A morte, essa estranha-familiar... Quantas vezes nela pensei durante esses anos? Desde os meus dezoito anos me acompanha uma ideia-sensação de que eu vou morrer jovem. Foi assim, um sopro em meus ouvidos, não sei de onde, de quem.
E toda vez que eu me sentava numa cadeira de dentista esse sopro se fazia presente. Uma voz em minha cabeça ficava martelando que a dentista sabia que eu ia morrer jovem. Que cada movimento, cada gesto dela, cada palavra, traziam um pesar como se ela dissesse: "pobrezinha, vai morrer tão cedo..."
Isso se intesificou durante os anos da faculdade. Eu eu ficava pensando como e quando seria. Nunca consegui ter certeza de nada; certeza mesmo só de que um dia ela chegaria.
Até escrevi sobre o encontro - Contos sobre a morte -, lá pelo início dos anos 2000. Mas qual não foi minha supresa hoje, nesse domingo de outono, de céu azul, que estou só em casa, e decidi ler um conto de Thomas Mann: A morte. Poderia ter lido outro? Claro, mas o tema me atrai, e não preciso dar mais explicações.
Notas de um diário. Um conde se preparando para encontrar a morte. Sabia a data exata do encontro. Desde os dezenove ou vinte anos sabia que teria de morrer aos quarenta.
Quarenta? Ainda se é jovem aos quarenta, eu me pergunto. De uns tempos pra cá havia me convencido de que aquela ideia-sensação de morte precoce não tinha passado de uma bobeira de adolescente. Afinal, depois dos trinta já não somos tão jovens assim. E, além disso, já estou mais próxima dos quarenta do que dos trinta.
Mas a coincidência mesmo veio quando li que a morte teria se comportado como dentista dizendo: "É melhor resolver isso logo".
Seria isso? Bem, na verdade, não estou segura do que eu quis dizer com "seria isso?". Mas será que vou morrer aos quarenta? Tenho ido muito ao dentista nesses últimos anos: um dente que mais parece um carma. Mas nunca mais ouvi aquela voz, nem sussuro algum. Nada na dentista parece denunciar que ela saiba que vou morrer logo ali, quando chegar os quarenta. É verdade que troquei de dentista faz um tempo. Seria isso? A atual dentista não estaria aberta a revelações do além? E se ela não souber, quer dizer que nada irá acontecer? Digo, que não vou morrer aos quarenta?
2025. Primeiro de janeiro de 2025. Será? E até lá o que vou fazer? Viver, ora! Que pergunta mais tola. Mas eu decidi que vou comprar uma máquina de escrever. Três anos, ou quase, ainda dá tempo de virar escritora...
19/06/2022
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