, talvez daqui alguns anos, que acordamos!

sábado, 25 de maio de 2013

Orgulho da minha terra!

Olha só que notícia boa: um jovem estudante da Escola Estadual Marquês de Sapucaí, de Delfim Moreira, ficou em 1º lugar, no estado de Minas, e em 6º lugar entre os participantes do Brasil inteiro, num concurso de redação promovido pelos Correios. A reportagem é emociante! Veja aqui. E tem mais aqui.
Parabéns ao Luiz Augusto! Parabéns aos professores da Marquês que se empenham em promover talentos e construir conhecimento de verdade. Coisas assim me deixam muito orgulhosa de dizer que estudei na Escola Estadual Marquês de Sapucaí! 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Comida di buteco*

Sexta-feira chegou! Ótimo dia para sair com os amigos, tomar uma cervejinha e petiscar em algum buteco, enquanto se joga conversa fora. Mas tem o sábado também...
Hoje eu gostaria de dar duas dicas de lugares para ir prosear com os amigos e, claro, tomar uma cervejinha e comer bem! O Comida di buteco é um concurso de comida raiz ou, simplesmente, petiscos de buteco e que tem tudo a ver com o Mineirices, uma vez que nasceu lá em BH. Quem quiser saber mais sobre a história desse concurso, pode dar uma espiada aqui
Esse ano, os ingredientes dos petiscos são linguiça e mandioca. Em Barão tem dois estabelecimentos participando do concurso: o Ponto 1 e o Estação Barão
O Ponto 1 está com o pastel Meia-luapastel com massa de mandioca recheado com linguiça de pernil suína e queijo, acompanhado com molho salsa. Vai bem com uma cachaça ou com uma cerveja! 
O Estação Barão apresenta o Carroça da Roça: porção mista de linguiças artesanais e de bolinhos de mandioca com alho-poró. Acompanha molho à moda da casa.
Hum... tá difícil decidir qual o melhor petisco de Barão! Só posso dizer que Barão está bem representado nessa edição do Comida di Buteco. Até o dia 05 de maio, indo saborear essas delícias, você participa da votação! 
Aproveitem a sexta, o sábado, o domingo..enfim, fica a dica!!

sábado, 13 de abril de 2013

O que queremos: um estado laico ou uma teocracia evangélica?

Apesar de todos os pesares, ainda acredito que vale a pena defender a liberdade de expressão, o direito à pluralidade de opiniões para uma sociedade. Digo apesar porque uma vez elas existindo, há espaço para Bolsonaros e Felicianos nos bombardearem com suas ideias retrógradas e preconceituosas em público. Mas como já escrevi em outro post aqui, Bolsonaros cumprem um papel muito importante dentro de uma sociedade, pois eles nos alertam para os perigos de uma sociedade que se auto intitula moderna, livre de preconceitos e liberal, como é o caso da sociedade brasileira, e que joga para debaixo do tapete seus moralismos, machismos e toda ordem de julgamentos pequenos, muito típicos de mentalidades pouco acostumadas a pensarem, mas que facilmente aceitam a tutoria de falsos pastores que os arrebanham com promessas de paraísos e outras tantas recompensas. 
Sinceramente, como cidadã e como educadora, a cada dia tenho mais e mais medo do destino do Brasil nas mãos de bancadas evangélicas e de outros setores conservadores que têm mostrado recentemente a que vieram dentro do cenário político. Em nada esses grupos se diferenciam, no que diz respeito ao modus operandi da política brasileira, dos demais grupos atuantes em Brasília ou nas prefeituras interior afora: roubam, mentem, fazem acordos escusos em troca de poder e apoio, empregam amigos, familiares e fantasmas, têm fichas sujas, sonegam impostos. Portanto, está mais do que provado que ser cristão não é garantia de ações éticas e morais corretas. Mas essas pessoas insistem em se auto declarem defensoras da moral e da ética, e apontam dedos para 'pecados' e 'deslizes' alheios com uma facilidade digna de um fariseu capaz de ver o cisco no olho alheio, mas incapaz de retirar a trave do seu próprio olho. Condenam ações e estilos de vida ao inferno com uma certeza que nos fazem perguntar se esqueceram que a falta de amor e caridade seria, segundo Jesus Cristo, o pior dos pecados. 
Até mesmo um ateu poderia facilmente elencar vários trechos da palavra do deus, tão defendido pelos cristãos, que falam de amor, de perdão, de tolerância. No entanto, pastores, cujos olhos e corações se encontram nos extratos bancários de seus fiéis, fazem o discurso da demonização, da condenação, da danação, do castigo. Pois é o medo do fogo eterno do inferno que garante suas igrejas cheias e, consequentemente, seus saldos bancários altos. 
Não podemos generalizar, pois é sabido que esses barulhentos pastores não representam todo o seguimento cristão e ainda podemos encontrar pessoas minimamente esclarecidas e portadoras de um verdadeiro espírito cristão que prezam pelo respeito, pelo amor e pela justiça. 
Sou a primeira a defender o direito à liberdade de crença e, também, de não crença! Não quero viver numa teocracia fundamentalista que não reconhece os direitos daqueles que não compartilham de seus princípios. Não quero ninguém cuidando da minha alma; caso ela exista e eu tenha que dar conta dela à alguém, farei isso eu mesma! Não preciso de pastores me guiando, pois não sou ovelha! Sou ser humano, pensante, racional, em plena capacidade de decidir por quais caminhos quero andar. 
Devemos nos unir em defesa de um estado verdadeiramente laico e não permitir que o Brasil se torne uma teocracia evangélica. Que Felicianos, Malafaias e tantos outros, gritem em seus templos para quem por opção, ou falta de, escolheu os ouvir, não nos ouvidos daqueles que livremente estão trilhando seus caminhos.
Infelizmente, essas pessoas, por limitação intelectual ou pura falta de caráter, distorcem o discurso da promoção de direitos civis como se o mesmo fosse uma ditadura. Sejamos sensatos em nossos julgamentos: a permissão da união homoafetiva não obriga ninguém a fazer o que não deseja e, portanto, em nada interfere nos direitos dos heterossexuais. Por outro lado, uma política influenciada pelas crenças de um grupo ou outro, impõem a todas as pessoas um único modelo, por exemplo, a relação heterossexual, como única forma de se relacionar afetivamente. Isso sim é ditadura! 


