Balançava-se na rede. Sorria. Aquele sorriso bobo que desfila no rosto de pessoas apaixonadas. Olhava para o nada e enxergava tudo... Os olhos, às vezes, ficavam marejados. Os sentidos, numa confusão própria do estado em que se encontrava, pareciam gozar de uma intensidade como há muito tempo não possuíam.
Pensava na rapidez em que tudo acontecia. Questão de dois ou três dias. Quem poderia imaginar? E como é bom não imaginar nada e ser tomada de assalto, num repente, traída pelos próprios olhares e desejos.
Agora ele está longe. Talvez sinta essa mesma embriaguez leve. Talvez também sorria para as paredes, ou para os passantes na rua. Talvez dê bom dia até mesmo aos pequenos insetos que venham se aproximar de seu rosto ou de suas mãos...
Ele ajeita os óculos de maneira tão graciosa. Meu deus! Tão pouco tempo e já se prendeu a esses detalhesinhos... A rede parou. Mas ela continuou sorrindo. Ainda ouvia a voz dele. Uma semana parecerá um ano... É preciso controlar a imaginação, pensava. As surpresas são sempre melhores. E quão melhores... Mas já pode quase sentir o coração acelerado, quando se encontrarem novamente.
Afastando-se um pouco da felicidade das últimas horas, percebia o quão distante esteve desse sentimento de bem querer, dessa vontade de ter alguém por perto, de sentir uma respiração e aspirar um hálito quente e, de olhos fechados, guiada apenas pelas pontas dos dedos, gravar cada detalhe de um rosto novo...
-Ana! Ana...
-Você falou comigo?
-E tem outra Ana por aqui? - Cecília forçou uma cara de brava que logo se desfez num sorriso, enquanto a cabeça movia-se lentamente de um lado para o outro.
-Desculpa...O que é??
-Ia perguntar por que tanto sorri, mas acho que já sei: Henrique.
-É...- E Ana novamente mergulhou nas imagens que desfilavam diante dos seus olhos, na parede branca, onde Cecília penduraria o novo mural da casa.
Cecília a observava e foi contagiada pelo sorriso. Colocava as últimas fotos no mural. Algumas festas, outras viagens, outras simplesmente registro de horas descontraídas em casa. Pena que não tinha uma câmera agora. Registraria o sorriso bobo de Ana. Mas os olhos, brilhando e às vezes marejado, talvez porque marejados ainda brilhavam mais, não haveria câmera que pudesse registrar... Sabia bem o que era aquilo: Felicidade. Quase sentiu uma pontinha de inveja. Mas logo tratou de empurrá-la para um daqueles cantinhos escuros nos quais escondemos nossos sentimentos mais feinhos...
Levantou-se e colocou o mural na parede.
-Ficou bom, né? O que acha?
-Ah?...Ah! sim, está bom. Hoje você não colocou muito açúcar.
-O quê?? do que você está falando?? eu perguntei do mural! Ana...
-Ai Cecília, desculpa, estava distraída, pensei que falava do suco...Sim, sim, o mural ficou ótimo.. desculpa!
-Tudo bem! por hoje passa.. Tô indo pra aula, mas vê se aterrisa menina...
As duas riram. Cecília desceu as escadas. Ana deu novo impulso à rede, tão novo quanto o que sua vida ganhara. E deixou-se balançar...
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2 comentários:
ô Ana-Francine, cuidado para não explodir de paixão, hein!? Mas não tem coisa melhor, né!? Depois de dez anos isso fica meio diferente. Ainda é bonito, mas faltam essas borboletas estomacais.
Continue escrevendo!
Um abraço!
Ah, que honra! Uma pessoa com um blog tão bacana visitar o meu e elogiar tem que ficar mto bem registrado.
Adorei a forma como escreve, quisera eu ter um momento de "Ana".
Um beijo
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