"quando a vida dá um nó, não adianta sentir dó, de si mesmo..." Nó, O Terno
Dias longos, de dor no peito, de uma vontade grande de não ser, de nunca ter sido, um medo grande de qualquer notícia que pode chegar a qualquer momento. De repente parece que não sou dona da minha vida, que os fantasmas escaparam do porão no qual estavam presos e estão agora me assombrando dentro de casa.
Por que a gente não pode consertar o mundo? Curar as feridas que fizeram em nós, que fizemos nos outros, que fizeram nos outros e em nós? Tem sentido tudo isso? Ou é só um grande nó mesmo, fios entrelaçados, sem começo nem fim?
Repito para mim mesma que o sentido depende de mim. Mas eis que já não me sinto capaz de dar sentido algum ao que acontece, ao que fazem, ao que sinto. Penso até doer a cabeça, penso até os pensamentos se confundirem com os sentimentos. Penso até desejar parar de pensar, de sentir, de ser. Mas parece que tudo isso não sou eu, estou apenas emulando sentimentos alheios que procuro entender, que desejo entender. E desejo tanto entender que de repente me perco nesses outros que também são um pouco de mim e que talvez tenham um tanto de mim em si.
É confuso! Sim, eu sei bem. E esta confusão eu achava que estava resolvida, achava que eu tinha dado conta de botar uma ordem. Mas bastou uma peça sair do lugar, bastou um grito, bastou um imprevisto... a verdade é que muitas coisas aconteceram e eu me dei conta de que nada estava sob controle. Entendi que eu não tinha controle sobre nada, nem sobre os meus fantasmas.
Dias longos, vontade de fugir, de desistir. "A gente pensa que sabe da gente"... eu pensava que sabia de mim, mas agora sou um nó. Paralisada, sinto apenas uma dor no peito que parece que vai explodir. Passado, presente e não consigo imaginar o futuro. Queria poder, queria imaginar uma saída, uma solução. Será que é assim que ela se sente? Será que é assim que eles se sentem? Como eu pude ignorar por tanto tempo? Fui egoísta. Mas eu sei que estava tentando sobreviver, estava lutando para botar os fantasmas no porão. Eu não fui egoísta de maneira planejada. Foi sobrevivência. Mas agora parece que estamos todos nesse nó, juntos, emaranhados, e os fantasmas estão soltos, zombando de nós.
Eu passo pelos dias como alma penada. A cabeça está vazia e cheia. Cheia e vazia. Difícil me concentrar, difícil mudar o foco. Tão longe e tão perto. E basta uma mensagem, uma chamada e parece que o mundo vai acabar. Ou será só o meu desejo de que ele acabe?
Eu não quero sentir dó de mim. Eu só queria poder de uma vez botar toda essa bagunça no lugar. Consertar, ordenar, dar um jeito, sarar. Mas qual é o meu papel em tudo isso? Qual o meu lugar? Qual a minha responsabilidade? Será que estou exagerando? Será que estou mais uma vez agindo mal? Quem deveria estabelecer os limites? Eu? É verdade que o meus limites, pelo menos, eu deveria ser capaz de estabelecer. Mas estou perdida nesse momento.
É como se dentro de mim, de repente, surgiessem outras de mim, diferentes da que escolhi ser, outras que poderiam ter sido, mas que eu não quis. Por que agora elas parecem querer se apossar de mim? O peito queima, arde, e sinto uma dor que parece rasgar algo lá dentro. Estou em alerta, tudo me deixa ansiosa. Se ligam, fico ansiosa; se não atendem, fico ansiosa; se respondem fico ansiosa, se não respondem... Até quando? (Pula uma resposta - respiro aliviada. Mas dura pouco).
Meus dias estão sendo constantes ventanias, céu escuro, mormaço que sufoca, trovões, mais ventania que revira a roupa no varal, que traz poeira velha, que tira tudo do lugar. A tempestade está ameançando. Eu não gosto de tempestade, não gosto de vento. Eu busquei calmaria, eu construi a minha própria fortaleza, meu refúgio. Mas agora, agora já não sei...
Esse nó - também na garganta, como se eu precisasse dar um grito! - está me sufocando. Era pra ser mais fácil - ou pensei que seria -, porque agora sou adulta. Mas quem disse que adulto está preparado para lidar com fantasmas?
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