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Carnaval nas cavernas

Como disse uma amiga minha: Eu achava que caverna era tudo igual.
Bom, nesse feriado descobrimos que não é bem assim. E que o mundo das cavernas pode nos surpreender e muito! Fomos passar o carnaval bem longe de folia, funk e batuques. Os sons que ouvimos foram outros, bem mais agradáveis aos meus ouvidos: canto de pássaros, água de rio e cachoeira, barulho de passos em trilhas e risadas, muitas risadas de amigos queridos! 
Fomos passear no PETAR, o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira. É um lugar encantador! Valeu cada minuto da viagem. Foram dias intensos, de muita caminhada e muita descoberta. E olha que ainda tem muito o que descobrir. Voltamos já marcando uma próxima visita!
Dentre os núcleos de visitação, dessa vez escolhemos o núcleo Santana, dois dias de exploração: conhecemos cinco cavernas: Caverna Santana, Caverna da Água Suja, Caverna Cafezal, Morro Preto e Couto.
Além das cavernas, conhecemos as cachoeiras: das Andorinhas, do Betarizinho e do Couto. 

Galera animada, amigos queridos e aventureiros no PETAR


Cachoeira do Couto - Núcleo Santana PETAR 

Olha essa piscininha!! Cachoeira do Couto



O Cavalo - Caverna Santana
Vista de paredão de pedra - trilha para cachoeiras Andorinhas e Betarizinho
 Núcleo Santana PETAR
Cachoeira do Betarizinho - Núcleo Santana PETAR 

Cachoeira das Andorinhas - Núcleo Santana PETAR

Ficamos hospedados na Pousada da Tammy, no bairro Serra de Iporanga. Uma pousada simples,mas com um ótimo atendimento, e uma comida deliciosa, preparada especialmente pela mãe da Tammy. 

A região é marcada pelos contrastes: muita riqueza natural e um povo bastante sofrido. E é também rica em história. Os quilombolas da região estão entre os atrativos que podem ser visitados por turistas e amantes da história do país. Já está nos planos uma visita ao Quilombo de Ivaporunduva, que remonta suas origens ao século XVII. 

Na volta do PETAR, passamos no município de Eldorado, para visitar a Caverna do Diabo, mais conhecida como "Shopping das Cavernas". Ela tem uma longa história de exploração turística e por isso conta com uma infra-estrutura que facilita o acesso a suas galerias. Bastante diferente das cavernas que visitamos no PETAR, bem mais rústicas. No entanto, a Caverna do Diabo, que é a maior caverna do estado de São Paulo, é assustadoramente encantadora. Tudo nela parece ter sido lá colocado para surpreender os olhos do turista.
Paredão frontal da Caverna do Diabo - Eldorado -SP

Caverna do Diabo - Eldorado

Bolo de Noiva e suas cortinas - Caverna do Diabo - Eldorado
Bom, o passeio está mais do que recomendado! Para quem gosta de natureza e aventura, bora lá conhecer o PETAR!! 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

26 de janeiro 2013: Um olhar diferente para Campinas

Já faz quase 10 anos que moro em Campinas e, apesar de me sentir em casa aqui, ainda não conheço Campinas como eu gostaria. Eu e alguns amigos que, assim como eu, vieram para estudar na Unicamp e acabaram se estabelecendo por aqui, sempre reclamamos do fato de Campinas não ser nada turística e tampouco oferecer uma agenda Cultural que faça jus ao tamanho e a importância que essa cidade tem no cenário estadual. Mas para além das reclamações, sempre que aparece alguma oportunidade de explorar Campinas ou de aproveitar o que a cidade tem pra oferecer, fazemos o possível para prestigiar. Sábado, dia 26 de janeiro, foi um desses dias. Ficamos sabendo de um tour pelo centro de Campinas, promovido pela Campinas Turismo, do jovem Rômulo Schincariol. 
O passeio até foi divulgado em alguns jornais locais (Destak Jornal), mas ainda não é o tipo de atividade que atraí muito público, infelizmente. Um grupo de aproximadamente 25 pessoas foi conferir o roteiro montado pela Campinas Turismo.
Grupo do Turisapé - Campinas, 26 de janeiro de 2013, em frente ao monumento túmulo do Carlos Gomes
 O Roteiro teve início em frente a Catedral Metropolitana de Campinas e terminou no Marco Zero da cidade, na praça em frente a Basílica do Carmo.
Marco Zero da Cidade de Campinas, antiga Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das campinas do Mato Grosso de Jundiaí e posteriormente Vila de São Carlos. 
A grande descoberta do passeio foi um cofre para depósitos noturnos, do tempo dos barões do café, na rua   Ferreira Penteado.

Outro momento interessante, foi atravessar o 'Beco do Inferno' ou Travessa São Vicente, como é hoje conhecido o local. Foi uma das primeiras ruas de Campinas, mais precisamente uma das entradas da cidade.



Andando pelas ruas da cidade, temos certeza de que há um potencial turístico adormecido (em vias de ser despertado!). Espero que outros roteiros surjam e que mais pessoas se interessem por conhecer Campinas, sua história, seus personagens, seus becos, prédios e praças.   

Obrigada Rômulo, da Campinas Turismo, foi um passeio muito legal. Estou na torcida para que venham outros roteiros e terei prazer em divulgar os eventos entre meus amigos e aqui no blog. 
Mais algumas fotos:



Palácio de Azuleio - prédio onde atualmente encontra-se
o MIS(Museu da Imagem e do Som de Campinas)






Praça Bento Quirino











E.E. Francisco Glicério - esse prédio foi o primeiro grupo
escolar de Campinas

Detalhe da fachada do prédio onde atualmente
encontra-se a E.E. Carlos Gomes

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Vergonha alheia da Ministra da Cultura

Não é bem assim dona Marta! Não é questão de liberdade! Comprar revista porcaria com vale cultura pode ser falta de opção! Portanto, ministra, o buraco é bem mais embaixo...

A ministra da Cultura, Marta Suplicy (até hoje não entendi porque essa senhora 'virou' ministra da cultura...), disse em entrevista, a respeito do vale Cultura aprovado pela presidente Dilma Rousseff há poucos dias, que o trabalhador terá liberdade para comprar o que quiser, e se ele quiser comprar revista porcaria, ele poderá.
Sei que falar sobre cultura não é um tema tão simples. Afinal, há muito desacordo a respeito do que o termo 'cultura' abrange e, portanto, quais coisas devem ser consideradas ou não no âmbito da Cultura. Mas vamos combinar que revistinhas de fofocas e similares estão longe de agregar qualquer coisa na vida de alguém. 

Mas o problema é bem maior do que saber o que colocar e onde. O problema é que o 'trabalhador' brasileiro que será beneficiado com o vale cultura não tem/teve educação que o ensinasse apreciar a leitura de um bom livro de literatura ou uma orquestra sinfônica ou uma escultura ou uma pintura. O acesso a todos esses bens no Brasil é restrito, porque está fora das possibilidades financeiras de muitos de nós (inclusive nós professores!). No entanto, se em nenhum momento o cidadão é despertado para o valor de todas essas produções culturais, de nada adianta dar dinheiro (R$50,00 por mês) na mão do trabalhador na hipótese de que isso por si só resolverá o problema do acesso àquilo que silenciosamente/oficialmente tem-se aceito sob o título de cultura. A falta de acesso à cultura no Brasil está pra além do dinheiro.
A dita Cultura não é acessível porque é estranha à maioria dos cidadãos. E essa estranheza tem uma razão de ser. Infelizmente, muitos professores da rede pública chegam na sala de aula cegos pelo preconceito que eles têm a respeito do tipo de alunos que lá estão e, graças a esta cegueira, são incapazes de cumprirem com o seu dever de tirar os alunos do senso comum, de mostrar a eles que o mundo é bem mais vasto do que a realidade imediata que os cerca. Muitos professores dizem que não vale a pena investir nesse tipo de aluno, porque eles não vão entender nada. Levar alunos da escola pública numa visita a um museu é visto como loucura. Já ouvi professor dizendo que não se preocupa em preparar uma boa aula pra esse tipo de aluno porque é o mesmo que atirar pérola aos porcos. 
Enquanto esse tipo de professor existir nas escolas públicas e enquanto esse tipo de ideia medíocre estiver rondando nossas escolas, os cidadãos que saem das escolas vão usar o vale cultura para comprar revistinha de quinta. Mas isso não é uma questão de liberdade, ministra Marta, é questão de falta de oportunidade, falta de opção. 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Sobre as coisas que não sabemos aos 15 anos

Quando a gente tem 15 anos e se apaixona, parece que o mundo vai acabar no minuto seguinte. Parece que cada minuto longe do 'amor da nossa vida' será o fim de tudo! E a gente acha mesmo que aquele namoradinho (dois ou três anos mais velho que a gente) é o homem da nossa vida! Que nossa vida não terá sentido se ele não estiver por perto!  Em raríssimos casos, que eu saiba, aquele amor dos 15 anos acaba sendo o amor da vida toda. Mas é raro! O mais comum, mas que a gente nem desconfia quando tem 15 anos e se apaixona, o que realmente acontece é que virão muitos outros 'amor da vida':  aos 16, aos 17, aos 18,  até que, talvez, a gente não acredite mais em amor pra vida toda, e seja feliz com o amor que dure até a próxima primavera.

Mas quando a gente tem 15 anos, isso é inconcebível. E se o namorico acaba, nos entregamos a lágrimas infinitas, escrevemos página e páginas de um diário real ou imaginário, ficamos de luto, ouvimos 100 vezes 'a nossa música', enfim, sentimos que nossa vida não tem sentido! Mas isso será até nos apaixonarmos novamente! Até encontrarmos um 'novo amor pra vida toda'. Mas não sabemos isso quando temos 15 anos. E somos trágicas, românticas e bobas! Mas é a vida! É preciso sofrer, chorar, se descabelar, achar que o mundo vai acabar porque o ex-namoradinho estava lindo de morrer na festa do último fim de semana! Ou porque ele arrumou outra... É necessário que isso aconteça! É necessário que mudemos o corte de cabelo, que coloquemos a roupa que nos deixa mais bonita e que possamos nos sentir um arraso, embora estejamos arrasadas por dentro. Mas tudo isso tem que acontecer quando temos 15, 16, 17, 18 anos! Porque depois seremos mulheres poderosas, com as quais, aos 15 anos, nem em sonho nos encontraríamos. 

Aos 15 anos, a gente se apaixona e vê diante da gente um príncipe encantado, mesmo que de príncipe ele não tenha nada. Mas quando o príncipe nos magoa, nos sentimos traídas! Afinal, príncipes encantados deveriam nos tratar como princesas e nos fazerem felizes e não tristes. Príncipes encantados não têm defeitos! Mas tudo isso acontece porque aos 15 anos ainda não sabemos que príncipes encantados não existem mesmo! O que existem são homens, ou meninos crescidos, que, como nós mesmas, têm um monte de defeitos! E fazem coisas incompreensíveis! E que nem todas as nossas lágrimas poderiam resolver os problemas! Porque eles, os meninos crescidos, quando têm 16, 17, 18, 23 ou muitos anos, estão, como nós, aprendendo a viver! Aprendendo com seus erros. E talvez aquele namoradinho de quando tínhamos 15 anos gostasse mesmo daquela menina boba que éramos! Talvez gostasse bastante, e talvez tenha se arrependido de tê-la perdido, mas ele não sabia demonstrar que gostava, e menos ainda que sentia falta. Mas aos 15 anos a gente não tem tempo (nem disposição) pra pensar em tudo isso! O mundo está sempre na iminência de acabar! Somos intensas! E é tudo ou nada!

Mas depois dos 15, depois dos 20, quase chegando aos 30, encontramos calma ou, pelo menos, não estamos mais sentindo que o mundo vai acabar no minuto seguinte. E quando olhamos pra trás, sorrimos ao ver aquela menina de 15 anos, desesperada, e que apesar de ter achado que o mundo ia acabar a cada fim de namoro, sobreviveu, e aos poucos foi se tornando aquela mulher de quase 30, que ainda se apaixona, que é intensa, mas que já sabe tudo que a menina de 15 não sabia.



segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Sobre escolas e escolhas

Eu sempre estudei em escola pública e digo isso com orgulho! Toda minha educação básica foi feita na Escola Estadual Marquês de Sapucaí, de Delfim Moreira, MG. Bons tempos aqueles! Eu tive professores que fizeram diferença na minha vida. Professores que se importavam. Professores que se respeitavam. Professores que se fizeram dignos diante dos meus olhos. Nem sempre eu fui justa com eles. Nem sempre eu soube entender suas atitudes. Mas, de algum jeito, eu sempre soube admirá-los e respeitá-los. Eles conseguiram me fazer entender a grandeza dessa profissão, hoje a minha profissão. 

Esse ano de 2012 entrei na rede estadual de São Paulo como professora efetiva de filosofia. E faço questão de dizer para os meus estudantes que eu sempre estudei em escola pública e que me formei numa das melhores universidades do país, a Unicamp. É bom notar que não digo isso a fim de afirmar nenhuma superioridade em relação a colegas formados em outras instituições, públicas ou privadas, mas apenas com o intuito de fazê-los acreditar que é possível ingressar numa boa universidade pública de ensino superior, tendo estudado sempre em escolas públicas. 

Com todos os problemas e as dificuldades que os professores enfrentam hoje, eu ainda tenho a pretensão de fazer a diferença na vida de algumas pessoas, assim como os meus professores fizeram na minha vida. Estou longe de acreditar que a filosofia por si só é capaz de mudar a educação, como alguns alardeiam por aí. A disciplina que escolhi tem sim um papel privilegiado dentre as demais ao permitir mais espaço para a conscientização do estudante de seu papel enquanto cidadão ou para provocá-lo a respeito de problemas de ordem ética ou epistemológica e tantos outros. No entanto, os professores que mais marcaram minha vida não o fizeram por causa da disciplina que ensinavam, mas pela atitude como professor, pela honestidade com que se apresentavam diante de mim, pela paixão que conseguiram transmitir naquilo que faziam, pelo respeito e compromisso, pelo entusiasmo, apoio e incentivo que me foram dados. Independente da disciplina, da matéria que lecionavam, eu tive professores que abriram meus olhos, ampliaram meus horizontes e me fizeram acreditar em grandes sonhos e, juntamente com isso, se esforçaram por colaborar com a realização desses sonhos. 
Tenho alguns colegas hoje que também me servem de inspiração. Pessoas que, apesar de todos os empecilhos, de toda desvalorização e precarização da carreira de professor, não fazem disso desculpa para serem medíocres. 
Eu ainda tenho dúvidas quanto ao meu futuro profissional. Ainda tem escolhas para serem feitas. Mas, neste momento, estou consciente do compromisso que assumi com os meus estudantes. Espero conseguir fazê-los perceber o que eles têm de melhor e o quanto são capazes de mudar suas próprias histórias. 


*Quando eu escrevi esse texto, no início de 2012, eu estava num momento Pollyanna. Não sei quanto tempo ele vai durar, mas espero que o suficiente para ter mais um bom ano!

domingo, 6 de janeiro de 2013

Pedaços de vida (alheia) - Versão Beta


Era uma tarde quente de verão. Quente mesmo só o clima de verão, pois há muito que entre eles o clima tinha esfriado. Sentados, um do lado do outro, cada um olhando pra um lado. Quando foi mesmo que eles acharam que formavam um casal perfeito? Cinco anos... Como suportaram passar todo esse tempo juntos?
Era difícil acreditar que algum dia tiveram algo em comum. Houve um tempo em que olhavam para a mesma direção? Falavam, se atropelavam, e não diziam nada. Era o constrangimento típico de quem já não tinha nada para dizer um ao outro. E mesmo sem nada em comum, eram tantas coisas de um se misturando na vida do outro.
Os livros dela, na estante dele. As roupas dele, no guarda-roupas dela. Será que algum dia aquela história tinha ido além de dividir o mesmo teto?
E foi assim, dizendo tantas coisas que não significavam mais nada, que perceberam entre ruídos e sorrisos nervosos que deviam seguir cada um seu rumo. Era ponto final, não havia lugar para pausa, já era tarde quando enfim tiveram coragem para dizer. Ela juntou suas coisas e depois de muito tempo sentiu-se inteira novamente. Ele ficou com o resto e com as expectativas de quem iria preencher os espaços, agora livre, da casa. 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Cabaret

Yann Tiersen - Guilty

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As luzes começavam a ser acesas. A música na vitrola, como todas as noites, aos poucos invadia os quartos. Não eram luxuosos. Mas tinham lá seu glamour. Anne estava sentada diante do espelho. Secava as últimas lágrimas que lhe molhavam a face. Alguém bateu na porta e pediu que se apressasse, pois já os primeiros clientes chegariam. Ela tentava terminar aquela maquiagem que lhe dava cara de bonequinha. Olhos bem contornados, o batom vermelho, brincos, pulseiras e colares cobrindo o que a pouca roupa deixava de fora.

Anne suspirava. Será que ele virá hoje? pensava entre melancólica e ansiosa. Se não viesse seria mais uma noite no bar. Henri já sabia que só trabalharia depois de muitas doses de wisky. O velho, claro, aquele velho não a deixaria em paz! Era preciso fugir daquelas mãos peludas e enrugadas e tão assanhadas. Mas era certo que ele estaria lá. Respirava com dificuldade, hoje, mais do que todos os outros dias, sentia que aquela fantasia lhe sufocava. E se ele não vier hoje? Voltará algum dia? Cumpriria sua promessa? Ou teria brincado com ela?

As outras meninas diziam que Anne era inocente demais. Zombavam do romantismo que ela cultivava secretamente. Diziam que para meninas como elas não havia romantismo. Madame Suzy lhe dava tapinhas na bunda e dizia que com aquele corpo poderia ter os mais caros amantes. Mas de que lhe serviriam aqueles caros amantes? Caros, velhos, tão babões... Todas as noites, já madrugada longa, quando o dia começa dar as caras no céu, Anne toma um banho demorado. Ensaboa todo o corpo, e se esfrega com força, para tirar o resto de todos eles. Repetia aquele ritual acreditando que um dia encontraria um homem que lhe tiraria do Casarão e cujo cheiro ela nunca mais desejaria tirar de seu corpo.

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O rapaz que chegava acompanhado pelo pai, ou tio, ou seja lá quem fosse, era bem vestido e muito jovem. O olhar desesperado e curioso com o qual percorreu o salão foi suficiente para dizer que era a primeira vez dele. Quando era assim, as meninas sabiam que deviam esperar a escolha da Madame. Logo ela foi conversar com os dois homens. Com um sinal de cabeça chamou Anne. Não era só porque Anne era a mais bela de suas meninas, nem porque era das mais jovens. A Madame sabia dos romantismos de Anne. Aqueles ares de donzela que ela tinha poderiam deixar o jovem mais à vontade.

Anne o conduziu pelas mãos escada acima. Antes de abrir a porta do quarto o jovem perguntou seu nome. Sabia que devia dizer-lhe aquele com o qual a Madame havia lhe batizado: Bella, mas quando abriu a boca, ouviu sua voz dizendo Anne. Já naquele momento sentiu o coração disparando. Ficou momentaneamente aturdida, sentiu o rosto corando. Rapidamente virou as costas para ele e abriu a porta. A cama estava toda arrumada. Uma colcha branca com bordados vermelhos se estendia até o chão. A meia luz do quarto não permitia ver com detalhes o rosto dele. Ouvia sua respiração acelerada, segurou-lhe novamente as mãos, já agora muito frias e levemente trêmulas.
Quando sentou-se na beira da cama ele disse, de jeito despropositado, como quem quer adiar a ação. Meu nome é Fernando. Anne repetiu o nome baixinho. Sentiu uma ternura repentina por ele e quis confortá-lo em seus braços. Sem dizer nada, foi desabotoando a camisa e acariciando aquele peito jovem. O coração dele fazia mais barulho do que o trem que passava duas quadras do Casarão. Não demorou muito e ele parecia tão à vontade, como se tivesse frequetado aquele quarto desde muito tempo. Ele a despiu como um homem apaixonado e a tocou com toda a experiência que só o desejo concede. Ela se entregou como se fosse a primeira vez...

Exausto, com os olhos brilhando, a cabeça girando, e o coração em chamas, ele disse que voltaria e que ela seria só dele pelo resto dos seus dias.

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Quantos dias tinham se passado desde aquela noite? Por que a demora? Teria desistido?
Outra vez alguém bate na porta, mas dessa vez abre a porta. É a Madame. Diz, como sempre, que ela está linda, um encanto. Toma as mãos de Anne, que se levanta. Os costumeiros tapinhas na bunda: Querida, tão Bella, sabes que pode ter os melhores amantes! Vamos, vamos, o salão começa ficar cheio.

Anne atravessa o corredor de quartos. Ouve o alvoroço rotineiro, risos e brincadeiras. Algumas meninas tinham começado cedo a noite. Ao descer a escada sente-se tonta. As luzes e aquela música põem seu estômago em movimentos incontroláveis. Segura firme no corrimão da escada. Fecha os olhos. Respira fundo, é preciso descer. Entre giros e enjoos, chega no canto esquerdo do salão. Várias caras tão conhecidas. Aqueles risos e sorrisos. Olha para todos os lados. Ali, no canto direito, ao lado da porta, parecia ser... Não, foi engano. Esse aparece todas as semanas, e sempre procura Marly. Recém casado, herdeiro de grande fortuna, um dos queridinhos da Madame. Já disseram até que era filho dela. Que teria sido adotado pelo pai verdadeiro. Homem de grandes posses, financiador do Casarão por muitos anos, primeiro amante da Madame, quando ainda era Cecília. Mas eram histórias...

Henri serviu o primeiro drink. Era já uma resposta. O coração apertou e doeu e sentiu-se confusa daquele jeito como quando disse seu nome na porta do quarto. Bebeu de uma vez só. E pediu outro. Carola também se encostou no bar. Acariciou o ombro de Anne e sorriu aquele sorriso de cumplicidade. Carola bem que tentava entender aquele mundo secreto de Anne.

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Passaram-se meses. Ela perdeu a esperança. Jogou aquelas lembranças quase doces em qualquer canto escuro e deu por encerrada aquela quase história de amor.
Mas um dia, quando ela já não mais esperava, quando quase havia desistido de sonhar com o homem que lhe tiraria do Casarão, ele retornou.
Não tinha mais aquele olhar desesperado e curioso, e parecia ter envelhecido em meses uma 6 dúzia de anos.
O reencontro nem de longe fora parecido com qualquer dos muitos devaneios de Anne. Ela não o reconheceu quando ele tocou seu braço.Virou-se como viraria para qualquer cliente, fingindo satisfação por ser requisitada. Ele ficou por um instante mudo e sem reação. Ela se roçou em seu corpo; Deslizou de leve a mão direita sobre seu peito. Mas, quando ele abriu a boca e pronunciou seu nome: Anne. Foi ela quem petrificou. Sentiu-se gelar. Quase perdeu os sentidos. Sussurrou depois de segundos o nome dele sem ainda acreditar.
Subiu a escada apoiada em seu braço. Abriu a porta do quarto e entraram num silêncio que parecia sem fim.
Casado - era tudo que ela ouvira. Tentava se concentrar nas palavras que ele vomitava apressadamente. A mulher doente, quase morrendo. Um amor de infância, uma promessa de família. Mudança, outra cidade, queria  levá-la junto, para que fizesse companhia a jovem esposa que em breve iria falecer.
Ela não aguentou. Desmaiou.

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Acordou ainda acreditando não estar de fato desperta. Ele estava ali, sentado ao seu lado, com as mãos no rosto e parecia esconder um choro dolorido. A longa espera que deveria lhe trazer alegria trouxe confusão e amargura. Casado? Não, ela não podia aceitar a proposta de Fernando. Viver sob o mesmo teto que ele sem no entanto poder tê-lo? Por que ele propunha tanto sofrimento? Não seria ela digna de nenhuma consideração por parte dele? Sabia bem qual era seu lugar aos olhos da sociedade. Mas assim, sob o mesmo teto? Junto de uma esposa enferma? Era demasiada humilhante tal proposta.
Ele tentava se explicar, justificar sua decisão atropelada e a proposta agora feita a ela. Mas não havia meios de convencê-la a acompanhá-lo. Além do mais, quando a jovem esposa morreria? E se não morresse? Como ela ficaria? Ao mesmo tempo que ousava formular tais perguntas, Anne se sentia já profundamente culpada por desejar a morte de alguém que nem mesmo conhecia.
Depois de uma longa espera, nem um beijo.  E a despedida foi breve, sem esperança para ambos naquele momento. Mas Fernando disse que não desistiria dela. Que voltaria, assim que estivesse livre, voltaria para buscá-la.

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Anne não teve forças para descer aquela noite e nem nas noites seguintes. Sob protestos e ameaças da Madame ela apenas calava e definhava dia após dia. Uma febre terrível apossou-se dela e dia e noite em delírio doloroso ela chamava por Fernando.

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A liberdade de Fernando estava condicionada a morte de Clarice. Também ele sofria dia após dia. Sofria sentindo-se o pior dos seres humanos. A jovem esposa, a quem ele jamais quis mal, ao contrário, quando crianças eram tão queridos um do outro, passavam muitas horas juntos, milagrosamente parecia diariamente se agarrar mais forte a frágil vida que lhe restava. Ele, que não podia lhe desejar mal, também não podia se alegrar com aquela repentina demonstração de melhora. Casará-se apenas por ser este o desejo da jovem amiga de infância - era assim que ele a via - e que fora condenada pelos médicos. Casou-se por pena, era essa a verdade. E qual não era seu arrependimento agora. E se ela de fato se recuperasse? Teria coragem de deixá-la para buscar sua própria felicidade? Quanto tempo Anne o esperaria? Não faria a Clarice mal maior agora, deixando-a? Seria ela, ainda que recuperada, capaz de suportar tal golpe? O que tinha feito de sua vida?

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A carta da Madame o pegou de surpresa. Seus dias de angustia haviam chegado a um ponto insuportável. Não conseguia esconder de ninguém, nem mesmo da pobre Clarice, o quão consternado sua recuperação o deixava. Ela, que pensava ser correspondida em seu afeto verdadeiro por ele, não conseguia entender aquela tristeza em seus olhos. Quanto mais ela melhorava, quanto mais forte ficava, mais decido ele estava a contar-lhe toda a verdade e colocar um ponto final naquela história que não devia ter começado.
Mas eis que a carta de Madame Suzy lhe chega às mãos. Ele, entre angustiado e esperançoso - teria Anne mudado de ideia? - abre o envelope e começa a devorar as letras bem feitas da Madame. Mas a cada palavra sua face se contorcia em profundo desespero. Lia, relia, não podia acreditar. Morte? Anne, morta? Não, seria uma mentira. Ela teria ido embora com algum cliente e não o desejava ver nunca mais. Não, morta não podia ser. E de tristeza? Clarice, não Anne fora desenganada pelos médicos. Clarice, não Anne devia morrer!
Não, como ele era capaz de pensar tal coisa? Pobre Clarice, não era sua culpa. Se alguém tinha culpa, esse alguém era ele, Fernando. Foi fraco ao se render àquele sentimento de pena. Foi fraco ao procurar Anne e fazer-lhe aquela proposta tão humilhante. Ele era o culpado pela tristeza de Anne, pela morte de Anne. Devia pagar por tudo isso.

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Ainda com a carta da Madame nas mãos, Fernando dirigiu-se à biblioteca. Numa das gavetas da mesa pegou uma caixa de madeira e de lá um revolver. Sem pensar, movido pela paixão que o consumia, como parecia ter sido todos os atos que culminaram naquele momento - a promessa à Anne naquela primeira noite, o casamento com Clarice, a volta ao Cabaret e a proposta feita a Anne - atirou em sua  própria cabeça.

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Pedaços de vida (alheia) - Versão Alfa

Era uma tarde quente de verão. Quente também estavam os corações. E descompassados, amedrontados. Sentados, um do lado do outro, cada um olhando pra um lado. Há quanto tempo estavam assim? Cinco anos, não são 5 dias, nem 5 meses. Mas em que momento deixaram de olhar para a mesma direção? Estavam mudos, e diziam tantas coisas. Era medo, era costume, era um não saber ser sem o outro. Mas, ao mesmo tempo, cada um era do seu jeito, sem encontrar espaço suficiente na vida do outro.
Os livros dela, as roupas dele, dividindo o mesmo teto. E parece que nem sabiam mais quando passaram apenas a dividir o mesmo teto. 
E foi assim, sem ter muito o que dizer, que decidiram entre soluços e silêncios que deviam seguir cada um seu rumo. Se era ponto final, se apenas uma pausa, era cedo pra dizer. Ela juntou suas coisas e os pedaços dela mesma e botou num saco e foi. Ele ficou com o resto e o vazio da falta dela. 

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